ESCOLA TROPICALISTA BAIANA
Denominações: Escola Tropicalista Baiana (1860)
Resumo: A Escola Tropicalista Bahiana não constituía uma instituição de ensino propriamente, mas um grupo de médicos estabelecidos na então Província da Bahia que se dedicavam à prática de uma medicina voltada para a pesquisa da etiologia das doenças tropicais, que acometiam as populações pobres do país, principalmente os negros escravos. A formação da Escola partiu das iniciativas dos médicos estrangeiros radicados naquela Província - Otto Edward Henry Wucherer, John Ligertwood Paterson, e José Francisco da Silva Lima. Este grupo teria se formado por volta de 1860 e o nome de Escola Tropicalista Baiana lhe foi atribuído posteriormente.
Histórico
Embora tenha recebido esta denominação, a Escola Tropicalista Baiana, não se constituiu como uma instituição de ensino formal, mas como um grupo de médicos estabelecidos na Bahia que se dedicaram à prática de uma medicina voltada para a pesquisa da etiologia das doenças tropicais que acometiam as populações pobres do país, principalmente os negros escravos. Este grupo teria se formado por volta de 1860, e o nome de Escola Tropicalista Baiana lhe foi atribuído posteriormente.
Foi, sobretudo, Antônio Caldas Coni (1952) quem popularizou a noção da importância de uma escola de medicina tropical no século XIX na Bahia. A seu ver, a medicina baiana estaria dividida em três épocas:
1ª - empírica (1500-1808), fase em que predominou a medicina de origem indígena, africana e jesuítica;
2ª -sistemas teóricos ou época pré-científica (1808-1866), fase em que houve a influência dos sistemas especulativos europeus, baseados em teorias médico-filosóficas, nascidos durante o século XVIII de autoria de François Joseph Broussais (1772-1838 - terapêutica sanguinária), de Paul Joseph Barthez (1734-1806 - doutrina vitalista) entre outros;
3ª - científica (1866 aos nossos dias), fase em que os trabalhos de Otto Edward Henry Wucherer, John Ligertwood Paterson e José Francisco da Silva Lima foram publicados na Gazeta Médica da Bahia, demonstrando o espírito de observação empregado na sua elaboração. Coni considerou que esta última fase se subdividiu em 3 outros períodos: o áureo, o de decadência e o da reação de Raimundo Nina Rodrigues.
Logo, embora os chamados “tropicalistas” se voltassem para o estudo das doenças de climas quentes, ou àquelas que eles se referiam como “patologia intertropical”, eles próprios (os médicos do grupo baiano) nunca se autodenominaram de “tropicalistas”, designação que lhes foi atribuída posteriormente.
Na realidade, este grupo de “tropicalistas” contribuiu para a reformulação do modelo até então aceito da nosologia (classificação de doenças) brasileira, questionando os conhecimentos europeus sobre os problemas de saúde pública no Brasil. Para entender as doenças no Brasil rejeitaram o determinismo racial e climatológico e a idéia de que os habitantes dos trópicos degeneravam irreversivelmente. Defendiam a idéia de que a maioria das doenças eram universais, mas que a umidade e o calor as exacerbavam, assim como as particularizavam. Costumavam associar as doenças nos trópicos à pobreza, má nutrição, falta de saneamento, e às más condições de vida dos escravos. Desenvolveram, assim, trabalhos originais para a época em que foram produzidos, especialmente descobertas relacionadas à ancilostomíase, à filariose (elefantíase), ao ainhum (alteração nos dedos do pé), contribuindo para promover debates sobre parasitologia, e algumas doenças como o beribéri, a tuberculose, a lepra, dracunculose e o maculo (diarréia que acometia os escravos novos) (PEARD, 1997).
A formação da Escola Tropicalista Baiana partiu das iniciativas dos médicos estrangeiros radicados na Província da Bahia - Otto Edward Henry Wucherer, de descendência luso-germânica, John Ligertwood Paterson, de origem escocesa e José Francisco da Silva Lima, português. Com base em conhecimentos médicos europeus, as investigações realizadas por esse grupo seriam expressão das novas disciplinas que surgiam durante o século XIX (anatomia patológica, parasitologia e bacteriologia). Contrapunham-se, assim, ao ensino médico oficial, representado na época pela Faculdade de Medicina da Bahia e pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que ainda se fundamentavam na teoria miasmática para explicarem a etiologia das doenças, pressupondo que o solo produzia emanações causadoras de doenças que acometiam as populações. O grupo localizado na cidade de Salvador, Bahia, acabava, assim, por desafiar a tradição do ensino e da prática médica local baseada na reprodução do saber médico europeu, principalmente de origem francesa, desvinculado das singularidades da realidade brasileira (PEARD, 1997, BARROS, 1998).
Lycurgo de Castro Santos Filho (1991), assinalou que a medicina brasileira durante o século XIX, desde a fundação das escolas de cirurgia em 1808, se caracterizou pela observação clínica, como no século anterior. Neste sentido, destaca os trabalhos dos “tropicalistas” da Bahia que teriam apontado um novo rumo, o da pesquisa da patologia, considerando-os predecessores da medicina experimental, que se firmaria no Brasil a partir do médico sanitarista Oswaldo Gonçalves Cruz e do Instituto Soroterápico Federal, no Rio de Janeiro, no limiar do século XX.
O historiador Flávio Edler (2001) observou que a Escola Tropicalista Baiana segundo esses autores teria apresentado uma trajetória singular no panorama das instituições médicas do período por desenvolver estudos baseados em disciplinas do ramo das ciências naturais que só viriam a ser exploradas a partir do final do século XIX, com a institucionalização da medicina fundamentada nas teorias do cientista francês Louis Pasteur (1822-1895). Edler (2001) questionou essa visão, considerando que desde a criação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro em 1829, as elites médicas, parte formada pelas faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, já vinham desenvolvendo pesquisas no âmbito da anatomoclínica e da higiene voltando-se para alguns ramos das ciências naturais como a botânica, a climatologia, a metereologia, a topografia. Essas pesquisas não deixavam de buscar as causas das doenças próprias à nossa realidade climática, “na identificação dos agentes deletérios ambientais (...) e na adequação das medidas profiláticas propugnadas pela Higiene às condições nacionais” (p. 99).
As primeiras reuniões da denominada Escola Tropicalista Baiana, ocorreram na residência de John Ligertwood Paterson, sendo quinzenais e noturnas. Posteriormente, as sessões se efetuaram alternadamente na casa de cada um dos três. Inicialmente além desses médicos fundadores, o grupo contou com a assistência de mais quatro facultativos: o cirurgião Manuel Maria Pires Caldas, o clínico Ludgero Ferreira e os professores da Faculdade de Medicina da Bahia: Antônio José Alves (pai do poeta Castro Alves e professor de cirurgia) e Antônio Januário de Faria (professor de clínica médica). Participavam ainda do grupo, dois médicos estrangeiros: Thomas Wright Hall, que trabalhava com a comunidade britânica, e Alexander Ligertwood Paterson, irmão de John Ligertwood Paterson. Nessas reuniões, suas discussões científicas eram baseadas na anatomia patológica e no uso pioneiro de microscópio no Brasil. Mais tarde, alguns estudantes da Faculdade de Medicina da Bahia como Antônio Pacífico Pereira (1846-1922); seu irmão, Manuel Victorino Pereira (1853-1902) e Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) integraram-se à Escola Tropicalista Baiana, atraídos pela crítica à medicina ocidental tradicional e pelas pesquisas originais desenvolvidas pelo grupo.
Embora alguns professores da Faculdade de Medicina da Bahia participassem de suas atividades, os membros fundadores não conseguiram se integrar ao corpo docente dessa instituição de ensino. Portanto, a prática e ensino dessa medicina eram exercidos informalmente no Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, e a divulgação dos estudos realizados pelo grupo era feita através do periódico Gazeta Médica da Bahia, lançado em julho de 1866.
O nascimento da chamada Escola Tropicalista Baiana poderia ser traçado por meio da sugestão de John Ligertwood Paterson, como um encontro informal entre quatorze médicos instalados em Salvador, que se reuniram com o intuito de discutirem assuntos de interesse clínico, bem como a última literatura médica. As discussões enfocavam os casos mais típicos das doenças tropicais da região. Para investigar esses distúrbios, os médicos fizeram uso das mais avançadas ferramentas da medicina européia como novos métodos clínicos baseados em medidas e aplicados pela fisiologia, o uso da química na análise de corpos fluidos, e das novas disciplinas de parasitologia e microscopia. Embora não tenham recebido apoio oficial nem fundos para a realização de seus trabalhos, o grupo dos “tropicalistas” conseguiu tornar-se uma força inovadora na Bahia e na medicina brasileira (PEARD, 1997). Isto de certa forma, foi reconhecido por alguns cientistas brasileiros mais tarde como Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, parasitologista e discípulo de Oswaldo Cruz. Ao tomar posse como professor honorário na Faculdade de Medicina da Bahia em 13 de fevereiro de 1924, Chagas ressaltou em discurso a importância das influências recebidas da Escola Tropicalista Baiana nos seus estudos (TORRES, 1946). Chagas tornara-se conhecido pela descoberta da doença produzida pelo trypanosoma cruzi, que foi designada em sua homenagem de Doença de Chagas.
Fundadores e Produção Científica
Otto Edward Henry Wucherer, John Ligertwood Paterson e José Francisco da Silva Lima apontados como fundadores da Escola Tropicalista Baiana costumam ser considerados os introdutores da medicina experimental no Brasil (CONI, 1952).
Otto Edward Henry Wucherer (1820-1875), alemão nascido em Portugal, destacou-se pelos estudos sobre as cobras brasileiras e seus venenos, pelas descobertas de ancilostomíase na Bahia, e do embrião da filária (causadora da elefantíase). Wucherer, mais do que qualquer um dos outros “tropicalistas”, forjou a identidade do grupo, elaborando os seus programas de pesquisa e divulgando-os na imprensa médica européia (PEARD, 1997). De descendência luso-germânica, ele passou sua adolescência no Brasil e foi estudar medicina na Escola de Tübingen (Wurtemberg), graduando-se em 1841. Trabalhou no St. Bartholomew’s Hospital, em Londres, e também em Portugal antes de retornar ao Brasil, em 1843, onde trabalhou inicialmente nas cidades de Cachoeira e Nazareth, no interior da Bahia. Em 1847, transferiu-se para Salvador.
Manteve relações importantes com os parasitologistas mais destacados da época, entre os quais o alemão Wilhelm Griesinger (1817-1868), que realizou pesquisas sobre esquistossomose (Schistosoma hematobium) no Egito. Wucherer contribuiu para o trabalho de Griesinger, pesquisando o parasita esquistossoma na urina ensangüentada de pacientes com hematuria intertropical no Brasil. Em 1866, quando tentava cumprir o estipulado pelo parasitologista alemão, ele descobriu um parasita diferente em fase embrionária na urina de pacientes, a micro-filária. Em função disso, a doença receberia mais tarde o nome de Wucheria bancrofti, em sua homenagem e ao médico australiano Joseph Bancroft (1834-1894), que descobriu a filária adulta. Neste mesmo período, descobriu a causa da doença conhecida como opilação e cansaço, denominada desde 1835 de hipoemia intertropical pelo Conselheiro da então Academia Imperial de Medicina, José Martins da Cruz Jobim. Através de autópsia de um paciente escravo, constatou que esta doença, anteriormente atribuída à má alimentação e a condições de higiene precárias, era causada por um verme que se alojava no intestino e que, a partir de então recebeu o nome de Ancylostoma duodenale. As descobertas de Otto Edward Henry Wucherer provocaram polêmicas na Corte, sobretudo na Academia Imperial de Medicina, manifestadas principalmente por José Martins da Cruz Jobim e João Vicente Torres Homem. As hipóteses formuladas sobre as causas da hematuria intertropical e hipoemia intertropical dos países quentes, foram confirmadas somente mais tarde, quando Wucherer foi considerado o fundador da helmintologia brasileira.
Sendo assim, em vez da nosologia (classificação das doenças) abstrata feita da combinação de vários sintomas, classificados em ordens e gêneros como o faziam os naturalistas, os “tropicalistas” observavam a própria moléstia com a sua etiologia esclarecida, acompanhada do seu conjunto de sintomas. E assim, as causas decorrentes do clima tropical, tais como as vicissitudes atmosféricas, os graus de calor e umidade, entre outros, foram substituídas na nomenclatura e na medicina baiana e brasileira pelos termos ancilostomíase (antes chamada opilação ou cansaço), filariose (antes chamada hematoquilúria dos países quentes). Os estudos sobre a ancilostomíase e a filariose ilustraram como eles rejeitavam o determinismo climatológico e atacavam as etiologias ambientais.
John Ligertwood Paterson (1820-1882), nascido na Escócia, graduou-se em medicina pela Universidade de Aberdeen, em 1841, e foi cirurgião pelo Colégio Real dos Cirurgiões de Londres. Viajou para o Brasil com seus vinte anos de idade, estimulado por seu irmão mais velho, Alexandre Ligertwood Paterson, que havia estabelecido um consultório com a comunidade britânica em Salvador – consultório que John herdaria em 1843, quando seu irmão morreu.
John Paterson passou a maior parte da sua vida no Brasil como médico, embora tenha feito várias visitas à Inglaterra e à Escócia. Em 1869, ele trabalhou com o cirurgião inglês Joseph Lister (1827-1912) em Edimburgo (Escócia) e foi iniciado no método antisséptico, que ele ajudou a introduzir na Bahia.
Otto Edward Henry Wucherer e John Ligertwood Paterson foram rivalizados pela classe médica baiana ao chamarem a atenção das autoridades públicas e da comunidade médica para as epidemias de febre amarela de 1849 e a de cólera de 1855 que ocorreram na Bahia, sendo os primeiros a diagnosticarem-nas.
José Francisco da Silva Lima (1826-1910), português, chegou à Bahia em 1840, aos quatorze anos de idade. Doutorou-se em 1851 pela Faculdade de Medicina da Bahia após ter defendido tese intitulada: “Dissertação Filosófica e Crítica Acerca da Força Medicatriz da Natureza”. Durante sua longa carreira, fez diversas viagens pelos países europeus, visitando importantes centros de investigação e mantendo a comunidade médica local informada sobre os avanços da medicina européia. Naturalizou-se cidadão brasileiro em 1862. Dentre os estudos realizados, a sua pesquisa sobre o beribéri e o ainhum destacaram-se.
Já na fase de decadência da chamada Escola Tropicalista Baiana, em torno de 1873, quando foram divulgadas as teorias de Louis Pasteur, o médico baiano Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) se incorporou ao grupo, desenvolvendo estudos anatomopatológicos. De início, dedicando-se à pesquisa sobre o beribéri, foi partidário da doutrina microbiana, mas abandonando a pesquisa logo depois alegou falta de estrutura suficiente (pessoal especializado e equipamento de laboratório) que acompanhasse as transformações da ciência médica, a partir das descobertas de Pasteur, Robert Koch (1843-1910), Claude Bernard (1813-1878), entre outros. Chegou a publicar artigos na Gazeta Medica da Bahia sobre temas que faziam parte da agenda dos “tropicalistas” tais como beribéri, lepra, informações sobre a incidência de doenças que mais afligiam os brasileiros e sobre a necessidade da reforma do sistema de saúde na Bahia.
Considerando inviável a realização do exercício da medicina segundo aquele modelo médico “tropicalista”, Raimundo Nina Rodrigues afastou-se do grupo em 1897, depois de ter atuado como principal colaborador da Gazeta Medica da Bahia, do qual foi diretor entre 1890 e 1893.
Segundo Pedro de Motta Barros (1998), esse desligamento de Nina Rodrigues do grupo sinalizaria para o término da chamada Escola Tropicalista Baiana. Portanto, diferentemente de Otto Edward Henry Wucherer, John Ligertwood Paterson e José Francisco da Silva Lima que se dedicaram a estudos anatomopatológicos relacionados à clínica médica direcionada aos pobres, Nina Rodrigues passou a se dedicar a estudos voltados para a biossociologia brasileira, na qual o biológico era entendido como determinante do social, inspirando-se nas teorias de Cesare Lombroso (1836-1909) em medicina legal e de Wilhelm Wundt (1832-1920) em psicologia coletiva. Lombroso introduziu a idéia de criminoso nato, ao passo que Wundt entendia a psicologia das multidões como domínio dos indivíduos por um guia de superioridade comprovada pelo fato de ser de cor branca e de raça germânica. Essas teorias que compunham o pensamento racista, fundamentavam-se no pensamento de Herbert Spencer (1810-1903), Charles Darwin (1809-1882) e Francis Galton (1822-1911) que pressupunham a superioridade da raça branca. Os estudos de Nina Rodrigues voltaram-se, assim, para problemas de raça e de cultura, em geral, e de crimes, em particular, tendo como viés essas teorias e o preceitos positivistas de Auguste Comte. Logo, esses estudos acabariam fundamentando o controle social de raças tidas como inferiores. Concluiu que não era apenas a herança racial uma chave variável na predisposição para certas doenças, mas os africanos e os povos racialmente miscigenados eram também mais predispostos para a criminalidade, sendo mentalmente inferiores, e não deveriam, por isso, ser considerados cidadãos da nação.
Por outro lado, sua produção científica foi reconhecida e respeitada devido em parte ao pioneirismo nos estudos dedicados à cultura afro-brasileira, embora o seu argumento da inferioridade da raça negra não fosse comprovado cientificamente. Reuniu informações importantes a respeito nas áreas de literatura, etnografia, folclore, política, costumes e filosofia numa época em que havia uma preocupação em negar as influências africanas na cultura brasileira e ressaltar a cultura européia. Ao enfatizar o estudo sobre o africano no Brasil, considerando-o central para a melhor compreensão das disciplinas de medicina e de direito, focalizou uma realidade que a intelectualidade baiana preferia ignorar (PEARD, 1997).
No final do século XIX, com a imposição do modelo de civilização europeu, o Brasil importou o determinismo racial, a antropologia criminal e a medicina legal, expressos de certa forma na obra de Nina Rodrigues. A antiga concepção dos “tropicalistas” baianos sobre os trópicos e as doenças tropicais ficou oculta por uma medicina que para ser bem sucedida deveria ser reconhecida pelo governo e instituições oficiais. Ou seja, a medicina tropical agora deveria ser repensada sob o ponto de vista do determinismo racial para obter reconhecimento, condição para sua sobrevivência (PEARD, 1997).
Gazeta Medica da Bahia
O periódico começou a circular em julho de 1866, sendo publicado nos dias 10 e 25 de cada mês. Foi premiado pelo Departamento de Artes Liberais da Exposição Universal Colombiana, realizada em Chicago, em 1893 e pela Exposição Nacional de 1908 (VALLE, 1974).
No editorial do 1º número, foram colocados os seus objetivos:
“O nosso propósito é simplesmente o seguinte: concentrar, quanto for possível, os elementos ativos da classe médica, afim de que, mais unidos e fortificando-se mutuamente, concorram para aumentar-lhe os créditos, e a consideração pública; difundir todos os conhecimentos que a observação própria ou alheia nos possa revelar; acompanhar o progresso da ciência nos países mais cultos; estudar as questões que mais particularmente interessam ao nosso país; e pugnar pela união, dignidade e independência da nossa profissão.(Gazeta Medica da Bahia, n.1, 10 de julho de 1866, p. 3)
Dentre os principais trabalhos dos “tropicalistas” publicados neste periódico destacaram-se os de Otto Edward Henry Wucherer: “Sobre a moléstia vulgarmente denominada opilação ou cansaço”(n. 3, 4, 5 e 6 do vol. I ,1866); “Notícia preliminar sobre vermes de uma espécie ainda não descrita, encontrados na urina de doentes de hematúria intertropical no Brasil” (Ano III, n. 57, 15 de dezembro de 1868); “Sobre a hematúria no Brasil” (5 artigos. Ano IV, n. 76,77, 78, 79 e 80, set.-nov. de 1869). José Francisco da Silva Lima publicou cerca de vinte comunicações sobre o beribéri sob o título de “Contribuição para a história de uma moléstia que reina atualmente na Bahia, sob a forma epidêmica, e caracterizada por paralisia, edema e fraqueza geral” (1866-1868). Em 1872 essas comunicações foram publicadas em forma de livro com o título “Ensaio sobre o beribéri no Brasil”.
Além dessa temática, periodicamente era publicada uma seção que era uma sinopse de desenvolvimento da área de ginecologia e obstetrícia, na qual eram revistos alguns escritos dos médicos norte-americanos e europeus sobre essa especialização médica, incluindo na seção bibliográfica do jornal uma bibliografia atualizada de publicações recentes sobre doenças de mulheres.
Diretores da Gazeta Medica da Bahia: Virgílio Clímaco Damásio (1866-1867), formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1859, antecessor de Nina Rodrigues na cátedra de medicina legal; Antônio Pacífico Pereira (1868- ocupou o cargo por décadas), formado também pela Faculdade de Medicina da Bahia, ligado ao grupo desde os tempos acadêmicos; opositor por concurso da seção de ciências cirúrgicas (1871), depois (1882), catedrático da anatomia geral e patologia, transferido em 1883 para a cadeira de histologia. Demetrio Cyriaco Tourinho, professor de patologia interna dirigiu a Gazeta na ausência de Pacífico Pereira. Raimundo Nina Rodrigues (1890-1893).
Outros personagens ligados à história da Gazeta – Manoel Victorino Pereira, Antônio José Alves, Antônio José Pereira da Silva Araújo, Alexandre Maia Bittencourt, José Luiz de Almeida Couto, Thomas Wright Hall (médico escocês, freqüentou as reuniões em casa de Paterson).
Fontes
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- ______________. A medicina acadêmica imperial e as ciências naturais. In: HEIZER, Alda, VIDEIRA, Antônio Augusto Passos (orgs.). Ciência, Civilização e Império nos Trópicos. Rio de Janeiro: Access Editora, 2001. pp.97-122. (BCOC)
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- PEARD, Julyan G. The Tropicalista School of Medicine of Bahia, 1860-1889. Columbia, USA: UMI, 1990. (BCOC)
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- TORRES, Octávio. Esboço histórico dos acontecimentos mais importantes da vida da Faculdade de Medicina da Bahia (1808-1946). Salvador: Imprensa Vitória, 1946. (BN)
- VALLE, José Ribeiro do. Subsídios para a história da Gazeta Médica da Bahia. In: Brasilensia Documenta, v. IX. Gazeta Médica da Bahia, Tomo I, julho de 1866-junho de 1867. São Paulo: Dep. de Bioquímica e Farmacologia da Escola Paulista da Medicina, 1974. (BCOC)
Ficha técnica
Pesquisa - Alex Varela; Verônica Pimenta Velloso
Redação - Alex Varela; Verônica Pimenta Velloso.
Revisão - Francisco José Chagas Madureira.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
ESCOLA TROPICALISTA BAIANA. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 23 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)