INSTITUTO HOMEOPÁTICO DO BRASIL
Denominações: Instituto Homeopático do Brasil
Resumo: O Instituto Homeopático do Brasil foi criado no dia 10 de dezembro de 1843 no município da Corte, pelo médico homeopata francês Benoit Jules Mure com fins de propagar a homeopatia em favor das classes pobres, ficando sediado na rua São José, n.59, na cidade do Rio de Janeiro. De acordo com seus estatutos, tinha por fim propagar a homeopatia por meio de ensino, publicações, experiências e prática desta ciência; e pela preparação dos remédios homeopáticos, os mais puros e homogêneos que fosse possível obter, seguindo os princípios de Christian Friedrich Samuel Hahnemann. Em 1845, o Instituto criou a Escola Homeopática do Brasil.
Histórico
O Instituto Homeopático foi criado no dia 10 de dezembro de 1843 pelo médico francês Benoit Jules Mure, considerado um dos introdutores da homeopatia no Brasil, e por Vicente José Lisboa. Com fins de propagar a homeopatia em favor das classes pobres, nesse mesmo dia foi aberto o primeiro consultório homeopático da cidade do Rio de Janeiro, situado na rua São José, nº 59.
A solenidade de inauguração juntamente com a aprovação da ata de fundação, ocorreu em março do ano seguinte, na residência do próprio Mure, na rua do Conde, atual Visconde do Rio Branco, nº 2, estando presentes algumas pessoas que conseguiram a cura de suas doenças depois de submetidas ao tratamento homeopático, além de médicos e farmacêuticos.
Segundo seus estatutos apresentados naquela ocasião (Apud GALHARDO, 1928, p.305-307), o Instituto tinha por fim “propagar a homeopatia por meio de ensino, publicações, experiências e prática desta ciência; e pela preparação dos remédios homeopáticos, os mais puros e homogêneos que seja possível obter” (art.1º). A entidade era constituída por médicos, cirurgiões e outras pessoas que se mostrassem interessadas em contribuir “com seus serviços, meios pecuniários e valimento, na conformidade dos regulamentos e por espontaneidade” (art.2º).
Os estatutos estabeleciam ainda que a sociedade se dividia em duas seções: central e filiais (art.3º). A primeira era sediada na capital do Império e compunha-se de um número ilimitado de sócios que elegiam um conselho de oito membros e quatro suplentes. Mais tarde, este conselho elegia, dentre os sócios da instituição, uma diretoria de três médicos ou cirurgiões e um representante de cada filial, à medida que estas fossem implantadas pelo país. As exigências para a constituição de uma filial eram as de se localizar fora da Corte, ter de 20 a 50 sócios, que também escolhiam uma diretoria de três médicos ou cirurgiões ou pessoas hábeis a exercer a homeopatia, além de sustentar pelo menos um consultório gratuito.
O Instituto realizava duas reuniões gerais por ano nas casas da seção central, sendo uma no dia 2 de julho, com intuito de homenagear Samuel Christian Friedrich Hahnemann (1755-1843) - autor da obra “Organon da arte de curar” (Dresden, 1810), expressão do princípio da homeopatia. Além disso, visava-se o registro dos progressos dessa ciência. A outra reunião, realizada todo dia 10 de janeiro tinha por fim deliberar sobre os negócios da associação e renovar o conselho.
Benoit Jules Mure (1809-1858) foi considerado um dos introdutores e grande incentivador da homeopatia no Brasil. Médico formado pela Faculdade de Montpellier, praticou a homeopatia pela Europa e veio para o Brasil em 1840. No ano seguinte tentou implantar um projeto de colonização de orientação socialista francesa, no Saí (Santa Catarina), onde chegou a organizar a Escola Suplementar de Medicina e Instituto Homeopático de Saí (1842). Fracassado seu projeto, em 1843 transferiu-se para o Rio de Janeiro, fundando aí o Instituto Homeopático do Brasil, do qual foi presidente até 1848, quando regressou à Europa.
Mure e seus seguidores eram defensores da teoria do médico alemão Samuel Christian Friedrich Hahnemann (1755-1843), cuja obra “Organon da arte de curar” (Dresden, 1810) deu origem ao princípio da homeopatia. Esta obra propunha um método terapêutico baseado na “lei dos similares”, nos quais “semelhantes curam-se pelos semelhantes”, opondo-se aos princípios da medicina hipocrática. Segundo o princípio homeopático, os medicamentos a serem empregados deveriam ser capazes de provocar no indivíduo são a sintomatologia apresentada pelo indivíduo doente.
Inicialmente, a sociedade contou com 72 sócios fundadores, incluindo entre eles membros da Academia Imperial de Medicina como José Pereira Rego (Barão de Lavradio), e José Maria de Noronha Feital. No entanto, como representantes dessa última associação, esses dois mais tarde foram um dos que combateram com veemência a doutrina homeopata. Mesmo antes de surgirem as primeiras instituições de homeopatia no Brasil, já se tinha notícia desde 1818 da publicação de artigos de Antônio Ferreira França, professor da então Academia Médico-Cirúrgica da Bahia, contra a terapêutica homeopática. Quanto a homeopatas estrangeiros que se estabeleceram no Brasil, antes da chegada de Benoit Jules Mure, são conhecidos Frederico Emilio Jahn, que, em 1836, apresentou à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro tese intitulada “Exposição da doutrina homeopática”; Thomaz Cochrane, médico escocês formado pela Universidade de Londres, que chegou ao Rio de Janeiro em 1829; e o francês Emílio Germon, autor do Manual Homeopático, editado em 1843.
O Instituto, através de João Vicente Martins, exerceu influência fundamental junto a membros da Igreja Católica para a fundação, no Brasil, da Irmandade de São Vicente de Paulo, uma das primeiras congregações de caridade instituídas na França. Em 1848, a instituição pedia auxílio à população pelos jornais, com o objetivo de darem o “exemplo vivo da caridade cristã” pelo socorro aos doentes pobres, órfãos ou velhos abandonados. Em julho de 1849, foi instalada a primeira Irmandade de São Vicente no Brasil, mandando vir da França irmãs de caridade.
Entre novembro de 1848 e março de 1849, João Vicente Martins escreveu artigos nos jornais alertando a população para o perigo de uma epidemia de cólera, quando chegou a oferecer medicamentos homeopáticos ao Imperador Pedro II, para tratamento da doença na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
Além disso, o seu primeiro secretário João Vicente Martins dirigiu-se à Câmara dos Deputados em fevereiro de 1850, oferecendo medicamentos homeopáticos para tratamento da febre e propondo que fossem criados hospitais onde estes pudessem ser ministrados, deixando a cargo do doente a escolha pelo tratamento alopático ou homeopático. No mês seguinte, não tendo obtido resposta, encaminhou novo oferecimento, sendo então ameaçado de deportação por sua insistência e crítica ao tratamento utilizado pela medicina alopática.
Diretorias:
A primeira diretoria do Instituto Homeopático do Brasil ficou constituída por Benoit Jules Mure, também conhecido como Bento Mure (presidente); Vicente José Lisboa (1º secretário) e Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada (2º secretário).
Em 10 de janeiro de 1846, foram eleitos membros da diretoria do Instituto: Pedro de Araújo Lima (Marquês de Olinda), Bernardo José da Gama (Visconde de Goiana), o Conselheiro Candido José de Araújo Vianna, Manoel Duarte Moreira, e para secretários João Vicente Martins e Francisco Alves de Moura, mantendo-se Benoit Jules Mure na presidência da instituição.
Devido à decisão de Benoit Jules Mure de não voltar mais ao Brasil, em reunião de 26 de outubro de 1851 o Instituto Homeopático do Brasil manteve seu título de “presidente perpétuo fundador” e elegeu Alexandre José de Mello Moraes, escritor, jornalista e médico homeopata da Bahia, presidente perpétuo efetivo.
Estrutura e funcionamento
Na reunião anual do Instituto, em julho de 1844, João Vicente Martins, um de seus membros, apresentou o plano de uma Academia de Medicina Homeopática e Cirurgia. Redigidos seus estatutos e aprovados em 12 de janeiro de 1845, foi instalada então com a denominação de Escola Homeopática do Brasil na rua São José, nº 59, sob a direção de Benoit Jules Mure.
Em seus primeiros anos de existência, o Instituto difundia a homeopatia através da instalação de outros consultórios pela Corte e interior das províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, tendo à frente dessa iniciativa Benoit Jules Mure e João Vicente Martins. Além dos consultórios, fundaram também uma farmácia homeopática denominada Botica Homeopática Central, localizada no mesmo endereço do consultório central (rua São José, 59), considerada a primeira instalada no Brasil, e a Casa de Saúde Homeopática na chácara do Marechal Sampaio (Largo do Castelo, 17), fundada em fevereiro de 1846 por Bento Mure.
No início, a polêmica entre homeopatia e alopatia manifestava-se através de artigos publicados no Jornal do Commercio, compostos tanto por depoimentos de doentes considerados incuráveis pela alopatia, e que haviam sido curados pela homeopatia, quanto por escritos de médicos alopatas e homeopatas, cada um defendendo seu ponto de vista. Os alopatas acusavam a homeopatia de uma “alta mistificação”, ou mesmo consideravam-na “além de absurda e ridícula, (...) imoral”. A Academia Imperial de Medicina, em julho de 1845, através do médico francês José Francisco Xavier Sigaud, colocou-se no papel de esclarecer a população que se iludia com a divulgação da homeopatia pelos jornais, alertando para os casos de moléstias agudas e graves que submetidas ao tratamento homeopático resultaram na morte do paciente. Em resposta, Mure chamava a atenção para a recusa dos alopatas em participar de experiências clínicas em conjunto com a homeopatia num hospital da Corte.
Em 1847, surgiu uma dissidência entre os homeopatas que admitiam certos princípios e práticas da alopatia, e que por isso julgavam primordiais os diplomas de médico ou de farmacêutico conferidos pelas instituições de ensino oficiais alopatas, para o exercício da medicina e farmácia homeopáticas. Denominados “evolucionistas”, opunham-se aos chamados “puristas”, reunidos em torno de Benoit Jules Mure e do Instituto, que defendiam a liberdade de profissão, entendendo que a homeopatia podia ser praticada por quem desejasse, após receber noções na Escola Homeopática do Brasil (1845), ou por meio de livros para os que residissem fora da capital do Império. Estes consideravam que a alopatia, diversa da homeopatia, não podia habilitar ninguém a exercer a doutrina de Hahnemann.
Em outubro de 1847, Domingos de Azevedo Coutinho Duque-Estrada, representante da corrente “evolucionista”, juntou-se a Antonio Ildefonso Gomes, Vicente José Lisboa, Thomaz Cochrane e Maximiano Marques de Carvalho, entre outros, separaram-se do Instituto Homeopático do Brasil e de sua Escola, e fundaram na capital do Império a Academia Médico-Homeopática do Brasil.Criou-se daí por diante uma polêmica constante pela imprensa entre os membros do Instituto, partidários de Mure, e os da Academia, ligados a Duque-Estrada.
No dia 7 de outubro de 1847, a diretoria do Instituto apoiou e apresentou novos estatutos, por ela redigidos, para a Sociedade Hahnemanniana, entidade científica criada em 29 de junho de 1846. No mês seguinte à sua criação, fez circular a revista O Hahnemannista, um novo órgão em defesa da doutrina homeopática.
Segundo os novos estatutos, a Sociedade tinha por fim “o exame e o aperfeiçoamento teórico e prático da homeopatia”, e era constituída por todos os alunos e professores aprovados pela Escola Homeopática do Brasil, além de membros do Instituto que tivessem contribuído para a propagação e desenvolvimento da ciência. Suas sessões eram realizadas nas salas da própria Escola.
Na reunião do Instituto, no dia 9 de março de 1847, foi apresentada uma proposta de reforma dos seus estatutos, por Luís Antônio Vieira, sugerindo que o seu conselho e diretoria passassem a ser perpétuos; aumento do número de conselheiros até 30; e criação dos cargos de vice-presidente e de terceiro secretário, que exerceria a função de arquivista e substituiria os outros, quando necessário. Nesta ocasião, foram eleitos para vice-presidente Manoel Duarte Moreira e para terceiro secretário Francisco Manoel Soares de Souza.
Foram eleitos para presidente José Bernardino Pereira de Figueiredo, para primeiro secretário Antônio Antunes Guimarães Filho, para segundo secretário Patrício Adriano Pereira Mendes e para tesoureiro Carlos Chidloé.
Também em outubro de 1847, o primeiro secretário João Vicente Martins fundou a Sociedade Homeopática Baiana, como filial do Instituto, sediada no primeiro consultório homeopático gratuito, instalado em Salvador desde maio do mesmo ano, na rua da Gameleira, nº 10. Segundo a ata de instalação da Sociedade, seus membros seriam integrados ao Instituto como sócios efetivos; o presidente e secretários seriam escolhidos e nomeados pela diretoria da seção central. João Vicente Martins, então primeiro secretário do Instituto, nomeou Antônio Pereira de Mesquita, homeopata da cidade, para presidente e autonomeou-se secretário enquanto estivesse residindo em Salvador.
A partir de abril de 1848, com a partida de Benoit Jules Mure para a Europa, a presidência do Instituto ficou a cargo do vice-presidente Manoel Duarte Moreira, que acumulou esta função com a de diretor da Escola.
No dia 11 de março de 1849, Carlos Chidloé, professor formado pela Escola Homeopática do Brasil, e o homeopata baiano Sabino Olegário Ludgero Pinho instalaram em São Luís (Maranhão) a Sociedade Homeopática Maranhense, como mais uma filial do Instituto. Tendo Chidloé conseguido uma das salas da Santa Casa da Misericórdia local para funcionamento de um consultório gratuito para os pobres, a Sociedade foi fundada dentro das mesmas bases que a Sociedade Baiana. Foram nomeados para presidente José Maria Barreto, vice-presidente Antonio do Rego, primeiro secretário Carlos Chidloé, e segundo secretário e orador, João da Cruz Santos.
Publicações oficiais
O Almanak Laemmert de 1850 anunciou as obras sobre homeopatia que eram vendidas na Botica Central Homeopática, pertencente ao Instituto:
- “Propaganda Homeophática na Bahia”, por João Vicente Martins;“Prática Elementar da Homeophatia”, por Dr. Mure e J. V. Martins, (obra indispensável a todo pai de família ou chefe de qualquer estabelecimento para muitos enfermos sem carecer de médico), 3ªed., 1848; “Organon de Hahnemann”, com a pathogenesia dos medicamentos homeopháticos mais usados: obra complementar da antecedente; “Conselho de Salubridade”, por J. V. Martins ou a “Refutação dos principais argumentos que os médicos tem podido produzir contra as doutrinas homeopháticas”; “Gabriella envenenada ou a Providência: romance contemporâneo” por J. V. Martins; “Condenação da Camara Municipal da Bahia nas vistas do processo intentado por ella contra os homeophatas, obra comprobatória de quanto é legal o exercício dahomeophatia por discípulos da Escola Homeophática do Rio de Janeiro, fundada pelo dr. Mure”; “Memória acerca da cholera morbus, e seu tratamento hoemophático”, por J. V. Martins; “Propaganda homeophática em Pernambuco” pelo dr. Sabino Olegário Ludgero Pinho; “Doctrine de l’École de Rio de Janeiro et pathogénésie brèsilienne”, por dr. Mure, A. Paris, 1849.
Fontes
- Almanak Laemmert, Rio de Janeiro, 1850. (BN)
- GALHARDO, José Emygdio Rodrigues. História da homeopatia no Brasil. In: Livro do 1'°'Congresso Brasileiro de Homeopatia. Rio de Janeiro, 1928. (BN)
- JOSÉ Maria de Noronha Feital. In: BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899. Quinto volume. pp.47-48. In: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Acervo Digital. Capturado em 10 jun. 2020. Online. Disponível na Internet: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5450
- JOSÉ Pereira Rego. In: BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899. Quinto volume. pp.126-130. In: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Acervo Digital. Capturado em 10 jun. 2020. Online. Disponível na Internet: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/5450
- LOBO, Francisco Bruno. O ensino da medicina no Rio de Janeiro: homeopatia. Rio de Janeiro, 1968. v. 3. (BCOC)
- LUZ, Madel Therezinha. A arte de curar e a ciência das doenças: história social da homeopatia no Brasil. Tese (Concurso de Professor Titular - Disciplina Saúde e Sociedade) - Departamento de Planejamento e Instituições de Saúde, Instituto de Medicina Social, UERJ. Rio de Janeiro: s.n., s.d. (BCOC)
- PORTO, Ângela de Araújo. As artimanhas de esculápio: crença ou ciência no saber médico. Niterói, Rio de Janeiro, 1985. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, 1985.
- SANTOS FILHO, Lycurgo de Castro. História Geral da Medicina Brasileira. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1977. v.2. (BCOC)
Ficha técnica
Pesquisa - Verônica Pimenta Velloso.
Redação - Verônica Pimenta Velloso.
Revisão – Francisco José Chagas Madureira.
Consultoria - Ângela de Araújo Porto.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina Azevedo Guedes.
Forma de citação
INSTITUTO HOMEOPÁTICO DO BRASIL. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 13 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)