SOCIEDADE DE MEDICINA DE PERNAMBUCO
Denominações: Sociedade de Medicina de Pernambuco (1841); Instituto Médico Pernambucano (1874); Associação Médico-Farmacêutica Pernambucana (1887); Sociedade de Medicina de Pernambuco (1897)
Resumo: A Sociedade de Medicina de Pernambuco foi fundada em 4 de abril de 1841, com a finalidade de dar à classe médica a posição que lhe era assinalada pela nobreza de sua profissão. Entre seus fundadores estavam Antônio Perigrino Maciel Monteiro, seu primeiro presidente, José Eustáquio Gomes, Simplício Antônio Mavigner e Joaquim de Aquino Fonseca. Instalou-se, inicialmente, no Convento do Carmo, depois em prédios da rua Nova, no Largo do Paraíso, e posteriormente conseguiu uma sede própria, na rua Oswaldo Cruz, na cidade do Recife, Estado de Pernambuco.
Histórico
A Sociedade de Medicina de Pernambuco foi inaugurada em 4 de abril de 1841 na sede do Liceu Pernambucano, que funcionava nas dependências do Convento do Carmo do Recife. Os primeiros estatutos, aprovados pela Presidente da Província, Francisco do Rego Barros e, posteriormente, pelo Governo Imperial, foram elaborados em sessão solene da Sociedade no dia 9 de março de 1841.
De acordo com os seus estatutos, tinha por fim promover os progressos da medicina e todos os ramos das ciências médicas na província de Pernambuco, e dar à classe médica a posição que lhe era assinalada pela nobreza de sua profissão (art.2º). A associação seria formada por três categorias de sócios - efetivos, correspondentes e honorários. Os efetivos podiam ser médicos, cirurgiões ou farmacêuticos. Eram admitidos como sócios honorários, pessoas que tivessem prestado serviços relevantes à humanidade, independente de possuírem formação médica, além daqueles que tivessem completado 75 anos de idade ou 20 anos de serviços. Já os sócios correspondentes, que deveriam ter reputação e mérito reconhecido, eram indicados pelos sócios efetivos (art.26-29). Estes últimos ficariam distribuídos por cinco comissões permanentes: anatomia, fisiologia, medicina operatória e arte obstetrícia; patologia externa e interna, anatomia patológica e terapêutica; vacina, epidemias, moléstias reinantes e estatística médica; higiene, polícia médica, medicina legal e história de medicina, e farmácia e ciências acessórias. Cada uma dessas comissões não poderia ter menos de 3, nem mais que 5 membros (art.41). Além dessas comissões, haveria uma composta por 5 membros dedicada ao jornal da associação, onde seriam publicados os seus trabalhos, atas e memórias (art.42, 46).
A Sociedade também organizaria concursos com premiações para os melhores trabalhos, devendo fornecer anualmente os programas do concurso (art.75).
Entre os seus fundadores, encontravam-se Antonio Peregrino Maciel Monteiro, José Eustáquio Gomes, Simplício Antônio Mavigner, Joaquim de Aquino Fonseca, José Joaquim de Moraes Sarmento, Pedro Dornelas Pessoa, e Cosme de Sá Pereira. A maior parte deles já vinham se destacando, na província pernambucana, por suas atividades na área médica. José Eustáquio Gomes, por ocasião da revolução liberal pernambucana de 1817, criou uma escola de cirurgia prática que funcionou no Hospital Militar. Simplício Antônio Mavigner entre 1840 e 1856 ministrou aulas de arte obstétrica, dirigida a mulheres, no Hospital Paraíso. Joaquim de Aquino Fonseca foi um higienista e estudioso da medicina e cirurgia pernambucanas, tendo publicado diversos trabalhos científicos em periódicos médicos; entre 1845 e 1856 presidiu o Conselho de Salubridade Pública, que se tornou depois (1853), Comissão de Higiene Pública da província de Pernambuco. Cosme de Sá Pereira ficou conhecido pelos seus estudos sobre a doença de beribéri em Pernambuco, substituindo Joaquim Aquino na presidência da Comissão de Higiene Pública a partir de fevereiro de 1856.
Antonio Peregrino Maciel Monteiro, seu primeiro presidente, era doutor em medicina e bacharel em letras e ciências, destacando-se pelos cargos políticos que ocupou. Elegendo-se deputado por várias legislaturas, em 1837 foi Ministro dos Negócios Exteriores, tendo participado das negociações dos limites do território brasileiro com a Guiana Francesa. Em 1841, além de presidente da Sociedade, tornou-se Conselheiro do Imperador Pedro II.
Outras expressões da classe médica pernambucana dos anos de 1840 foram membros da Sociedade como Felipe Peri Rodrigues de Carvalho, José Maria da Costa Paiva, Francisco Xavier Pereira Brito, João Francisco de Oliveira, José Francisco Pinto Guimarães, Pedro Theberge, João José Pinto, João Ferreira da Silva, Ulisses Leonesi, Manuel Ferreira Teixeira, e os estrangeiros João Loudon e Classin.
O Governo Provincial, no intuito de estimular os trabalhos da Sociedade de Medicina de Pernambuco, fixou a partir de 1842, um auxílio anual à instituição. Nesses primeiros anos de funcionamento, a Sociedade atuava como consultora do governo provincial em assuntos relacionados à higiene e saúde públicas, seguindo os moldes da Academia Imperial de Medicina, que inspirada na academia francesa, desempenhava também o papel de consultora do Governo Imperial, sobre esses assuntos. Neste sentido, a Sociedade, visando melhorar a saúde pública, propunha a eliminação do que era considerado focos de moléstias endêmicas através de medidas de saneamento que compreendiam o aterro dos pântanos de Olinda que inundavam a cidade nos períodos de chuva, o encanamento de água potável para a população da cidade e a transferência dos enterramentos nas igrejas para os cemitérios (RELATÓRIO..., 1843).
Nos anos de 1850, quando não se tem notícia das atividades da Sociedade, encontramos, no entanto, informações sobre as gestões de alguns de seus membros na Comissão de Higiene Pública da província, Joaquim de Aquino Fonseca e de Cosme de Sá Pereira. As propostas de medidas de saneamento por essa Comissão ampliaram-se a partir das epidemias de febre amarela e do cólera, e da nova legislação que passou várias atribuições da Câmara Municipal para a Junta de Higiene Pública, criada pelo decreto nº 598 de 14/09/1850 (RELATÓRIO...,1856). Neste quadro, surgiram polêmicas entre esses médicos, de formação européia, e curandeiros, com relação à terapêutica utilizada para o tratamento dessas doenças.
O caso do “preto Manoel” que chegou a tratar dos doentes de cólera no Hospital da Marinha, na cidade do Recife, utilizando uma terapêutica diversa daquela apregoada pela medicina européia, foi mencionado por esses dois médicos, levando, inclusive, à retirada de Joaquim de Aquino Fonseca do posto de presidente da referida Comissão (FREIRE, 1990). Tendo falecido vários doentes sob os seus cuidados, Manoel foi advertido de que não podia mais adotar o seu remédio; desobedecendo as ordens da polícia, foi detido. Mas, seria protegido por quem acreditava nas suas curas, conforme foi relatado por Joaquim de Aquino Fonseca no Diário de Pernambuco (Apud FREIRE, 1990, p.506): “Pessoas que ocupam posição elevada na sociedade tomaram esse preto sob sua proteção; um até desejava que houvesse uma sublevação popular afim de por-se a sua frente e metralhar médicos (...) e por fim esse preto não só pôs-se a vender publicamente e por alto preço o seu remédio, senão a ser levado de casa em casa”.
No ano de 1874 a Sociedade reorganizou-se, sob o nome de Instituto Médico Pernambucano (FREITAS, 1928, p.71), onde destacaram-se as figuras de Cosme de Sá Pereira, Pedro de Ataíde Lobo Moscoso, Malaquias Antônio Gonçalves, Santa Rosa, Villas Boas, Raymundo Vianna, Pereira do Carmo, Inácio Alcebíades Velloso, João da Silva Ramos, Santos Mello, Ermirio Coutinho. Malaquias Antônio Gonçalves era considerado um grande cirurgião pernambucano, tendo sido um dos “poucos a formar escola no nosso meio, deixando inúmeros discípulos (...)” (FREITAS, 1928, p.73). Em 1888, participou como secretário adjunto do 1º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, organizado pela Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Nesta época, Pedro de Ataíde Lobo Moscoso foi Inspetor Geral da Saúde Pública da província. Na descrição da situação da saúde pública encontrada nos relatórios da província, referentes aos anos de 1873 e 1874, foi feita menção às epidemias de febre amarela e varíola que acometeram a população e às formas de combate empregadas pelo Inspetor, que compreenderam a utilização de medicamentos homeopáticos, por serem de mais fácil aplicação e de custo mais baixo que os alopáticos, e a vacinação contra a varíola No ano seguinte, sendo constatada a presença de febre amarela a bordo dos navios estrangeiros, Lobo Moscoso foi autorizado a promover a desinfecção dos navios (FALLA...,1874 e 1875).
A partir de 1887, a Sociedade configurou-se como Associação Médico-Farmacêutica Pernambucana, quando a classe médica juntou-se à farmacêutica, destacando-se a presença de Cosme de Sá Pereira, Malaquias Antônio Gonçalves, Ermirio Coutinho, Antonio de Siqueira Carneiro da Cunha, João Jerônimo Pontual Rangel, Paula Lopes, Fernando Lisboa Coutinho, Augusto Coelho Leite, Barreto Sampaio, Euzébio de Almeida Martins Costa, Joaquim Loureiro, Rodolpho Galvão, João Paulino Marques, Constancio dos Santos Pontual e José Octávio de Freitas. Entre estes, Ermirio Coutinho foi um importante psiquiatra e neuropatologista e Rodolpho Galvão foi referido como o remodelador da higiene em Pernambuco (FREITAS, 1928, p.73).
Em 1897, a associação modificou seus estatutos, passando a denominar-se novamente Sociedade de Medicina de Pernambuco. Esta nova fase durou menos de dois anos. Após um período de interrupção das atividades da associação, em 26 de março de 1903, um grupo de seus antigos sócios resolveu criar uma outra associação, com a mesma denominação da anterior - Sociedade de Medicina de Pernambuco. Neste restabelecimento da Sociedade participaram José Octávio de Freitas, Theodorico Padilha, João Paulino Marques, Amaury de Medeiros, João Paulo, Alfredo Felipe da Costa, Frederico Curio, João Amorim, Francisco Clementino Carneiro da Cunha, Ulisses Pernambucano de Melo Sobrinho, Alexandre dos Santos Selva Júnior, Aggeu Sérgio de Godoy Magalhães, Costa Ribeiro, Ignácio D'Avila e Eustachio de Carvalho.
Muitos dos seus associados integrariam, posteriormente, os corpos docentes das instituições de ensino criadas na capital pernambucana, a Escola de Farmácia de Pernambuco (1904), a Escola de Odontologia de Pernambuco (1913) e a Faculdade de Medicina do Recife (1920).
Nos debates promovidos pela associação, estiveram presentes os temas sobre higiene social e profilaxia, assim como a assistência pública. Foram realizados diversos estudos relacionados à peste bubônica, à disenteria bacilar ou amebiana, à varíola, à febre amarela, à febre ictero-hemorrágica, à tuberculose, à sífilis, ao granuloma venéreo, à lepra e às leishmanioses.
Da Sociedade partiram as iniciativas para a criação da Maternidade no Hospital Pedro II, em 1880; da Liga Pernambucana contra a Tuberculose, em 1900; do Primeiro Congresso Médico Pernambucano, em 1909, do Congresso Médico realizado em 1916, além de semanas médicas em 1923 e 1924. As primeiras reuniões da Escola de Odontologia de Pernambuco também ocorreram na antiga sede da Sociedade de Medicina de Pernambuco. Seus membros costumavam fazer escalas para dar consultas gratuitas aos indigentes três vezes por semana.
Durante o 4º Congresso Latino-Americano realizado de 1º a 8 de agosto no Rio de Janeiro, no ano de 1910, a Sociedade de Medicina de Pernambuco foi representada por Joaquim Loureiro.
Durante a gestão de Aggeu Sérgio de Godoy Magalhães, em março de 1928, a Sociedade recebeu a visita dos médicos diretores da Comissão Federal de Saúde e Higiene, Belizário Augusto de Oliveira Penna e Genserico de Souza Pinto, na qual esse último relatou suas impressões de viagem ao Velho Mundo, referindo-se aos problemas de higiene. Já Penna chamou a atenção para a questão da profilaxia da lepra. No mês seguinte, Antônio Austregesilo Rodrigues Lima, professor catedrático da clínica neurológica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, proferiu conferência sobre esta temática na Sociedade, da qual tornou-se sócio honorário.
De acordo com os seus primeiros estatutos (1841), a Sociedade seria constituída por um presidente, um vice-presidente, um secretário perpétuo, um secretário temporário, um secretário adjunto e um tesoureiro. Todas as funções duravam um ano, exceto as do secretário perpétuo que eram vitalícias (art. 30). No entanto, não foram encontradas as informações completas sobre o corpo administrativo referente aos seus primeiros anos de funcionamento.
Presidentes:
1841-1844: Antonio Peregrino Maciel Monteiro (presidente), José Eustáquio Gomes (vice-presidente)
1874- ?: Cosme de Sá Pereira (presidente)
1887-1898: Inácio Alcebíades Velloso, Cosme de Sá Pereira, Malaquias Antônio Gonçalves, Ermírio Coutinho, Antonio de Siqueira Carneiro da Cunha, Constancio dos Santos Pontual (presidentes)
1903-1910: Joaquim Loureiro, João Paulo, Alfredo Arnóbio Marques, Leopoldo de Araújo, José Octávio de Freitas (1908) (presidentes).
1910 - João Paulino Marques (presidente); José Ignácio D’Ávila (vice-presidente); Oscar Coutinho (1º secretário); Francisco Clementino Carneiro da Cunha (2º secretário); Costa Ribeiro (tesoureiro); Marques Ferreira (procurador).
1911 - Alfredo Arnóbio Marques (presidente); Leopoldo de Araújo (vice-presidente); Antônio Carlos Soares de Avellar (1º secretário); Thomé Isidoro Dias da Silva (2º secretário); Costa Ribeiro (tesoureiro); Marques Ferreira (procurador).
1912 - Alfredo Felipe da Costa (presidente); José Octávio de Freitas (vice-presidente); Frederico Curio (1º secretário); Augusto Chacon (2º secretário); Costa Ribeiro (tesoureiro); Marques Ferreira (procurador).
1913 - José Ignácio D'Ávila (presidente); Alcides Codeceira (vice-presidente); João Amorim (1º secretário); Alexandre dos Santos Selva Júnior. (2º Secretário); Costa Ribeiro (tesoureiro); Marques Ferreira (procurador).
1914 – José Octávio de Freitas (presidente); Augusto Coelho Leite (vice-presidente); José de Arruda Souto Maior (1ºsecretário); Arsênio Luiz Tavares da Silva (2º secretário); Francisco Clementino Carneiro da Cunha (tesoureiro); Espiridião Lins (procurador).
1916 - Costa Ribeiro (presidente); Frederico Curio (vice-presidente); Alexandre dos Santos Selva Júnior (1ºsecretário); Malallel Marinho Rego (2ºsecretário); Gustavo Pinto (tesoureiro); João Amorim (bibliotecário); Leopoldo de Araújo, José de Arruda Souto Maior, Antônio Ignácio (comissão fiscalizadora).
1922 - Ulisses Pernambucano de Melo Sobrinho (presidente); Alfredo Cordeiro da Fonseca Medeiros (vice-presidente); Antônio Lima (1ºsecretário); Antônio Ignácio (2ºsecretário); Edgard Altino Correia de Araújo (orador); Francisco Clementino Carneiro da Cunha (tesoureiro); Adolpho Ramires (bibliotecário).
192? – 1928 – João Paulino Marques (presidente)
1928 – Aggeu Sérgio de Godoy Magalhães (presidente)
1929 – Fernando Simões Barbosa (presidente)
Estrutura e funcionamento
Conforme os primeiros estatutos da Sociedade de Medicina de Pernambuco (1841), o Presidente da Província seria o “protetor nato” da Sociedade, o qual seria convidado por uma Comissão de três membros para todas as sessões solenes, sendo assessorado por uma outra de igual número e tendo assento à direita do presidente da Sociedade (art. 71). A Sociedade poderia excluir de seu quadro qualquer sócio que se mostrasse descomedido em suas palavras ou ações, no exercício de sua profissão, ou que praticasse ações indignas ou indecorosas (art. 86). Os estatutos só poderiam ser alterados após o prazo de dois anos, com a concordância de dois terços dos sócios efetivos. Nos casos omissos a Sociedade poderia tomar qualquer resolução, formando outros tantos artigos, que seriam acrescentados aos presentes estatutos (arts. 90 e 91).
No ano de 1910, os novos estatutos destacavam que, além de fins científicos, a Sociedade teria objetivos de beneficência, de modo a proporcionar às famílias dos sócios falecidos um pequeno pecúlio (a quantia de 5% sobre o total da arrecadação de todos os sócios). Deveria também buscar a solidariedade entre seus membros nas diversas ocasiões da vida profissional, salvaguardando a honorabilidade da classe e os princípios de deontologia e a ética profissional (art. 1º).
Seus membros, que poderiam ser médicos, farmacêuticos e dentistas diplomados pelas faculdades de medicina do país, seriam divididos em quatro categorias: efetivos, correspondentes, honorários e beneméritos (art.3º). Os membros efetivos estariam agrupados em grupos de três, segundo as seguintes comissões eleitas anualmente: 1.ª) Comissão Administrativa: seria constituída pelo presidente e seus dois secretários; 2.ª) Comissão Econômica: seria constituída pelo tesoureiro, pelo procurador e por um terceiro membro indicado pelo presidente; 3.ª) Comissão de Medicina: encarregada de dar parecer e estudar assuntos relativos à patologia médica em geral; 4.ª) Comissão de Higiene, Bacteriologia, Demografia e Epidemiologia; 5.ª) Comissão de Psiquiatria, Antropometria e Medicina Legal; 6.ª) Comissão de Cirurgia em geral; 7.ª) Comissão de Obstetrícia e Ginecologia; 8.ª) Comissão de Oftalmologia, Otologia, Rinologia, Laringologia e Odontologia; 9.ª) Comissão de Farmacologia, Ciências Físico-Químicas e História Natural; 10.ª) Comissão de Redação (art. 9º).
A receita da Sociedade de Medicina de Pernambuco era constituída por: a) jóia e contribuição mensal de seus membros efetivos; b) donativos que lhe forem feitos; c) produto das vendas dos seus trabalhos; d) juros das quantias arrecadadas. Os fundos deveriam ser aplicados no pagamento do aluguel da casa onde funciona e dos seus empregados, nas despesas de expediente, nas publicações de seus debates, na criação da biblioteca, e no pagamento dos benefícios às famílias dos sócios falecidos (arts. 29 e 30).
Os trabalhos de destacado valor científico ou prático, apresentados perante a Sociedade, poderia merecer uma menção honrosa, caso algum sócio assim solicitasse àquela associação. Os empregados da secretaria e tesouraria seriam nomeados e demitidos somente por proposta dos respectivos chefes e aprovação da Sociedade (art.36).
Novos estatutos foram apresentados em 1º de outubro de 1914, a partir do qual a Sociedade poderia auxiliar os poderes públicos sempre que estes buscassem sua orientação sobre qualquer questão de medicina pública, criando para tal uma comissão especial para estudar o caso (art. 45).
Para associar-se o candidato poderia solicitá-lo diretamente à Sociedade ou ser apresentado por um ou mais membros. Os sócios seriam divididos em quatro categorias: a) efetivos: os que, residindo na capital e suas imediações, tomassem parte ativa nos trabalhos da associação; b) correspondentes: os que, não residindo na capital, concorressem com quaisquer trabalhos para serem lidos nas sessões da Sociedade, os que gozassem de reconhecida notoriedade científica e os que fossem obrigados a se ausentar daquela capital (Recife); c) honorários: os sócios efetivos que tivessem prestado 20 anos de serviço àquela Sociedade e os que atingissem 70 anos de idade e manifestassem o desejo de passar para esta categoria; d) beneméritos: as pessoas, diplomadas ou não, que fizessem donativos àquela associação em dinheiro, livros ou outros quaisquer valores (pecuniários).
A administração da Sociedade de Medicina de Pernambuco ficaria a cargo de uma diretoria eleita na última sessão de cada ano e composta de um presidente, um vice-presidente, dois secretários, um tesoureiro e um bibliotecário (art. 5º). Com relação às comissões, foram eliminadas a administrativa e a econômica, permanecendo as outras estabelecidas pelos estatutos de 1910 (art.6º).
Os sócios efetivos em dia poderiam: a) votar e ser votado para qualquer cargo da diretoria ou das comissões; b) freqüentar a sede da Sociedade e utilizar-se da biblioteca social; c) assistir às sessões ordinárias e extraordinárias, e tomar parte nas discussões e votações; d) requerer à diretoria sessões extraordinárias em qualquer época, desde que justificassem claramente motivo.
Os sócios que não pagassem sua mensalidade por três meses consecutivos, sem razão justificada perante a mesa, perderiam seus direitos e regalias enquanto não saldassem seu débito, e após o prazo de 60 dias de não pagamento o sócio poderia ser eliminado (arts. 7º e 10º).
Para a abertura de suas sessões era necessária a presença de pelo menos cinco sócios. As sessões ordinárias duravam de duas horas, sendo a primeira meia hora para assuntos de expediente e o período restante para a ordem do dia (arts. 27 e 28).
Sedes da instituição:
A Sociedade de Medicina de Pernambuco custou a ter endereço fixo, instalando-se inicialmente (1841) na sede do Liceu Pernambucano, no Convento do Carmo, e posteriormente em prédios da rua Nova, no Largo do Paraíso; da rua do Hospício; da rua da Imperatriz, do Largo de Santo Antônio e da rua Fernandes Vieira. Entre 1896 e 1900, ficou alojada nas dependências da Inspetoria Geral de Higiene, cedida pelo Governador do Estado, Alexandre José Barbosa Lima. Obrigada a retirar-se deste local devido à solicitação da Inspetoria Geral de Higiene em 1900, a Sociedade de Medicina de Pernambuco ficou sem espaço e sem estímulos para desenvolver os seus trabalhos, reduzindo o número de sócios pela metade. Nesta época, José Octávio de Freitas chegou a recolher a biblioteca e o arquivo da Sociedade em sua própria casa, no prédio onde funcionava o antigo Instituto Pasteur, que se encontrava sob sua gestão. Em 1928, encontrava-se instalada no Departamento de Assistência à Saúde. Por ocasião do centenário da associação, em 1941, foi lançada a pedra fundamental para construção de sua sede própria em terreno doado pelo Governo do Estado de Pernambuco, situado à rua Oswaldo Cruz, em Praça de mesmo nome. Em 10 de agosto de 1944 foi finalmente inaugurada neste local sua sede própria, onde permaneceu até os dias de hoje.
Publicações oficiais
A importância de um jornal apareceu justificada no texto dos estatutos da Sociedade de Medicina de Pernambuco, de 1915: “o elemento de vida das associações científicas, é o canal por onde transmitem e propagam suas idéias, derramam a instrução pela massa da população a ao mesmo tempo é o mais poderoso incentivo, o estímulo mais forte para despertar os ânimos e ativar o trabalho”.
No entanto, já em outubro de 1842, o presidente da Sociedade de Medicina de Pernambuco, Antonio Peregrino Maciel Monteiro, teve a iniciativa de criar o primeiro jornal de medicina de Pernambuco - Annaes da Medicina Pernambucana. Lançado em outubro de 1842, em Recife, circulou até 1844, sendo composto e impresso nas oficinas gráficas de Santo & Cia.
A comissão de redação dos Annaes da Medicina Pernambucana era composta pelos seguintes médicos: João Loudon, Simplício Antônio Mavigner, Pedro Dornelas Pessoa, José Joaquim de Moraes Sarmento, João Ferreira da Silva, Antonio Peregrino Maciel Monteiro, Joaquim de Aquino Fonseca e José Eustáquio Gomes. Nos Annaes, além de artigos relacionados com a medicina, havia também anúncio de atendimento aos indigentes e previsões meteorológicas, feitas por João Loudon e José Joaquim de Moraes Sarmento. Em 1843 circularam quatro números e em fevereiro de 1844 foi lançado o último número.
O jornal Annaes do Instituto Médico Pernambucano, composto e impresso nas oficinas gráficas do Jornal de Recife, apareceu em 1874, e circulou apenas um fascículo.
Em 1898, foi criado o periódico Annaes da Sociedade de Medicina de Pernambuco, composto e impresso nas oficinas gráficas de A Província. Tinha como redatores: Alfredo Arnóbio Marques, José Octávio de Freitas, Leopoldo de Araújo e Rodolpho Galvão. O órgão teve curta duração.
Em 1905, José Octávio de Freitas fundou o Jornal de Medicina de Pernambuco, que circulou ininterruptamente até 1949.
Fontes
- ANNAES da Medicina Pernambucana (1842-1844). Coleção Pernambucana, v.X. Estudo introdutório do Prof. Leaduar de Assis Rocha. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educação e Cultura, 1977. (RGPL)
- Annaes da Medicina Pernambucana. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 8 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/819166/1
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- BOLETIM da Sociedade de Medicina de Pernambuco. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, ano XI, n.1, janeiro, 1915. (BMANG)
- CURIO, Frederico. Memórias históricas da Sociedade de Medicina de Pernambuco em 1910. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, ano VII, n.6, junho,1911. (BMANG)
- ESTATUTOS da Sociedade de Medicina de Pernambuco. Jornal de Medicina de Pernambuco, Recife, ano XI, n.10, outubro,1915. (BMANG)
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- RELATORIO que à Assembléa Legislativa de Pernambuco, apresentou na sessão ordinária de 1856 o Exmo. Sr. Conselheiro Dr. José Bento da Cunha Figueiredo, presidente da mesma província. Recife, Typ. de M. F. de Faria, 1856. In: Mensagens dos Presidentes de Província (1830-1930). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Capturado em 2 abr. 2020. Online. Disponível na Internet: http://ddsnext.crl.edu/titles/180#?c=0&m=24&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1072%2C0%2C3614%2C2549
- SOCIEDADE DE MEDICINA DE PERNAMBUCO. 3ª Reunião Anual - Memórias e Discussões, Setembro de 1933. Recife: Imprensa Industrial, 1933. (BN)
Ficha técnica
Pesquisa - Leandro de Aquino Soares.
Redação - Verônica Pimenta Velloso; Mª Rachel Fróes da Fonseca.
Revisão – Francisco José Chagas Madureira.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
SOCIEDADE DE MEDICINA DE PERNAMBUCO. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 23 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)