MUSEU PARAENSE DE HISTÓRIA NATURAL E ETNOGRAFIA
Denominações: Museu Paraense de História Natural e Etnografia (1871); Museu Emílio Goeldi (1900); Museu Paraense Emílio Goeldi (1931)
Resumo: O Museu Paraense de História Natural e Etnografia teve origem a partir da fundação da Sociedade Filomática, em 6 de outubro de 1866, que tinha entre os seus objetivos a criação de um museu e uma biblioteca. Em 25 de março de 1871 então, foi inaugurado o Museu, inicialmente localizado em um pavimento do Liceu Paraense, na cidade de Belém, no Estado do Pará. O idealizador, e primeiro diretor do Museu Paraense, foi o naturalista Domingos Soares Ferreira Penna. Em junho de 1894 assumiu a sua direção o cientista suíço e ex-funcionário do Museu Nacional, Emílio Augusto Goeldi, cuja gestão ficou conhecida como o período de consolidação da instituição, que passou a ter o seu nome em 1900.
Histórico
O Museu Paraense de História Natural e Etnografia teve origem a partir da fundação da Sociedade Filomática, criada em 6 de outubro de 1866, esta uma associação de caráter particular, que tinha entre seus objetivos a criação de um museu e de uma biblioteca. Já no orçamento de 1866 a Assembléia Provincial destinou verbas para a referida associação, para que esta instalasse o Museu. Finalmente, em 25 de março de 1871, foi inaugurado o Museu Paraense, inicialmente localizado em um pavimento do Liceu Paraense, na cidade de Belém.
O idealizador do Museu Paraense e quem desenvolveu todos os esforços para que a instituição se concretizasse foi Domingos Soares Ferreira Penna, naturalista que defendia a idéia de que o estabelecimento deveria ser criado com o apoio da iniciativa privada, não tendo apoio governamental. Todavia, o governo acabou financiando o Museu.
Domingos Soares Ferreira Penna assim descreveu a criação do Museu:
“Em 1866 appareceu aqui a idéa de formar-se uma associação destinada a crear e fundar na Capital um Museu – no qual pouco a pouco se reunisse os numerosos produtos antigos e modernos da indústria dos Indios aproveitando-se ao mesmo tempo toda a sorte de objetos de Historia Natural que se podesse obter. Era, por outras palavras, um Museu archeologico e ethnographico que se tratava de fundar, mas sem a ostentação de plavras pomposas que a sciencia regeita. Ouvidos e consultados sobre esta idéa, dous dos mais distinctos paraenses, não só acolheram-n´a com plena aprovação, mas logo e de acordo com outros cidadãos trataram de propagal-a e dar-lhe desenvolvimento. Em uma primeira reunião dos cavalheiros interessados pelo progresso intelectual da Provincia, reunião que se effectuou na sala principal do Palacio do Governo, foi resolvida a creação da Associação que tomou o nome de Sociedade philomatica, e na segunda reunião no mesmo Palacio ficou constituída a sociedade com a eleição da sua Meza ou Directoria que logo começou a trabalhar, e na mesma ocasião se conferio ao futuro Museu o titulo de Museu Paraense. A Meza da sociedade dirigo cartas aos mais distinctos cidadãos residentes nas cidades e villas do interior pedindo-lhes o seu valioso concurso em beneficio do Museu. (.....). Foi, porém, do interior, (...), que a Meza recebeu o maior numero de objetos, os mais preciosos artefactos, taes como vestimentas de pennas e plumas; adufos ou tamborins, trombetas e tibicinas; (...); ídolos de argila, e vasos de barro (...). Com estas collecções, que constituíram o núcleo do Museu, foi este afinal instalado em Abril de 1867 (....)”. (PENNA, 1894, p.28-29).
Ferreira Penna era um mineiro radicado no Pará, interessado em geografia, arqueologia e etnografia. Naturalista, pesquisador de extensas áreas da Amazônia, sentiu-se estimulado pela passagem do naturalista suíço Jean Louis Rodolphe Agassiz (Louis Agassiz) (1807-1873) por Belém para concretizar a instauração da Sociedade Filomática, que deu origem ao Museu, em 1871, dotado de regulamento e integrado à Diretoria de Instrução Pública. Ferreira Penna sustentava a idéia de que a instituição deveria ser um centro de estudos das ciências da natureza. A cada semana um dos membros do Conselho Administrativo deveria dar uma conferência sobre qualquer um dos ramos das ciências naturais. A primeira diretoria administrativa era composta por uma variada gama de profissionais: médicos, advogados, professores, comerciantes, religiosos e integrantes da maçonaria. Podemos ter uma idéia dos objetivos a que se propunha o Museu no seguinte trecho:
“O Museu deveria ter atributos de uma Academia. Na ausência de escolas superiores em Belém, este deveria exercer esta função, dotado de biblioteca e seções técnicas, cuja finalidade seria o estudo da natureza amazônica: fauna, flora, geologia, história e o estudo do homem indígena amazônico. Também seria dotado de funções pedagógicas, com uma seção de extensão ao ensino para alunos de escolas de Belém e pessoas interessadas. Nessas seções seriam ministradas preleções de História Natural e outras”. (BERTHO, 1994, p.63-64)
Uma matéria publicada em O Jornal. Orgão Official, em sua edição de 19 de agosto de 1871, detalhou a criação do Museu e sua importância:
“O musêo paraense é o estabelecimento mais importante, que mais poderosa influencia tem de exercer para o desenvolvimento das sciencias n´esta província. O musêo é o primeiro núcleo de um estabelecimento de ensino superior, é o centro á que se hão acolher no Pará os estudos da sciencia da natureza. O regulamento expedido para este estabelecimento estabeleceo as bases do futuro desenvolvimento dos estudos superiores quando determinou que em cada semana um dos membros do respectivo conselho administrativo desse uma licção publica em leitura sobre o ramo de sciencias destribuido á secção á cargo d´esse membro do conselho. (.....). O museu acha-se provisoriamente funcionando n´uma varanda do pavimento inferior do lycêu paraense, logar húmido e sombrio muito improprio para conservação dos produtos oferecidos ao estabelecimento. (....). Existe já nas prateleiras uma bôa collecção de serpentes, uma excelente collecção de mineraes da Europa que tendo pertencido á repartição das obras publicas foi por esta oferecida ao museu. Alem das ofertas feitas por grande numero de paraenses, o museu recebeu ultimamente do distincto naturalista norteamericano dr. J; B. Stun que actualemnte viaja, no Amazonas, vários objetos, prometendo remeter dos diversos pontos, em que se achar, todas as duplicadas que for obtendo. (....). Segundo comunicações officiaes, o ilustrado diretor interino do museu nacional do Rio de Janeiro está preparando por ordem do governo imperial uma collecção geológica para ser remetida ao museu paraense”. (BIBLIOTHECA, 1871, p.2)
A partir de 1871 começou-se a organizar uma biblioteca. Entre as coleções do Museu estava uma coleção de minerais da Europa, que pertencia à repartição das Obras Públicas da Província do Pará; uma coleção de minerais do Brasil; a coleção de amostras classificadas de terrenos norte-americanos e da região amazônica doada pelo naturalista norte-americano Charles Frederic Hartt (1840-1878) e, uma coleção numismática, com cerca de 500 moedas de cobre, bronze e prata, mas poucas de ouro. Quanto à parte ornitológica, a instituição possuía uma pequena quantidade de pássaros, doados sobretudo pelo naturalista norte-americano J.B. Steer. Havia também ali um início de coleção de ofídios, alguns peixes, conchas e insetos.
O Cônsul da Inglaterra no Pará, Edgard Leopold Layard (1824-1900), por volta de 1872, se ofereceu para colaborar com o Museu Paraense, iniciando inclusive um intercâmbio entre a entidade e o Museu Austro-Africano da cidade de Cabo da Boa Esperança, atual Cidade do Cabo (África do Sul). Ele já havia colaborado anteriormente com a doação de uma coleção ornitológica com 340 peles preparadas de pássaros da África.
Somente pela lei nº 713, de 12 de abril de 1872, o Museu Paraense foi reconhecido oficialmente como uma repartição do Estado. Este decreto regulamentou suas verbas e funcionários: um diretor, um ajudante do diretor, um preparador e um servente, que seria também contínuo e porteiro. Nesta mesma oportunidade o Presidente da Província do Pará, Barão da Vila da Barra, exonerou Domingos Soares Ferreira Penna do cargo de bibliotecário e responsável pela instituição, nomeando-o para o cargo de Diretor do Museu. Domingos Soares Ferreira Penna, porém, não aceitou a decisão e se afastou do Museu. Entre 1872 e 1882, a instituição seria mantida com poucos recursos pelas administrações provinciais.
Uma nova lei, em 1873, suprimiu o cargo de Diretor do Museu e a direção ficou a cargo do Conselho Administrativo, que a cada mês designava um de seus membros para fiscalizar o serviço diário.
Em 1875, a entidade permanecia no salão do Liceu e os nove membros de seu Conselho Administrativo, que não recebiam qualquer vencimento, continuavam revezando-se periodicamente na direção da instituição. Naquele momento, muitos dos objetos que compunham as coleções encontravam-se deteriorados e quase perdidos por falta de móveis apropriados para abrigá-los do tempo e da poeira. A falta de verbas para atender suas necessidades fez com que o estabelecimento se visse obrigado a esperar mais alguns anos para se tornar a principal instituição científica da Amazônia.
No início da década de 1880, o Museu Paraense, tentando se reerguer, retomou suas atividades, marcadas pela volta de Ferreira Penna a sua diretoria. O Museu, mesmo sem verbas, pessoal e condições de trabalho, estava aberto ao público. Durante sua gestão, o Museu colaborou com a organização da Exposição Antropológica Nacional, junto com Ladislau Netto, diretor do Museu Imperial e Nacional.
A instituição continuou funcionando no Liceu Paraense, em péssimas condições e, somente pela lei nº 1.326, de 17 de dezembro de 1887, o Museu foi anexado à Biblioteca Pública.
De 1888 a 1891, o Museu Paraense foi fechado. A partir de 1891, a instituição entrou em uma nova fase, com suas coleções transferidas para o edifício da Escola Prática, onde foi solenemente instalado em 13 de maio de 1891. Ernesto de Sá Acton ficou encarregado de sua organização, recebendo o Museu novo regulamento pela lei nº 335, de 13 de maio de 1891. Contudo, desde a reinauguração até o ano de 1893, persistiria a carência de recursos financeiros e técnico-científicos.
No período entre 1866 e 1894, a pesquisa científica não foi implementada de forma sistemática no Museu. Mesmo após sua reestruturação, em 1891, a instituição ressentia-se de uma direção científica e de pesquisadores habilitados. Suas principais linhas de pesquisa eram geografia, etnologia, etnografia, lingüística, arqueologia e geologia.
A consolidação do Museu Paraense só ocorreria com a instauração da República no país. Com a forma federativa adotada, os Estados dispunham de maior autonomia em relação à União. Economicamente, o Pará, com o boom da borracha, vivia sua fase áurea. Esses dois fatores, de ordem política e econômica, propiciaram a estruturação do Museu (BERTHO, 1994).
Ameaçado de completa extinção em 1888, o Museu Paraense foi recuperado por determinação do Governador Lauro Sodré, que, através da mediação do escritor e crítico paraense José Veríssimo Dias de Mattos, trouxe para sua direção, em 9 de junho de 1894, o cientista suíço e ex-funcionário do Museu Nacional, Émil August Göldi (Emílio Augusto Goeldi) (1859-1917). A chegada desse naturalista ao Pará coincidiu com o momento de valorização dos museus e com o boom da borracha na Amazônia, possibilitando mais verbas para a instituição. Émil August Göldi foi implacável na reconstrução do Museu Paraense, consolidando sua imagem como um museu científico característico do final do século.
O novo regulamento do Museu Paraense aprovado durante a administração de Émil August Göldi, em 1894, não se distinguia essencialmente daqueles que vinham sendo adotados no Museu Nacional, em relação às atribuições de seus diretores, à organização das seções, e às nomeações de membros correspondentes. Quanto a seu fim e caráter, o Museu Paraense propunha o estudo, o desenvolvimento e a divulgação da história natural e etnologia no Estado do Pará e na Amazônia.
A instituição conseguiu seu objetivo de mostrar a história natural e a etnologia da região através de coleções cientificamente coordenadas e classificadas, de conferências públicas e de publicações científicas como o Boletim do Museu Paraense. Além disso, o Museu também contava com seções de Zoologia, Botânica, Geologia, e Etnologia, Arqueologia e Antropologia, tendo como anexos o Horto Botânico e o Jardim Zoológico.
Em 16 de março de 1895, atendendo às solicitações de Émil August Göldi, de um espaço mais adequado para o Museu, este foi transferido para os terrenos da “Rocinha” do Coronel Bento José da Silva Santos, onde se localiza até hoje. Lá, deu-se início à organização do Jardim Zoológico e do Horto Botânico.
O setor de Arqueologia, que se encontrava desfalcado em várias de suas coleções arqueológicas, preocupou Émil August Göldi, que buscou promover as pesquisas arqueológicas e retomar a tradição iniciada por Domingos Soares Ferreira Penna anteriormente. Goeldi buscou não só engrandecer o acervo do Museu, mas também coletar novos dados e documentos que enriquecessem a pesquisa etnológica. Para tal deu prioridade às escavações nas ilhas adjacentes e na margem norte do rio Amazonas, as quais forneceram coleções e documentos valiosos para o estudo dos índios daquela região. As atividades desenvolvidas neste campo logo conferiram destaque ao Museu como centro de pesquisas arqueológicas, pois “em nenhum outro lugar do Brasil no fim do século passado e início deste - excetuando-se o trabalho de Hermann Friedrich Albrecht von Ihering no Museu Paulista – havia pesquisas arqueológicas tão intensas quanto as empreendidas pelo Museu Goeldi” (BARRETO, 1992, p.224).
Em 1896, foi criada a Sociedade Zeladora do Museu Paraense, que organizava as Conferências Públicas, e no mesmo ano foi instalado o Serviço Meteorológico.
Durante sua gestão foram intensificadas as excursões científicas com a coleta de material da flora, da fauna, rochas e minerais, fósseis e objetos indígenas. Foi também fortalecido o intercâmbio com instituições nacionais e estrangeiras. Além disso, desenvolveu-se o quadro científico do Museu, com a incorporação de cientistas estrangeiros. Em 1896 foi contratado o mineralogista Friedrich Katzer (1861-1925), que permaneceu na instituição por dois anos e meio, quando conseguiu dar um grande impulso aos trabalhos de geologia, paleontologia e mineração. Ele chefiou a seção de Geologia que naquela época era o setor melhor equipado do Museu, contando com microscópio petrográfico, goniômetro, balança analítica, barômetro entre outros. Em 1898, Katzer retornou à Europa, sendo substituído por Alexander Karl von Kraatz-Koschlau (1867-1900), que faleceu após sete meses de trabalho, vítima de febre amarela. Ambos foram responsáveis por um período de grandes realizações em pesquisas geológicas na Amazônia levadas a cabo pelo Museu. Para o lugar de Kraatz, foi contratado, em 1904, o jovem geólogo Max Käch (1875-1904), que também veio a falecer de febre amarela após sete semanas de trabalho. Após o falecimento deste geólogo, Émil August Göldi resolveu não chamar mais ninguém para este setor.
O Museu Paraense realizou intercâmbios com instituições suíças e com o Museu Britânico, participando de exposições internacionais como, por exemplo, a das Indústrias e do Trabalho, em Turim, em 1911, onde expôs herbários, coleções de madeiras e quadros fotográficos exibindo as madeiras e a borracha do Amazonas.
Em fins de 1898, Émil August Göldi foi à Europa, retornando somente um ano depois, para resolver não só assuntos científicos, referentes à contratação de pessoa qualificada para chefiar a seção de Etnologia do Museu mas, sobretudo, para tratar de questões diplomáticas que envolviam a demarcação de limites entre o Brasil e a Guiana Francesa. Em abril de 1900, ele voltaria à Europa, para continuar a tratar dessas questões diplomáticas, cuja participação bem sucedida valeu a homenagem que o Governo do Pará lhe rendeu, alterando o nome do Museu Paraense de História Natural e Etnografia para Museu Emílio Goeldi, em 31 de dezembro de 1900, e também sua entrada para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em março de 1906 voltou à Europa, onde permaneceu até junho. No início de 1907 deixou definitivamente o Pará, alegando motivos de saúde e preocupações com a educação dos filhos. Na Suíça, voltou a lecionar zoogeografia e biologia animal na Universidade de Berna.
Já no final da administração de Émil August Göldi o Museu não ia tão bem, pois suas solicitações já não estavam sendo atendidas, agravadas pela crise comercial da borracha em 1907. Após a saída de Émil August Göldi quem assumiu a direção do Museu foi o naturalista Jacques Hüber (1867-1914), botânico suíço e conhecido de Émil August Göldi, que veio a seu convite para o Museu Paraense em 1895. Hüber organizou a Seção de Botânica, instalando seu horto. Sua lista de publicações ampla e variada, incluiu o estudo de alguns grupos de algas e uma “Contribuição à Geografia do Litoral da Guiana entre o Amazonas e o Rio Oiapoque”, de 1896. Dedicou-se também ao estudo das plantas produtoras de borracha, sobre as quais publicou vários artigos.
Hüber também gozava de prestígio perante a elite local. Em 1910, foi encarregado, já como diretor da instituição, de ir ao Oriente para analisar as perspectivas da borracha brasileira, onde pôde perceber a superação das áreas de produção da borracha do Oriente em relação à região amazônica.
No período de 1894 a 1914, a atividade de pesquisa foi intensa, principalmente nas áreas de Zoologia e Botânica, além dos estudos geográficos e geológicos. A partir de 1914, a atividade científica entrou em declínio, quando foi desfeito o corpo técnico-científico do Museu. As principais linhas de pesquisa da instituição eram:
- Zoologia: Taxonomia e Fisiologia Animal;
- Botânica: Taxonomia e Fisiologia Vegetal;
- Geologia: Inventários Geológicos, Mineralogia, Petrografia e Paleontologia;
- Antropologia/Arqueologia: Etnologia e Etnografia.
Em 1914 Hüber morreu, sendo substituído na direção do Museu Goeldi por Marie Emilie Snethlage (1868-1929). Doutora em Filosofia Natural e assistente de Zoologia no Museu de Berlim, Marie Emilie veio para a Amazônia contratada por Émil August Göldi, em 1905, e dirigiu o estabelecimento de 1914 a 1921.
Quando a zoóloga alemã assumiu a direção da instituição, toda a Amazônia passava por uma grave crise, com conseqüências para o Museu. A entidade passou a ter grandes dificuldades para sobreviver, sendo praticamente abandonada, apesar dos esforços de Marie Emilie Snethlage. Durante a Primeira Guerra, Marie Emilie Snethlage foi afastada de qualquer função pública por ser cidadã alemã, tendo sido reintegrada apenas em 1919.
Durante esse período, Rodolfo Siqueira Rodrigues, que entrara para o Museu Goeldi em 1897, aos treze anos de idade, como praticante, revezou várias vezes com Marie Emilie Snethlage na direção do estabelecimento. Em 1921, Emilie foi para o Museu Nacional.
O Museu Emílio Goeldi, apesar de suas crises, teve um destacado papel na consolidação das ciências naturais no Brasil. Entre 1921 e 1930, o Museu ficou praticamente estagnado, sob precárias condições de manutenção. A atividade técnico-científica permaneceu desativada, mantendo apenas a biblioteca certa atividade, mediante a permuta de publicações. Também não houve produção científica, restringindo-se a atividade à difícil manutenção do Parque Zoobotânico e das coleções científicas da instituição. Durante esse período, quem ajudou a manter o Museu aberto foi Rodolfo Siqueira Rodrigues, antigo funcionário da instituição.
Nomeado interventor do Estado em 1930, o Major Joaquim de Magalhães Cardoso Barata empreendeu a restauração de todos os departamentos administrativos do Governo, nomeando o advogado Carlos Estevão de Oliveira, para diretor do Museu Emílio Goeldi. Embora Estevão de Oliveira não fosse um cientista, ele era conhecedor do ambiente amazônico e dinamizou todos os departamentos do Museu, iniciando uma nova etapa para a instituição.
Em novembro de 1931, o interventor Joaquim de Magalhães Cardoso Barata assinou um decreto que mudava o nome do Museu Goeldi para Museu Paraense Emílio Goeldi.
A partir de 1954, o então Conselho Nacional de Pesquisa, através de sua unidade subordinada, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), mediante convênio com o Estado do Pará, passou a administrá-lo, evitando a decadência da instituição. Houve substancial fortalecimento da instituição, com o incremento das pesquisas, contratação de pessoal especializado e reorganização administrativa. Em 1983, a entidade conseguiu sua autonomia, passando a atuar como Unidade independente, vinculada diretamente ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Diretores:
João Baptista Gonçalves da Rocha (1872-1873); Joaquim Pedro Corrêa de Freitas, Diretor de Instrução Pública (1873-1881); José Coelho da Gama e Abreu, Barão de Marajó (1881-1882); Antonio Manuel Gonçalves Tocantins (1882); Domingos Soares Ferreira Penna (1882-1884); Joaquim Pedro Corrêa de Freitas (1883-1884); Hildebrando Barjona de Miranda, no impedimento temporário do diretor Abel Augusto César de Araújo (1885); Álvaro Pinto de Pontes e Souza (1886-1888); Émil August Göldi (1894-1907); Jacques Hüber (1907-1914); Marie Emilie Snethlage (1914-1921); Rodolfo Siqueira Rodrigues (interino); Carlos Estevão de Oliveira (1930- ).
Estrutura e funcionamento
Os Regulamentos do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, assinados pelo Governador do Estado do Pará, Lauro Sodré (1891-1896), estabeleceram quatro seções para o Museu: Zoologia (Anatomia e Embriologia); Botânica; Geologia (Paleontologia e Mineralogia); e Etnologia, Arqueologia e Antropologia.
O pessoal científico constava do diretor e dos chefes das três primeiras seções. A 4ª seção, segundo o regulamento, deveria ser dirigida pelo diretor ou por um dos chefes das outras seções, até que a mesma apresentasse o desenvolvimento necessário para contratação de pessoal próprio. O diretor assumiu a chefia da 4ª seção, o que se tornou uma regra ao longo de quase cinqüenta anos.
Durante sua fase de formação (1866-1888), o Museu Paraense de História Natural e Etnografia foi o único entre os museus brasileiros do século XIX a ter uma seção específica para a área antropológica, de certa maneira com autonomia em relação às ciências naturais. Entretanto, o desenvolvimento da área etnográfica no Museu Paraense, exceção à regra entre os museus brasileiros no século XIX, encontrou um ponto de estagnação em sua fase de consolidação como instituição científica, entre 1894 e 1921. No regulamento aprovado pelo governador Lauro Sodré, as áreas antropológicas foram relegadas a segundo plano, privilegiando as ciências naturais, o que contrariou o projeto pelo qual foi fundado o Museu (BERTHO, 1994a) e seu diretor, Emílio Goeldi.
Quanto às outras áreas, neste período, sobretudo a botânica e a zoologia, tiveram um impulso notável, exemplificado pelo desenvolvimento significativo de suas respectivas seções:
“Foi construído um Horto Botânico, através da desapropriação de diversas áreas que circundavam a “rocinha”, antiga residência particular, comprada para alojar o Museu. O Jardim Botânico tinha uma atenção especial pela crescente demanda de visitantes. A Biblioteca apresentou um excepcional crescimento através de aquisições de livros, doações e permutas. A publicação do Boletim do Museu Paraense, enviado gratuitamente para centros e museus de história nacional no país e no exterior, propiciava a permuta de muitas publicações e doações. Outra atividade relevante do Museu foi a instalação do Serviço Meteorológico no parque zoobotânico, que, a partir de 1896, coletava todos os dados referentes ao clima da região de Belém. Esse serviço se estenderia até 1922, e a ele estavam ligadas pesquisas climatológicas” (BERTHO, 1994, p.87).
É interessante ressaltar que anteriormente, em 1798 chegou a ser criado o Jardim Botânico do Grão-Pará, em Belém, que, funcionou somente até os anos finais do século XIX.
Publicações oficiais
Concebido por Émil August Göldi, em 1894, o primeiro volume doBoletim do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia foi lançado em 1896. O volume 4, fascículo 1, foi publicado, em 1904, como Boletim do Museu Goeldi de Historia Natural e Ethnographia. A partir do volume 10, publicado em 1949, a publicação passou a denominar-se Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, em homenagem a seu idealizador. Uma nova série foi iniciada em 1957 e continuada até 1984, quando uma nova numeração dos volumes foi adotada. O atual Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi é editado em quatro séries: Antropologia, Botânica, Zoologia (semestral) e Ciências da Terra (anual). A Comissão de Editoração Científica é responsável pela edição do Boletim.
Destacam-se, também, as obras publicadas pelo Museu, como: Arboretum Amazonicum, álbuns impressos em Zurich, em 1901, organizados pelo botânico Jacques Hüber; Álbum de Aves Amazônicas, organizado por Émil August Göldi, em três fascículos de 1900, 1902 e 1906, como suplemento à obra Aves do Brasil, e ilustrado por Ernesto Löhse, desenhista-litógrafo da instituição; Sertum palmarum brasilensum, do brasileiro João Barbosa Rodrigues, uma relação das palmeiras descobertas.
O Museu publicou, a partir de 1900, as Memórias do Museu Paraense de História Natural e Etnografia em quatro volumes:
- vol.1: “Excavações archeologicas em 1895. Executadas pelo Museu Paraense no Littoral da Guyana Brazileira entre Oyapock e Amazonas. 1a Parte: As cavernas funerárias artificiaes de Índios hoje extinctos no Rio Cunany (Goanany) e sua cerâmica”. Por Émil August Göldi. (1900);
- vol.2: [Pesquisas geológicas e botânicas]. Por Émil August Göldi. (1900);
- vol.3: “Estudos sobre o desenvolvimento da armação dos veados galheiros do Brasil”. Por Émil August Göldi. 1902;
- vol.4: “Os mosquitos no Pará. Reunião de quatro trabalhos sobre os Mosquitos indígenas, principalmente as espécies que molestam o homem”. Por Émil August Göldi. 1905.
Além desses trabalhos, a Editoração Científica, desde o final do século XIX, tinha como missão estabelecer e executar a política editorial do Museu Emílio Goeldi em relação às publicações técnico-científicas, que versassem direta ou indiretamente sobre a Amazônia. Conforme as áreas de conhecimento, os livros editados foram organizados em cinco coleções: Eduardo Galvão (Antropologia),Adolpho Ducke (Botânica), Karl Katzer (Ciências da Terra), Emilia Snethlage (Zoologia), Alexandre Rodrigues Ferreira (História da Ciência) e ainda a coleção Emílio Goeldi (Obras Raras), além de publicações avulsas.
Atualmente, destaca-se a revista Goeldiana, dedicada à divulgação de trabalhos científicos do Museu.
Fontes
- BARRETO, Mauro Vianna. História da pesquisa arqueológica no Museu Paraense Emílio Goeldi. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi / Série Antropologia, v. 8, n.2, p.203-294, dez.1992. In: MUSEU GOELDI. Repositório. Capturado em 16 out. 2020.online. Disponível na Internet: https://repositorio.museu-goeldi.br/handle/mgoeldi/515
- BERTHO, Angela Maria de Moraes. O Museu Paraense Emílio Goeldi no contexto cultural da Amazônia. In: SILVEIRA, Isolda Maciel da.; DANLAO, Maria Angela (orgs.). A Amazônia e a crise da modernização. Belém: MPEG, 1994 (a).
- ________________. Museu Paraense: a antropologia na perspectiva de um saber sobre e na Amazônia (1886-1921). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi / Série Antropologia, v.9, n.1, p.55-101, julho de 1994 (b). Capturado em 222 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: https://repositorio.museu-goeldi.br/handle/mgoeldi/732
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Ficha técnica
Pesquisa - Alex Varela; Gil Baião Neto.
Redação - Gil Baião Neto, Luis Eduardo Lethier de Mello; Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Revisão - Francisco José Chagas Madureira.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
MUSEU PARAENSE DE HISTÓRIA NATURAL E ETNOGRAFIA. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 22 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)