Dicionário
Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde
no Brasil (1832-1930)
Denominações: Museu do Estado (1891); Museu Paulista (1893)
O Museu do Estado foi criado em abril de 1891, mas suas origens são mais antigas. Pode-se dizer que foi herdeiro do Museu Provincial, pertencente à Sociedade Auxiliadora do Progresso da Província de São Paulo, e do Museu Sertório, de propriedade de Joaquim Sertório. Da união destas duas instituições, surgiu então o Museu do Estado, que, em 1893, passou a denominar-se Museu Paulista. A criação de um museu em São Paulo esteve, em princípio, associada à idéia de se erguer um monumento em homenagem à Independência do Brasil, ocorrida em 1822, às margens do rio Ipiranga, na então província de São Paulo. Em 1824, logo após às comemorações de sete de setembro, Lucas Antônio Monteiro Bastos, Presidente da Província, solicitou, com o aval de D. Pedro I, contribuições voluntárias para a construção de um monumento à Independência. Contudo, em decorrência da falta de recursos financeiros, o projeto não seguiu adiante. Em 1870 novos esforços foram feitos a fim de angariar fundos para a obra, na época das loterias do Ipiranga, que por sua vez, não foram utilizadas de acordo com o objetivo inicial, sendo então, destinadas, pela Assembléia Provincial, às necessidades sociais mais imediatas. Na realidade, investir em cultura não constituía o principal objetivo da elite paulistana naquele momento. Até os anos de 1870, grande parte da vida científico-cultural ocorria fora da província de São Paulo, em torno de instituições como a Faculdade de Medicina da Bahia e a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. À medida que a riqueza material da província paulista aumentou, em decorrência do excedente econômico originado da produção do café, a preocupação com a cultura passou a ser um assunto do interesse da elite. Viagens, aquisição de obras de arte e o mecenato passaram a fazer parte da vida da classe abastada de São Paulo. A imigração em massa, por exemplo, foi um dos fatores que contribuíram para que São Paulo se tornasse um importante centro econômico do país. Com o incremento demográfico, entretanto, também surgiram problemas, como as várias epidemias, que promoveram um aumento da taxa de mortalidade. A fim de solucionar tais dificuldades, foi criado em 1892, o Serviço Sanitário de São Paulo. O impulso econômico em decorrência do sucesso do café transformou ainda, a maneira de pensar de sua classe dominante, que passou a procurar suportes que representassem a ascensão da província. Um museu por exemplo, seria um local de representação para as figuras que se destacaram na vida político-econômica. Já que desde a emancipação política em 1822, havia a proposta de construção de um símbolo de representação do sete de setembro, finalmente na década de oitenta, o governo decidiu pôr em prática este plano. Um outro fator decisivo foi a idéia de se aproveitar o monumento para também estabelecer ali uma instituição de ensino. Em 1885, os trabalhos foram então iniciados e a autoria do projeto se deveu ao arquiteto italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi, que obteve a aprovação do Imperador Pedro II. Em 1890, embora as obras do edifício estivessem concluídas, o local permaneceu ainda desocupado. A perspectiva científica que deveria possuir ainda não havia sido preenchida, cumprindo o prédio apenas a função de monumento histórico. Somente em 1893, então como Museu Paulista, a instituição efetivamente ocupou aquele espaço. O Museu do Estado nasceu da união dos acervos do Museu Provincial e do Museu Sertório. Enquanto o primeiro teve seus primeiros tempos muito bem documentados, pouco se sabe a respeito da formação do segundo. Talvez isto se explique pelo fato do Museu Provincial ter possuído um caráter absolutamente público, contando com o apoio da imprensa, enquanto o Museu Sertório foi fruto de esforços estritamente particulares. As providências para a montagem do Museu Provincial datam de 2 de dezembro de 1876 e foram tomadas pela Sociedade Auxiliadora do Progresso da Província de São Paulo. Esta instituição era formada por cidadãos de posição e fortuna que tinham o objetivo de criar um museu que se voltasse para o campo das ciências. A inauguração do Museu Provincial se deu em 11 de junho de 1877, contando com a presença de pessoas ilustres, como o Conde d´Eu. O primeiro endereço do Museu Provincial foi uma sala no Palácio do Governo, localizado no Pátio do Colégio, e após a inauguração, caiu na obscuridade, e seu acervo foi agregado ao do Museu Sertório. O Museu Sertório, de propriedade de Joaquim Sertório, um rico comerciante, estava instalado na própria residência de seu proprietário, no Largo Municipal (posteriormente Praça João Mendes), na província de São Paulo. Não se sabe quando Sertório iniciou sua coleção, apenas que seu acervo possuía peças de valor mineralógico, zoológico, arqueológico, etnográfico e histórico, e que os três reinos da natureza estavam muito bem representados. Logo, o renome de sua coleção chegou à imprensa e ao conhecimento da sociedade paulistana. Devido ao crescimento de sua coleção, Joaquim Sertório contratou, em 1883, o sueco Alberto Löefgren (1854-1918) para se encarregar da organização das peças. Löefgren, que havia chegado ao Brasil em 1874 para explorar a botânica da região de São Paulo e Minas Gerais (FERRI, 1994), organizou o Serviço de Meteorologia do Estado de São Paulo, fundou o Jardim Botânico (atual Horto Florestal), na Cantareira em 1898, trabalhou no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (1916-1918), e foi autor de "Contribuição para o conhecimento da flora paulista" (1890) entre outras obras. Há notícias de que, após à organização do museu, o Museu Sertório se transferiu para um prédio no Largo da Assembléia, sendo franqueado ao público. É certo que, em 1890, Joaquim Sertório vendeu sua coleção ao Conselheiro Francisco de Paula Mayrink e este, no mesmo ano, doou o acervo Sertório ao Governo do Estado de São Paulo. Feita a doação, as peças do Museu Sertório foram anexadas às do Museu Provincial, formando uma grande coleção. Este novo acervo ficou sob a responsabilidade da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, criada em 1866. Neste órgão, trabalhava como botânico e meteorologista Alberto Löefgren, que havia sido encarregado da organização do acervo do Museu Sertório, e que foi quem pressionou o governo estadual para adquirir as coleções doadas. Em abril de 1891, o Presidente da Província de São Paulo, Américo Brasiliense de Almeida Mello, determinou, então, a criação do Museu do Estado, entregando a direção interina da instituição ao próprio Alberto Löefgren. O museu assim funcionou até o mês de janeiro de 1893, quando passou a fazer parte da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, ficando a coordenação do museu a cargo do presidente do órgão responsável, Orville Adelbert Derby. Em março do mesmo ano, o museu e a Comissão passaram a ocupar um prédio na Rua da Consolação. Em agosto de 1893, o governo estadual decidiu fazer do Museu do Estado um órgão independente, desvinculando-o da Comissão Geográfica e Geológica, e abrigando-o no Monumento do Ipiranga, cuja construção havia sido finalizada em 1890. Pela lei n.º 192, de 25/08/1893, destinou-se o Monumento do Ipiranga para sede do Museu do Estado e Panteão. Logo em seguida, a lei n.º 200, de 28/08/1893, mudou o nome do estabelecimento para Museu Paulista, assegurando-lhe a posse do monumento no qual deveria ser instalado (AMARAL, 1990, p. 327). Em 1894 foram iniciados os trabalhos de transferência das coleções para o Museu Paulista, e em 7 de setembro de 1895, o museu abriu as portas ao público. O acervo apresentado na exposição inaugural, demonstrou que a instituição era capaz de desenvolver estudos não apenas ligados às ciências naturais, mas inclusive poderia ligar a história de São Paulo à história nacional. Entre as 14 salas de exposição abertas ao público, poderiam ser encontrados pássaros de diversas espécies; peixes de água salgada e água doce; mamíferos do Brasil, da Europa e de outros continentes; crustáceos; insetos e amostras minerais e paleontológicas. Já em outra parte do museu, exatamente na parede fronteira à escada que ligava o andar térreo ao primeiro andar, havia uma lápide com a seguinte inscrição: "Este monumento comemora a Independência do Brasil, proclamada a sete de setembro de mil oitocentos e vinte e dois." Na mesma parede, estava um busto de Prudente de Morais, então Presidente da República. Já no corredor principal, havia uma fotografia representando Bernardino de Campos e junto a ela, se encontrava uma inscrição com o texto da lei que autorizou o governo paulista a construir o Monumento do Ipiranga. Dirigiu o Museu Paulista, entre 1894 e 1915, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, zoológo alemão radicado no Brasil desde 1880, naturalista-viajante do Museu Imperial e Nacional, pesquisador da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, e autor ( com seu filho Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering) dos "Catálogos de Fauna Brazileira. As aves do Brazil" (São Paulo, 1907). Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, no discurso de posse, destacou a relevância do Museu para o incremento das ciências naturais no Brasil, especialmente pelo fato do país não possuir, naquela ocasião, universidades ou escolas que formassem professores de história natural nos padrões das instituições européias (Apud LOPES, 1997). O Museu deveria, na sua concepção, ter um duplo objetivo, o de instruir e o de contribuir para o progresso da ciência. Em sua gestão deu prioridade aos estudos de caráter zoológico, devido a sua própria formação, a zoologia, e também porque quando ocorrera a separação entre o Museu Paulista e a Comissão Geográfica e Geológica, toda a coleção zoológica pertencente à Comissão acompanhou o Museu. Hermann Friedrich Albrecht von Ihering destacava, em seus relatórios, a visita de pesquisadores estrangeiros, como Franz Heger (Museu Imperial de Viena), Arthur Smith Woodward (British Museum), Krause (Leipzig), John Hasemann (Carnegie Museum), e o apoio de sociedades e instituições científicas estrangeiras, como o British Museum, o Museu Nacional dos E.U.A. e a Smithsonian Institution (LOPES, 1997). Além disso, durante sua gestão, o Museu Paulista recebeu coleções dos Museus da Argentina (Museu de La Plata, Museu Nacional de Buenos Aires), do Uruguai e de Santiago do Chile, ampliando o acervo da instituição. Pesquisadores brasileiros também colaboraram com a classificação das coleções, entre eles Florêncio Gomes (Instituto Serumterápico do Estado de São Paulo), Adolph Hempel (do Instituto Agronômico de Campinas ), Gregório Bondar ( Escola Agrícola Agrícola Prática "Luiz de Queiroz" ), e Adolpho Ducke ( Museu Emílo Goeldi ). Em sua gestão, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering procurou seguir o exemplo de instituições européias, preocupando-se não apenas com a parte expositiva, mas inclusive, com o trabalho científico nas coleções. Para isso, contratou vários naturalistas para percorrerem o Brasil em busca de exemplares naturais para o Museu. Dentre os contratados, estiveram: Beniamino Bicego, Helmuth Pinder, Zech, Adolph Hempel, Sigismund Ernst Richard Krone, Francisco Leonardo de Lima, Spitz, Hermann Lünderwaldt, Ernest e Walter Garbe. Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, como outros dirigentes de Museus no Brasil, manteve intercâmbios com várias instituições e pesquisadores estrangeiros (Musée de Paris, British Museum e Smithsonian Institution), e as adotava como referências. Defendia, a exemplo de F.A. Bather (Bristish Museum) a distinção dos museus, os centrais, os provinciais e os especializados, e destacava a necessidade da especialização dos museus, seguindo a especialização crescente das ciências na época. Propunha, ainda, a adoção da separação entre as coleções expostas e as de estudo, sistema defendido por George Brown Goode, autor de "Principles of Museum Administration", com quem manteve correspondência sistemática. Na realidade, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering já havia sido convidado por Orville Adelbert Derby em 1892 para assumir o cargo de diretor do museu. Neste ano, Derby enviou uma carta ao zoólogo alemão, na qual explicitava seu plano:
No final de 1915, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering foi destituído do cargo de direção do Museu Paulista, por terem sido encontradas várias irregularidades pela comissão encarregada de inspecionar o estabelecimento. Em seu lugar, foi nomeado Armando Prado e em sua curta gestão (durou apenas um ano), o Museu Paulista deu bastante ênfase ao caráter histórico. O projeto, que fora encaminhado ao Congresso em 1893, defendia o caráter histórico do museu, que, na visão da elite paulistana, deveria destinar-se à celebração de figuras ilustres do Estado de São Paulo, utilizando os espaços que não fossem ocupados pelo acervo de ciências naturais, e preenchendo-os com fotos, bustos, pinturas e outros suportes que representassem os personagens de relevo em São Paulo e que, tivessem prestado algum "bem" à Pátria:
Esta dimensão do museu seria levado adiante na curta gestão de Armando Prado (1916-1917), quando o Museu Paulista deu bastante ênfase ao caráter histórico. Afonso d’Escragnolle Taunay, que assumiu a direção em 1917, deu ênfase a seção de História do Brasil. Com a nova administração, foi feito o inventário dos objetos e das coleções, além de ter sido iniciado o serviço de catalogação da biblioteca. Notou-se, também, um aumento no número de visitantes ao Museu Paulista, principalmente no dia sete de setembro. O Museu Paulista, na década de 1920 foi desdobrado, passando sua seção de botânica para o Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, e em 1939 a seção de Zoologia (com parte da biblioteca, acervo e técnicos) tornou-se o Departamento de Zoologia da Secretaria da Agricultura. Segundo Paulo Emílo Vanzolini (2002), esta medida foi inteiramente de caráter político, sem qualquer consideração científica. O Museu permaneceu com uma pequena equipe, e dedicou-se exclusivamente à história nacional, segundo o modelo proposto anteriormente, concentrando-se em suas funções museológicas tradicionais. Nesta época o Museu foi transferido para um prédio na avenida Nazaré, onde até hoje se encontra. Em 1969, o Museu, então dirigido por Paulo Emílio Vanzolini, foi integrado à Universidade de São Paulo. Diretores: Alberto Löefgren (1891-1893); Orville Adelbert Derby (1893-1894); Hermann Friedrich Albrecht von Ihering (1894-1915); Armando Prado (1916-1917); Afonso d’ Escragnolle Taunay (1917- 1947).
O regulamento da instituição, aprovado pelo decreto nº249, de 26/07/1894, definia em seu art.2º, o Museu Paulista como um:
Em decorrência desses objetivos, o Museu deveria recolher produtos naturais em diversas regiões para estudos comparativos em termos sul-americanos. Segundo Maria Margaret Lopes (1997) o regulamento do Museu, seguindo a orientação presente em instituições congêneres, propunha a realização de conferências científicas, a publicação de uma revista e a definição de concursos para o ingresso na instituição. Ainda segundo o regulamento, as viagens realizadas pelos naturalistas-viajantes deveriam ser registradas em diários e as coleções especificadas em um livro de registro. A instituição era aberta ao público somente em dias previamente determinados pela direção da instituição, havendo a exceptualidade de visitas para alunos de escolas públicas, acompanhados de seus professores. Pelo regulamento a estrutura administrativa do Museu era a seguinte: um diretor, um zelador ou cargo de custos (que também era vice-diretor), um preparador, um amanuense e um contínuo-servente. Hermann Friedrich Albrecht von Ihering ao assumir a direção da instituição (1894-1915), destinou uma equipe de zoólogos para a organização e a pesquisa do acervo zoológico, tão heterogêneo e reunido de maneira pouco científica. A organização e a catalogação do acervo despertaram o interesse do Estado, que destinou uma verba de cem contos de réis anuais para custeio do trabalho e ainda, cedeu um grande edifício para instalar as coleções (trata-se do Monumento do Ipiranga). Em termos do espaço físico o Museu encontrava-se organizado da seguinte forma: térreo - coleções de estudo, laboratórios, oficinas, biblioteca, administração do Museu; 1º andar - 16 salas para exposição das coleções: pássaros (sala 1), ninhos e ovos de pássaros (sala 2), aves (sala 3), cobras (sala 4), anfíbios, répteis e peixes de água doce (sala 5), peixes do mar (sala 6), insetos (sala 7), objetos históricos (sala 8), objetos históricos e armamentos (sala 9), animais inferiores (sala 10), coleção mineralógica e paleontológica (sala 11), coleção etnográfica e arqueológica dos índios do Brasil (sala 12), coleção numismática (sala 13), mamíferos (salas 14, 15 e 16), e o quadro de Pedro Américo "Brado da Independência", e outras telas históricas (sala de honra). O resultado de todo este aparato foi a consolidação do Museu Paulista como uma instituição voltada principalmente para o estudo das ciências naturais. Tudo isto pôde ser traduzido com a criação da Revista do Museu Paulista, em 1895. Com a ampliação das coleções, as instalações do Museu foram ficando acanhadas, adotando-se muitas vezes como solução a substituição das espécimes velhas por outras novas. Segundo M.Margaret Lopes (1997) grande parte destes acréscimos nas coleções foram oriundos do trabalho do naturalista-viajante Ernest Garbe, que viajou por várias regiões do país. Destacaram-se, também, as coleções de peças arqueológicas, de índios brasileiros, consideradas raridades e oriundas da coleção de Balbino de Freitas, do Rio Grande do Sul. A coleção Limur, igualmente adquirida, era constituída de importantes materiais mineralógicos, paleontológicos e arqueológicos, que haviam sido coletados pelo francês Boucher de Perthes. Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, em 1909, fundou a Estação Biológica do Cajuru, no Alto da Serra, considerada a primeira na América do Sul, que era um laboratório natural destinado às investigações biológicas do Museu, como estudos sobre o comportamento animal e sobre o desenvolvimento de plantas em seus ambientes. Foram realizadas várias excursões para estudos antropológicos e para coleta de materiais arqueológicos e etnográficos, como a que explorou, em 1909, as grutas calcárias de Iporanga e Xiririca (Vale da Ribeira) com a participação do próprio von Ihering e do preparador Francisco Leonardo de Lima. De acordo com a Mensagem do Presidente do Estado de São Paulo em 1917, Altino Arantes, o Museu Paulista necessitava, naquela ocasião, de uma nova organização, a fim de que no local pudessem ser realizadas as festividades em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Falou-se, inclusive, na necessidade de uma remodelação nos processos administrativos do museu, para que possa desempenhar com louvor sua missão histórica e educativa. Em 1918, foram inauguradas duas novas salas, sendo uma destinada às coleções botânicas e outras, relacionadas à tradição e aos fatos históricos de São Paulo. O número de visitantes ao museu crescia, principalmente no dia 7 de setembro, como de costume. Ainda neste ano, voltou-se a falar da necessidade imediata de uma reorganização do Museu Paulista, a fim de que pudesse desempenhar o seu verdadeiro papel. Finalmente, após tantas reivindicações por melhorias na instituição, ficou esta fechada durante dois meses para que uma remodelação fosse feita. Após a sua reabertura, o Museu Paulista teve um aumento significativo no seu número de visitantes, recebendo cinco vezes mais pessoas do que nos anos anteriores. Prosseguiram também, os trabalhos de catalogação da biblioteca, que já em 1918, contava com cerca de 27.000 volumes e tendo recebido neste mesmo ano, 1400 livros. Foi dada continuidade ao serviço de limpeza e reparação das antigas salas de exposição, aumentando o número de objetos em exposição. Foi aberta ainda, uma nova sala, destinada à história da capital paulista; nela, se encontravam não apenas quadros representando o São Paulo antigo, mas também documentos do Arquivo da Cidade, que haviam sido emprestados pela Câmara Municipal. Tal qual na época de Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, na gestão de Afonso d’Escragnolle Taunay também foi dada ênfase às expedições científicas, a fim de coletar material para as coleções do museu. Nesta época, estiveram na instituição os professores Allypio de Miranda Ribeiro e Edgard Roquete-Pinto, encarregados do serviço de revisão e de determinação das coleções ictiológicas e também, de remodelação das exposições antropológicas. O horto botânico, que funcionava como anexo do Museu Paulista, desenvolveu-se muito neste ano, tendo sido consultado bastante, sobretudo por estudos de caráter etimológico e botânico. Nos primeiros meses de 1922, o Museu Paulista esteve fechado novamente para obras de reparo, em virtude das comemorações do centenário da Independência do Brasil. Neste período, foram organizadas novas salas de exposição e para preenchê-las, foram adquiridos quadros, estátuas e outros objetos. O acervo da Biblioteca do Museu aumentou, tendo recebido 183 obras e 24 mapas do Brasil. Ao reabrir no dia sete de setembro, data da comemoração do centenário da Independência do Brasil, o Museu inaugurou suas novas instalações; com as reformas, o número de salas de exposições que de 13, passou a ser de 26 e foram destinadas à história nacional e paulista, inaugurando também uma de entomologia; decorou-se a escadaria nobre e o salão de honra do edifício do Museu recebeu muitas estátuas de mármore e bronze, assim como grandes quadros e painéis históricos, referentes à Independência e à epopéia do bandeirantismo paulista. O número de visitantes à data de sua reabertura foi colossal. Em 1923, o Museu Paulista inaugurou duas novas seções: a de História Nacional e especialmente, a de São Paulo e Etnografia. A biblioteca aumentou o número de volumes e nesta época, seu acervo chegava a 35.000 livros. A Lei n.º 1911, de 29 de dezembro de 1922, criou no Museu Paulista a seção de História Nacional, especialmente de São Paulo e Etnografia e transferiu para o Museu Paulista a seção de Botânica, que antes era anexada ao Instituto Soroterápico de Butantan (MENSAGEM, 1923, p. 162). Com esta transferência, ficaram anexados ao Museu Paulista, o Horto Oswaldo Cruz e a Estação Biológica do Cajuru, no Alto da Serra. Ainda em 1922, pelo Decreto n.º 3579, de 12 de fevereiro, foi criado um museu, no prédio onde se realizou a Convenção Republicana de Itú. (MENSAGEM, 1923, p. 162) Tal estabelecimento recebeu o nome de Museu Republicano de Itú e funcionou como anexo da seção de História do Museu Paulista. Sua inauguração data de dezoito de abril de mil novecentos e vinte e dois. Com relação às excursões de coleta de material científico, em 1923 foi realizada apenas uma, de pequeno porte; dentre os naturalistas que participaram desta expedição, estavam Afrânio do Amaral, Alberto Hempel, Allypio de Miranda Ribeiro, Júlio Melzer e J. Holt. Em 1926, duas outras excursões foram realizadas, uma de botânica e a outra de zoologia, nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro. No mesmo ano, a biblioteca do Museu Paulista fez importantes aquisições, chegando a ter um acervo na época, superior a 37.000 volumes. Dentre as obras recebidas, estavam as do Automóvel Clube de São Paulo, do Clube Comercial de São Paulo e ainda, as de um grupo de intelectuais, que ofereceu um autógrafo precioso do Padre José de Anchieta. Em quinze de novembro de mil novecentos e vinte e oito, foi aberto ao público, um pavilhão anexo, onde ficou exposto o hidroavião "Jaú". Em 1929, duas excursões de caráter zoológico foram realizadas nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e Paraná. Em 1930, foi aberta ao público uma nova sala, onde estavam três painéis do pintor paulista Almeida Júnior, denominados "A Partida da Monção", "São Paulo no caminho de Damasco" e o retrato do Presidente Prudente de Moraes. Esta nova seção do Museu Paulista recebeu o nome de "Sala das Monções Almeida Júnior". Além disso, foram realizadas duas excursões científicas, uma bem extensa, no sul do Mato Grosso e outra mais curta, às cabeceiras da Ribeira do Iguape.
A partir de 1895, montou-se em São Paulo um projeto de um museu "enciclopédico", ou seja, que tinha a pretensão de reunir exemplares de todo o conhecimento humano. Tal empreendimento pautou-se no modelo das ciências biológicas e ainda teve como base um saber evolutivo e classificatório; com toda esta estrutura, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering implantou no Museu Paulista um perfil profissional, inspirado nos grandes centros europeus e sempre concordante com eles. A tradução de todo este esforço resultou, no mesmo ano, o lançamento, em janeiro de 1896, do primeiro número da Revista do Museu Paulista, cuja publicação havia sido prevista pelo regulamento do Museu (decreto nº249, de 26/07/1894). A revista apresentava um caráter um tanto quanto personalista do diretor do museu, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering. Logo na capa, constava além de um breve currículo seu, o caráter de circulação internacional que a revista deveria possuir:
Com um caráter moldado segundo os grandes centros europeus, o Museu Paulista reafirmou esta posição na elaboração da Revista. A presença estrangeira era bem significativa, sendo a maioria dos artigos de autoria de especialistas europeus, como Florentino Ameghino, Adolpho Ducke, Sigismund Ernst Richard Krone, apresentado apenas um pequeno percentual de autores nacionais. É importante lembrar inclusive que, boa parte dos artigos eram transcritos no idioma original, predominando o inglês, o francês e o alemão e ainda que, durante sua gestão, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering foi responsável por 40% dos artigos da revista. Nota-se então, o caráter excessivamente personalista do diretor do Museu Paulista. A Revista trouxe ainda na abertura de seu primeiro volume, um ofício de Orville Adelbert Derby datado de 29 de agosto de 1895, falando das origens do Museu Paulista. Nele, Derby relatava que assim que recebeu a indicação do zoólogo alemão Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, tratou de propor ao governo a criação de uma seção zoológica na Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo. Um outro ponto a se destacar na publicação da Revista do Museu Paulista, diz respeito ao predomínio absoluto das ciências naturais. A maior parte dos artigos (55%) catalogados tinham como tema central a zoologia e paleozologia, área de atuação de Hermann Friedrich Albrecht von Ihering. Na revista, as outras áreas ocupavam um espaço bem menor: etnografia e arqueologia (11%), informações sobre a instituição (8,6%), intercâmbios bibliográficos e bibliografias sobre ciências naturais (12,5%), biografias e necrológios (5,5%), botânica (3,1%), geografia (1,5%), viagens (1,5%), geologia (0,7%) e história (0,7%) (LOPES, 1997). A Revista do Museu Paulista publicou 23 volumes, entre 1895 e 1914, sendo todos editados por Hermann Friedrich Albrecht von Ihering. Após a interrupção em decorrência da I Guerra Mundial, a publicação foi retomada em 1918, e deste ano até 1938 foi editada por Afonso d’ Escragnolle Taunay. Nesta segunda fase, direcionada para a história natural, destacou-se a presença de pesquisadores nacionais, contando, entre outros, com a colaboração de Arthur Neiva e Allypio de Miranda Ribeiro ( Museu Nacional ). De 1947 a 1988 circulou uma nova etapa da publicação, a Revista do Museu Paulista – nova série, voltada especialmente para a área de antropologia. Em 1922, o Museu Paulista distribuiu a "Collectanea de Documentos da Antiga Cartographia Paulista" e começou a publicar os Annaes do Museu Paulista, os quais a partir de 1993 intitularam-se Anais do Museu Paulista. História e Cultura material.
- AMARAL, Antonio Barreto
do. Dicionário da História de São Paulo. SP:
Governo do Estado de São Paulo, 1980. (BN)
Pesquisa- Gil Baião
Neto; Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez; Mª Rachel Fróes
da Fonseca
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