INSTITUTO PANECÁSTICO DO BRASIL
Denominações: Instituto Panecástico do Brasil (1847)
Resumo: O Instituto Panecástico do Brasil foi fundado em 3 de maio de 1847, na cidade do Rio de Janeiro, pelo homeopata francês Benoit Jules Mure, presidente do Instituto Homeopático do Brasil e diretor da Escola Homeopática do Brasil. O Instituto tinha como fundamento a filosofia panecástica, de autoria de Jean-Joseph Jacotot, que consistia na aplicação de método de ensino voltado para a emancipação intelectual e liberdade profissional. A instituição promovia conferências semanais para esclarecimento sobre a aplicação do ensino universal e levantou recursos para a criação de um colégio que reunisse salas de asilo, escolas primárias e de ensino superior.
Histórico
Foi fundado em 3 de maio de 1847, na rua de São José nº 59, no Rio de Janeiro, pelo médico homeopata francês Benoit Jules Mure (1809-1858), conhecido como Bento Mure, presidente do Instituto Homeopático do Brasil, criado em 1843, e diretor da Escola Homeopática do Brasil, implantada em 1845.
O Instituto Panecástico do Brasil teria como objetivo a propagação dos princípios da “emancipação intelectual do imortal Jacotot, e substituir á autoridade e ao pedantismo os direitos da razão humana” (MURE, B., 1847, p.57).
tendo como fundamento a filosofia panecástica, de autoria do filósofo francês Jean-Joseph Jacotot (1770-1840). Este, já falecido na época, havia sido reitor e professor de língua e literatura francesa da Université d´État de Louvain, na Bélgica, onde aplicou seu método de ensino e aprendizagem baseado nos seguintes princípios:
“Deus criou a alma humana capaz de instruir-se a si mesma, e sem o concurso de mestres e explicadores; aprender ou saber alguma coisa, e a ela referir todo o resto; tudo se acha em qualquer coisa; todas as inteligências são iguais; pode-se ensinar aquilo que se ignora; quem quer pode” (Apud GALHARDO, 1928. p.404).
Seu método tinha por objetivo promover a emancipação intelectual e, portanto, a liberdade profissional, acabando com os privilégios do Estado em relação ao ensino.
Em 1840, Bento Mure havia publicado no Jornal do Commercio, uma nota referindo-se ao falecimento de Jacotot e a seu método:
“Quando morrem os homens ilustres he queque se conhece quanto valem. Assim aconteceu com Jacotot, que depois de huma vida toda consagrada ao trabalho e a beneficência, acaba de morrer com admirável coragem e presença de espirito. «Sou o principio da vontade na humanidade, disse-nos em seus últimos momentos; mas vós, que agora sois emancipados, podeis tudo o que eu podia, e deveis faze-lo». Animado por essas palavras, e achando-me encarregado pela Sociedade de Emancipação Intellectual de Paris de ajudar nesta corte os esforços dos amigos do ensino universal, rogo a todos aquelles que nelle se interessão, e que até hoje não me são conhecidos, queirão vir entender-se comigo sobre os meiso de que se deve lançar mão para conseguir-se a propagação dos princípios panecasticos. Dirijao-se ao hotel d Europa. Dr. Mure.” (MURE, 1840, p.4)
Para alcançar seus objetivos, a instituição promovia conferências semanais para esclarecimento sobre a aplicação do ensino universal e levantou recursos para a criação de um colégio que reunisse salas de asilo, escolas primárias e de ensino superior.
Em relação ao ensino superior, o primeiro ramo a ser desenvolvido seria o ensino da medicina homeopática, “por ser a doutrina mesma de Hahnemann um notável exemplo da emancipação intelectual espontânea” (MURE, B., 1847, p.58). A relação entre a doutrina de Samuel Christian Friderich Hahnemann (1755-1843) e Jacotot foi objeto da matéria de João Vicente Martins, homeopata de origem portuguesa e discípulo de Bento Mure, publicada na edição de 13 de maio de 1848 de A Sciencia. Revista synthetica dos conhecimentos humanos regida pelos professores da Escola de Homeopathia do Rio de Janeiro (MARTINS, 1848).
O corpo do Instituto era composto por uma diretoria formada pelo presidente, primeiro secretário, orador e arquivista; por membros que se comprometessem a ajudar no desenvolvimento do método; e por cem conselheiros nomeados gradualmente, doze por ano, sendo seis escolhidos pela assembléia geral dos sócios, e os outros seis pela diretoria.
Foram eleitos para compor sua diretoria: Benoit Jules Mure (Bento Mure) para presidente, Edmond Tiberghien Ackermann para primeiro secretário e Auguste Jernstedt para orador, e P.P. Gerbeau para arquivista.
Ackermann foi autor de uma matéria, intitulada “Emancipação Intellectual”, publicada em A Sciencia. Revista synthetica dos conhecimentos humanos regida pelos professores da Escola de Homeopathia do Rio de Janeiro, em 1848, no qual discutiu o ensino universal e o método de Jacotot (ACKERMANN, 1848).
Criticado pela imprensa da época, este método foi aplicado na Escola Homeopática do Brasil, a partir de 1848, na qual os alunos do terceiro ano ensinavam os do segundo ano, e estes os do primeiro ano.
Fontes
- ACKERMANN, E. J. Emancipação Intellectual. A Sciencia. Revista synthetica dos conhecimentos humanos regida pelos professores da Escola de Homeopathia do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v.II, n.16, p.193-195, 6 de maio de.1848. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 17 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/docreader/730076/195
- CRUZ, Crislaine Santana.“Caridade sem limites. sciência sem privillegios”: o ensino universal de Jacotot por Benoît Mure no Brasil (1840-1848). Dissertação (Mestrado em Educação), Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe, 2018. Capturado em 19 jul. 2020. Online. Disponível na Internet:
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/9612/2/CRISLAINE_SANTANA_CRUZ.pdf
- GALHARDO, José Emygdio Rodrigues. História da homeopatia no Brasil In: Livro do 1° Congresso Brasileiro de Homeopatia. Rio de Janeiro, 1928. (BN)
- LOBO, Francisco Bruno. O ensino da medicina no Rio de Janeiro: homeopatia. Rio de Janeiro, 1968. v. 3. (ANM)
- MARTINS, J. V. Jacotot e Hanemann. A Sciencia. Revista synthetica dos conhecimentos humanos regida pelos professores da Escola de Homeopathia do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v.II, n.17, p.202-202, 13 de maio de.1848. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 17 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/docreader/730076/203
- MURE, Dr. Methodo Jacotot. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XV, n.324, p.4, 7 de dezembro de 1840. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 17 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_03/1284
- MURE, B. Instituto Panecastico do Brasil. A Sciencia. Revista synthetica dos conhecimentos humanos regida pelos professores da Escola de Homeopathia do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v.I, n.3, p.57-58, set.1847. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 17 jul. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://memoria.bn.br/docreader/730076/59
- MURE, Benoit Jules. Sociedade Panecástica – plano de uma universidade nacional, dedicado aos legisladores do Brasil. A Sciencia. Revista synthetica dos conhecimentos humanos regida pelos professores da Escola de Homeopathia do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v.I, n.5, p.82-84, nov.1847. In: FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Hemeroteca Digital Brasileira. Capturado em 17 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.br/DocReader/730076/84
Ficha técnica
Pesquisa - Verônica Velloso.
Redação - Verônica Velloso.
Revisão - Francisco José Chagas Madureira.
Consultoria - Ângela de Araújo Porto.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
INSTITUTO PANECÁSTICO DO BRASIL. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 21 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)