FACULDADE DE MEDICINA DE BELO HORIZONTE

De Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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Denominações: Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (1911); Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais (1927); Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (1965)

Resumo: A Faculdade de Medicina de Belo Horizonte foi criada em março de 1911, por iniciativa de membros da Sociedade Médico-Cirúrgica de Minas Gerais, funcionando inicialmente no Palacete Thibau, na Avenida Afonso Pena, na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais. Em 1927, tornou-se uma das unidades da Universidade de Minas Gerais, mantida pelo governo estadual até 1949, quando foi federalizada. Em 1965, passou a denominar-se Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Histórico

Data dos tempos coloniais, mais precisamente do ano da Inconfidência Mineira (1789), a primeira tentativa de criação de um curso médico em Minas Gerais. Na proposta política daquele movimento já constava a criação de uma universidade em Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto. Com a derrota do movimento, este propósito não se concretizou (CORRÊA, 1997).

Durante o século XVIII, os que exerciam a “arte de curar” (cirurgiões, barbeiros e boticários) aprendiam seu ofício na prática, tendo como mestre um cirurgião já habilitado. Para garantirem o direito de exercer apenas a cirurgia prestavam exames diante das autoridades sanitárias competentes, quando obtinham a “carta de examinação”. Esse aprendizado para obter licença na colônia geralmente se dava nos hospitais da Santa Casa da Misericórdia ou nos hospitais militares, ou ainda nas residências dos mestres das principais cidades e vilas. Com relação ao Hospital Militar de Vila Rica, foram encontrados registros referentes ao final do século XVIII, contendo informações de que nas suas dependências eram ministradas aulas de anatomia e cirurgia pelo Cirurgião-mor Antônio José Vieira de Carvalho. Este, pela Carta Régia de 17 de junho de 1801, teria sido oficialmente provido na cadeira de “cirurgia, anatomia e arte obstétrica” (GALVÃO, 2014).

Já no Brasil Império, por ocasião da Assembléia Constituinte de 1823, foi apresentado o projeto de uma universidade na província de São Paulo, de autoria do Deputado pelo Rio Grande do Sul, José Feliciano Fernandes Pinheiro (Visconde de São Leopoldo). A este projeto foram propostas várias emendas por parte de outros deputados, destacando-se as apresentadas pelo Deputado por Minas Gerais, Lúcio Soares Teixeira de Gouvea, e a do Deputado pela Bahia, Francisco Gê Acayaba Montezuma (Visconde de Jequitinhonha). Teixeira de Gouvea propôs que se fosse criada uma única universidade, esta deveria ficar sediada na cidade mineira de Mariana; e Montezuma, por sua vez, justificou a implantação da universidade na província mineira por ser “a mais populosa e a mais polida do interior”, ocupando uma posição central no Império. Contudo, a Assembléia foi dissolvida pelo Imperador Pedro I e estas universidades não foram implantadas (LOBO, 1967).  

Em 28 de janeiro de 1829, o Conselho do Governo da Província de Minas Gerais aprovou a proposta do Conselheiro Bernardo Pereira de Vasconcelos, de que fossem contratados três lentes proprietários e um substituto para ensinarem, na cidade de Ouro Preto, as mesmas matérias que eram ministradas na Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro. Mais tarde, em janeiro de 1832, aquele Conselho apresentou um projeto de criação de uma academia médico-cirúrgica na vila de São João d’El-Rei, nos moldes da do Rio de Janeiro, mas que também não se concretizou. Naquela ocasião, os argumentos apresentados eram de que a província mineira se encontrava desprovida de “recursos médicos pela falta de hábeis professores ainda nos lugares mais notáveis dela, por não haver na mesma Província uma Academia, onde a mocidade estudiosa beba os princípios da ciência médica” (PIRES, 1927, p.8). Finalmente, a lei provincial nº 140 de 4 de abril de 1839, deu origem à primeira instituição de ensino na área médica na província mineira, a Escola de Farmácia de Ouro Preto

Com a proclamação da República em 1889, as discussões relativas à estruturação de uma escola livre de medicina em Minas Gerais voltaram à tona. A partir da Constituição de 1891, ficou estabelecido um sistema educacional descentralizado, cabendo ao Congresso Nacional e à União legislar sobre o ensino superior, secundário e primário do Distrito Federal. Em contrapartida, aos Estados seria permitido organizar os seus sistemas escolares completos. Nesse contexto, a partir do início do século XX, vários cursos de ensino médico de nível superior, principalmente de farmácia e de odontologia, começaram a surgir nas capitais ou mesmo nas cidades mais importantes dos principais Estados do país. 

Já em 1892, o então médico e Senador Francisco Silviano de Almeida Brandão ao defender o projeto de criação do bacharelado na Escola de Farmácia de Ouro Preto, aventou transformá-la em uma escola de medicina no futuro. No ano seguinte, tentou-se viabilizar essa idéia, quando o Senador Virgílio Martins de Mello Franco apresentou ao Senado o projeto nº 37, de instalação de uma faculdade de medicina e farmácia a ser criada na capital do Estado, Ouro Preto. Essa ficaria constituída por cinco cursos: Ciências Médicas e Cirúrgicas; Farmácia; Bacharelado em Ciências Naturais e Farmacêuticas; Obstetrícia e Odontologia (art. 2º). O curso médico seria dividido em seis séries e o de farmácia seria constituído pelo da Escola de Farmácia de Ouro Preto, que não sofreria modificações. O ensino das matérias do curso farmacêutico seria feito em comum com o do curso de ciências médicas e cirúrgicas (art. 6º) (Apud PIRES, 1927, p. 22-28). O projeto foi aprovado no Senado em 1894, porém, quando remetido à Comissão de Instrução Pública, no Congresso, foi arquivado. Isto, apesar de durante o ano de 1893, terem sido feitos pronunciamentos favoráveis pelo Presidente do Estado, Afonso Penna, e pelo então Secretário do Interior, Francisco Silviano de Almeida Brandão.

Naquela época, os únicos cursos médicos reconhecidos no país eram os ministrados pela Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro e pela Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia. Além dessas, em 1898, a Escola Livre de Farmácia e Química Industrial de Porto Alegre, criada no ano anterior, transformou-se em Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre. Em São Paulo, nesse mesmo ano, foi instalada a Escola Livre de Farmácia de São Paulo.

Em 1902, quando já havia sido transferida a capital do Estado, de Ouro Preto para Belo Horizonte, a Sociedade de Medicina, Cirurgia e Farmácia de Belo Horizonte formou uma comissão com fins de promover a implantação de uma escola livre de medicina. A comissão ficou constituída pelos seguintes membros da Sociedade: Senador José Pedro Drummond (presidente da Sociedade), Olyntho Deodato dos Reis Meirelles e Benjamin Moss (secretários da Sociedade), Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues, Salvador Pinto, Virgílio Bhering, Aurélio Egídio dos Santos Pires, Antônio do Prado Lopes Pereira, João Luiz Alves, Antônio Ribeiro da Silva Braga e Davi Campista. Entre estes, o farmacêutico Aurélio Egídio dos Santos Pires, diplomado pela Escola de Farmácia de Ouro Preto e diretor da Escola Normal da nova capital mineira, destacou-se nos debates que se travaram através da imprensa, a favor da criação da faculdade (PIRES, 1927). A comissão contou com o apoio do então Presidente do Estado, o médico Francisco Silviano de Almeida Brandão, que a partir de março de 1902 tornou-se vice do Presidente da República Manuel Ferraz de Campos Salles. Durante o mês de julho, foi convocada uma reunião na sessão da Câmara dos Deputados pelos membros daquela Sociedade, na qual foi solicitada ao Congresso a transferência da Escola de Farmácia de Ouro Preto para Belo Horizonte, para que fosse doada à projetada faculdade de medicina. Ainda em julho, os estudantes promoveram uma manifestação pública em Belo Horizonte em prol do estabelecimento da instituição de ensino médico no Estado, na qual foram proferidos discursos pelos farmacêuticos Aurélio Egídio dos Santos Pires e Antônio Ribeiro da Silva Braga, este professor da escola de Ouro Preto. No entanto, o falecimento do Presidente do Estado Francisco Silviano de Almeida Brandão, em setembro de 1902, e a extinção da Sociedade de Medicina, Cirurgia e Farmácia de Belo Horizonte desmobilizaram esse movimento em torno da criação de uma escola de medicina (PIRES, 1927; CORRÊA, 1997). 

A eleição do mineiro Afonso Penna para Presidente da República (1906) e a fundação da Escola Livre de Odontologia de Belo Horizonte (1907) deram novo incentivo ao projeto de criação de um curso médico em Minas Gerais. Neste mesmo ano, Aurélio Egídio dos Santos Pires publicou um artigo fazendo um apelo aos fundadores daquela Escola, no sentido de ampliar a idéia para uma escola livre de medicina e cirurgia. Contudo, Fernando de Carvalho Soares Brandão, um dos fundadores da Escola Livre de Odontologia, discordava de Pires, alegando que a recém-criada capital mineira não tinha os elementos indispensáveis para realização dos estudos médicos, além do que sua população ainda era pouco expressiva, não comportando grande número de doentes em seu hospital. 

Em julho de 1910, a Associação Médico-Cirúrgica de Minas Gerais, recriada neste mesmo ano a partir da antiga Sociedade de Medicina, Cirurgia e Farmácia de Belo Horizonte, e representada pelos médicos Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues e Cornélio Vaz de Mello, lançou o plano de uma faculdade de medicina para a cidade. O plano, de autoria de Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues, foi submetido à comissão constituída por Cornélio Vaz de Mello, Hugo Eiras Furquim Werneck e Zoroastro Rodrigues de Alvarenga, sendo aprovado em reunião plenária de 15 de fevereiro de 1911. A Associação Médico-Cirúrgica de Minas Gerais declarou, então, criada a Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, na data de 5 de março de 1911, quando governava o Estado Júlio Bueno Brandão.

Os médicos fundadores que assinaram a ata de sua criação e suas respectivas cátedras eram: Alfredo Balena (clínica médica); Cornélio Vaz de Mello (anatomia médico-cirúrgica, operações e aparelhos); Zoroastro Rodrigues de Alvarenga (higiene); Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues (medicina legal); Otávio Machado (clínica pediátrica médica e cirúrgica, ortopedia e higiene infantil); Eduardo Borges Ribeiro da Costa (clínica cirúrgica); Hugo Eiras Furquim Werneck (ginecologia e obstetrícia); Samuel Libânio (clínica médica, 2ª cadeira); Antônio Aleixo (clínica dermatológica e sifilográfica); Ezequiel Caetano Dias (microbiologia); Honorato Alves (oftalmologia e otorrinolaringologia); e Olyntho Deodato dos Reis Meirelles (farmacologia).

Inicialmente, a Escola foi instalada no palacete Thibau, na esquina da Avenida Afonso Penna com a Rua Espírito Santo. Em 30 de julho de 1911 foi lançada a pedra fundamental para a construção de sua sede própria, localizada num terreno do Parque Municipal, cedido pela Prefeitura, na Avenida Mantiqueira, depois Avenida Oswaldo Cruz. À solenidade compareceu como paraninfo o professor Miguel de Oliveira Couto, da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro

Em 26 de março de 1911, reuniram-se os fundadores e organizadores da Escola, constituindo a Direção Provisória da Faculdade, com Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues como presidente e Otávio Machado como secretário. A 3 de maio de 1911 deliberou-se pela aprovação dos seus estatutos, tomando como base o ensino teórico e prático das matérias que constituíam a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, incluindo os cursos de ciências médicas e cirúrgicas, de farmácia, de odontologia e de obstetrícia. Elegeu-se, então, a diretoria definitiva com Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues como diretor, Cornélio Vaz de Mello como vice-diretor e João Batista de Freitas como secretário-tesoureiro. No mês de junho foram empossados os 12 catedráticos fundadores e os diretores.

A aula inaugural intitulada “As Coordenadas Estáticas do Corpo Humano” foi proferida pelo professor interino de física médica Zoroastro Rodrigues de Alvarenga, no dia 8 de abril de 1912. Naquele ano foram matriculados 113 alunos, sendo 104 no curso médico, seis no de farmácia e três no de odontologia.

Em 10 de março de 1912 foi contratado o professor alemão Walter Haberfeld, para exercer a cátedra de histologia e anatomia patológica, cargo que ocupou até 1917; e Alfred Schaeffer para química prática. Haberfeld foi responsável pela primeira necropsia registrada na instituição. No ano seguinte, a Escola foi transferida para sua sede própria, na Avenida Mantiqueira.

De acordo com as exigências da Reforma Carlos Maximiliano, aprovada pelo decreto nº 11.530 de 18 de março de 1915, a Faculdade passou a ser inspecionada em 1917 por Guilherme Gonçalves. Diante do relatório apresentado pelo inspetor, em 20 de fevereiro de 1918, o Conselho Superior de Ensino votou a favor da equiparação da instituição aos institutos congêneres, ato aprovado pelo Governo Federal, através de portaria de 21 de março do mesmo ano. Nessa ocasião, a Associação Médico-Cirúrgica de Minas Gerais promoveu uma solenidade na Faculdade, na qual o diretor Cícero Ferreira foi homenageado. Aurélio Egídio dos Santos Pires ao proferir discurso, ressaltou a importância da instituição “não só como oficina e laboratório de ciência, como também auxiliar da ação dos poderes públicos na debelação das grandes endemias que estão depauperando as forças vivas do Estado, sob a forma de impaludismo, de ancilostomíase e da moléstia de Chagas” (PIRES, 1927, p.155).

Dois anos depois, seu corpo docente, com as respectivas cadeiras, ficou assim constituído: Alfredo Leal Pimenta Bueno – física médica; Francisco de Paula Magalhães Gomes – química médica; Henrique Marques Lisboa – história natural médica; David Corrêa Rabello – anatomia descritiva; Octaviano Ribeiro de Almeida – anatomia descritiva e médico-cirúrgica; Octávio Coelho de Magalhães – fisiologia; Roberto de Almeida Cunha (contratado) – histologia e anatomia patológica; Aurélio Egídio dos Santos Pires – farmacologia e arte de formular; Cornélio Vaz de Mello – anatomia médico-cirúrgica, operações e aparelhos; Ezequiel Caetano Dias – microbiologia; Eurico de Azevedo Vilela – clínica cirúrgica – 1ª cadeira; Alfredo Balena – clínica médica – 1ª cadeira; Marcello dos Santos Libânio – 2ª cadeira; Antônio Aleixo – clínica dermatológica e sifilográfica; Honorato Alves – clínica oftalmológica; Lineu Silva (substituto) – clínica oftalmológica; Olyntho Deodato dos Reis Meirelles – terapêutica; Cândido Firmino de Mello Leitão – clínica pediátrica; Renato B. Machado – clínica otorrinolaringológica; Zoroastro Rodrigues de Alvarenga – higiene; Hugo Eiras Furquim Werneck – clínica ginecológica; Carlos Alberto Pires de Sá – clínica obstétrica; Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues – medicina legal; Álvaro Ribeiro de Barros – clínica psiquiátrica.  Durante o ano letivo de 1920, ingressaram através de concurso para ocuparem os cargos de lentes substitutos Luiz Adelmo Lodi (anatomia descritiva); Aníbal Theotônio Baptista (química analítica); João de Mello Teixeira (clínica pediátrica médica); e Martinho da Rocha Filho para o cargo de livre-docente. Nos anos seguintes, ingressaram também como lentes substitutos Júlio de Godoy Tavares (terapêutica, farmacologia e arte de formular); Leontino Cunha (medicina legal e higiene); Carlos Pinheiro Chagas (anatomia patológica, histologia e citologia); Zoroastro Viana Passos (clínica cirúrgica – 2ª cadeira); e como lentes catedráticos Roberto de Almeida Cunha (microbiologia) em substituição a Ezequiel Caetano Dias, e José Baeta Vianna (química médica).

Diretores:
Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues (1911-1920); Eduardo Borges Ribeiro da Costa (1920-1926); Hugo Eiras Furquim Werneck (1926-1927); Alfredo Balena (1928-1933); Antônio Aleixo (1933-1934); Olyntho Deodato dos Reis Meirelles (1934-1935); Alfredo Balena (1935-1949); Luiz Adelmo Lodi (1950-1959).

Estrutura e funcionamento

 Em julho de 1918, o professor Eduardo Borges Ribeiro da Costa e os acadêmicos Renato Machado e Luiz Adelmo Lodi partiram para a França, como representantes da Faculdade junto à Missão Médica Brasileira na Primeira Guerra Mundial, com fins de prestarem serviços profissionais aos aliados. Ainda naquele ano, durante a epidemia de gripe espanhola que acometeu a capital mineira, a Escola prestou assistência a 420 doentes. No mesmo ano também se formaram os primeiros 33 médicos e três farmacêuticas. Quanto ao curso de odontologia, só se teve notícia de um formando no ano de 1916, o cirurgião-dentista João Segismundo de Souza e Silva.

Desde o ano de 1914, quando a Faculdade entrou em acordo com a Santa Casa da Misericórdia de Belo Horizonte, diversas clínicas passaram a funcionar em seus aposentos, estendendo-se essa utilização até a década de 1950. Em 1920, o Instituto de Assistência e Proteção à Infância de Belo Horizonte, da Sociedade São Vicente de Paulo, estabeleceu um acordo com a Faculdade de Medicina, recebendo desta uma verba para a conclusão do Hospital São Vicente de Paulo. Em troca, foram colocados à disposição da Escola duas enfermarias, dois consultórios, salas de cirurgia, sala de curativos e dois gabinetes para os chefes das cadeiras de clínica pediátrica médica e higiene infantil, e clínica pediátrica cirúrgica e ortopédica, respectivamente. Na época, aquelas cadeiras eram lecionadas pelos professores Cândido Firmino de Mello Leitão e David Corrêa Rabello. Ainda em 1920, no dia 4 de julho, foi inaugurado o Hospital São Geraldo, para sede das clínicas oftalmológica e otorrinolaringológica, cujos responsáveis eram os professores Lineu Silva e Renato Machado. 

Em 1922, foi fundado o Instituto do Radium, idealizado pelo professor Eduardo Borges Ribeiro da Costa, que foi o primeiro hospital oncológico do país. Em 1926, foi visitado por Marie Sklodowska Curie (1867-1934). No ano seguinte, o presidente da República convidou o professor Eduardo Borges Ribeiro da Costa para fazer parte da comissão representativa do Brasil na Conferência Internacional de Higiene, realizada em Estrasburgo (França), onde foram exibidos o projeto e a maquete do Instituto do Radium. Naquele mesmo ano, foi fundado o Instituto de Neuropsiquiatria de Belo Horizonte, pelo primeiro catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina, professor Álvaro Ribeiro de Barros. Em 1924, em homenagem ao Presidente do Estado, falecido naquele ano, sua denominação foi mudada para Instituto Raul Soares. Embora não pertencesse à Faculdade, a maioria de seus dirigentes e corpo clínico eram docentes da instituição.

Em 1924, o professor Octaviano Ribeiro de Almeida apresentou à Associação Médico-Cirúrgica de Minas Gerais uma proposta de oficialização da Faculdade, como forma de obter mais recursos para reformar seus laboratórios, refazer suas clínicas e suprir a falta da publicação de trabalhos científicos desenvolvidos pela instituição, entre outras carências. As rendas obtidas através de taxas escolares e subvenções dos governos federal e estadual, eram apontadas como insuficientes. Octaviano alegava que o fato de o Governo Federal ter solicitado à instituição, no ano anterior, sua participação no plano de reforma de ensino, justificava a oficialização. A Associação, acatando a proposta do professor, nomeou uma comissão para trabalhar a favor da oficialização, junto aos poderes competentes. Esta comissão era constituída por Miguel de Oliveira Couto (paraninfo da Faculdade), Carlos Ribeiro Justiniano Chagas (membro honorário da Associação), Samuel Libânio (Diretor de Higiene do Estado), Leontino Cunha e Carlos Pinheiro Chagas (lentes da Faculdade) e Cassemiro Laborne Tavares (1º Secretário da Associação Médico-Cirúrgica). Na abertura do ano letivo de 1927, já tendo sido instituída a reforma de ensino Rocha Vaz, pelo decreto nº 16.782-A de 13 de janeiro de 1925, o professor João de Mello Teixeira voltou a fazer referência à falta de recursos da Faculdade: 

“Coisa inexistente, quase tem sido para as preocupações governamentais, o ensino superior em Minas. O que há, surgiu da iniciativa particular e se vem mantendo a custo de sacrifícios inapreciáveis dos seus fundadores, tão parcos, tão incertos têm sido os auxílios oficiais (...) Minas precisa cuidar de frente do ensino superior. A Universidade mineira não é idéia de hoje. Há já um século que foi proposto criar-se a primeira universidade brasileira. Porque não realizar esse propósito secular, revivido em autorização parlamentar na benemérita administração estadual passada” (PIRES, 1927, p.213-217) 

Nesse período, desde sua criação até o ano de 1927, do total de 3.061 alunos matriculados na instituição, foram diplomados apenas 170 médicos e 93 farmacêuticos. Em 7 de setembro de 1927, em virtude da lei nº 956, sancionada pelo Presidente do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, foi criada a Universidade de Minas Gerais, que ficou constituída pelos quatro institutos de ensino superior: Faculdade de Medicina, Escola de Odontologia e Farmácia, Escola de Engenharia e Faculdade de Direito, todos com sede em Belo Horizonte, gozando de autonomia didática e administrativa. A sua manutenção passaria a contar com o auxílio do governo estadual (arts.1º e 2º).

Em 1928, a Santa Casa da Misericórdia de Belo Horizonte aprovou a criação de uma enfermaria para crianças, instalada em 1936, sob a chefia do professor Navantino Alves e freqüentada pelos clínicos com maior interesse na pediatria, formando os primeiros pediatras de Belo Horizonte.
Em 1933, a Universidade tendo perdido sua autonomia didática e econômica, passou por uma reorganização de acordo com a lei federal, instituída pelo decreto nº 19.851 de 11 de abril de 1931, assinado pelo Chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, e referendado pelo ministro de Educação e Saúde Francisco Campos. Seus estatutos originalmente elaborados em Belo Horizonte e assinados pelo antigo reitor, Lúcio dos Santos, foram então adaptados à legislação federal pelo Ministério da Educação, cujo titular da pasta era Washington Pires. Formou-se uma comissão para este fim constituída por Octaviano Ribeiro de Almeida, reitor e representante da Universidade de Minas Gerais, Antônio Vilas Boas, procurador-geral do Estado de Minas Gerais e representante do governo mineiro, e Carneiro Felipe, assistente técnico de ensino e representante do Ministério da Educação. 

De acordo com esses estatutos, publicados no Diário Oficial da União (19/09/1933), a Universidade ficava constituída pela Faculdade de Direito, pela Escola de Engenharia, pela Faculdade de Medicina e pela Faculdade de Odontologia e Farmácia, todas com sede em Belo Horizonte. Pela lei nº 971 de 16 de dezembro de 1949, a Universidade de Minas Gerais foi transformada em estabelecimento federal incluindo as unidades mencionadas acima, além da Escola de Arquitetura, Faculdade de Ciências Econômicas e Faculdade de Filosofia. No mesmo ano, foi emitida a lei nº 976 de 17 de dezembro, que estabelecia a federalização da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, ficando esta subordinada ao Ministério da Educação e Saúde, Diretoria do Ensino Superior (art. 2º), criando no quadro permanente do referido Ministério 34 cargos de professores catedráticos para o curso médico da Faculdade (art. 5º).

A partir de 1965, pela lei federal nº 4.760 de 23 de agosto, todas as universidades vinculadas ao Ministério da Educação e Cultura foram designadas federais, recebendo a denominação do respectivo Estado. Dessa forma, a instituição recebeu o nome de Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Publicações oficiais

Entre setembro de 1920 e outubro de 1923 foi publicada a revista acadêmica Radium, que trazia artigos de autoria dos alunos ou professores, tratando de ensaios médicos, observações clínicas, biografias de professores que se destacaram, relatórios, mensagens do Poder Executivo, música, artes plásticas e literatura. Teve como diretores Tolentino Miraglia e Lucídio de Avelar, e como redatores Clemente Medrado Fernandes, Renato Franco, Alderico Andrade, Mário Mendes Campos, Armando Pereira, Aggeo Pio Sobrinho, Antônio Alves Passig, Moacir Linhares, Hermínio Ferreira Pinto, Vicente Soares e Massilon Machado. Segundo Pedro Nava (1985, p. 153), esta foi “a melhor revista acadêmica que até então se tinha publicado no Brasil”. Em agosto de 1926, saiu o primeiro e único número de nova revista acadêmica intitulada Medicina, tendo como organizadores Pedro Nava e Raphael de Paula Souza. A partir de 1929, começou a circular o periódico Anais da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais.    

Fontes

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- BRASIL. Decreto nº 19.851, de 11 de abril de 1931. In: SENADO FEDERAL. Portal Legislação.  Capturado em 10 jul. 2020. Online. Disponível na Internet:
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- NAVA, Pedro. Beira-mar: memórias IV. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. (BCCBB)
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- SANTOS FILHO, Lycurgo de Castro. História Geral da Medicina Brasileira. São Paulo: Hucitec/ Edusp, 1991, v.2.                                     (BCCBB)

Ficha técnica

Pesquisa - Alex Varela, Verônica Pimenta Velloso
Redação - Alex Varela, Verônica Pimenta Velloso
Revisão - Francisco José Chagas Madureira.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.

Forma de citação

FACULDADE DE MEDICINA DE BELO HORIZONTE. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 22 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario


Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)