CARVALHO, MANOEL LUIZ ALVARES DE
Resumo: Manoel Luiz Alvares de Carvalho nasceu na província da Bahia, em 1751, e faleceu no Rio de Janeiro, antes do ano de 1825, segundo Sacramento Blake. Foi cirurgião-mor honorário do Reino, e Diretor dos Estudos de Medicina e Cirurgia da Corte e Estado do Brasil (1812), professor da Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro, e foi considerado o fundador da Academia Médico-Cirúrgica da Bahia.
Dados pessoais
Manoel Luiz Alvares de Carvalho nasceu na província da Bahia, em 1751, e era filho de Luís José Chaves (RIBEIRO, 1971).
Foi membro do Conselho de D. João VI.
Faleceu no Rio de Janeiro, em data não identificada, mas provavelmente antes do ano de 1825 (BLAKE, 1893).
Trajetória profissional
Manoel Luiz Alvares de Carvalho formou-se em medicina, na Universidade de Coimbra, em 13 de julho de 1782. Em 17 de março de 1794 foi eleito sócio efetivo da Academia Real de Sciencias de Lisboa, e em tornou-se sócio veterano (LIMA, 2009).
Retornou ao Brasil, em 1808, acompanhando a Família Real.
Era médico honorário da Real Câmara, e em 1812 foi nomeado cirurgião-mor honorário do Reino, e Diretor dos Estudos de Medicina e Cirurgia da Corte e Estado do Brasil, com honras de físico-mor do Reino.
Era um dos subscritores do periódico O Patriota. Jornal Litterario, politico, mercantil, & c. do Rio de Janeiro, que foi fundado em janeiro de 1813, no Rio de Janeiro, por Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1777 - 1838), e que se propunha a resgatar conhecimentos, que se encontravam esquecidos, à espera de que algo, ou alguém, os reunisse e os divulgasse.
Foi autor do “Plano dos Estudos de Cirurgia”, aprovado pelo decreto de 1º/04/1813:
“Tendo por Aviso de desoito de Março passado pôr em execução no Hospital da Santa casa da Misericordia desta Corte o Curso de Cirurgia, que faz parte do de Medicina, que Me proponho estabelecer neste Estado do Brasil: Hei por bem aprovar, para que lhe sirva de Estatutos, em quanto não Dou mais amplas providencias, o Plano de Estudos de Cirurgia, que offereceo Manoel Luiz Alvares de Carvalho, Medico Honorario da Minha Real Camara, e Director dos Estudos de Medicina, e Cirurgia nesta Corte, e Estado do Brasil, e que com este baixa assignado pelo Conde de Aguiar, do Meu Conselho de Estado, Ministro Assistente ao Despacho do Gabinete, e Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Brasil, que assim o tenha entendido, e o faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em o primeiro de Abril de mil oitocentos e treze. Com a Rubrica do PRINCIPE REGENTE N. S.
Plano dos Estudos de Cirurgia (...............................................................................)” (THE CÓDIGO, 2020)
O plano de estudos aprovado por este decreto deu origem a uma reforma que organizaria, segundo Mello Moraes as “três escolas, sendo as já existentes da Bahia, Rio de Janeiro, bem outra em S. Luiz do Maranhão, onde se deveria ensinar anatomia geral e descriptiva, physiologia, pathologia interna, externa, e geral, therapeutica, operações, aparelhos, sciencia dos partos, matéria medica, pharmacia, e cursos de clinica interna e externa” (MORAES, 1863, p.427).
Este Plano ficou conhecido como reforma do “Bom Será”, uma referência à expressão “Bom será que entendam as línguas francesa e inglesa...”, presente em seu texto. A proposta de Manoel Luiz Alvares de Carvalho apresentava exigências não muito severas para o ingresso no curso, devendo o candidato saber apenas ler e escrever, e compreender as línguas francesa e inglesa. O curso deveria ser de cinco anos, compreendendo no 1º ano as disciplinas de anatomia em geral, química, farmacêutica e noções de matéria médica e cirúrgica sem aplicações; no 2º ano anatomia (repetição) e fisiologia; no 3º higiene, etiologia, patologia e terapêutica; no 4º instruções cirúrgicas, operações e arte obstetrícia; e no 5º prática de medicina, assistência as lições do quarto e obstetrícia. Concluídos os exames do quarto ano, os alunos receberiam a Carta de aprovados em Cirurgia, e aqueles que, após completarem os anos exigidos, freqüentassem novamente o quarto e quinto anos e prestassem os exames receberiam a graduação de formados em Cirurgia. Estes cirurgiões formados poderiam curar todas as enfermidades nos locais onde inexistissem médicos, e seriam membros do Colégio Cirúrgico e Opositores das escolas médicas.
A congregação dos lentes da então Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro, reunida em 13 de dezembro de 1816, decidiu pela distinção dos títulos de “creador” e “fundador” daquela escola a Manoel Luiz Alvares de Carvalho, “cuja memoria será sempre venerada por todos os lentes e alunos deste collegio” (SANTOS, 1855, p.28).
Em 1817 Manoel Luiz Alvares de Carvalho, então Diretor dos Estudos de Medicina e Cirurgia da Corte e Estado do Brasil, teria doado livros à Academia Médico-Cirúrgica da Bahia para que fossem ofertados como prêmios para os alunos que se destacassem na instituição (SANTOS, 1855). Foram premiados Francisco de Paula de Araújo e Almeida, Fortunato Candido da Costa Dormund, Francisco Marcellino Gesteira, Jonathas Abbott, e Manuel Antonio Pires.
Manoel Luiz Alvares de Carvalho foi professor substituto de cirurgia e obstetrícia (nomeação em 18/02/1817) e diretor (1813-1820) da Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro.
Em 1820 foram aprovados os estatutos elaborados por José Maria Bomtempo, diretor interino e professor da Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro, que complementavam o Plano proposto por Manoel Luiz Álvares de Carvalho.
Na obra “Corographia historica, chronographica, genealogica, nobiliaria e politica do Imperio do Brasil. Tomo I. Segunda parte”, de Alexandre José de Mello Moraes, publicada em 1863, ao referir-se a Manoel Luiz Alvares de Carvalho, comentou que este era:
“Firme em seu caracter, sabia respeitar a sua dignidade de homem, e excellencia de medico; e para comprovar o caracter nobre dp cpnselheiro Manoel Luiz, disse-se que em uma occasião em que se achava no paço real, estando dentro de um carrinho a brincar o infante D. Sebastião, a dama de honor, que o divertia, lhe offerecêra os cordões do carro para ele puxar, como manifestação de honra que lhe queria dar; porém o Dr. Manoel Luiz, em presença de vários fidalgos, e cortezãos, compondo-se, disse a dama de honor: Dê V. Ex. a honra de puxar o carro do infante á quem quiser, porque eu não sou besta de sege. Os cortesãos estremecerão, porém ele não se perturbou. Em outra ocasião estando o príncipe regente com dôres de dentes, chamou ao Dr. Manoel Luiz para lhe examinar a boca, e o fazendo, disse: V. Magestade limpe a boca, porque as dôres que sofre são causadas pela falta de aceio. Com a fidalguia fazia-se respeitar, porque olhava para a filaucia dela como partilha da matéria que nada significa”. (MORAES, 1863, p.427)
Interessante registrar que este episódio, sobre o carro do infante, foi posteriormente incorporado por Humberto de Campos, em 1927, em sua obra “Brasil anedótico: frases históricas que resumem a crônica do Brasil-Colonia, do Brasil-Império e do Brasil-República”, no capítulo CCLXXVII sob o título de “Besta de sege”:
“O conselheiro Dr. Manuel Luiz Álvares de Carvalho, que redigiu os primeiros estatutos do curso médico-cirúrgico do Rio de Janeiro, era um caráter altivo e, apesar do tempo em que vivia, um espírito independente. Saía o Dr. Manuel Luiz, certa vez, do Paço, onde fora como profissional, quando encontrou em um dos corredores uma das damas de honor puxando o carro do príncipe D. Sebastião. Sendo isso, então, uma honraria, achou a dama que o médico se sentiria desvanecido com a distinção e ofereceu-lhe um dos cordões do carro para puxar. – Dê V. Excia. A honra de puxar o carro do Infante a quem quiser, - respondeu, azedo, o velho cirurgião. E indignado com as baixezas da época: - Eu não sou besta de sege!” (CAMPOS, 1927).
Na “Memoria histórica da Faculdade de Medicina da Bahia relativa ao anno de 1854”, elaborada pelo Dr. Malaquias Alvares dos Santos, assim foi referida a trajetória de Manoel Luiz Alvares de Carvalho:
“Motor desta primeira reforma do Statutos médicos na Bahia foi um bahiano distincto, o Conselheiro Dr. Manoel Luiz Alvares de Carvalho, medico de D. João 6º, Physico-mór Honorário, e Director geral dos stutos medico-cirurgicos de todo o Reino unido de quem existe memoria muito honrosa na Bibliotheca publica desta cidade da bahia, quer pela dadiva de muitos livros de lettras e de sciencias, e de linguas diversas, quer ainda por dous manuscriptos, que ainda alli se acham, e que tem por títulos Bibliotheca scolhida e rasoada da materia medica, ou Repertorio dogmatico dos melhores remedios, que a experiencia clinica tem confirmado; e Summa da excelente obra medida, intitulada Medicinae Praxeos systema.” (SANTOS, 1855, p.5)
Produção intelectual
- “Plano dos estudos de cirurgia. Offerecido por Manoel Luiz Alvares de Carvalho, Medico Honorario da Real Camara, & C.; junto com o mesmo Plano que sirva de Estatutos ao Curso de Cirurgia no Hospital da Santa Caza da Mizericordia desta Corte - Plano dos estudos de cirurgia”. Rio de Janeiro: Imp. Regia, 1813.
- “Biblioteca escolhida e razoada da materia medica ou Repertorio dogmatico dos melhores remedios, que a experiencia clinica tem confirmado”. [s.l.[: [s.n.], [s.d.].
- “Summa da excellente obra medica intitulada Medicinae Praxeos systema”. [s.l.[: [s.n.], [s.d.].
Fontes
- BRITTO, Antonio Carlos Nogueira.História da Medicina. Memória Histórica do Colégio Médico-Cirúrgico da Cidade da Bahia concernente ao ano de 1817. Capturado em 14 abr.2020. Online. Disponível na Internet: http://www.medicina.ufba.br/historia_med/hist_med_art34.htm
- CAMPOS, Humberto de. O Brasil Anedótico. 1927. In: WIKISOURCE. O Brasil Anedótico / CCLXXVII. Capturado em 10 jul. 2020. Online. Disponível na Internet:
https://pt.wikisource.org/wiki/O_Brasil_Aned%C3%B3tico/CCLXXVII
- LIMA, Péricles Pedrosa. Homens de ciencia a servigo da coroa: os intelectuais do Brasil na Academia Real de Ciencias de Lisboa: 1779/1822. Dissertação (Mestrado em História dos Descobrimentos e da Expansão), Universidade de Lisboa, Lisboa, 2009. In: UNIVERSIDADE DE LISBOA. Sistema Integrado de Bibliotecas. Repositorio. Capturado em 10 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/514
- LOBO, Francisco Bruno. O Ensino da medicina no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [s.n.], 1964. (ANM)
- MANOEL Luiz Álvares de Carvalho. ARQUIVO NACIONAL. MAPA. Memória da Administração Pública Brasileira. Capturado em 10 jul. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://mapa.an.gov.br/index.php/publicacoes/70-assuntos/producao/publicacoes-2/biografias/439-manoel-luiz-alvares-de-carvalho
- MANUEL Luiz Alvares de Carvalho. In: BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Sexto volume. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1900. p.149. In: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Acervo Digital. Capturado em 10 jun. 2020. Online. Disponível na Internet: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5451
- MORAES, Dr. Mello (A. J. de). Corographia historica, chronographica, genealogica, nobiliaria e politica do Imperio do Brasil. Tomo I. Segunda parte. Rio de Janeiro: Typographia Brasileira, Edictor J. J. do Patrocinio, 1863. In: SENADO FEDERAL. Institucional. Biblioteca Digital. Disponível na Internet: https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/179475
- RIBEIRO, Lourival. Medicina no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: [Editorial Sul Americana], 1971. (BCOC)
- SANTOS, Malaquias Alvares dos. Memoria Historica da Faculdade de Medicina da bahia relativa ao anno de 1854 pelo Dr. Malaquias Alvares dos Santos. (apresentada em 1855). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905. In: UFBA. Repositório Institucional Capturado em 10 jul. 2020. Online. Disponível na Internet: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/27277
- SANTOS FILHO, Lycurgo de Castro. História Geral da Medicina Brasileira. São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1991. v. 2. (BCCBB)
- THE CÓDIGO Brasiliense at the John Carter Brown Library and other similar documents. Capturado em 10 jul. 2020. Online. Disponível na Internet:
https://www.brown.edu/Facilities/John_Carter_Brown_Library/exhibitions/CB/1813_docs/L06_p01.html
Ficha técnica
Pesquisa - Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Redação - Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Revisão – Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
CARVALHO, MANOEL LUIZ ALVARES DE. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 16 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)