ESCOLA AGRÍCOLA E VETERINÁRIA DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DE OLINDA

De Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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Denominações: Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda (1912); Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária de São Bento (1915); Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento (1917); Escola Superior de Veterinária São Bento (1917); Escolas Superiores de Agronomia e Medicina Veterinária São Bento (1918); Escola Superior de Agricultura de Pernambuco (1936); Universidade Rural de Pernambuco (1947); Universidade Federal Rural de Pernambuco (1967)

Resumo: A Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda foi fundada nas dependências do Mosteiro Beneditino em Olinda (Estado de Pernambuco), em 3 de novembro de 1912. Em 1917 constituíram-se como duas escolas separadas, a Escola Superior de Agricultura, instalada no município de São Lourenço da Mata, e a Escola Superior de Veterinária, em Olinda. Esta encerrou suas atividades em 1925, e a de agricultura foi encampada pelo governo estadual em 1936, e integrou a Universidade Rural de Pernambuco, criada em 1947.

Histórico

Em 15 de novembro de 1911, a Congregação Beneditina apresentou, por intermédio de seu prior em Olinda, Dom Pedro Roeser (18701955), a ideia da criação naquela cidade de um estabelecimento destinado ao ensino prático e teórico de agronomia e veterinária. A escola pretendia ter como padrão de ensino as clássicas instituições agrícolas da Alemanha, as Landwirschaf Hochschule, com programas baseados nos currículos adotados pelas congêneres de Munique e Halle. Era uma novidade pedagógica, já que outras entidades como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e a Escola Superior de Agricultura e Veterinária (Viçosa, Estado de Minas Gerais) se inspiraram nos land-grant colleges americanos.

O abade D. Pedro Roeser propôs, em 3 de julho de 1912, na reunião (capítulo) dos religiosos do Mosteiro de São Bento, em Olinda (Pernambuco), a fundação de uma escola agrícola, sendo o projeto unanimemente aprovado. Na mesma oportunidade foi decidido que os lentes para a referida escola seriam os próprios monges, e como não havia condições de mandar alguns deles para a Europa para se formarem, em função de a comunidade beneditina ser muito pequena, seriam convidados dois professores europeus para instruir os futuros monges professores. O abade D. Pedro Roeser consultou revistas científicas da Alemanha e da Áustria, buscando identificar um médico veterinário e um agrônomo para a escola. Apareceram oito candidatos, dentre os quais foram escolhidos o professor de medicina veterinária Hermann Rehaag (1884-1970), posteriormente professor de zootecnia da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (Viçosa, Minas Gerais), e o professor de ciências naturais e de agricultura Johan Ludwig Nikolaus. Hermann Rehaag nasceu em Pressitten (Prússia), em 4 de março de 1884, estudou na Universidade de Giessen, diplomou-se na Universidade de Berlim (1911), e era inspetor do matadouro de Braetz, quando se transferiu para Olinda. Johan Ludwig Nikolaus nasceu a 25 de setembro de 1886, em Czernowitz (Áustria), formou-se na Escola Superior de Agricultura desta cidade, foi professor de química e de experiências agrícolas (1905) desta mesma escola, vice-diretor do Jardim Botânico da cidade, e trabalhava no Ministério da Agricultura de Bukovina (Romênia) quando veio para Olinda.

Decidiu-se também que seria iniciada naquele mesmo mês a construção de um prédio para abrigar a escola, aproveitando-se para este fim as instalações do antigo colégio de São Bento. No dia 17 de novembro do mesmo 1912, no refeitório do mosteiro, houve outra reunião com pessoas de reconhecida competência nas áreas de agricultura e veterinária da região, na qual compareceram Fábio da Silveira Barros (Inspetor da Agricultura do Estado de Pernambuco), Pedro Correia de Oliveira, Manoel Paulino Cavalcanti (Diretor da Escola de Agronomia de Jaboatão), João Ignacio Cabral de Vasconcellos (Procurador do Mosteiro de São Bento), José Maria Carneiro da Cunha (representante do sindicato agrícola), e Antônio Pereira da Silva Lima. Foi de Manoel Paulino de Cavalcanti a idéia de se criar duas escolas independentes, uma de agricultura e outra de veterinária, mas que funcionassem no mesmo lugar. 

Sem apoio governamental, o abade D. Pedro Roeser resolveu fundar a Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda nas próprias dependências do Mosteiro de São Bento. Seriam duas escolas em uma, particulares, mas de ensino gratuito. Em 3 de novembro de 1912 houve o lançamento da pedra fundamental da instituição, e ao final de 1913 a obra foi concluída. 

A inauguração da Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda, em 1º de fevereiro de 1914, foi noticiada nos periódicos pernambucanos, como o Diario de Pernambuco, que, em sua edição de 2 de fevereiro de 1914, destacou que a instituição abria “um grande futuro á mocidade estudiosa de Pernambuco” (ESCOLA, 1914, p.1). 

Na solenidade de inauguração da Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda, em 1º de fevereiro de 1914, o abade D. Pedro Roeser, fundador e primeiro diretor da instituição, ressaltou a importância daquela iniciativa:

“Eis o que para mim é prova evidente de que em boa hora, acertei nos desejos do glorioso Povo Pernambucano com o fundar desta Instituição. A reflexão iluminada pela graça de Deus e confirmada pelos altos pareceres de meus Superiores deu-me a ver claro que a missão a seguir nesta nossa Abadia Olindense era justamente aquela mesma de que o nosso Pai S. Bento tantas vezes nos adverte em incisos de sua santa Regra: A Cultura do Solo. O admirável progresso que fizeram as ciências naturais em nossos dias produziu uma completa revolução na Agricultura. Ora o agricultor hoje me dia já não pode mais guiar-se pelos processos de antanho, a criação do gado com a seleção artificial, que o melhora, entrou por estradas completamente novas, o tratamento dos animais domésticos e rurais já se faz por novos horizontes, que as luzes da ciência vão dia a dia dilatando, então que fazer para cumprirmos à letra a Regra Santa da nossa Ordem Caríssima? Abrir a dupla Escola de Veterinária e Agricultura, sujeita a todos os métodos modernos que a ciência requer”. (Apud, PRIMEIRO, 1916) 

Nesta ocasião o abade beneditino também destacou os vários apoios recebidos para aquela iniciativa da comunidade beneditina, como o de João Alfredo Corrêa de Oliveira (presidente do Banco do Brasil), de Manoel Paulino Cavalcanti (futuro diretor da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, no Rio de Janeiro), de Fabio da Silveira Barros (presidente do senado estadual), de Juvencio Mariz (Inspetor Agrícola), de Luiz Correia de Britto (fundador do posto zootécnico de Jaboatão), de Antonio Pereira da Silva Lima, de João da Costa Pereira (fornecedor de preparados para o Instituto Bacteriológico), e de João Ignacio Cabral de Vasconcellos.  

As matrículas para o curso preparatório foram abertas em 5 de fevereiro de 1913, e as atividades iniciaram-se em 1º de fevereiro de 1914, com a inauguração dos dois cursos, o de agricultura e o de medicina veterinária. O prédio que abrigaria a Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda foi inaugurado no dia 14 de fevereiro de 1914, em solenidade que contou com a bênção do Arcebispo de Olinda D. Luiz Raymundo da Silva Britto, e com a apresentação de uma orquestra regida pelo maestro Euclydes Fonseca, discípulo de Carlos Gomes. 

Foram abertas, então, as matrículas para os cursos da dupla instituição, com alunos para o curso de agricultura e para o curso de veterinária. A Escola foi dotada de um hospital para animais, com um estábulo contíguo para servir de Posto de Isolamento, e em dezembro de 1914 já contava com grandes acomodações para o gabinete de bacteriologia e farmácia veterinária, para o laboratório químico e para a sala de operações.   

Em 5 de maio de 1914, em uma reunião dos religiosos, decidiu-se pela compra do domínio útil e das benfeitorias do engenho São Bento, tendo em vista a impossibilidade de manter, em Olinda, as escolas agrícola e veterinária, e a necessidade de adquirir uma nova fonte para a manutenção daquela abadia. Propunha-se que as escolas, que até então funcionavam em um mesmo prédio, passassem a ter uma vida independente, mantendo como ligação os mesmos princípios e a mesma orientação. No engenho São Bento seria construído um edifício próprio para os estudos e experiências de agronomia, mas a necessidade da conclusão de dois estábulos, um para animais de grande porte e outro para animais menores e aves, adiou a construção do edifício. A escritura de compra do engenho foi lavrada em 18 de junho de 1914, e em fevereiro do ano seguinte o engenheiro Callander visitou o engenho para examinar o local da futura escola agrícola. De acordo com o padre Jonas Taurino e Andrade, autor da Crônica presente no “Primeiro Relatorio das Escolas Superiores de Agricultura e Medicina Veterinária do Mosteiro de São Bento”, o engenheiro civil Decio Fonseca foi incumbido de levantar uma planta adrede, e João Pereira D´Aquino foi encarregado de sua execução (PRIMEIRO, 1916).

O abade D. Pedro Roeser decidiu, em agosto de 1915, solicitar um empréstimo a um banco alemão, fixado em São Paulo, para dar prosseguimento às obras da Escola, e ao final deste ano foi colocada a primeira lápide do edifício escolar.

Em 26 de julho de 1915, a então denominada Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária de São Bento recebeu a visita de José Bezerra Cavalcanti, Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, que na ocasião destacou a relevância daquela instituição, e comprometeu-se em informar ao Presidente da República, Wenceslau Braz, sobre os esforços dos beneditinos na propagação e melhoramento da agricultura e indústria pastoril de Pernambuco. A visita estendeu-se às salas de anatomia e histologia, nas quais o Ministro dedicou atenção aos aparelhos de cirurgia e aos diversos esqueletos de homem, cavalo, carneiro, coelho, ganso, sapo, etc., existentes naqueles recintos. Surpreendeu-se, também, com um quadro, no qual estavam representadas todas as intoxicações metálicas dos animais e seus respectivos antídotos, extremamente útil para veterinários e agricultores. Deteve-se também diante de um modelo eqüino, o qual podia ser desmontado para a realização de estudos de osteologia, artrologia, miologia, nevrologia, estesiologia e esplanologia. Destacou-se a grande mesa anatômico-histológica, com diversos microscópios e inúmeros preparados histológicos. Na visita ao gabinete de física e ao laboratório químico o Ministro demonstrou surpresa perante à profusão de aparelhos técnicos e de reagentes. Na clínica veterinária encantou-se com os métodos e os utensílios de que se serviam para o tratamento de espravão, incluindo vários microscópios de Seitz com preparados bacteriológicos feitos pelos próprios monges. No mesmo local lhe foi mostrado um preparado de sangue humano atacado do bacilo de Laveran, uma cultura do bacilo antracio (carbúnculo bacteridiano) e um preparado de piroplasmo das galinhas, doença esta que havia sido “descoberta pelo professor da clínica” (PRIMEIRO, 1916, p.14). Na farmácia da clínica veterinária deparou-se com ungüentos empregados na cura do espravão, com culturas do bacilo do tétano (em Agar-Agar e em gelatina) nas estufas, e com diversas injeções (de morfina, cafeína, atropina contra manqueira, antrax, tétano, tuberculose). O relato da visita ao prédio principal da instituição referiu-se à existência de aparelhos de meteorologia, de mapas, e de um museu de mineralogia, botânica e zoologia.       

Em 13 de dezembro de 1915, em uma reunião do professorado das escolas de agricultura e de veterinária, foi eleito como vice-diretor da Escola Superior de Veterinária, o sub-prior D. João, e como vice-diretor da Escola Superior Superior de Agricultura, que passaria a funcionar no Engenho São Bento, foi escolhido D. Bento Pickel. 

Apesar das dificuldades a Escola resistia. Em janeiro de 1917, o curso de agricultura foi transferido da cidade de Olinda para o município de São Lourenço da Mata, onde se estabeleceria no engenho São Bento, então de propriedade da Ordem Beneditina. O curso de veterinária permaneceu em Olinda, cujo estabelecimento passou a se chamar Escola Superior de Veterinária São Bento, com 19 alunos matriculados.  

Em sessão da congregação, em 05 de novembro de 1917, foi determinado que D. Pedro Roeser assumisse a direção geral das duas escolas, então separadas, e que este nomeasse diretores e secretários para cada uma das mesmas. Para a Escola Superior de Veterinária São Bento, em Olinda, foi designado D. Dustano Saupp como seu diretor, e D. Rhabano Bidell como secretário.  

A Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento foi inaugurada em 8 de março de 1917, pois já estava pronta a primeira ala do edifício construído para o início do ano letivo. D. Pedro Roeser passou três meses residindo no engenho, a fim de tomar as medidas necessárias à organização escolar, sobretudo visando dotar o edifício de toda a estrutura que ainda faltava. A separação da comunidade beneditina de Olinda já se efetuara em 27 de fevereiro do mesmo ano, quando foram enviados monges para o engenho de S. Bento, e lá assumiram diferentes funções, entre eles D. Pedro Bandeira de Mello como diretor da Escola (PICKEL, 1921). 

Ainda em 1917, D. Pedro Roeser permitiu a moradia de diversos alemães refugiados da I Guerra Mundial no Mosteiro e no engenho de São Bento. Alguns desses refugiados trabalharam na construção e manutenção da Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento, entre eles Oto Moneke, construtor e mestre de oficinas, e Henrique Tross, ferreiro, e outros alemães permaneceram no engenho até fins de 1921.  

No ano de 1918, D. Amaro foi nomeado diretor da Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento. A obra do edifício escolar foi concluída e o arquiteto Bauer, a quem fora encomendada a construção, pôde finalmente entregá-la. Em junho do mesmo ano foi instalado o grande motor a gás, junto com bombas e outras máquinas adquiridas pelo abade para o engenho e para a Escola.

As congregações das duas instituições, da Escola Superior de Medicina Veterinária de São Bento e da Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento, decidiram, em 28 de dezembro de 1918, adotar para ambas a denominação de Escolas Superiores de Agronomia e Medicina Veterinária São Bento. 

O ano de 1919 foi, nas palavras de D. Bento Pickel, um ano problemático, quando se enfrentou uma terrível epidemia de tifo, que prostrou seis monges e outras pessoas que trabalhavam no engenho, mas não vitimou nenhum aluno, o que possibilitou a continuidade das aulas. Como não chovia desde meados de 1918, o rio secou, e metade da plantação de cana e quase todas as sementes foram perdidas. Os poços feitos não rendiam o volume d’água necessário e se não fosse permitida a colheita prematura da mandioca, feita pelos moradores das proximidades que estavam em estado de penúria, teria se perdido toda a plantação. Para completar o sombrio quadro, o fim do ano escolar teve que ser antecipado devido ao aparecimento da Gripe Espanhola que contagiou muitos alunos e religiosos (PICKEL, 1921).

Em 1919 o diretor da Escola de Medicina Veterinária era o frei Placido de Oliveira e o sub-diretor e secretário era frei Gabriel de Vasconcellos Beltrão. D. Pedro Roeser assinou, ainda neste ano, um contrato com a usina Cansanção de Sinimbú, que possibilitava a passagem da estrada férrea dentro das dependências do Engenho de São Bento, pelo que receberia o montante de quatro mil toneladas de cana-de-açúcar por ano. Foram feitas ainda obras de reestruturação do estábulo e construída uma estribaria de gado eqüino e muar (PICKEL, 1921). Em 1920, foi construída nova cacimba que fornecia água potável e irrigava a plantação, mas a seca voltou a atacar a região comprometendo novamente o plantio de cana. 

A partir do decreto nº 4.195, de 29 de novembro de 1920, que estabeleceu as bases para o reconhecimento dos diplomas conferidos pelas escolas de agricultura e medicina veterinária no país, ambas as escolas, a Escola Superior de Medicina Veterinária de São Bento e a Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento, passaram a ser equiparadas e subvencionadas pelo Governo Federal. 

Em 1922, em virtude da falta de meios e de pessoal, tanto em relação ao corpo docente quanto ao discente, foi cogitado o fechamento da Escola Superior de Medicina Veterinária de São Bento, sendo tal proposição comunicada Samuel Hardman, secretário-geral do governador do Estado de Pernambuco (LIVRO, 1924).  O secretário prometeu o apoio necessário por parte do governo, e garantiu ao prior a possibilidade de contratação de quatro professores da Alemanha, cujo pagamento viria dos recursos oriundos do imposto de exportação de todo produto da agricultura de Pernambuco. O abade contratou, então, “por ordem do governo pernambucano” (LIVRO, 1924), os professores Lachenschmied e Hasgenkopf, que chegaram no final de 1923. 

Em janeiro de 1923, a Sociedade Auxiliadora da Agricultura de Pernambuco, comemorando seus 50 anos de existência, promoveu o Congresso de Agricultura do Nordeste. Todos os governos dos estados da região nordeste prestigiaram o evento enviando representantes. Foram discutidas questões como o aperfeiçoamento das culturas da cana-de-açúcar, do algodão e dos cereais; a construção de uma rede de estradas “carroçáveis”; estudos e experiências do emprego do álcool como combustível; defesa sanitária vegetal e animal; impostos exorbitantes que oneravam o álcool; cooperativismo de máquinas agrícolas, de substâncias inseticidas e do crédito agrícola; regulamentação dos trabalhos dos menores; as greves e os tribunais de trabalho; e o auxílio à Escola Superior de Medicina Veterinária São Bento, em Olinda. Houve a promessa, por parte do executivo pernambucano, de aumento das subvenções dadas à Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento, com o argumento de que seria mais útil e, inclusive, mais econômico ao Estado de Pernambuco manter e melhorar seus cursos do que criar um novo estabelecimento, visto que a escola era nas palavras do então governador, Sérgio T. Lins de B. Loreto, “tão bem dirigida pela esforçada Ordem beneditina” (MENSAGEM, 1923). 

Em 15 de setembro de 1923, Miguel Calmon Du Pin e Almeida, Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, baixou instruções para a fiscalização dos estabelecimentos subvencionados por aquele ministério, incluindo os institutos de ensino agronômico e veterinário. Determinou que cada estabelecimento de ensino receberia a visita de inspetores, na qual deveria estar atento às informações dos programas, ao pessoal docente, às instalações (gabinetes, laboratórios, bibliotecas, oficinas), à matrícula e freqüência dos alunos, aos resultados dos exames, aos diplomados e às suas notas. Ficou disposto, também, que no caso de ensino agronômico ou veterinário, as subvenções não poderiam ser aplicadas em pagamento de pessoal, mas somente na aquisição ou ampliação dos imóveis necessários para o funcionamento das instituições, na construção e conservação de benfeitorias e dependências, e na aquisição e conserto de tratores, instrumentos agrícolas, motores e instalações elétricas e auto caminhões para carga. 

Apesar de todo o esforço, desde o início de suas atividades até o ano de 1925, foram diplomados apenas 24 veterinários na Escola Superior de Medicina Veterinária São Bento. O auxílio prometido não veio e em 29 de janeiro do mesmo 1925, após 13 anos de precário funcionamento, a instituição foi fechada por ordem do abade D. Pedro Roeser.

O Governo do Estado de Pernambuco criou, por meio do decreto nº 7, de 3 de outubro de 1933, a Escola de Agronomia e Veterinária de Pernambuco, o que poderia contribuir para o fechamento da Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento. Este decreto foi revogado, mas em 1936 a Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento viria a ser encampada pelo governo estadual.

Em decorrência da lei estadual nº 2.243, de 9 de dezembro de 1936, e do Ato nº 1.802 do Poder Executivo, o Engenho São Bento foi desapropriado, com seus bens, passando a Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento a denominar-se Escola Superior de Agricultura de Pernambuco. Em 12 de março de 1938, pelo decreto nº 82, a instituição foi transferida para uma fazenda do Estado, em Dois Irmãos, no Recife, onde permanece nos dias atuais. 

Em junho de 1947, quando Amaro Gomes Pedrosa era interventor no Estado de Pernambuco, o Secretário de Agricultura, Indústria e Comércio, João de Deus de Oliveira Dias, encaminhou um ofício solicitando a criação de uma escola de veterinária. O interventor determinou, então, a redação do anteprojeto do decreto e a designação de uma comissão para elaborar o Regimento Interno da Escola Superior de Veterinária da Universidade Rural de Pernambuco, que funcionou de 1950 a 1974.

O decreto estadual nº 1.741, de 24 de julho de 1947, criou a Universidade Rural de Pernambuco, formada pela Escola Superior de Agricultura de Pernambuco, pela Escola Superior de Veterinária, pelo curso de Magistério de Economia Doméstica Rural e pela Escola de Agrotécnica de São Lourenço da Mata.

A Universidade Rural de Pernambuco, pela lei nº 2.524, de 4 de julho de 1955, foi federalizada e passou a integrar o Sistema Federal de Ensino Agrícola Superior do Ministério da Agricultura. Com o decreto nº 60.731, de 19 de maio de 1967, a instituição passou a denominar-se Universidade Federal Rural de Pernambuco. 

Estrutura e funcionamento

A Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda foi fundada em 1912. Em 5 de fevereiro de 1913, foram abertas as matrículas para o curso preparatório, com 71 alunos e oito professores: Padre Jonas Taurino de Andrade (português), Eduardo Corrêa da Silva (geografia e história), D. Placido de Oliveira (inglês), D. Tito Dobbert (alemão), D. Bento Pickel (francês e história), D. João Kehrle (ciências matemáticas), D. Pedro Bandeira de Mello (geografia), D. Gabriel de Vasconcellos Beltrão (francês).

Durante as primeiras férias foram instalados os laboratórios de física, química, anatomia e histologia, com aparelhos que haviam sido encomendados da Europa. 

De acordo com o Primeiro Relatório da instituição, “o curso preparatório era uma sobrecarga e os monges eliminaram-no por se dedicarem de todas as forças às Escolas-gêmeas: Veterinária e Agricultura” (PRIMEIRO, 1916, p.9).

No período de 1913-1915, o corpo docente da Escola Superior de Medicina Veterinária de São Bento era composto por: Hermann Rehaag (medicina veterinária),  Dionysio Meili (farmacologia, farmacognose, terapêutica), D. João Kehrle (vice-diretor e professor de anatomia, patologia e bacteriologia), D. Tito Dobbert (zoologia e bibliotecário), Dom Dunstano Saupp (histologia, cirurgia, clínica e parasitologia), D. Agostinho Ikas (fisiologia, ferradura, anatomia fisiológica dos cascos e patas e embriologia), D. Pedro Bandeira de Mello (química inorgânica, orgânica, analítica e vegetal; climatologia), D. Ancelmo Fuchs (higiene geral e epidemiológica, seroterapêutica e botânica), D. Gabriel de Vasconcellos Beltrão (doutrina sobre criação de animais domésticos e zootecnia, de pestes e de polícia veterinária), e D. Bernardo Ott (obstetrícia, da fiscalização sanitária das carnes e matadouros e da medicina legal veterinária).  

Já o corpo docente da Escola de Agricultura, nos anos 1913-1915, era composto por: D. Bento Pickel (vice-diretor, professor de botânica, entomologia, anatomia e fisiologia das plantas), D. Placido de Oliveira (ciências naturais e mecânica agrícola), D.Gregorio Saupp (zoologia, anatomia, meteorologia e climatologia), D.Rhabano Bidell (agricultura geral e especial), D. Paulo Rudenauer (pomi, horti e silvicultura), e Hugo von Moerss (agrimensura e chefe das culturas).  

No primeiro ano escolar, de 1913, eram alunos: Abelardo Maia, Antonio Barreto Lins, Antonio de Barros Leite, Arlindo Cabral, Armando Maia e Silva, Benjamin Cavalcanti de Mello, Durval Richardo de Mello, Francisco Ferreira Lins, Francisco Xavier da Cunha Pedrosa, Gabriel Castello Branco, Guilherme Álvares de Carvalho, João Cabral, José Waldemar Dantas, Luiz Caetano Barboza Passos, Luiz Correia da Silva, Luiz de Moraes de Andrade Lima, Manoel de Barros Bezerra, Manoel de Oliveira Braga, Manoel Verçosa de Gusmão Fraga, Marino Climaco, Miguel Guedes Gondim, Octavio Cabral de Vasconcelos, Olivio de Andrade Lyra, Phillippe Vieira da Cunha, Raul Pires, Ullysses Cavalcanti Mello. 

Em 1914, os estudantes que desejassem ingressar em ambas as escolas, de agricultura ou de veterinária, deveriam passar por um curso preparatório, e serem aprovados nas seguintes disciplinas: português, francês, inglês, geografia, história universal e aritmética. Aprovados, os alunos poderiam se matricular no curso agrícola onde estudariam física, química, zoologia, botânica, mineralogia, agrologia e meteorologia. Ou no curso de medicina veterinária que tinha como disciplinas: física, química, zoologia, botânica, anatomia e histologia. A matrícula e o curso todo eram gratuitos.

Foi realizado o primeiro exame do “Physicum”, oral e em público, em 9 e 10 de novembro de 1915, conforme previam os Estatutos da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária de São Bento. Nesta primeira banca examinadora estavam presentes o diretor da Escola, Plinio Cavalcanti de Araújo, João Pires Filho (Inspetores Federais de Medicina Veterinária e Agricultura), Luiz Correia de Britto (representante do Sindicato Agrícola de Pernambuco), e Fernandes e Silva (Secretário da Inspetoria Agrícola de Pernambuco).

No “Primeiro relatório das escolas superiores de agricultura e medicina veterinária do Mosteiro de São Bento em Olinda-Pernambuco: 1913-1915” foi relatada a visita que Rufino Bezerra Cavalcanti, ministro da Agricultura, fez à Escola em 26 de julho de 1915, durante a qual teria demonstrado interesse pela preparação anatômica  de uma pata de cavalo e pode observar um “modelo equino, que se pode desarmar a vontade para os estudos de Osteologia, Artrologia, Miologia, Nevrologia, Estesiologia e Esplanologia” (Primeiro Relatorio. Apud MELO; MAGALHÃES; ALMEIDA; CAMARA, 2010, p.117)

Os examinados recebiam o diploma de Prático, e dentre estes destaca-se o de Dionysio Meili, considerado o primeiro médico veterinário, que foi outorgado, em 13 de novembro de 1915, antes mesmo de o estabelecimento formar sua primeira turma regular de veterinários em 11 de janeiro de 1917. Dionysio Meili, que fora dispensado das provas escritas por ser já diplomado em farmácia pela Faculdade de Medicina da Bahia, apresentou um preparado anátomo-patológico, fez a regular inspeção de um animal abatido no matadouro de Olinda, com o respectivo parecer por escrito, e habilitou-se assim ao exame oral. 

Ambas as instituições, Escola Superior de Medicina Veterinária de São Bento e a Escola Superior de Agricultura do Engenho de São Bento, eram registradas no Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, nos termos do decreto nº 13.028, de 18 de maio de 1918, foi somente autorizada a admissão dos engenheiros agrônomos, nelas formados, em concurso do Ministério. Desta forma, não se fazia menção em relação aos médicos veterinários lá diplomados, talvez devido ao pequeno número de candidatos a este título (SETENTA, 1983).

De acordo com o Relatório 1921-1922 das Escolas Superiores de São Bento, entre os formandos da instituição, até o ano de 1922, encontravam-se:

“Dionysio Meili, catedrático da Escola e chefe da fiscalização de leite e estábulos do Recife; Francisco Pedroza, médico veterinário da Prefeitura da Capital Paraibana; Benjamin de Mello, médico veterinário do Matadouro Modelo do Recife; Armando P. Maia, médico veterinário da Diretoria da Indústria Pastoril do Ministério da Agricultura em missão em Guaratinguetá-São Paulo; Manoel de B. Bezerra, médico veterinário militar em Três Corações, Minas Gerais; Arthur Lopes Pereira, clínico em Olinda-PE; Álvaro de F. Salles, premiado pelo Governo Federal, para se especializar em veterinária, em Nápoles, Itália; Anatólio D. Caldas, premiado pelo Governo Federal, para se especializar em veterinária em Nápoles, Itália; José W. Braga, clínico em Olinda-PE; Almir Pires Ferreira, Recife-PE; Antônio Magno de Miranda, Recife-PE; Abdon Gomes Fernandes, Recife-PE; Carlos Cavalcanti Paes, Recife-PE”. (Apud, SILVA, 2010. p.128)

O abade contratou, em 1923, professores “por ordem do governo pernambucano” (LIVRO, 1924), e ao final deste ano chegaram os professores Lachenschmied e Hasgenkopf, com suas esposas e filhos, e ficaram hospedados no Mosteiro de São Bento de dezembro de 1923 até junho de 1924. 

Entre os formados nas nove primeiras turmas da Escola Superior de Medicina Veterinária de São Bento, encontram-se alguns que posteriormente foram detentores de cátedra na Escola Superior de Medicina Veterinária da Universidade Rural de Pernambuco, que sucedeu àquela instituição a partir de 1950. Entre eles: Armando Pontes Maia e Silva, Artur Lopes Pereira, Guilherme Álvares de Carvalho, José Wanderley Braga, Almir Pires Ferreira e Carlos Cavalcanti Paes.

Até o ano de 1926, as Escolas Superiores de Agronomia e Medicina Veterinária São Bento e Escola de Medicina Veterinária formaram 24 médicos-veterinários (MELO; MAGALHÃES; ALMEIDA; CAMARA, 2010). 

Fontes

- ACTA da Primeira Sessão da Congregação da Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento, Olinda Pernambuco. 1912. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, vols.8 e 9, p.253-254, 2011/2012. Capturado em 17 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: http://www.journals.ufrpe.br/index.php/apca/article/view/162
- ACTA da Installação da Escola Agrícola e Veterinária do Mosteiro de São Bento de Olinda. Manuscrito.  [Olinda, Pernambuco], 1914.             (MSBOLI)
-  BRASIL. Decreto nº 13.028, de 18 de maio e 1918. In: SENADO FEDERAL. Portal Legislação.  Capturado em 8 set. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://legis.senado.leg.br/norma/424391/publicacao?tipoDocumento=DEC-n&tipoTexto=PUB
- BRASIL. Decreto nº 4.195, de 29 de novembro de 1920. In: In: SENADO FEDERAL. Portal Legislação.  Capturado em 10 jun. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://legis.senado.leg.br/norma/603453/publicacao?tipoDocumento=DPL-n&tipoTexto=PUB
- BRASIL. Decreto nº 60.731, de 19 de maio de 1967. In: SENADO FEDERAL. Portal Legislação.  Capturado em 8 set. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://legis.senado.leg.br/norma/483352/publicacao?tipoDocumento=DEC-n&tipoTexto=PUB
- BRASIL. Lei nº 2.524, de 4 de julho de 1955. In: SENADO FEDERAL. Portal Legislação.  Capturado em 8 set. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://legis.senado.leg.br/norma/544324/publicacao?tipoDocumento=LEI-n&tipoTexto=PUB
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Ficha técnica

Pesquisa - Breno Pimentel Câmara.
Redação - Breno Pimentel Câmara; Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.

Forma de citação

ESCOLA AGRÍCOLA E VETERINÁRIA DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DE OLINDA. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 19 mai.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario


Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)