Conferência Popular da Glória nº 122

De Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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Data: 18/04/1875

Orador: Augusto César de Miranda Azevedo

Título: O darwinismo, seu passado, seu presente, seu futuro.

Aviso, íntegra ou resumo: Resumo

Texto na íntegra

“Realizou-se domingo, a 122ª conferência no salão da escola municipal de S. José, ocupando a tribuna o Dr. Augusto César de Miranda Azevedo.

Antes de entrar no desenvolvimento da lei da teoria evolutiva, o orador faz uma síntese das ideias expostas na primeira conferência. Estuda a unidade que se observa no universo nos fatos de ordem moral e nos fenômenos físicos.

Diz o orador que se a unificação dos Estados é o ideal dos estadistas modernos, a unidade das leis naturais é a preocupação dos sábios da época.

Essa tendencia revela-se: na clínica, pela teoria atomística; na física, pela unidade e correlação das forças e na história natural pelo darwinismo. A dificuldade, que os naturalistas sempre encontraram na limitação dos três reinos, demonstra a unidade e a ligação imediata que se nota em todos os corpos orgânicos e inorgânicos.

Diz o orador que a mesma força em modalidades diferentes produz todos os fenômenos dos corpos, quer orgânicos quer inorgânicos, e por isso a semelhança que se nota nesses fatos à primeira vista, de natureza diferente. Fala do átomo e da célula, princípios de todos os corpos, analisando o modo de seu desenvolvimento na justa posição molecular de uns e na intussuscepção de outros. A harmonia unitária da natureza é reconhecida pelos próprios seguidores da doutrina teleológica.

Diversificam estes do darwinista em tudo explicarem pela intervenção do Criador e do sobrenatural, enquanto os propugnadores da teoria evolutiva só admitem a simplicidade das leis naturais.

O orador expõe a doutrina de Carlos Lyeli acerca da formação das montanhas pela superposição das camadas, e em consequência de fenômenos meteorológicos, sem necessidade de erupções vulcânicas e outras grandes catástrofes terrestres.

Aduzindo fatos favoráveis a esta doutrina, narra o desaparecimento de populações na Suíça, sob a ação das geleiras, e a elevação de terrenos em diferentes partes do globo, como, por exemplo, em Roma, próximo à Rocha Tarpéa.

O orador ainda apresenta fatos que demonstram a unidade dos fenômenos naturais é o primeiro a chamar a atenção dos sábios para a identidade que deve de existir entre os Sambaquis, de São Paulo é os Kjoekkenmoedding, da Dinamarca. Na anatomia e fisiologia comparadas na teratologia e na embriologia tem o darwinismo bases positivas.

O desenvolvimento maior de alguns órgãos e a atividade mais caracterizada de certas funções em indivíduos que se modificam em virtude de seus hábitos e dos meios em que vivem, acham explicação na anatomia e fisiologia comparadas.

A meteorologia, quer em suas manifestações naturais, quer artificiais, é de grande auxílio para a doutrina evolutiva.

A descoberta de Baez, classificada por Agassiz a mais importante da história natural, veio demonstrar a origem idêntica de todos os organismos do óvulo, e eis porque a embriologia tanta luz lança a favor da doutrina Darwinista.

O orador ocupa-se em seguida com a demonstração prática da doutrina genealógica, apresentando em seu favor fatos positivos. A luta pela existência é a aplicação da lei de Malthus à história natural. A luta horrível que se observa entre todos os organismos sob a aparência da mais poética harmonia é descrita pelo orador, que a mostra travada em escala ascendente do vegetal ao animal: a morte de um ente é necessária ao desenvolvimento de outro. Deve-se dar outra acepção à palavra morte, pois a ciência moderna prova que os elementos que morreram em seu ser, ressuscitam em outro pelas leis naturais da circulação da matéria.

As guerras que agitam a humanidade são consequências da luta pela existência em relação ao homem e têm as mesmas causas. Estas são, em frase poética Schiller, a fome e o amor, que a ciência, em sua linguagem positiva, denomina instintos de conservação e reprodução. Na história pátria ainda vê esse fato nas lutas dos nossos indígenas entre si, e destes contra os europeus.

Em consequência da escassez do tempo, o orador não entra no desenvolvimento das outras leis. Para terminar o seu discurso, dirige-se ao auditório pedindo-lhe que despreze preconceitos e convença-se da verdade da doutrina que expõe.

Ao retirar-se da tribuna, foi o orador muito aplaudido pelo numeroso auditório”.

Localização

- Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 21 abr.,1875. Anno 58, n. 109, p.3 (resumo). Capturado em 18 ago. 2025. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/094170_02/32986

Ficha técnica

- Pesquisa: Aline de Souza Araújo França, Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca, Yolanda Lopes de Melo da Silva.

- Revisão: Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca. 

Forma de citação

Conferência Popular da Glória nº 122. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 22 dez.. 2025. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/wiki_dicionario/index.php?curid=703

 


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