FIGUEIREDO, CARLOS ARTHUR MONCORVO DE
Outros nomes e/ou títulos: Moncorvo, Carlos; Moncorvo Pae
Resumo: Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, nasceu em 31 de agosto de 1846, na cidade do Rio de Janeiro, e era filho de Carlos Honório de Figueiredo (1824-1881) e de Emília Dulce Moncorvo de Figueiredo. Seu filho, Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo Filho, conhecido como Moncorvo Filho, nascido em 13 de setembro de 1871, graduou-se em medicina, e trabalhou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, ao lado do pai. Moncorvo de Figueiredo foi um dos fundadores da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, fundada em 10 de dezembro de 1881, e nesta instituição inaugurou, em 1882, o primeiro curso de pediatria. Foi autor de estudos sobre termas como doenças infantis, medicina parasitária, coqueluche, raquitismo, doenças do estômago, sífilis e terapêuticas, e redator de jornais e revistas médicas, como O Progresso Medico, a União Medica, Revista Medica, e Gazeta Medica da Bahia. Foi considerado o pai da pediatria no Brasil. Faleceu em 25 de julho de 1901.
Dados pessoais
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, nasceu em 31 de agosto de 1846, na cidade do Rio de Janeiro, e era filho de Carlos Honório de Figueiredo (1824-1881), bacharel em direito e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e de Emília Dulce Moncorvo de Figueiredo. Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo teve, pelo primeiro casamento de seu pai, somente uma irmã, de nome Emilia Dulce, mas com o falecimento de sua mãe, seu pai contraiu novo casamento, em 1856, com Maria Cândida de Araújo Viana, com quem teve os filhos Teresa Cristina Araújo Vianna e Figueiredo, Cândido José de Araújo Vianna e Figueiredo, e Joaquim Bernardo de Araújo Vianna e Figueiredo.
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo casou-se com Isabel Maria da Silveira Ferreira, e juntos tiveram somente um filho, Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo Filho, nascido em 13 de setembro de 1871 na cidade do Rio de Janeiro, e que viria a cursar medicina como seu pai.
No ano de 1889 recebeu do Governo Imperial, a Comenda da Ordem de Cristo.
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo faleceu, no dia 25 de julho de 1901, na residência de seu filho, Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo Filho, na Rua Haddock Lobo, e enterrado no Cemitério de São Francisco Xavier, na cidade do Rio de Janeiro.
Trajetória profissional
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo ingressou no Internato do Imperial Collegio de Pedro II, no Rio de Janeiro, tendo sido premiado nos cinco anos do curso, e se formado bacharel em letras, em 1865. E no ano seguinte, em 1866, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na qual doutorou-se em 27 de dezembro 1871, com a tese intitulada “Dyspepsia e seu tratamento; Diagnostico differencial entre a hemorrhagia cerebral e a meningo-encephalite; Môrmo; Calorico em geral”. O título de doutor lhe foi conferido em 9 de janeiro de 1872. Em sua tese apresentou a atualização da matéria segundo as teorias e os conhecimentos em voga na época. Moncorvo de Figueiredo, como discípulo do professor Joaquim Vicente Torres Homem, transcreveu em sua tese, com cerca de 300 páginas, diversas observações deste seu mestre, que teriam sido elaboradas para um livro que não fora publicado, sobre dispepsia-gastralgia.
Sua tese foi bem acolhida não só no Brasil, mas também no exterior, tendo sido comentada em periódicos estrangeiros como a Gazeta Medica de Lisboa e a L´Union Médicale (O DR. MONCORVO, 1901). No jornal L´Union Médicale: jornal des intérêts scientifiques et pratiques, moraux et professionnels du corps médical, publicado em Paris, sua tese foi caracterizada como um verdadeiro tratado elementar das dispepsias, e foi destacada sua erudição:
“Profunda dissertação exclusivamente composta sobre as matérias que formigam na litteratura medica, excepto as 24 observações clinicas inéditas que a terminam. A extensa erudição que ali reina, é precisamente o que distingue este trabalho e lhe constitue o maior merito. Analysados, criticados e discutidos são n´elle os autores de todos os tempos e de todos os paizes, que sobre o assumpto têem escripto: ingleses, allemães, italianos, belgas, brazileiros e francezes, estes principalmente, vão consecutivamente desfilando, com a citação exacta do titulo e das datas de suas producções” (Apud. O DR. CARLOS, 1883)
Após sua formatura viajou para Europa, onde permaneceu por dois anos, tendo frequentado os principais centros médicos europeus, como na Faculté de Médecine de Paris, onde passou dois anos estagiando nos serviços pediátricos dirigidos pelos médicos Eugène Jean Antoine Bouchut (1818-1891), autor de “Traité pratique des maladies des nouveau-nés, des enfants à la mamelle et la seconde enfance” (1873), e Henri Roger (1809-1891), autor de “Recherchescliniques sur les maladies de l´enfance” (1872). Nesta época, publicou artigos em jornais franceses e portugueses, como a Gazeta Medica de Lisboa, dirigida pelo médico Pedro Francisco da Costa Alvarenga, autor da descoberta da insuficiência aórtica que ficou conhecida como “Sinal Alvarenga”. Ao retornar para o país, em 1874, publicou diversos trabalhos sobre diferentes temáticas, como a história do Brasil, a opilação, a ação abortiva do sulfato de quinino, e a ação da genciana associada ao ácido sulfúrico. Neste ano, publicou também a memória intitulada "Do exercício e ensino da medicina no Brasil", na qual criticou o ensino médico praticado no país, os métodos de ensino adotados, e apresentou as bases de um plano de reforma, composto por doze itens. Moncorvo de Figueiredo propôs, entre outros encaminhamentos, uma maior liberdade de ensino, um maior número de gabinetes, como o de fisiologia experimental, e a instalação de um hospital das clínicas. Esta sua memória foi amplamente comentada, inclusive nos Annaes Brasilienses de Medicina, publicação da Academia Imperial de Medicina:
“Destes trabalhos despertou-nos mais a curiosidade – o do exercício e ensino medico no Brasil – no qual o ilustrado collega foi ás vezes exagerado nas suas apreciações sobre o exercício e ensino medico especialmente no Rio de Janeiro, mas explicamos em parte as suas pouco justas apreciações pelas impressões da sua viagem ao velho continente”. (NOTICIARIO, 1874)
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo dedicou sua prática e seus estudos especialmente às doenças de crianças. Tendo ficado muito bem impressionado com o que vira em sua viagem à Europa, especialmente com a eficiência dos serviços policlínicos franceses, ao regressar ao Brasil, defendeu a necessidade da implantação de clínicas no país, uma para partos e outra dedicada às doenças das crianças, de forma a complementar o ensino teórico proferido nas faculdades de medicina, e, também o estabelecimento da cadeira de clínica e moléstias médicas e cirúrgicas de crianças naquelas faculdades. Em referência à “arte de partos”, Moncorvo de Figueiredo, em seu livro “Do exercício e ensino da medicina no Brasil", propôs a criação, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, de uma clínica especial direcionada aos partos, mulheres pejadas e crianças. Ressaltou a importância desta cadeira, tendo em vista o cenário vivenciado no país na época:
“Si a arte de partos é hoje exercida por algumas parteiras distinctas que honram sobremodo a sua classe e que assaz se recomendam pela sua reconhecida instrucção pratica, entre as quaes sobresae o vulto proeminente de uma Mme. Durocher, cuja pericia e ilustração se tornaram proverbiaes entre nós, não é menos patente a cohórte de mulheres desprovidas da mais rudimentar instrucção, pela maior parte analfabetas, que são invocadas, com uma inabalável confiança por grande parte da nossa população, particularmente das classes menos abastadas, de preferencia a um medico, a prestarem serviços relativos á profissão de que tratamos”. (FIGUEIREDO, 1874. Apud. MONCORVO FILHO, 1926, p.87)
Mas de imediato nenhuma de suas propostas foram aceitas, tendo Vicente Cândido Figueira de Sabóia, da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, rejeitado participar do projeto de instalação de uma Policlínica Infantil, mesmo Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo responsabilizando-se pelos custos.
Entretanto, suas ideias para a reforma do ensino médico não foram totalmente esquecidas, pois sua memória, publicada em 1874, foi central para a Reforma Leôncio de Carvalho, aprovada pelo decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879. Esta reforma, fortemente inspirada nas universidades alemãs, instituiu a frequência livre às aulas, permitiu a realização de cursos não oficiais nos próprios recintos das faculdades, propôs a supressão das sabatinas, determinou a obrigatoriedade das provas práticas, aboliu o juramento católico por ocasião da colação de grau, permitiu a diplomação de mulheres nos diversos cursos das faculdades e a concessão de autorização para que estas requeressem exame de verificação para obtenção do diploma de dentista.
Em 1874, um anúncio veiculado no Almanak Laemmert, informava sobre sua Clínica Especial das moléstias das crianças e do estômago, localizada na Rua da Alfândega nº 60, na qual prestava atendimento das 11hs às 15hs, e fora desse horário, o atendimento era realizado em sua residência, na Rua de D. Luiza nº 5ª (NOTABILIDADES, 1874). Entre este ano e o de 1881, se tem registro de sua atuação como médico adjunto do hospital geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, proferiu uma palestra sobre higiene da infância no Collegio Nossa Senhora da Gloria, dirigido por Maria Thereza Carneiro de Figueiredo e estabelecido na Rua das Laranjeiras nº41.
Em 1880, direcionou seus estudos para a questão do aleitamento materno, tema que considerava extremamente importante. Era uma prática que as mulheres negras, escravas ou alforriadas, realizassem o aleitamento, sendo conhecidas como "amas de leite". Moncorvo de Figueiredo propôs padrões de comportamento e de conduta neste assunto por meio de um documento, do “Projecto de regulamento das amas de leite”, publicado em 1876 na Gazeta Medica da Bahia (FIGUEIREDO, 1876). O projeto, que propunha a obrigatoriedade da inspeção de todas as amas de leite, livres ou escravas, o controle e fiscalização, e a criação de um escritório na Corte, junto à Junta Central de Higiene, foi bastante comentado na imprensa, destacando-se sua premência:
“Esse trabalho hoje de novo publicado em folheto corresponde a uma tão urgente necessidade, remedeia um mal tão grave, que associamos com o mais prazer os nossos pequenos esforços ao que está feito pelo illustrado Sr. Dr. Moncorvo, para chamar a attenção dos poderes públicos sobre a materia”. (ASSUMPTOS, 1876, p.1)
Outro destaque em sua trajetória profissional foi sua participação na criação da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, primeiro estabelecimento do gênero no Brasil, fundado em 10 de dezembro de 1881, por iniciativa dos médicos João Pizarro Gabizo, diretor da revista União Medica, e Antonio Loureiro Sampaio. Estes médicos, que haviam conhecido o funcionamento das policlínicas europeias, como a Polyclinique de Vienne, convidaram Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo para participar daquele projeto. Reunidos na residência de Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, localizada à rua da Lapa n.º 93, estes médicos redigiram a ata de criação da Policlínica Geral do Rio de Janeiro: o próprio Moncorvo, Júlio Rodrigues de Moura, Domingos de Almeida Martins Costa, Henrique Carlos da Rocha Lima, José Cardoso de Moura Brazil, Francisco Borges de Souza Dantas, Pedro Severiano de Magalhães, Carlos Pires Ramos, José Rodrigues dos Santos, Antônio José Pereira da Silva Araújo e Cyprianno Barbosa Bettamio. Também foram considerados fundadores Antonio Loureiro Sampaio, Francisco Borges de Souza Dantas e João Carlos Teixeira Brandão. A casa de Moncorvo funcionou como sede da instituição entre 1881 e 1882. Este empreendimento privado foi resultado da aliança de um corpo de médicos com o Governo Imperial, apoiados por um grupo de benfeitores formados por comerciantes, senhores rurais e políticos, entre outros (POLICLINICA, 1882). A Policlinica Geral do Rio de Janeiro tinha como estrutura a clínica médica em geral, clínica cirúrgica, oftalmologia, ginecologia, otologia, laringologia e rinologia, moléstias sifilíticas e da pele, moléstias de crianças, e laboratório de análises clinicas. Além do ensino clínico, a Policlínica tinha um caráter humanitário com o objetivo de ofertar consultas e medicamentos gratuitamente à população pobre, sem quaisquer distinções (idade, sexo e nacionalidade), como anunciou no Almanak Laemmert:
“Esta instituição (....), é o primeiro estabelecimento deste genero fundado no Brazil pela iniciativa do Dr. Moncorvo, seu Director. Encerra todas as clinicas geraes e especiaes, á exceção de partos que só póde ser feita em maternidades. Em cada uma dessas clinicas se ministra o ensino theorico e pratico da respectiva especialidade, sendo mais completo ali do que em qualquer outra parte copiosa e variada affluencia de casos em cada um dos serviços clinicos. Nos Estados-Unidos, na Inglaterra e particularmente na Alemanha é este o meio de ensino clinico adoptado com amis proveito tanto para a instrucção dos alunos, como para o adiantamento da sciencia”. (POLICLINICA, 1884, p.1.094)
A Policlínica deveria ser um espaço de aperfeiçoamento prático e de estudo da clínica pediátrica.
O primeiro diretor da instituição foi Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, tendo ocupado o cargo até 1883. Em sua gestão foi auxiliado pelo secretário Carlos Pires Ramos e pelo tesoureiro José Justiniano Rodrigues. Em 28 de junho de 1882, a Policlínica Geral do Rio de Janeiro foi inaugurada, e nessa data foi realizada a primeira aula versando sobre pediatria ministrada no Brasil, proferida pelo já diretor Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, na sala de cursos, na presença do Imperador D. Pedro II e de outras autoridades civis, militares e eclesiásticas.
Em 16 de outubro de 1882, Moncorvo de Figueiredo inaugurou o primeiro curso de pediatria na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, contando com presença significativa de estudantes de medicina e médicos. Esse curso, inicialmente, consistia em pequenas conferências e demonstrações práticas ao lado dos doentes, e, também várias lições orais sobre temas referentes à patologia, clínica ou terapêutica pediátrica. De 1886 em diante, o curso passou a destinar-se especialmente ao ensino prático da clínica, apresentando o estudo particular de cada caso, junto com reflexões e considerações sugeridas pelas pesquisas vigentes (MOREIRA, 2017, p. 39)
Este curso, mantido por 19 anos até o falecimento de Moncorvo de Figueiredo, foi o núcleo de ensino no qual surgiriam os continuadores dos seus conhecimentos sobre doenças infantis, como Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo Filho, Luiz Pedro Barbosa, Antonio Fernandes Figueira, e Luiz do Nascimento Gurgel.
Apesar de algumas dificuldades iniciais, a comemoração do aniversário de Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, em 10 de novembro de 1883, serviu para demonstrar a força do grupo da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Nesta ocasião, um grupo de estudantes das últimas séries da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro homenageou Moncorvo de Figueiredo oferecendo-lhe seu retrato a óleo em tamanho natural.
Moncorvo de Figueiredo havia defendido, na primeira aula na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, a criação de uma cadeira de clínica de moléstias de crianças na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e na Faculdade de Medicina da Bahia. Com este objetivo, apresentou em 25 de fevereiro de 1882, ao Governo Imperial, um documento, no qual encaminhava a solicitação para a criação da cadeira nas escolas médicas do país, intitulado “Rapida indicação dos motivos que justificam a creação nas Faculdades de Medicina brasileiras de uma cadeira de clinica de molestias de creanças” (FIGUEIREDO, 1882). No início deste documento, Moncorvo de Figueiredo apresentou alguns dados estatísticos de mortalidade infantil no Rio de Janeiro, e referiu-se à alta incidência de moléstias nas crianças, cenário este que merecia a atenção da sociedade e do Governo Imperial. Neste sentido, afirmou que entre os diversos meios existentes para reduzir a mortalidade infantil, estava a instrução popular, o ensino da higiene, e, especialmente, o estudo particular da patologia e da terapêutica, ou seja, a “Clinica especial das creanças” (FIGUEIREDO, 1882, p.98). Inspirado no modelo francês de ensino da clínica de crianças, proposto pelo pediatra francês Joseph-Marie-Jules Parrot (1829-1883) e adotado no “Hospice des Enfants-Assistés”, na França, Moncorvo de Figueiredo propôs:
“Óra, encontrando o Governo Imperial já organizada e instalada, sem ônus para o Estado, a ´Policlinica Geral do Rio de Janeiro`, da qual faz parte a Clinica das Creanças, poderia, instituindo nella o ensino deste, preencher, sem maior dispêndio, uma grave lacuna ainda existente no programma do ensino das nossas Faculdades de Medicina e que urge reparar”. (FIGUEIREDO, 1882, p.105).
Suas indicações, inicialmente, foram contempladas formalmente com a lei nº 3.141 de 30 de outubro de 1882, que executou algumas das disposições propostas pela Reforma Leôncio de Carvalho. Esta lei, que fixou a Despesa Geral do Império para os períodos de 1882-1883 e 1883-1884, em seu art.2º, §§1º e 4º, estabeleceu a criação de várias cadeiras, nas escolas médicas do país, entre as quais a denominada “clinica medica e cirurgia de creanças”. Em razão de sua criação, foi realizado um concurso para o preenchimento do posto de professor da referida disciplina, no qual, Moncorvo de Figueiredo optou por não concorrer, tendo se candidato somente o médico e político Candido Barata Ribeiro. Barata Ribeiro foi aprovado no concurso, tendo sido nomeado, por meio de decreto de 25 de março de 1883, para a cadeira, na qual permaneceu até o final de sua vida, em 1910. O decreto nº 9.311, de 25 de outubro de 1884, que estabeleceu novos estatutos para as faculdades de medicina no Brasil, em suas linhas gerais ratificou muitos dos dispositivos da Reforma Leôncio de Carvalho, como a implantação efetiva daquelas novas cadeiras, transformando a de “Clinica medica e cirurgia de creanças” em “Clinica e policlínica e cirurgia de creanças”.
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo não assumiu cargos públicos, tendo se dedicado especialmente para seu curso livre, de pediatria, que começou ocupando uma pequena sala, no prédio do Arquivo Público, na Rua dos Ourives n°8, na qual havia gravuras representando diferentes moléstias da infância, uma balança pesa-bebês, um pupitre modelo francês para o mestre e bancos para os alunos (CARNEIRO, 2000, p.109).
Grande parte de sua produção científica fundamentou-se em sua experiência e prática clínica, principalmente a partir da análise de casos clínicos sob sua responsabilidade na Policlínica do Rio de Janeiro (PEREIRA, 2006). Publicou, ao longo de sua carreira, mais de 80 títulos, muitos destes em francês, sobre doenças infantis, medicina parasitária, coqueluche, raquitismo, doenças do estômago, sífilis e terapêuticas. Seus livros eram frequentemente anunciados nos principais jornais do Rio de Janeiro, como A Reforma, no qual, em sua edição de 23 de abril de 1874, destacou o lançamento de três de suas obras, “Dyspepsias e seu tratamento, acção abortiva de sulfato de quinina, da ação da genciana associada ao acido sulfúrico”, “Do exercício e ensino medico no Brazil”, e “Da acção da genciana, associada ao acido sulphurico” (ACABA, 1874).
Foi colaborador e redator de jornais e revistas médicas tanto brasileiras quanto estrangeiras, como O Progresso Medico, a União Medica, Revista Medica, Gazeta Medica da Bahia, Gazeta Medica (Lisboa), Revue Générale de Clinique et de Thérapeutique Infantiles, Revista de Enfermidades de los Niños, Archivio Italiano di Pediatria. e Unión Médicale (Paris). Em 1875, Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo era redator efetivo da Revista Medica. Jornal de Sciencias Medicas e Cirúrgicas, publicada no Rio de Janeiro, que tinha como redator principal Miranda de Azevedo. Entre 1876 e 1879 esteve na redação e administração da revista O Progresso Medico, cujo primeiro número saiu, no Rio de Janeiro, em novembro de 1876 (MOREIRA, 2017). Integrou, juntamente com Cypriano de Souza Freitas, Júlio Rodrigues de Moura, José Cardoso de Moura Brazil e Antônio José Pereira da Silva Araujo, o grupo de redatores responsáveis pela criação do periódico União Medica, cujo primeiro número foi lançado em 1881, na cidade do Rio de Janeiro.
Seus livros sendo casos ou memórias médicas eram de temas variados, entre eles se destacando a cólera, a elefantíase, a influenza, o reumatismo, a coqueluche, a dilatação de estômago, o impaludismo, a malária, e as diarreias. Seus estudos foram destacados na imprensa, tanto geral quanto a especializada, como destacou a Gazeta Medica da Bahia, em 1884, com relação à elefantíase:
“O Dr. Moncorvo, que foi o primeiro em nosso paiz a encetar, ou pelo menos, a dar curso de publicidade a trabalhos d'esta natureza em relação á elephantiase chegou a resultados análogos aos dos médicos europeus que o precederam (Hillairet, Gaucher e outros) verificando no sangue dos tres elephantiacos a existência de parasitas similhantes aos encontrados por aquelles observadores, isto é, granulações dotadas de movimentos rotatórios e de progressão, bacillos règulares e irregulares, moveis e immoveis, monadas, etc” (BIBLIOGRAPHIA, 1884, p.359)
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo propôs, no Rio de Janeiro, para o tratamento de coqueluche, um remédio logo adotado por muitos pediatras do país, a resorcina.
Participou de diversas sociedades científicas, brasileiras e estrangeiras. Entre as associações brasileiras, participou da Academia Imperial de Medicina, do Instituto Farmacêutico do Rio de Janeiro, do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico Brasileiro, do Instituto Historico e Archeologico de Pernambuco, do Instituto Médico Pernambucano (eleito em 1876), entre outras. Foi 2º secretário do Instituto de Bachareis em Letras, que havia sido fundado em 1863 e funcionava no Externato do Imperial Collegio de Pedro II.
Em 1874 Vicente Cândido Figueira de Sabóia, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, propôs a indicação de Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo como membro correspondente da Academia Imperial de Medicina:
“Proponho para membro correspondente da academia de medicina o Sr. Dr. Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, que por diversos trabalhos scientíficos, dignos de atenção, tem sabido conquistar um distincto logar na classe medica desta Côrte. A solida instrucção, inteligência e ilustração do Sr. Dr. Moncorvo, se acham firmadas nos escritptos scientificos que sob o titulo de Dyspesias e seu tratamento, acção da genciana associada ao acido sulfúrico, acção abortiva do sulfato de quinina, diagnostic différentiel entre la dyspepsie essentielle et l’Hypoémie intertropicale, e exercício e ensino medico no Brasil, ele tem publicado. – Rio, 4 de Maio de 1874. – V. Saboia.” (ACADEMIA, 1874, p.2)
Ainda em 1874, foi submetida à comissão de História do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico Brazileiro, a proposta para a admissão de Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo como membro da instituição, tendo sido apresentado como título de admissão sua obra "Os seis primeiros documentos da história do Brazil", publicada no mesmo ano. A comissão considerou que “embora circumscripto aos limites do discurso acadêmico”, o autor apresentou em seu trabalho o critério apurado e a apreciação arrazoada de fatos característicos de suas produções (ACTAS, 1874, p.392). Sua indicação foi aceita, tendo sido nomeado membro correspondente por meio do Aviso nº 1.513, publicado em 12 de maio de 1874.
A obra "Os seis primeiros documentos da história do Brazil", de Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, apresentava os seguintes documentos históricos: “Carta á el-rei D. Manuel, escripta por Vaz Caminha; Carta do mestre João ao mesmo rei; Navegação ou roteiro de Pedro Alvares Cabral; Carta de el-rei D. Manoel ao rei de Castella; Fragmentos das instrucções dadas a Alvares Cabral; As quatro navegações de Americo Vespucio” (HISTORIA, 1874).
Entre as sociedades científicas estrangeiras, foi membro correspondente da Société de Médecine de Paris (11/10/1873), e participou, também, da Société Médico-Pratique de Paris (28/07/1878), Academia Real de Sciencias de Lisboa (nomeado em 19/02/1878), Société Clinique de Paris (1878), Société de Médecine et Cirurgie de Bordeaux (12/12/1879), Académie de Médecine (Paris, 1890), Société Médicale d´émulation (Paris), Société Médica de Reims, Société Royale des Sciences Médicales et Naturelles de Bruxelles, Accademia di Medicina di Roma, Société de Climatologie Algerienne, e Academia de Medicina de Lima entre outras.
Foi nomeado, em 28 de setembro de 1878, professor honorário da Faculdade de Medicina, em Santiago do Chile. Em 1887 foi vice-presidente da seção de moléstias de crianças no Ninth International Medical Congress (Washington, 5 setembro de 1887).
Recebeu diversas premiações, como a Medalha de bronze concedida pela Société Française D´Hygiène, em 5 de abril de 1884, pela tradução em português de sua obra “Hygiène et Education de la première enfance”, a Menção Honrosa do Prêmio Monthyon da Académie des Sciences de Paris, em 21 de dezembro de 1886, e o Prêmio Desportes, no valor de 500 francos, concedido em 1887 pela Académie de Médecine de Paris, por sua obra “De l´antipyrine dans la therapeutique enfantile”.
O Instituto Histórico Geographico e Ethnographico Brazileiro, por ocasião de seu falecimento, em 1901, publicou uma matéria em sua revista, na qual lhe conferiu o título de “o medico das crianças pobres” (O DR. MONCORVO, 1901).
Em 25 de julho de 1902, foi realizada, no salão nobre do Instituto de Protecção e Assistencia á Infancia do Rio de Janeiro, uma sessão fúnebre em homenagem a sua memória, com a presença de muitos médicos, como Jayme Silvado, Eduardo Meirelles, Luiz do Nascimento Gurgel, e Moncorvo Filho. Nesta ocasião Jayme Silvado apresentou a proposta de mudança de nome do “Dispensário Central” para “Dispensário Moncorvo”, a qual foi unanimemente aprovada (HOMENAGEM, 1902).
Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, embora não sido o primeiro professor da cadeira de pediatria, estabelecida em 1882 na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, foi considerado como o responsável pela implementação do ensino oficial da pediatria, como o pai da pediatria no país. A Sociedade Brasileira de Pediatria, fundada em 1910 por Antonio Fernandes Figueira, escolheu Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo para ser o patrono da Cadeira nº1 de sua Academia Brasileira de Pediatria.
Produção intelectual
- “Dyspepsia e seu Tractamento; Diagnostico differencial entre a hemorrhagia cerebral e a meningo-encephalite; Môrmo; Calorico em geral”. These sustentada perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert 1871.
- “Educação physica da infância”. Revista Medica, Rio de Janeiro, anno I, n.13, p.193-196, 10 de dezembro de 1873.
- “Bosquejo historico e critico dos meios cirurgicos applicados ao tratamento das collecções liquidas do fígado”. Revista Medica, Rio de Janeiro, anno I, n.14, p.215-218, 25 de dezembro de 1873; anno I, n.15, p.238-230, 10 de janeiro de 1874; anno I, n.22, p.346-347, 25 de abril de 1874.
- “Observação de um caso de gastro-entero-colitis sub-aguda, complicada com uma broncho-pneumonia intercurrente”. Revista Medica, Rio de Janeiro anno I, n.15, p.234-238, 10 de janeiro de 1874.
- “Insufficiencia aortica; rheumatismo mono-articular sub-agudo; rheumatismo cerebral; uremia; morte.” Revista Medica, Rio de Janeiro anno I, n.16, p.252-255, 25 de janeiro de 1874.
- “Operação da fistula vesico-vaginal pelo processo americano de Sims modificado pelo Dr. Panas, cirurgião do Hospital Lariboisière em Paris”. Revista Medica, Rio de Janeiro anno I, n.16, p.256, 25 de janeiro de 1874.
- “Observação de um caso de gastro-entero-colitis sub-aguda, complicada com uma broncho-pneumonia intercorrente. Cachexia Vicio de Alimentação. (cont. do n.15)”. Revista Medica, Rio de Janeiro anno I, n.17, p.268-271, 10 de fevereiro de 1874.
- “Insufficiencia aórtica; reumatismo mono-articular sub-agudo; reumatismo cerebral; uremia; morte (cont. n.16)”. Revista Medica, Rio de Janeiro anno I, n.18, p.279-281, 25 de fevereiro de 1874.
- “Da acção abortiva do sulphato de quinina”. Revista Medica, Rio de Janeiro anno I, n.19, p.302-304, 10 de março de 1874; anno I, n.23, p.361-364, 10 de maio de 1874; anno II, n.4, p.49-51, 30 de julho de 1874.
- “Physiologia da digestão”. Revista Medica. Jornal de Sciencias Medicas e Cirurgicas, Rio de Janeiro anno I, n.23, p.353-355, 10 de maio de 1874; anno I, n.24, p.372-374, 25 de maio de 1874; anno II, n.1, p.5-7, 15 de junho de 1874.
- “Do emprego do carvão de choupo em capsulas gelatinosas”. Revista Médica. Jornal de Sciencias Medicas e Cirurgicas, Rio de Janeiro, anno II, n.3, p.43-44, 15 de julho de 1874.
- “Da acção abortiva do sulphato de quinina pelo dr. C. A. Moncorvo de Figueiredo”. Rio de Janeiro, Typ. Franco-Americana, 1874.
- "Du diagnostic différentiel entre la dyspepsie essentielle et 1’hypohémie interlropicale (oppilation). Considérations cliniques par C. A. Moncorvo de Figueiredo". Rio de Janeiro: Typ. Franco-Américaine, 1874.
- “Da acção da genciana associada ao acido sulphurico pelo dr. C. A. Moncorvo de Figueiredo”. Rio de Janeiro: Typ. Franco-Americana, 1874.
- “Os seis primeiros documentos da Historia do Brazil”. Rio de Janeiro: Typographia Franco-Americana, 1874.
- “Dyspepsias e seu tratamento, acção abortiva de sulfato de quinina, da ação da genciana associada ao acido sulfúrico”. 1874
- “Do exercício e ensino medico no Brazil”. Rio de Janeiro: Typographia Franco-Americana, 1874.
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- “Observação de um caso de rheumatismo poly-articular chronico nodoso, em uma menina de 2 annos, curada pelo emprego das correntes galvanicas”. O Progresso Medico, Rio de Janeiro, p.402-409; 423; 457; 485; 521; 545-553, 1877; p.12-18; p.75-84; 101-133, 1878.
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- “Relatorio apresentado á Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro a These do Sr. Dr. E. R. Coni, de Buenos Aires, intitulada «Contribucion al estudio de la lepra anesthesica – Quijila (Brazil – Gafeira (Portugal)”. Gazeta Medica da Bahia, Bahia, v. IV, 3ª serie, p.59-69; p.231-235; 272-276,1879.
- “Um caso de ainhum em Nossi-Bé pelo dr. A. Corre”. Tradução de “Observation d'aïnhum à Nossi Bé” , de Armand Corre (Archives Médecine Navale, Paris, fev. 1878), seguido de uma refutação ás impugnações do autor às opiniões do Dr. Moncorvo, pelo Dr. Moncorvo. O Progresso Medico, Rio de Janeiro, n.10, 31 de agosto 1879.
- “Nota sobre a acção physiologica e therapeutica da Carica-Papaya (Mamoeiro)”. Gazeta Medica da Bahia, Bahia, anno XI, n.10, p.465-470, outubro 1879.
- “Nota sobre a acção physiologica e therapeutica da Carica-Papaya (Mamoeiro)”. Rio de Janeiro: Typographia Academica, 1879.
- “Estudo sobre o rheumaismo chronico nodoso na infancia e seu tractamento: á proposito de um caso observado em uma menina de 2 annos e meio, curado pelo emprego das correntes galvânicas”. Rio de Janeiro: Typ. Academica, 1879.
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- “Notas clinicas sobre duous casos de group”. Rio de Janeiro: Typographia Academia, 1879.
- "Sobre a memoria apresentada pelo Dr. H. Huchard, em apoio de sua candidatura a um logar de membro correspondente da mesma Academia, e intitulada: De la guérison rapide des accés d´asthme par l´emploi des injections hypodermiques de morphine et de l´action eupneique de la morphine. Paris, 1879. Annaes Brasilienses de Medicina, Rio de Janeiro, tomo XXXIII, n.4, p.399-403, abril-maio-junho 1882.
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- "De l’étiologie de la sclérose en plaques chez les enfants et notamment de l’influence pathogénique de l’hérédo-syphillis". União Medica, Rio de Janeiro, n.1, p.14-27, jan. 1887; n.2, p.49-62, fev. 1887.
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- “Dell’elefantiase degli arabi Nei Bambine (Lezione delata ala Policlinica di Rio de Janeiro)”. Napoli: Stabilimento Tipografico Dell’Unione, 1888.
- "Sur les troubles dyspeptiques dans l´enfance et sur leur diagnostic para la recherche chimique du suc gastrique". Paris: O. Berthier, Librairie-Éditeur, 1889.
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Paris: O. Berthier, Libraire-editeur, 1889.
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Ficha técnica
Pesquisa - Ana Carolina de Azevedo Guedes, Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Redação - Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
FIGUEIREDO, CARLOS ARTHUR MONCORVO DE. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 11 dez.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)