LOPES, RITA LOBATO VELHO

De Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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Outros nomes e/ou títulos: Lobato, Rita; Freitas, Rita Lobato de

Resumo: Rita Lobato Velho Lopes nasceu na cidade de São Pedro do Rio Grande, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em 9 de junho de 1866. Em 1884 matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas interrompeu o curso, e transferiu-se para Salvador, onde continuou os estudos na Faculdade de Medicina da Bahia, e doutorou-se, em 1887, com a tese “Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana”. Após diplomar-se, retornou para a província de São Pedro do Rio Grande do Sul, onde estabeleceu um consultório em Porto Alegre, e depois dedicou-se a atender, em seu domicílio, a população de Capivari, Rio Pardo e arredores. Foi vereadora da cidade de Rio Pardo. Faleceu em 6 de janeiro de 1954.

Dados pessoais

Rita Lobato Velho Lopes nasceu na cidade de São Pedro do Rio Grande, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em 9 de junho de 1866. Seus pais eram Francisco Lobato Lopes, nascido em 1833 na cidade de Pelotas, província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e Rita Carolina Velho Lopes, nascida na mesma cidade em junho de 1843. Era neta, por parte de pai, de Manoel Antonio Lopes e Joaquina Correia Lobato Lopes, e por parte materna de Matias José Velho e Luciana Francisca Gonçalves da Terra Velho, essa de descendência espanhola (LIMA, 2011).

Francisco Lobato Lopes, que se casou com sua prima Rita Carolina Velho, em 19 de agosto de 1858, era um comerciante abastado, e proprietário da estância de Santa Isabel, de charqueadas em Pelotas e de uma residência de veraneio em Rio Grande. Em 1871, a família se mudou para uma estância em Areial, zona das charqueadas, próxima à cidade de Pelotas.

Francisco Lobato Lopes e Rita Carolina Velho Lopes tiveram quatorze filhos, e apenas nove sobreviveram. Em março de 1884, Francisco Lobato Lopes desembarcou no Rio de Janeiro com cinco de seus filhos, Francisco Lobato Velho Lopes, Mathias Lobato Velho Lopes, Rita Lobato Velho Lopes, Antonio Lobato Velho Lopes e José Lobato Velho Lopes, e três escravos, Clarinda, Crispim e Maria. Permaneceram, no Rio Grande do Sul, os outros filhos, Julieta, Isabel, Joaquina e Cássio, seu filho mais novo. Rita Lobato Velho Lopes foi batizada, em 10 de maio de 1867, na Matriz de Nossa Senhora do Carmo de São Pedro do Rio Grande.

Sua mãe, Rita Carolina, faleceu em 3 de junho de 1883, por ocasião do parto de seu 14º filho. Com sua morte, Francisco Lobato Velho Lopes, filho mais velho do casal, viajou para o Rio de Janeiro para ingressar na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e teve como companhia, nesta viagem, sua irmã Rita Lobato Velho Lopes. Outros irmãos de Rita também se formaram na área médica, como Mathias, e Antonio. Em 1897, faleceu Francisco, irmão mais velho de Rita, e, em 1898, faleceu seu pai, Francisco Lobato Lopes.

Em 1889, Rita Lobato reencontrou, na cidade de Rio Pardo, o comerciário Antonio Maria Amaro de Freitas, seu primo e namorado na infância, com quem se casou em 18 de julho deste ano na Estância de Santa Vitória, em Jaguarão (província de São Pedro do Rio Grande do Sul), mudando seu nome para Rita Lobato de Freitas. O jovem casal fixou residência em uma estância em Jaguarão, onde Rita Lobato clinicou até 1890, quando foram para o Rio de Janeiro, para embarcarem em viagem para a Europa. Durante essa viagem, enfrentaram uma tempestade, próximo à Santa Catarina, e assim decidiram desembarcar no Rio de Janeiro, onde o casal permaneceu por três meses. Posteriormente, retornaram para o Rio Grande do Sul, e se estabeleceram na cidade de Porto Alegre.

Em 16 de outubro de 1890 nasceu sua única filha, Isis Lobato Freitas Silveira. Rita Lobato e Antonio Maria se estabeleceram em Rio Pardo, onde adquiriram a Estância do Capivari, na qual permaneceram por anos. Nesta estância Rita prestava atendimentos médicos, enquanto seu esposo, Antonio Maria, fazia trabalhos rurais e de mineração. Rita Lobato e Antonio Maria foram casados por 37 anos, até 20 de setembro de 1926, quando esse faleceu. Em 1943, Rita Lobato adotou Getúlio Franco, filho de uma das empregadas da casa, que mais tarde viria a herdar alguns de seus bens. Sua filha, Isis, casou-se com Mario Amaro da Silveira, e teve três filhos, Antonio Maria, Auta Teresa e Maria Antonieta.

Rita Lobato Velho Lopes faleceu em 6 de janeiro de 1954, na Estância de Capivari, tendo sido enterrada no cemitério municipal da cidade de Rio Pardo.

Trajetória profissional

Em 1871, Rita Lobato Velho Lopes residia em Areial, região da zona das charqueadas próxima a cidade de Pelotas. Aos cinco anos de idade iniciou os estudos na escola pública primária dirigida por América Soares de Abreu, tendo concluído a primeira fase escolar aos 9 anos de idade.

Após a transferência de sua família para a cidade de Pelotas, Rita Lobato frequentou inicialmente o Collegio Santa Rosa, e em seguida o Collegio São Francisco de Paula, dirigido pelos professores Carlos André Laquintinie e Benjamin Manoel do Amarante, onde cursou o secundário (LONER, 2017). Uma de suas colegas de classe foi Antonieta Cesar Dias, que também viria a formar-se como médica.

Rita Lobato concluiu o preparatório na capital da província do Rio Grande do Sul, na Instrução Pública de Porto Alegre, em 1883. Em 1884 viajou ao Rio de Janeiro, e em 31 de março deste ano se inscreveu na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, apresentando-se com o seguinte documento:

“Illmo Exmo Sr. Cons. Dr. Diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Rita Lobato Velho Lopes, natural do Rio Grande do Sul, com 17 anos de idade, filha de Francisco Lobato Lopes, pede a V. Ex. se digne mandar matriculá-la na primeira série do Curso Médico, para o que apresenta os documentos exigidos por essa mesma Faculdade. Pelo que E. R. Mce. Rio de Janeiro, 31 de março de 1884”.

(Apud. CAPUANO, 2002, p.111)

Entretando, este documento foi rejeitado por Vicente Cândido Figueira de Sabóia, então diretor da instituição, por considerá-lo inválido para matricular-se, havendo necessidade de uma nova vacinação e de um atestado de saúde. Novos documentos foram revalidados no Instituto Vacínico do Império, e encaminhados, tendo sua inscrição sido validada.

No mesmo ano em que Rita Lobato ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, outras mulheres também haviam ingressado naquela instituição. Foi colega de Ermelinda Lopes de Vasconcellos, que cursava o 5º ano, de Antonieta Cesar Dias, no 4º ano, e de Maria Amélia Cavalcanti de Alburquerque, no 3º ano do curso (DRA. RITA, 1887). Diplomaram-se escola no Rio de Janeiro, Ermelinda Lopes de Vasconcellos, em 1888, Antonieta Cesar Dias, em 1889, e Maria Amélia Cavalcanti de Alburquerque em 1892. Outras mulheres também haviam ingressado nesta instituição, como Augusta Castelões Fernandes, Ambrosina Magalhães Carneiro da Cunha, Elisa Borges Ribeiro, mas sobre as quais não se tem informações precisas sobre suas diplomações.

A Reforma Leôncio de Carvalho, promulgada pelo decreto nº 7.147, de 19 de abril de 1879, Entre propugnou pela primeira vez a permissão da diplomação de mulheres nos diversos cursos das faculdades de medicina e a concessão de autorização para que estas requeressem exame de verificação para obtenção do diploma de dentista. O decreto nº 9.311, de 25 de outubro de 1884, que conferiu novos estatutos às faculdades de medicina, manteve em linhas gerais o proposto pela Reforma Leôncio de Carvalho, com algumas modificações, as quais ficaram conhecidas pelo nome de Reforma Sabóia, devido à atuação de Vicente Cândido Figueira de Sabóia, diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro entre 1881 e 1889. Um de seus artigos, o art. 377, reafirmou que era “facultada a matricula ás pessoas do sexo feminino” (BRASIL, Decreto, 1884).

Esta permissão, então, estimulou muitas jovens, das diversas províncias do país, a se interessassem em ingressar nas escolas superiores (SILVA, 1954, p. 52). Entretanto, causaram, também, uma certa comoção e revolta de alunos, como a de Francisco, irmão de Rita Lobato, que também estava cursando medicina e que protestara contra essas novas normas. Por medo de represálias, o pai de Rita Lobato resolveu retirar-se da capital do Império, provocando a saída de Rita Lobato da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (DEIXOU, 1885). Em função dos protestos cometidos, alguns alunos, como Francisco, irmão de Rita Lobato, foram expulsos da instituição:

“A Congregação da Faculdade, tendo precedido a um inquérito sobre as assuadas feitas no edifício da Faculdade no dia 13 de abril último, reconheceu em sua sessão de 04 do corrente, como incurso nos arts.514 e 520 dos estatutos, os alunos Francisco Lobato Velho Lopes, Americo Galvão Bueno Filho e Eduardo Augusto Jorge, e impôs aos dous primeiros a pena de exclusão das Faculdades de Medicina por um ano, e ao ultimo a de reprehensão publica.” (FACULDADE, 1885)

Apenas Rita Lobato e seu pai retornaram para o Rio Grande do Sul, pois seus irmãos permaneceram na capital, tendo Francisco se formado em farmácia em 1890, Antonio em medicina, em 1890, com a tese “Diabete”, e Mathias, em 1890, com a tese “O palpar abdominal”. Em maio de 1885, Rita Lobato e o pai embarcaram no vapor “Ceará”, rumo à cidade de Salvador, onde desembarcaram em meados do mesmo mês.

Nesta cidade, Rita Lobato retomou seus estudos médicos na Faculdade de Medicina da Bahia. A família residiu inicialmente na Rua do Jogo do Carneiro (atualmente Rua Visconde de Barbacena), num prédio que dava para os fundos da faculdade (SILVA, 1954). Posteriormente na Rua do Sodré, num prédio que pertencera a Jerônimo Sodré Pereira e onde havia residido e falecido Antonio José Alves, pai do poeta Castro Alves e catedrático de cirurgia da Faculdade de Medicina da Bahia. Neste novo endereço, Rita Lobato ficou ocupando justamente o quarto que fora de Castro Alves (LIMA, 2011, p.65).

O decreto nº 9.311, de 1884, havia permitido que os alunos adiantassem seus exames, apresentado “para esse fim um requerimento ao Diretor, juntando os necessários documentos” (BRASIL, Decreto, 1884). Rita Lobato havia obtido bons resultados nas aulas de anatomia e nas aulas práticas, e assim, cinquenta dias após sua inscrição no segundo ano de medicina, na escola baiana, solicitou a antecipação de seus exames correspondentes ao ano letivo, de 1885. Em seguida, no mês de outubro, adiantou os exames de anatomia geral e descritiva. Rita Lobato realizou a série seguinte em seis meses, estudando durante as férias. Em março de 1886, ao matricular-se na 3ª série, solicitou prestar seus exames correspondentes àquele ano letivo. Ao matricular-se no 4º ano, em outubro, Rita Lobato sofreu com exaustão. Assim decidiu continuar os estudos, do 5º ano, no ano seguinte, contando em estar adiantada no cronograma de formatura.

Durante o período de formação na Faculdade de Medicina da Bahia, teve como professores Manoel Joaquim Saraiva, Antonio Pacífico Pereira, Manuel Victorino Pereira, Antônio Cerqueira Pinto, Manoel José de Araújo e José Pedro de Souza Braga, entre outros. Frequentava a “Bibliotheca” da Faculdade de Medicina da Bahia, localizada na entrada pela Rua das Portas do Carmo, e que tinha um acervo de mais de 9.500 volumes (LIMA, 2011).

Em 8 de agosto de 1886 inscreveu-se na 6ª série médica. As provas iniciaram-se em outubro e, uma semana depois, concluiu os exames com notas máximas. Desta forma, conseguiu solicitar, de forma adiantada, sua formatura, valendo-se do disposto pelo decreto de 1884.

Sua tese de doutoramento, intitulada “Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana”, tratou das intervenções cirúrgicas para histerotomia pelas técnicas de André Levret (1703-1780), Pierre Roussel (1742-1802), Théodore Étienne Lauverjat (1740-1800), François Ange Deleurye (1737-1780), Georg Wilhelm Stein (1731-1893), Delenoye, Edoardo Porro (1842-1902), Max Saenger (1853-1903), e de Christian Gerhard Léopold (1846-1911) (LIMA, 2011). Nas primeiras páginas da tese, Rita Lobato faz uma homenagem a sua mãe, já falecida, na qual registra a ausência materna naquele momento “em que me vai ser conferido um titulo scientifico, não posso exprimir, não há phrases que o signifiquem!” (LOPES, 1887).  Expressou, também, seu reconhecimento a suas colegas, referidas como “As minhas sympathicas colegas”, Anna Turan Machado Falcão, Maria Amélia Cavalcanti de Alburquerque, Amellia Pedroso Benebien, Glafira Corina de Araujo e Maria Luiza Torrezão de Sue Surville.

Sua tese foi encaminhada à Comissão Revisora, composta por Anísio Circundes de Carvalho, Augusto Maia e Fortunato Augusto da Silva Junior, que a aprovou, lhe foi conferida o “Imprima-se” pelo diretor da instituição, Ramiro Affonso Monteiro, e a autorização para ser defendida. Rita Lobato defendeu sua tese perante a Comissão Julgadora formada por José Affonso Paraíso de Moura (presidente da banca e catedrático da 1ª cadeira de clínica cirúrgica), Antonio Pacífico Pereira (lente de histologia teórica e prática), José Pedro de Sousa Braga (lente de patologia externa) e Luís Adriano Alves de Lima Gordilho (lente de medicina operatória). Foi aprovada com distinção (NO DIA 10, 1887).

Considera-se que sua tese de doutoramento foi a primeira a ser defendida por uma mulher em uma instituição de ensino médico no país (LIMA, 2011).

A formatura de Rita Lobato foi realizada em 10 de dezembro de 1887, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Bahia, em cerimônia presidida por José Affonso Paraíso de Moura, diretor interino da instituição, tendo tido como orador o acadêmico Coriolano Barreto Burgos, e paraninfo o professor Manoel José de Araújo. Nesta ocasião, Rita Lobato recebeu o simbólico anel de ouro com pedra de esmeralda, adotado pela instituição desde 1856, o diploma de doutora em medicina, e um exemplar das obras hipocráticas (LIMA, 2011).

Sua titulação no curso médico foi amplamente noticiada na imprensa na época, como no Diario de Noticias, que destacou que o fato de ter sido a primeira mulher formada em uma instituição brasileira, “não póde nem deve passar desapercebido, mostrando que para a mulher se alargam os horizontes dos conhecimentos humanos e se deparam honrosos e dignos meios de vida” (PUBLICAÇÕES, 1888, p.2).

No mesmo dia da formatura, foi celebrada uma missa na capela do hospital da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, pelo padre Arsenio Pereira da Fonseca, e foi oferecida uma festa na casa da família pelo pai da formanda:

“No sábado, 10, houve na residência a inteligente e distincta sra. D. Rita Lobato, à rua de baixo, uma formosa festa em honra à essa digna senhora, que acabava de receber na nossa faculdade o grao de doutora em medicina. [...] Para maior brilhantismo daquela festa de justo regozijo, achavam-se ali, a partilha do jubilo que enchia a grande alma da Exma. Sra Dr. Rita Lobato, duas moças, duas futuras glorias médicas também brasileiras: a Exma. Sra. Dra. Anna Tourão Machado, paraense, já formada nos Estados Unidos e que veio aqui prestar exame de suficiência e a Exma. Sra. D. Amelia Pedrozo Benebien, cearense, quintanista de medicina.” (BAHIA, 1887)

Rita Lobato, após diplomar-se, retornou com a família para a cidade de Pelotas, onde residia seu pai, com planos de estabelecer um consultório na cidade de Porto Alegre (CHEGOU, 1888). Em 1888, foi noticiada, nos jornais, a inauguração de um consultório médico de Rita Lobato, especializando-se em moléstias de senhoras, naquela cidade (SALVE, 1888). Este consultório funcionou até 1890, quando Rita Lobato o fechou, passando a atender em sua própria residência.

Com o falecimento de seu irmão, e de seu pai em 1897, Francisco Lobato Lopes, Rita Lobato resolveu, retomar seus estudos. No início de 1910 partiu para Buenos Aires, para acompanhar as comemorações da Independência da República Argentina, e nesta cidade assistiu a conferências médicas, estagiou por cinco meses em hospitais, e teve contato com Cecilia Guierson (1859-1934), que foi a primeira argentina a formar-se médica, fundadora da Escuela de Enfermeras del Círculo Médico Argentino, e presidente do Primer Congreso Femenino Internacional (Buenos Aires, 1910).

Retornando ao país, Rita Lobato se estabeleceu, com o esposo Antonio Maria Amaro de Freitas, na Estância de Capivari, atendendo, em sua residência, a população de Capivari, Rio Pardo e arredores, como foi relatado em uma notícia publicada no jornal A Federação: Orgam do Partido Republicano, em 1920, comentando que Rita Lobato Velho Lopes teria prestado atendimento médico, em sua residência, a Amaro Nogueira, um capataz que havia sido agredido na propriedade de Francisco Xavier de Oliveira (NOTÍCIAS DO RIO PARDO, 1920).

Os jornais registraram, também, a presença da médica Rita Lobato na cidade do Rio de Janeiro, como no caso de um esqueleto encontrado, em um baú, por profissionais da companhia elétrica:

“O empregado da Fiat-Lux, Remigio Vettorelli, foi encarregado com um companheiro de fazer uma instalação elétrica no prédio n. 184 da citada rua, e onde passou a residir, há pouco, a doutora Rita Lobato. E como ainda não tivesse tido tempo para proceder a uma instalação conveniente de materiais de seus estudos profissionais, a citada medica embrulhou em um jornal um esqueleto humano, com o qual toparam assustando-se os referidos operários. D’ahi... o falso rebate”. (TENDO, 1911)

Há outros registros de sua trajetória, como os anúncios nos quais Rita Lobato recomendava medicamentos, como o publicado no jornal A Noticia, em 1925, atestando a eficácia do Elixir de Nogueira para o tratamento de moléstias de origem sifilítica (A ILLMA, 1925).

Até 1925, Rita Lobato prestou atendimentos e consultas gratuitas, nas denominadas “clínicas de senhoras”. Em correspondência particular, desta época, Rita Lobato teria manifestado seu interesse em afastar-se do ofício da medicina por entender que aquela profissão era muito sacrificada para uma senhora (SILVA, 1954). E assim decidiu doar seu material cirúrgico a hospitais, como a Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre.

Após a morte de seu esposo, em 20 de setembro de 1925, Rita Lobato passou a dedicar-se principalmente à vida política. No contexto em que se deu a aprovação do novo Código Eleitoral de 1932 e a conquista do voto feminino, Rita Lobato se filiou ao Partido Libertador. Em 21 de agosto de 1934, Rita Lobato obteve o título de eleitora, elegeu-se como a primeira vereadora da cidade de Rio Pardo, tendo tomou posse em 27 de dezembro de 1935. Com a implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937, e a interdição das câmaras municipais, também foi interrompido o mandato de Rita Lobato como vereadora.

Rita Lobato sofreu um acidente vascular cerebral, em 5 de janeiro de 1940, e a partir de então passou a residir com sua filha Isis, e seus três netos. Recuperou-se e retornou, dez anos depois, para a cidade de Porto Alegre. Em 1952, voltou a viver na Estância do Capivari, onde permaneceu até seu falecimento.

Por seus 84 anos, recebeu, em 1950, diversas homenagens, como da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, do Instituto Bahiano de Medicina, da 4ª Jornada Brasileira de Pediatria e Puericultura (Porto Alegre, 1950), na Faculdade de Medicina da Bahia, e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Foi eleita, em 1952, Presidente de Honra do Comitê Feminino Pró-Candidatura Darci Pedro Bandeira à Prefeitura de Rio Pardo.

No museu da Academia Nacional de Medicina, na cidade do Rio de Janeiro, encontra-se um carimbo comemorativo com a efigie de esculápio ladeado por paisagem, tendo ao centro a inscrição AO. Cives Servandos, com a legenda “Homenagem à 1ª médica formada no Brasil - Dra. Rita Lobato 07 a 15 de junho de 1967”. Ainda em 1967, o Correio do Brasil emitiu um selo postal em sua homenagem. Em 2010, o atual prédio da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, no Campus do Canela, passou a ser conhecido como “Anexo I da Faculdade de Medicina da Bahia - Doutora Rita Lobato Velho Lopes” (LIMA, 2011).

Produção intelectual

- “Paralelo entre os methodos preconisados na operação cesariana; Secção de sciencias accessorias, Influência do microscopio sobre os progressos das sciencias medicas; Secção de sciencias cirurgicas, Estudo anatomico do rim; Secção de sciencias medicas, Theoria da circulação cardíaca”. These apresentada à Faculdade de Medicina da Bahia, em 30 de setembro de 1887. Bahia: Imprensa Popular, 1887.

Fontes

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- A PRIMEIRA MÉDICA BRASILEIRA. A Noite, Rio de Janeiro, anno XXXVIII, n.13.435, p.9, 14 de março de 1950. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 30 jan. 2024. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/348970_05/911

- A PRIMEIRA MÉDICA BRASILEIRA. O Jornal do Rio de Janeiro. Orgão dos Diarios Associados, Rio de Janeiro, anno XXXV, n.10.241, p.2, 26 de janeiro de 1954. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 31 jan. 2024. Online. Disponível na Internet:http://memoria.bn.br/DocReader/110523_05/26510

- BAHIA, Jornal do Recife, Pernambuco, anno XXX, n.289, p.1, 20 de dezembro de 1887. In:  FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 15 jan. 2024. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/705110/25910

- BEGLIOMINI, Helio. Mulheres Notáveis e Pioneiras na Área da Saúde do Brasil do Século XIX. São Paulo: Expressão & Arte Editora, 2021. In: ACADEMIA DE MEDICINA DE SÃO PAULO. Capturado em 8 fev. 2024. Online. Disponível na internet: https://www.academiamedicinasaopaulo.org.br/livros/mulheres-notaveis-e-pioneiras-na-area-da-saude-do-brasil-do-seculo-xix/

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- BRASIL. Decreto nº 9.311, de 25 de outubro de 1884 In: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Legislação. Capturado em 5 jan. 2024. Online. Disponível na Internet:

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- VIAJANTES, O Pharol, Minas Gerais, anno XLVI, n.56, p.2, 8 de março de 1911. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 01 fev.. 2024. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/258822/27558

Ficha técnica

Pesquisa - Ana Carolina de Azevedo Guedes, Maria Rachel Fróes da Fonseca.

Redação - Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes. 

Forma de citação

LOPES, RITA LOBATO VELHO. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 20 mai.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario

 


Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)