CASTRO, FRANCISCO DE: mudanças entre as edições
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= <span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Trajetória profissional</span> = | = <span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Trajetória profissional</span> = | ||
<p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro ficou órfão de mãe cedo, e seu pai, preocupado com a sua educação, encaminhou-o para o Ateneu Baiano. Em 1873, levado por seu pai, fez uma viagem à Paris, onde aperfeiçoou seus estudos, familiarizando-se com a língua francesa, a ponto de escrever versos em francês. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Iniciou o curso de medicina na [[FACULDADE_DE_MEDICINA_DA_BAHIA|<u>Faculdade de Medicina da Bahia</u>]] em 1874, transferindo-se depois para a [[FACULDADE_DE_MEDICINA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro</u>]], mas concluindo na [[FACULDADE_DE_MEDICINA_DA_BAHIA|<u>Faculdade de Medicina da Bahia</u>]], em 1879, com a dissertação intitulada “Da correlação das funções”. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Retornou para a cidade do Rio de Janeiro, ainda em 1879, onde na então [[FACULDADE_DE_MEDICINA_E_FARMÁCIA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro</u>]], foi docente interino, regeu as cadeiras de patologia geral, fisiologia e de patologia interna até o ano de 1891, quando assumiu a cátedra de clínica propedêutica, recém criada a partir da Reforma Benjamin Constant. Naquela instituição foi discípulo de [[HOMEM,_JOÃO_VICENTE_TORRES|<u>João Vicente Torres Homem</u>]], tendo ocupado o lugar de professor adjunto da 1ª cadeira de clínica médica por ele regida. Foi vice-diretor (1895) e diretor (nomeação em 16 de abril de 1901) da Faculdade. Foi concedida sua exoneração do cargo de diretor, a seu pedido, em 7 de agosto de 1901. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Segundo [[CASTRO,_ALOYSIO_DE|<u>Aloysio de Castro</u>]], seu filho, Francisco de Castro foi o responsável pela introdução da clínica propedêutica, o rigor dos métodos clínicos no exame, no ensino médico do país. Sua obra “Tratado de Clínica Propedêutica”, de 1896, foi considerada “o mais primoroso monumento da literatura médica nacional” (OLIVEIRA, 1940, p.317).</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi professor de alemão da Escola Superior de Guerra (1888). Sua fluência na língua alemã serviu-lhe para introduzir teorias de cientistas alemães no ensino médico, como bem demonstrou em seu trabalho “Tratado de Clínica Propedêutica”, repleto de referências a cientistas alemães, franceses e norte-americanos.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro ministrava suas aulas utilizando-se de termos literários a todo o instante, nas quais eram sempre citados clássicos da literatura grega e latina.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Em 1892 integrou, juntamente com João Batista de Lacerda, Joaquim Pinto Portella, José Borges Ribeiro da Costa e Augusto Cezar Diogo, a comissão designada pela [[ACADEMIA_NACIONAL_DE_MEDICINA|<u>Academia Nacional de Medicina</u>]] para a análise das virtudes medicinais e composição das águas minerais.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ocupou, em 1892, o cargo de diretor na Diretoria Sanitária da Capital Federal, e posteriormente o de diretor-geral no [[INSTITUTO_SANITÁRIO_FEDERAL|<u>Instituto Sanitário Federal</u>]] (1894-1897), surgido da fusão daquela Diretoria com o [[LABORATÓRIO_DE_BACTERIOLOGIA|<u>Laboratório de Bacteriologia</u>]] a partir do decreto nº 1.647, de 12/01/1894. Este último posto por ele ocupado causou polêmica na época, motivando uma troca de acusações e de refutações ao longo do mês de outubro de 1894, quando foi acusado pelo deputado Antonio Furquim Werneck de Almeida de haver utilizado seus relacionamentos políticos para alcançar o referido cargo, e de que o [[INSTITUTO_SANITÁRIO_FEDERAL|<u>Instituto Sanitário Federal</u>]] havia sido criado somente para lhe dar uma colocação. O mesmo deputado acusou-o, também, de haver se beneficiado de contatos políticos ao suprimir o curso de obstetrícia, professado por Augusto de Souza Brandão na [[FACULDADE_DE_MEDICINA_E_FARMÁCIA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro</u>]], e de ter reduzido a carga horária e abolido a obrigatoriedade do exame final nesta disciplina, diferentemente do que realizou com a disciplina de clínica propedêutica (CASTRO, 1894). </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Antonio Furquim Werneck de Almeida também o acusou de ter tornado inoperante o Instituto Sanitário Federal, ao apresentar somente uma proposta, a de esterilização das mulheres carentes (invento Abel Parente). O invento, criado pelo médico Abel Parente, por tratar-se de um processo de esterilização da mulher, causou uma grande polêmica em 1893, envolvendo médicos, juristas, a Sociedade de Higiene do Brasil e a [[ACADEMIA_NACIONAL_DE_MEDICINA|<u>Academia Nacional de Medicina</u>]]. Esta associação organizou uma comissão, formada por Agostinho José de Souza Lima, José Rodrigues dos Santos e Alfredo Nascimento e Silva, cujo parecer foi de que Abel Parente não deveria explorar comercialmente aquele invento. Dividiram-se as opiniões, e o promotor público Viveiros de Castro determinou, em 5 de fevereiro de 1893, que fosse instaurado um inquérito sobre os anúncios de Abel Parente sobre o processo científico que poderia prevenir a concepção, e que os lentes da [[FACULDADE_DE_MEDICINA_E_FARMÁCIA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro</u>]] deveriam manifestar-se a respeito. Francisco de Castro manifestou-se a favor de Abel Parente, tornando pública sua posição no trabalho “O invento Abel Parente no ponto de vista do direito criminal, da moral publica e da medicina clínica, em 1893. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro, em seu discurso no ato de colação do grau de doutor em medicina, em 1897, destacou o princípio do segredo médico:</span></span></p> <blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">“No exercício da arte clínica, qualquer que seja o ramo predileto do vosso, há um princípio de deontologia que não desertareis em caso nenhum; princípio que é o eixo do vosso valor moral, a base da simpatia espontânea, da afeição desinteressada, da confiança efetiva dos vossos clientes; uma necessidade e um dever já unissonantemente reconhecidos e conclamados pelo sentimento dos povos cultos, muito antes que os antigos legisladores o houvessem fundido no bronze das leis, perpetuando-o nas provisões dos códigos escritos. Tal é, senhores, o segredo médico.” (CASTRO, 1902, p.5). </span></span></p> </blockquote> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">[[CHAGAS,_CARLOS_RIBEIRO_JUSTINIANO|<u>Carlos Ribeiro Justiniano Chagas</u>]], em discurso pronunciado no VII Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia (1912), assim referiu-se a Francisco de Castro:</span></span></p> <blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">“o médico filósofo, que observava para raciocinar e sempre raciocinava para generalizar.<br/> Foi, sem dúvida, o maior espírito de síntese, a mais vasta erudição médica de nossos dias, o mestre que mais poderosa influência exerceu, entre nós, nos destinos da medicina clínica. Formulou grandes doutrinas, destruiu erros clássicos e perniciosos na prática médica, sistematizou, na nossa patologia, muitos fatos mórbidos que permaneciam na maior desordem. Possuía uma maneira toda sua de encarar o caso clínico, levando às aplicações da semiótica e às deduções da semiologia o determinismo de uma técnica e a lógica de um raciocínio que garantiam a verdade do diagnóstico e o acerto do prognóstico. Não havia ciência por fora aí onde não houvesse lógica por dentro, foi a frase que uma vez lhe ouvi e que sintetizava, na prática e no magistério, os predicados excepcionais de sua alta personalidade clínica. A crítica contemporânea, de imparcialidade duvidosa, dizia-o muitas vezes pouco prático. Não sei onde o acerto de semelhante julgamento, porquanto, na cabeceira do doente, em lições que se tornaram memoráveis, os ensinamentos do grande mestre frutificaram na formação de uma escola clínica ainda hoje representada em professores que honram o ensino e erguem bem alto a tradição de Castro. Conheci-o na fase mais fulgurante de sua carreira científica, quando à enfermaria de propedêutica afluíam numerosos discípulos que dele aprenderam os grandes princípios de fisio-patologia, que lhe ouviram sábios experientes conselhos de deontologia médica, que nele reconheciam o expoente máximo da arte médica naquela época. Era lapidar a frase do mestre, e quando se dirigia ao discípulo para avaliar de seu aproveitamento ou para sondar-lhe o coeficiente de aptidão pessoal, fazia-o com tal habilidade e tanta finura que de vez ficava ciente do quanto valia o argüido. Dos bons alunos nunca mais se esquecia e de quando em quando vinha submetê-los a novas provas de raciocínio ou experimentar neles aquele predicado a que votava grande importância, o senso médico, com que se nasce e não se adquire, conforme pensava Castro. O tratado de clínica propedêutica vai para expressar a grandeza da vida científica de Francisco de Castro”. (CHAGAS, 2003)</span></span></p> </blockquote> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro foi 2º cirurgião-tenente do Hospital Militar da Guarnição da Corte, nos anos de 1887 a 1889, de acordo com o </span></span><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">''Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imperio do Brazil'' do período. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Em 1893 irrompeu a Revolta da Armada, em oposição ao governo de Floriano Peixoto, na qual o jurista Rui Barbosa teve participação e foi perseguido. Francisco de Castro era seu médico e amigo, e assim Rui Barbosa, a conselho de Tobias Barreto, buscou abrigo em sua residência. Além de amigo, Rui Barbosa era um admirador das idéias de Francisco de Castro no ensino de medicina.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">No prefácio da obra “Discursos do Professor Francisco de Castro”, publicada em 1902, Rui Barbosa destacou as características de seu amigo médico:</span></span></p> <blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">“Esse dom [da intuição médica], que caracteriza os grandes clínicos, de frustar o sigilo às moléstias mais dissimuladas tinha, em Francisco de Castro, ares de sobrenatural. Uma predestinação radiosa auxiliada por sua ´omnimoda` instrução nos vários elementos da medicina, armara-o com o diagnóstico impecável dos grandes mestres. (...) Psicologista profundo, patologista superior, prático de experiência infinita e de descortino incalculável, sua terapêutica era de uma simplicidade ideal”. (CASTRO, 1902, p. 10)</span></span></p> </blockquote> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Candidatou-se a membro da [[ACADEMIA_NACIONAL_DE_MEDICINA|<u>Academia Nacional de Medicina</u>]], tendo obtido o parecer de aprovação em 26 de julho de 1881, com a apresentação da memória “Dos centros corticaes psychogenicos. Foi eleito, em 10 de agosto de 1899, para a cadeira de nº 13 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Alfredo d´Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay), mas não chegou a tomar posse. É o patrono da cadeira nº 11 da Academia Petropolitana de Letras, criada em 1922.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi um dos redatores dos ''Annaes da Academia de Medicina'' e da ''Revista Brasileira ''(1879-1881), e colaborador da obra “Estante clássica”, da ''Revista de Língua Portuguesa'' (v. 4, 1921), e da ''Revista Acadêmica'' (1877-1878). </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro também foi orador, escritor e poeta, tendo sido atraído para o ambiente literário desde os tempos da faculdade, onde teve entre seus companheiros Guilherme de Castro, irmão de Castro Alves, poeta que era admirado por ele e que exerceu grande influência na sua poesia. Publicou poesias com o pseudônimo Luciano de Mendazza, e as reuniu em um volume intitulado “Harmonias errantes”, o qual foi prefaciado pelo escritor Machado de Assis. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi erguida uma estátua em sua homenagem, na sede da Faculdade de Medicina, então na Praia Vermelha, a qual foi posteriormente removida para o Centro de Ciências da Saúde, ao lado do Instituto de Biologia, no campus da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. </span></span> </p> | <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro ficou órfão de mãe cedo, e seu pai, preocupado com a sua educação, encaminhou-o para o Ateneu Baiano. Em 1873, levado por seu pai, fez uma viagem à Paris, onde aperfeiçoou seus estudos, familiarizando-se com a língua francesa, a ponto de escrever versos em francês. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Iniciou o curso de medicina na [[FACULDADE_DE_MEDICINA_DA_BAHIA|<u>Faculdade de Medicina da Bahia</u>]] em 1874, transferindo-se depois para a [[FACULDADE_DE_MEDICINA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro</u>]], mas concluindo na [[FACULDADE_DE_MEDICINA_DA_BAHIA|<u>Faculdade de Medicina da Bahia</u>]], em 1879, com a dissertação intitulada “Da correlação das funções”. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Retornou para a cidade do Rio de Janeiro, ainda em 1879, onde na então [[FACULDADE_DE_MEDICINA_E_FARMÁCIA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro</u>]], foi docente interino, regeu as cadeiras de patologia geral, fisiologia e de patologia interna até o ano de 1891, quando assumiu a cátedra de clínica propedêutica, recém criada a partir da Reforma Benjamin Constant. Naquela instituição foi discípulo de [[HOMEM,_JOÃO_VICENTE_TORRES|<u>João Vicente Torres Homem</u>]], tendo ocupado o lugar de professor adjunto da 1ª cadeira de clínica médica por ele regida. Foi vice-diretor (1895) e diretor (nomeação em 16 de abril de 1901) da Faculdade. Foi concedida sua exoneração do cargo de diretor, a seu pedido, em 7 de agosto de 1901. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Segundo [[CASTRO,_ALOYSIO_DE|<u>Aloysio de Castro</u>]], seu filho, Francisco de Castro foi o responsável pela introdução da clínica propedêutica, o rigor dos métodos clínicos no exame, no ensino médico do país. Sua obra “Tratado de Clínica Propedêutica”, de 1896, foi considerada “o mais primoroso monumento da literatura médica nacional” (OLIVEIRA, 1940, p.317).</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi professor de alemão da Escola Superior de Guerra (1888). Sua fluência na língua alemã serviu-lhe para introduzir teorias de cientistas alemães no ensino médico, como bem demonstrou em seu trabalho “Tratado de Clínica Propedêutica”, repleto de referências a cientistas alemães, franceses e norte-americanos.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro ministrava suas aulas utilizando-se de termos literários a todo o instante, nas quais eram sempre citados clássicos da literatura grega e latina.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Em 1892 integrou, juntamente com <u>[[LACERDA FILHO, JOÃO BAPTISTA DE|João Batista de Lacerda]]</u>, Joaquim Pinto Portella, José Borges Ribeiro da Costa e Augusto Cezar Diogo, a comissão designada pela [[ACADEMIA_NACIONAL_DE_MEDICINA|<u>Academia Nacional de Medicina</u>]] para a análise das virtudes medicinais e composição das águas minerais.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ocupou, em 1892, o cargo de diretor na Diretoria Sanitária da Capital Federal, e posteriormente o de diretor-geral no [[INSTITUTO_SANITÁRIO_FEDERAL|<u>Instituto Sanitário Federal</u>]] (1894-1897), surgido da fusão daquela Diretoria com o [[LABORATÓRIO_DE_BACTERIOLOGIA|<u>Laboratório de Bacteriologia</u>]] a partir do decreto nº 1.647, de 12/01/1894. Este último posto por ele ocupado causou polêmica na época, motivando uma troca de acusações e de refutações ao longo do mês de outubro de 1894, quando foi acusado pelo deputado Antonio Furquim Werneck de Almeida de haver utilizado seus relacionamentos políticos para alcançar o referido cargo, e de que o [[INSTITUTO_SANITÁRIO_FEDERAL|<u>Instituto Sanitário Federal</u>]] havia sido criado somente para lhe dar uma colocação. O mesmo deputado acusou-o, também, de haver se beneficiado de contatos políticos ao suprimir o curso de obstetrícia, professado por Augusto de Souza Brandão na [[FACULDADE_DE_MEDICINA_E_FARMÁCIA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro</u>]], e de ter reduzido a carga horária e abolido a obrigatoriedade do exame final nesta disciplina, diferentemente do que realizou com a disciplina de clínica propedêutica (CASTRO, 1894). </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Antonio Furquim Werneck de Almeida também o acusou de ter tornado inoperante o Instituto Sanitário Federal, ao apresentar somente uma proposta, a de esterilização das mulheres carentes (invento Abel Parente). O invento, criado pelo médico Abel Parente, por tratar-se de um processo de esterilização da mulher, causou uma grande polêmica em 1893, envolvendo médicos, juristas, a Sociedade de Higiene do Brasil e a [[ACADEMIA_NACIONAL_DE_MEDICINA|<u>Academia Nacional de Medicina</u>]]. Esta associação organizou uma comissão, formada por Agostinho José de Souza Lima, José Rodrigues dos Santos e Alfredo Nascimento e Silva, cujo parecer foi de que Abel Parente não deveria explorar comercialmente aquele invento. Dividiram-se as opiniões, e o promotor público Viveiros de Castro determinou, em 5 de fevereiro de 1893, que fosse instaurado um inquérito sobre os anúncios de Abel Parente sobre o processo científico que poderia prevenir a concepção, e que os lentes da [[FACULDADE_DE_MEDICINA_E_FARMÁCIA_DO_RIO_DE_JANEIRO|<u>Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro</u>]] deveriam manifestar-se a respeito. Francisco de Castro manifestou-se a favor de Abel Parente, tornando pública sua posição no trabalho “O invento Abel Parente no ponto de vista do direito criminal, da moral publica e da medicina clínica, em 1893. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro, em seu discurso no ato de colação do grau de doutor em medicina, em 1897, destacou o princípio do segredo médico:</span></span></p> <blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">“No exercício da arte clínica, qualquer que seja o ramo predileto do vosso, há um princípio de deontologia que não desertareis em caso nenhum; princípio que é o eixo do vosso valor moral, a base da simpatia espontânea, da afeição desinteressada, da confiança efetiva dos vossos clientes; uma necessidade e um dever já unissonantemente reconhecidos e conclamados pelo sentimento dos povos cultos, muito antes que os antigos legisladores o houvessem fundido no bronze das leis, perpetuando-o nas provisões dos códigos escritos. Tal é, senhores, o segredo médico.” (CASTRO, 1902, p.5). </span></span></p> </blockquote> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">[[CHAGAS,_CARLOS_RIBEIRO_JUSTINIANO|<u>Carlos Ribeiro Justiniano Chagas</u>]], em discurso pronunciado no VII Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia (1912), assim referiu-se a Francisco de Castro:</span></span></p> <blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">“o médico filósofo, que observava para raciocinar e sempre raciocinava para generalizar.<br/> Foi, sem dúvida, o maior espírito de síntese, a mais vasta erudição médica de nossos dias, o mestre que mais poderosa influência exerceu, entre nós, nos destinos da medicina clínica. Formulou grandes doutrinas, destruiu erros clássicos e perniciosos na prática médica, sistematizou, na nossa patologia, muitos fatos mórbidos que permaneciam na maior desordem. Possuía uma maneira toda sua de encarar o caso clínico, levando às aplicações da semiótica e às deduções da semiologia o determinismo de uma técnica e a lógica de um raciocínio que garantiam a verdade do diagnóstico e o acerto do prognóstico. Não havia ciência por fora aí onde não houvesse lógica por dentro, foi a frase que uma vez lhe ouvi e que sintetizava, na prática e no magistério, os predicados excepcionais de sua alta personalidade clínica. A crítica contemporânea, de imparcialidade duvidosa, dizia-o muitas vezes pouco prático. Não sei onde o acerto de semelhante julgamento, porquanto, na cabeceira do doente, em lições que se tornaram memoráveis, os ensinamentos do grande mestre frutificaram na formação de uma escola clínica ainda hoje representada em professores que honram o ensino e erguem bem alto a tradição de Castro. Conheci-o na fase mais fulgurante de sua carreira científica, quando à enfermaria de propedêutica afluíam numerosos discípulos que dele aprenderam os grandes princípios de fisio-patologia, que lhe ouviram sábios experientes conselhos de deontologia médica, que nele reconheciam o expoente máximo da arte médica naquela época. Era lapidar a frase do mestre, e quando se dirigia ao discípulo para avaliar de seu aproveitamento ou para sondar-lhe o coeficiente de aptidão pessoal, fazia-o com tal habilidade e tanta finura que de vez ficava ciente do quanto valia o argüido. Dos bons alunos nunca mais se esquecia e de quando em quando vinha submetê-los a novas provas de raciocínio ou experimentar neles aquele predicado a que votava grande importância, o senso médico, com que se nasce e não se adquire, conforme pensava Castro. O tratado de clínica propedêutica vai para expressar a grandeza da vida científica de Francisco de Castro”. (CHAGAS, 2003)</span></span></p> </blockquote> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro foi 2º cirurgião-tenente do Hospital Militar da Guarnição da Corte, nos anos de 1887 a 1889, de acordo com o </span></span><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">''Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imperio do Brazil'' do período. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Em 1893 irrompeu a Revolta da Armada, em oposição ao governo de Floriano Peixoto, na qual o jurista Rui Barbosa teve participação e foi perseguido. Francisco de Castro era seu médico e amigo, e assim Rui Barbosa, a conselho de Tobias Barreto, buscou abrigo em sua residência. Além de amigo, Rui Barbosa era um admirador das idéias de Francisco de Castro no ensino de medicina.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">No prefácio da obra “Discursos do Professor Francisco de Castro”, publicada em 1902, Rui Barbosa destacou as características de seu amigo médico:</span></span></p> <blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">“Esse dom [da intuição médica], que caracteriza os grandes clínicos, de frustar o sigilo às moléstias mais dissimuladas tinha, em Francisco de Castro, ares de sobrenatural. Uma predestinação radiosa auxiliada por sua ´omnimoda` instrução nos vários elementos da medicina, armara-o com o diagnóstico impecável dos grandes mestres. (...) Psicologista profundo, patologista superior, prático de experiência infinita e de descortino incalculável, sua terapêutica era de uma simplicidade ideal”. (CASTRO, 1902, p. 10)</span></span></p> </blockquote> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Candidatou-se a membro da [[ACADEMIA_NACIONAL_DE_MEDICINA|<u>Academia Nacional de Medicina</u>]], tendo obtido o parecer de aprovação em 26 de julho de 1881, com a apresentação da memória “Dos centros corticaes psychogenicos. Foi eleito, em 10 de agosto de 1899, para a cadeira de nº 13 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Alfredo d´Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay), mas não chegou a tomar posse. É o patrono da cadeira nº 11 da Academia Petropolitana de Letras, criada em 1922.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi um dos redatores dos ''Annaes da Academia de Medicina'' e da ''Revista Brasileira ''(1879-1881), e colaborador da obra “Estante clássica”, da ''Revista de Língua Portuguesa'' (v. 4, 1921), e da ''Revista Acadêmica'' (1877-1878). </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Francisco de Castro também foi orador, escritor e poeta, tendo sido atraído para o ambiente literário desde os tempos da faculdade, onde teve entre seus companheiros Guilherme de Castro, irmão de Castro Alves, poeta que era admirado por ele e que exerceu grande influência na sua poesia. Publicou poesias com o pseudônimo Luciano de Mendazza, e as reuniu em um volume intitulado “Harmonias errantes”, o qual foi prefaciado pelo escritor Machado de Assis. </span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Foi erguida uma estátua em sua homenagem, na sede da Faculdade de Medicina, então na Praia Vermelha, a qual foi posteriormente removida para o Centro de Ciências da Saúde, ao lado do Instituto de Biologia, no campus da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro. </span></span> </p> | ||
= <span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Produção intelectual</span> = | = <span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Produção intelectual</span> = |
Edição atual tal como às 17h34min de 13 de junho de 2024
Outros nomes e/ou títulos: Mendazza, Luciano de
Resumo: Francisco de Castro nasceu em 17 de setembro de 1857, na cidade de Salvador (província da Bahia), e faleceu no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1901. Foi titular da cátedra de clínica propedêutica na então Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro, diretor da Diretoria Sanitária Federal (1892), e segundo tenente médico do Hospital Militar da Guarnição da Corte. Era pai de Aloysio de Castro que posteriormente também foi professor de clínica propedêutica da faculdade.
Dados pessoais
Francisco de Castro nasceu em 17 de setembro de 1857, na cidade de Salvador, então província da Bahia. Era filho único de Joaquim de Castro Guimarães, um negociante português, e de Maria Heloísa de Mattos Castro.
Francisco de Castro casou-se, em 1879, com Maria Joana Monteiro Pereira de Castro, e teve três filhos, entre eles Aloysio de Castro, que foi professor de clínica propedêutica (1904-1908), professor substituto e catedrático de patologia médica e de clínica médica (1915-1940), da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Faleceu, no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1901, vítima de uma “pneumonia pestosa, contraída no exercício da clínica” (NAVA, 2004, p.79).
Trajetória profissional
Francisco de Castro ficou órfão de mãe cedo, e seu pai, preocupado com a sua educação, encaminhou-o para o Ateneu Baiano. Em 1873, levado por seu pai, fez uma viagem à Paris, onde aperfeiçoou seus estudos, familiarizando-se com a língua francesa, a ponto de escrever versos em francês.
Iniciou o curso de medicina na Faculdade de Medicina da Bahia em 1874, transferindo-se depois para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas concluindo na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1879, com a dissertação intitulada “Da correlação das funções”.
Retornou para a cidade do Rio de Janeiro, ainda em 1879, onde na então Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro, foi docente interino, regeu as cadeiras de patologia geral, fisiologia e de patologia interna até o ano de 1891, quando assumiu a cátedra de clínica propedêutica, recém criada a partir da Reforma Benjamin Constant. Naquela instituição foi discípulo de João Vicente Torres Homem, tendo ocupado o lugar de professor adjunto da 1ª cadeira de clínica médica por ele regida. Foi vice-diretor (1895) e diretor (nomeação em 16 de abril de 1901) da Faculdade. Foi concedida sua exoneração do cargo de diretor, a seu pedido, em 7 de agosto de 1901.
Segundo Aloysio de Castro, seu filho, Francisco de Castro foi o responsável pela introdução da clínica propedêutica, o rigor dos métodos clínicos no exame, no ensino médico do país. Sua obra “Tratado de Clínica Propedêutica”, de 1896, foi considerada “o mais primoroso monumento da literatura médica nacional” (OLIVEIRA, 1940, p.317).
Foi professor de alemão da Escola Superior de Guerra (1888). Sua fluência na língua alemã serviu-lhe para introduzir teorias de cientistas alemães no ensino médico, como bem demonstrou em seu trabalho “Tratado de Clínica Propedêutica”, repleto de referências a cientistas alemães, franceses e norte-americanos.
Francisco de Castro ministrava suas aulas utilizando-se de termos literários a todo o instante, nas quais eram sempre citados clássicos da literatura grega e latina.
Em 1892 integrou, juntamente com João Batista de Lacerda, Joaquim Pinto Portella, José Borges Ribeiro da Costa e Augusto Cezar Diogo, a comissão designada pela Academia Nacional de Medicina para a análise das virtudes medicinais e composição das águas minerais.
Ocupou, em 1892, o cargo de diretor na Diretoria Sanitária da Capital Federal, e posteriormente o de diretor-geral no Instituto Sanitário Federal (1894-1897), surgido da fusão daquela Diretoria com o Laboratório de Bacteriologia a partir do decreto nº 1.647, de 12/01/1894. Este último posto por ele ocupado causou polêmica na época, motivando uma troca de acusações e de refutações ao longo do mês de outubro de 1894, quando foi acusado pelo deputado Antonio Furquim Werneck de Almeida de haver utilizado seus relacionamentos políticos para alcançar o referido cargo, e de que o Instituto Sanitário Federal havia sido criado somente para lhe dar uma colocação. O mesmo deputado acusou-o, também, de haver se beneficiado de contatos políticos ao suprimir o curso de obstetrícia, professado por Augusto de Souza Brandão na Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro, e de ter reduzido a carga horária e abolido a obrigatoriedade do exame final nesta disciplina, diferentemente do que realizou com a disciplina de clínica propedêutica (CASTRO, 1894).
Antonio Furquim Werneck de Almeida também o acusou de ter tornado inoperante o Instituto Sanitário Federal, ao apresentar somente uma proposta, a de esterilização das mulheres carentes (invento Abel Parente). O invento, criado pelo médico Abel Parente, por tratar-se de um processo de esterilização da mulher, causou uma grande polêmica em 1893, envolvendo médicos, juristas, a Sociedade de Higiene do Brasil e a Academia Nacional de Medicina. Esta associação organizou uma comissão, formada por Agostinho José de Souza Lima, José Rodrigues dos Santos e Alfredo Nascimento e Silva, cujo parecer foi de que Abel Parente não deveria explorar comercialmente aquele invento. Dividiram-se as opiniões, e o promotor público Viveiros de Castro determinou, em 5 de fevereiro de 1893, que fosse instaurado um inquérito sobre os anúncios de Abel Parente sobre o processo científico que poderia prevenir a concepção, e que os lentes da Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro deveriam manifestar-se a respeito. Francisco de Castro manifestou-se a favor de Abel Parente, tornando pública sua posição no trabalho “O invento Abel Parente no ponto de vista do direito criminal, da moral publica e da medicina clínica, em 1893.
Francisco de Castro, em seu discurso no ato de colação do grau de doutor em medicina, em 1897, destacou o princípio do segredo médico:
“No exercício da arte clínica, qualquer que seja o ramo predileto do vosso, há um princípio de deontologia que não desertareis em caso nenhum; princípio que é o eixo do vosso valor moral, a base da simpatia espontânea, da afeição desinteressada, da confiança efetiva dos vossos clientes; uma necessidade e um dever já unissonantemente reconhecidos e conclamados pelo sentimento dos povos cultos, muito antes que os antigos legisladores o houvessem fundido no bronze das leis, perpetuando-o nas provisões dos códigos escritos. Tal é, senhores, o segredo médico.” (CASTRO, 1902, p.5).
Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, em discurso pronunciado no VII Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia (1912), assim referiu-se a Francisco de Castro:
“o médico filósofo, que observava para raciocinar e sempre raciocinava para generalizar.
Foi, sem dúvida, o maior espírito de síntese, a mais vasta erudição médica de nossos dias, o mestre que mais poderosa influência exerceu, entre nós, nos destinos da medicina clínica. Formulou grandes doutrinas, destruiu erros clássicos e perniciosos na prática médica, sistematizou, na nossa patologia, muitos fatos mórbidos que permaneciam na maior desordem. Possuía uma maneira toda sua de encarar o caso clínico, levando às aplicações da semiótica e às deduções da semiologia o determinismo de uma técnica e a lógica de um raciocínio que garantiam a verdade do diagnóstico e o acerto do prognóstico. Não havia ciência por fora aí onde não houvesse lógica por dentro, foi a frase que uma vez lhe ouvi e que sintetizava, na prática e no magistério, os predicados excepcionais de sua alta personalidade clínica. A crítica contemporânea, de imparcialidade duvidosa, dizia-o muitas vezes pouco prático. Não sei onde o acerto de semelhante julgamento, porquanto, na cabeceira do doente, em lições que se tornaram memoráveis, os ensinamentos do grande mestre frutificaram na formação de uma escola clínica ainda hoje representada em professores que honram o ensino e erguem bem alto a tradição de Castro. Conheci-o na fase mais fulgurante de sua carreira científica, quando à enfermaria de propedêutica afluíam numerosos discípulos que dele aprenderam os grandes princípios de fisio-patologia, que lhe ouviram sábios experientes conselhos de deontologia médica, que nele reconheciam o expoente máximo da arte médica naquela época. Era lapidar a frase do mestre, e quando se dirigia ao discípulo para avaliar de seu aproveitamento ou para sondar-lhe o coeficiente de aptidão pessoal, fazia-o com tal habilidade e tanta finura que de vez ficava ciente do quanto valia o argüido. Dos bons alunos nunca mais se esquecia e de quando em quando vinha submetê-los a novas provas de raciocínio ou experimentar neles aquele predicado a que votava grande importância, o senso médico, com que se nasce e não se adquire, conforme pensava Castro. O tratado de clínica propedêutica vai para expressar a grandeza da vida científica de Francisco de Castro”. (CHAGAS, 2003)
Francisco de Castro foi 2º cirurgião-tenente do Hospital Militar da Guarnição da Corte, nos anos de 1887 a 1889, de acordo com o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Imperio do Brazil do período.
Em 1893 irrompeu a Revolta da Armada, em oposição ao governo de Floriano Peixoto, na qual o jurista Rui Barbosa teve participação e foi perseguido. Francisco de Castro era seu médico e amigo, e assim Rui Barbosa, a conselho de Tobias Barreto, buscou abrigo em sua residência. Além de amigo, Rui Barbosa era um admirador das idéias de Francisco de Castro no ensino de medicina.
No prefácio da obra “Discursos do Professor Francisco de Castro”, publicada em 1902, Rui Barbosa destacou as características de seu amigo médico:
“Esse dom [da intuição médica], que caracteriza os grandes clínicos, de frustar o sigilo às moléstias mais dissimuladas tinha, em Francisco de Castro, ares de sobrenatural. Uma predestinação radiosa auxiliada por sua ´omnimoda` instrução nos vários elementos da medicina, armara-o com o diagnóstico impecável dos grandes mestres. (...) Psicologista profundo, patologista superior, prático de experiência infinita e de descortino incalculável, sua terapêutica era de uma simplicidade ideal”. (CASTRO, 1902, p. 10)
Candidatou-se a membro da Academia Nacional de Medicina, tendo obtido o parecer de aprovação em 26 de julho de 1881, com a apresentação da memória “Dos centros corticaes psychogenicos. Foi eleito, em 10 de agosto de 1899, para a cadeira de nº 13 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Alfredo d´Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay), mas não chegou a tomar posse. É o patrono da cadeira nº 11 da Academia Petropolitana de Letras, criada em 1922.
Foi um dos redatores dos Annaes da Academia de Medicina e da Revista Brasileira (1879-1881), e colaborador da obra “Estante clássica”, da Revista de Língua Portuguesa (v. 4, 1921), e da Revista Acadêmica (1877-1878).
Francisco de Castro também foi orador, escritor e poeta, tendo sido atraído para o ambiente literário desde os tempos da faculdade, onde teve entre seus companheiros Guilherme de Castro, irmão de Castro Alves, poeta que era admirado por ele e que exerceu grande influência na sua poesia. Publicou poesias com o pseudônimo Luciano de Mendazza, e as reuniu em um volume intitulado “Harmonias errantes”, o qual foi prefaciado pelo escritor Machado de Assis.
Foi erguida uma estátua em sua homenagem, na sede da Faculdade de Medicina, então na Praia Vermelha, a qual foi posteriormente removida para o Centro de Ciências da Saúde, ao lado do Instituto de Biologia, no campus da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Produção intelectual
- “Harmonias errantes”. Poesia. Introdução de Machado de Assis. 1878.
- “Correlação das funções; Secção accessoria: Therapeutica geral dos envenenamentos; Secção cirurgica: Da septicemia; Secção medica: Da susceptibilidade recurrente: these apresentada à faculdade de medicina do Rio de Janeiro a 23 de setembro de 1879 e sustentada na da Bahia a 13 de janeiro de 1880”. Tese (Doutoramento) –Bahia, 1880.
- “Dos centros corticaes psychogenicos”. Memoria apresentada á Academia Imperial de Medicina para obter o logar de membro titular. Annaes Brasilienses de Medicina, Rio de Janeiro, tomo XXXIII, n.3, p.334-353, jan.- fev.- mar. de 1882.
- “Elogio historico dos academicos falecidos durante o anno acadêmico de 1884-1885 (sessão anniversaria em 30 de junho de 1885)”. Rio de Janeiro: Laemmert, 1885.
- “Elogio historico dos academicos falecidos durante o anno acadêmico de 1885-1886 (Academia Imperial de Medicina)”. Rio de Janeiro: Laemmert, 1886.
- “Elogio historico dos academicos falecidos durante o anno acadêmico de 1886-1887, na sessão aniversaria da Academia Imperial de Medicina em 30-06-1887”. Rio de Janeiro: Typographia de Laemmert & C., 1887.
- “Prognostico das molestias do coração”. Trad. do livro de Leyden.
- “Formas curaveis das moléstias chronicas do coração: inclusive a syphilis cardíaca: prelecção do Dr. Gabriel Mayer”. Traduzida e annotada pelo Dr. Francisco de Castro. Rio de Janeiro: [s.n.], 1889.
- “Elementos de clinica propedeutica. Exame physico do apparelho da respiração”. O Brazil- Medico. Revista Semanal de Medicina e Cirurgia, Rio de Janeiro, anno VI, n.20, p.153-155, 1º de junho 1892.
- “Memoria historica da Faculdade de Medicina e Pharmacia do Rio de Janeiro relativa ao anno de 1891.” Rio de Janeiro: [s.n.], 1892.
- “Do prognostico das moléstias do coração pelo professor E. Layden: monographia traduzida e annotada”. Rio de Janeiro: [s.n.], 1892.
- “O invento Abel Parente no ponto de vista do direito criminal, da moral publica e da medicina clinica”. Rio de Janeiro: [s.n.], 1893.
- “Polemica pessoal – sobre a privação da faculdade procriadora da mulher”. Rio de Janeiro: Companhia Typographia do Brazil, 1894.
- “Tratado de clinica propedeutica”. Rio de Janeiro: Laemmert, 1896-1900.
- “Discurso pronunciado no acto da collação do grau de Doutor em medicina.” Rio de Janeiro: Companhia Typographia do Brazil, 1897.
- “Discurso pronunciado na collação de grau aos doutorandos em medicina em 3 de fevereiro de 1899”. Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1899.
- “Discursos do Professor Francisco de Castro”. Prefácio do Dr. Ruy Barbosa Rio de Janeiro: Typ. Besnard Fréres, 1902.
- “Lições de clínica propedêutica”. São Paulo: Typ. Espíndola, 1905.
- “O ensino das moléstias tropicais e a rotina”. Rio de Janeiro: Typ. Jornal do Commercio, 1906.
- “Carta de Francisco de Castro a Rui Barbosa, explicando-lhe o que já foi feito em termos de higiene sanitária no Rio de Janeiro”. [s.l.]: [s.n.], [s.d.].
Fontes
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Ficha técnica
Pesquisa – Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez, Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Redação – Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez, Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Revisão – Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
CASTRO, FRANCISCO DE. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 22 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)