ACADEMIA MÉDICO-HOMEOPÁTICA DO BRASIL

De Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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Denominações: Academia Médico-Homeopática do Brasil (1847)

Resumo: A Academia Médico-Homeopática do Brasil foi fundada em 4 de outubro de 1847, na cidade do Rio de Janeiro, por Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada, Antonio Ildefonso Gomes, Vicente José Lisboa, Thomaz Cochrane e Maximiano Marques de Carvalho. Tinha por fim, principalmente, o desenvolvimento e a propagação do sistema médico de Hahnemann em toda a sua pureza.

Histórico

A Academia Médico-Homeopática do Brasil nasceu de uma dissidência dos homeopatas que admitia certos princípios e práticas da alopatia, e que por isso julgava primordiais os diplomas de médico ou de farmacêutico conferidos pelas instituições de ensino oficiais alopatas, para o exercício da medicina e farmácia homeopáticas. Denominados “evolucionistas”, opunham-se aos chamados “puristas” reunidos em torno do homeopata francês Benoit Jules Mure, conhecido como Bento Mure. Os “puristas” defendiam a liberdade de profissão, entendendo que a homeopatia podia ser praticada por quem desejasse, após receber noções na Escola Homeopática do Brasil(1845), ou por meio de livros para os que residissem fora da capital do Império. Consideravam ainda que a alopatia, diversa da homeopatia, não podia habilitar ninguém a exercer a doutrina de Samuel Christian Friedrich Hahnemann (1755-1843), autor da obra e princípio da homeopatia Organon da arte de curar (Dresden, 1810).

Sendo assim, Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada, representante da corrente “evolucionista”, juntou-se a Antonio Ildefonso Gomes, Vicente José Lisboa, Thomaz Cochrane e Maximiano Marques de Carvalho, entre outros, separaram-se do Instituto Homeopático do Brasil (1843) e de sua Escola, criados por Benoit Jules Mure e João Vicente Martins, e fundaram em 04 de outubro de 1847, na capital do Império, a Academia Médico-Homeopática do Brasil. 

Em sua ata de fundação definia como objetivo da associação a propagação e o desenvolvimento das doutrinas de Hahnemann por diversos meios, incluindo um jornal homeopático e um hospital para enfermos pobres. Por meio desta iniciativa os pobres não mais necessitariam “mendigar inultimente os socorros da medicina, e levantando-se uma barreira aos abusos que têm aparecido no salutar benefício da medicina homeopática, ganhando com isto a ciência e a humanidade.” (Apud. GALHARDO, 1928, p.425). Assinaram esta ata: Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada, Antonio Ildefonso Gomes, Bento José Martins, Maximiano Antonio de Lemos, Vicente José Lisboa, Joaquim Alves Pinto Guedes, Cesario Augusto Eugenio de Araújo, Francisco Amado Aguiar, Thomaz Cochrane, e Maximiano Marques de Carvalho. Duque-Estrada ocupou então o cargo de presidente e Bento José Martins o de secretário. 

As polêmicas entre os homeopatas da Academia Médico-Homeopática do Brasil e os do Instituto Homeopático do Brasil eram freqüentes. Recusando-se a admitir Benoit Jules Mure na Academia, seus integrantes alegaram como motivo para essa atitude o fato de ele não ser médico homeopata nem alopata. Segundo Maximiano Marques, em artigo publicado no Jornal do Commercio de 24/01/1848, Mure teria sido um comerciante que se entusiasmou com a homeopatia, comprando um diploma em Montpellier e sendo apontado como um dos introdutores daquela doutrina na Sicília, em torno de 1835. Dois dias depois no mesmo jornal, José Henriques de Proença, professor de homeopatia diplomado pela Escola Homeopática do Brasil, respondendo à acusação em defesa de Mure reproduziu trechos de artigos de um periódico da Sicília, na Itália e de outras publicações francesas, nas quais eram feitos elogios ao mesmo como propagador da homeopatia e de seus tratamentos (GALHARDO, 1928). 

Estrutura e funcionamento

Segundo o artigo 1º dos seus estatutos, a Academia Médico-Homeopática do Brasil era:

uma congregação de médicos, e de algumas pessoas distinctas de todas as outras classes da sociedade, nacionaes ou estrangeiros, que tem por fim: 1º, o desenvolvimento e a propagação do systema medico de Hahnemann, em toda a sua pureza; 2º, o curativo gratuito dos pobres, tanto nos consultorios como nos proprios domicilios; 3º, o estabelecimento de um hospital de caridade para receber os enfermos indigentes, que serão tratados á custa da mesma associação, e das doações que lhe fizerem as pessoas bemfazejas”. (ESTATUTOS, 1848)

Ainda de acordo com esses estatutos, a Academia era constituída por quatro classes, os sócios efetivos, os sócios benfeitores, os sócios honorários e os sócios correspondentes. Pertenciam à primeira classe, de sócios efetivos, somente os médicos e os farmacêuticos homeopatas que apresentassem diploma conferido ou legalizado por algumas das escolas oficiais do Império, ou seja, pela Faculdade de Medicina da Bahia ou pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, ou ainda pelas autoridades competentes que as precederam. Além disso, era obrigatória a apresentação de trabalho que aplicasse a doutrina homeopática, sendo submetido a julgamento pelo corpo da Academia.

O tratamento gratuito aos pobres e a doação de medicamentos eram realizadas nos próprios consultórios de cada médico designado para este fim, até que se estabelecesse um consultório e uma farmácia geral.

No dia 2 de dezembro de 1847, data do aniversário do imperador Pedro II, foi instalado, em sua homenagem, o Hospital Homeopático, pela Academia, situado na ladeira Santa Teresa, nº 11, sob a presidência de Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada. No entanto, em janeiro do ano seguinte o Hospital ainda não havia entrado em funcionamento devido à concessão de uma licença pela Câmara Municipal, que havia sido requerida desde novembro e ainda não fora expedida. Nesta época, foi criada uma congregação de caridade de senhoras com fins de auxiliar a Academia na manutenção do respectivo Hospital.

No dia 5 de junho de 1848, a Academia encaminhou ao Senado um requerimento solicitando a criação legal de uma escola homeopática, já que consideravam a Escola Homeopática do Brasil ilegal, pois a lei que assegurava o ensino da medicina não lhe permitia o exercício da clínica. Apresentaram então um projeto com a relação das matérias consideradas indispensáveis para a formação de médicos, devendo a nova escola ser constituída pelos cursos médico-homeopático (quatro anos) e farmacêutico (dois anos) (GALHARDO, 1928):

1º ano: química médica e botânica médica; anatomia descritiva;

2º ano: fisiologia; patogenesia e farmacologia; clínica médica homeopática;

3º ano: patologia médico-homeopática; patologia cirúrgica; repetição de clínica;

4º ano: arte de operar; higiene e história da medicina; arte de partos; repetição de clínica.

 

Ficavam encarregados do ensino dez lentes e cinco substitutos, sendo todos nomeados pelo Governo. A organização dos estatutos cabia à Congregação da Escola. Para o ingresso na instituição, os candidatos deviam submeter-se a exames públicos das matérias de francês, latim, filosofia, aritmética e geometria. No caso de conclusão do curso completo, o aluno obtinha o título de doutor em medicina, e aquele que cursasse apenas química botânica, patogenesia e farmacologia saía diplomado farmacêutico.

Para o corpo administrativo foram propostos os nomes de Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada para presidente, Maximiano Marques de Carvalho para primeiro secretário, e Maximiano Antonio de Lemos para segundo secretário.

Esta escola não chegou a existir. Antes da data do requerimento encaminhado ao Senado pela Academia, em março de 1848 se teve notícia sobre alguns de seus membros que passaram a integrar o corpo da Escola Homeopática do Brasil, como Maximiano Marques de Carvalho e Manoel Duarte Moreira, que lá ocupou o cargo de diretor naquele ano.

Por ocasião da epidemia da febre amarela, em fevereiro de 1850, a Academia tentou atuar no atendimento à população se dirigindo ao provedor da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, José Clemente Pereira, e propondo a criação de uma enfermaria homeopática nas suas dependências para tratamento dos doentes, o que lhe foi negado. Clemente Pereira justificou-se afirmando que os meios empregados pelo sistema médico da Santa Casa, contrários ao sistema médico de Hahnemann, vinham dando resultados.

Em março de 1851, alguns membros da Academia como Bento José Martins, vice-presidente, e Maximiano Marques de Carvalho, primeiro secretário, pediram demissão dos seus cargos. Isto ocorreu por discordarem do projeto de autoria dos doutores Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada, Antonio Candido Nascentes de Azambuja e Paula Menezes, aprovado pela instituição, que estabelecia a separação da prática médico-homeopática da parte farmacêutica, ficando proibido aos médicos ou cirurgiões membros da Academia preparar e fornecer medicamentos aos seus pacientes. Neste mesmo mês, no dia 28, esses dissidentes fundaram outra associação médica denominando-a Academia Homeopática do Rio de Janeiro. Foram eleitos Bento José Martins para presidente, Manoel Duarte Moreira para vice-presidente, Maximiano Marques de Carvalho para primeiro secretário e Joaquim José da Silva Pinto para 2º secretário. Esta nova instituição tinha por fim congregar todos os médicos homeopatas, propagar a homeopatia pura seguindo os preceitos de Hahnemann e promover a fundação de farmácias homeopáticas que inspirassem confiança aos profissionais. Seus membros realizaram alguns estudos sobre plantas medicinais, algumas delas remetidas de São Paulo pelo sócio correspondente Antonio de Oliveira.

Em 1855, durante a epidemia do cólera, a Academia Médico-Homeopática do Brasil também se pronunciou através de Domingos de Azevedo Coutinho Duque- Estrada e José Henrique de Medeiros em artigo publicado no Jornal do Commercio , propondo o tratamento homeopático e explicitando-o.

Publicações oficiais

O Jornal da Academia Medico-Homoeopathica do Brasil,órgão da instituição e redigido por Maximiano Marques de Carvalho, começou a circular em janeiro de 1848. A publicação admitiria em suas colunas artigos, originais e traduções, sobre o desenvolvimento e propagação do sistema médico de Hahnemann.

Fontes

- ACADEMIA Medico-Homoeopathica do Brasil. Jornal da Academia Medico-Homoeopathica do Brasil, Rio de Janeiro, 1º numero, janeiro de 1848. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 5 ago. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/748455/2

- ANTONIO Ildefonso Gomes. In: BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Primeiro volume.p.191. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1893. In: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Acervo Digital. Capturado em 8 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5411

- ESTATUTOS da Academia Medico-Homoeopathica do Brasil. Jornal da Academia Medico-Homoeopathica do Brasil, Rio de Janeiro, 1º numero, janeiro de 1848. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 5 ago. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/748455/3

- FARIA, Fernando Antonio. Querelas brasileiras: homeopatia e política imperial. Rio de Janeiro: Notrya, 1994. (BN)

- GALHARDO, José Emygdio Rodrigues. História da homeopatia no Brasil.In: Livro do 1°Congresso Brasileiro de Homeopatia. Rio de Janeiro, 1928. pp.271-1016. (BN)

-Jornal da Academia Medico-Homoeopathica do Brasil.In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 5 ago. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/748455/1

- LOBO, Francisco Bruno. O ensino da medicina no Rio de Janeiro: homeopatia. Rio de Janeiro: s.n.,1968. v.3. (BCOC

- SANTOS FILHO, Lycurgo de Castro. História Geral da Medicina Brasileira. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1991. v.2. (BCCBB)

- PORTO, Angela de Araújo. As artimanhas de esculápio: crença ou ciência no saber médico. Niterói, Rio de Janeiro, 1985. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, 1985. (BCOC)

Ficha técnica

Pesquisa - Verônica Pimenta Velloso.

Redação -Verônica Pimenta Velloso; Maria Rachel Fróes da Fonseca.

Revisão – Francisco José Chagas Madureira.

Consultoria - Ângela de Araújo Porto.

Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.

Forma de citação

ACADEMIA MÉDICO-HOMEOPÁTICA DO BRASIL. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 20 mai.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario


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