ESCOLA AGRÍCOLA PRÁTICA DE PIRACICABA: mudanças entre as edições
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Edição atual tal como às 22h35min de 6 de setembro de 2023
Denominações: Escola Agrícola Prática de Piracicaba (1900); Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz” (1901); Escola Agrícola “Luiz de Queiroz” (1917); Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (1931); Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (1934).
Resumo: A Escola Agrícola Prática de Piracicaba foi inaugurada em junho de 1901, ficando sediada na Fazenda São João da Montanha, na cidade de Piracicaba, doada pelo seu proprietário Luiz Vicente de Souza Queiroz em 1892 ao governo do Estado de São Paulo, para este fim. O seu objetivo inicialmente era fornecer um ensino de nível médio, voltado para a educação profissional dos que se dedicavam à lavoura. A partir de 1905, sofreu uma reorganização passando o seu ensino a ser de nível superior. Podem ser identificadas duas fases na sua história, de 1901 até 1916, marcada pela tentativa de transformá-la numa escola modelo, de caráter prático; e de 1916 a 1934, que consistiu na luta pelo seu reconhecimento enquanto instituição de nível superior, finalizando com sua incorporação à Universidade de São Paulo nesse último ano.
Histórico
O surgimento da Escola Agrícola Prática de Piracicaba foi a realização de um sonho do agrônomo e fazendeiro Luiz Vicente de Souza Queiroz. A história da instituição teve sua gênese vinculada à história de vida de Luiz de Queiroz. Nascido em 12 de junho de 1849, formado em agronomia na França (Grignon) e Suíça (Zurich), era herdeiro de uma rica família da nobreza rural de São Paulo. De volta ao Brasil após o término de seus estudos, Souza Queiroz se deparou com o atraso das práticas agrícolas nacionais e entendeu ser de fundamental importância a divulgação das mais avançadas técnicas e práticas agrícolas à população, e assim esboçava a idéia de uma escola.
Dentre os bens que recebera de seu pai havia a Fazenda Engenho d’Água, situada na Vila de Constituição, atualmente Piracicaba, onde decidiu construir uma fábrica de tecidos movida por força hidráulica, uma idéia inovadora para a época. Importou máquinas da Inglaterra, técnicos especializados da Bélgica, introduziu a cultura do algodão na região e os teares começaram a funcionar. Em poucos anos a Fábrica de Tecidos Santa Francisca contava com 70 operários, que eram todos livres pois Luiz Vicente de Souza Queiroz era abolicionista, e 50 teares, produzindo 2.400 metros de panos por dia.
O sonho da instalação de uma escola agrícola para desenvolver a região era reforçado quando via perecerem os algodoais de seus fornecedores, atacados por pragas e moléstias desconhecidas. Em 1888, após a libertação dos escravos com a Lei Áurea, causa pela qual militava, decidiu viajar à Europa para melhor conhecer jardins botânicos, hortos florestais, escolas de agricultura e instituições de pesquisa. Presenciou na Inglaterra discussões acerca da restauração da fertilidade dos solos, por meio de ossos moídos (fertilizantes), ou através do emprego da rotação de cultivos, conhecimentos estes que foram acalentando o desejo de fazer em Piracicaba uma escola de Agronomia de ensino científico. Na volta, começou a materializar seu sonho, encarregando seu advogado de arrematar uma propriedade agrícola chamada Fazenda São João da Montanha (município de Piracicaba) que contava com 319 hectares de terras de excelente qualidade, era banhada e contornada pelo ribeirão Piracimirim e pelo rio Piracicaba e distava três quilômetros da cidade de Piracicaba. O processo de compra da fazenda se iniciou ainda em 1888, mas esta só foi a leilão em 28 de janeiro de 1891.
Luiz Vicente de Souza Queiroz solicitou auxílio a amigos ricos, familiares e fazendeiros para a construção da escola agrícola. Face à recusa geral, resolveu tocar o projeto por conta própria, até onde tivesse fôlego financeiro, e encomendou a dois ingleses o projeto para uma Escola Agrícola e Fazenda Modelo.
No ano de 1889, o movimento republicano tomou força nacional e os ideais de descentralização do poder e autonomia da nova burguesia em relação à Monarquia chegaram à Piracicaba, onde em 19 de outubro foi fundado o Clube Republicano Piracicabano. Luiz Vicente de Souza Queiroz foi um de seus sócios fundadores.
Com a proclamação da República a gestão do governo municipal passou às mãos de Antonio Moraes Barros, Paulo Pinto e Luiz Vicente de Souza Queiroz. Em 1890 este passou a exercer o cargo de 2º suplente de Juiz Municipal, acumulando com o de Juiz de Paz da cidade.
A lei nº 678, de 13 de setembro de 1889, do Governo do Estado de São Paulo, que organizava o serviço agronômico do Estado, determinou que o ensino profissional agrícola realizar-se-ia sem prejuízo do curso de engenharia agrícola da Escola Politécnica de São Paulo, e por meio de escolas práticas de agricultura de instrução elementar (art.3º). Estabelecera, ainda, que a primeira escola prática de agricultura seria instalada na referida Fazenda São João da Montanha, aproveitando-se as obras já realizadas naquele estabelecimento (art.13º).
Em viagem aos Estados Unidos, Luiz Vicente de Souza Queiroz contratou dois arquitetos espanhóis e um professor de agricultura americano e os trouxe a Piracicaba. Ao retornar começou a erguer a escola, contratando 200 trabalhadores para a empreitada. Nos Estados Unidos deparou-se com o uso da eletricidade pela primeira vez na vida, ficando fascinado principalmente em função do grande potencial que teria para o Brasil o emprego de tal fonte de energia, tendo em vista suas inúmeras quedas de água. Estabeleceu um contrato com o poder municipal de Piracicaba para que ele próprio comandasse a construção de uma usina, e importou dos Estados Unidos toda maquinaria necessária, contratando o engenheiro eletricista americano T. Alvim Call.
O prédio de pedras em estilo americano para a futura usina foi rapidamente construído à margem esquerda do rio Piracicaba. Luiz Vicente de Souza Queiroz tinha prazo certo para a inauguração da usina, o que lhe demandava esforços e investimentos tão grandes ou maiores que os destinados à construção da escola agrícola. Resolveu então pedir apoio do governo para a escola, solicitando isenção alfandegária e frete gratuito para os materiais a serem utilizados na construção do estabelecimento, mas sem sucesso.
Em 1892, mesmo ano desta recusa, foi estabelecida a Secretaria da Agricultura de São Paulo, que oficialmente já existia desde a promulgação da Constituição Política do Estado em 14 de julho de 1891. Apesar do desinteresse do governo estadual em relação à escola, a Câmara dos Deputados do Estado promulgou a lei estadual nº126, de 11 de maio de 1892, autorizando o executivo a fundar uma Escola Superior de Agricultura e a estabelecer nos lugares apropriados dez estações agronômicas com seus respectivos campos experimentais. Luiz Vicente de Souza Queiroz resolveu então doar ao governo a Fazenda São João da Montanha com todas as benfeitorias existentes com a condição de, no prazo de dez anos, ser concluída e inaugurada sua sonhada Escola Prática de Agricultura.
O Presidente do Estado de São Paulo, Bernardino de Campos, por meio do decreto estadual nº 130 de 17 de novembro de 1892, aceitou a doação da fazenda para nela ser levada a efeito a idéia do estabelecimento de uma escola agrícola ou instituto para educação profissional dos que se dedicavam à lavoura. Foi designado no ano seguinte como o responsável pela construção da Escola, o engenheiro-agrônomo, formado em Gembloux (Bélgica), Léon Alphonse Morimont (1850-1899) que, em 1894, encaminhou ao Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Jorge Tibiriçá, um projeto de reorganização da escola. Projeto este que consistia na remodelação do edifício principal e de suas dependências, levando a cabo a idéia de se implementar ali o ensino prático de agronomia. Os serviços de adequação da Fazenda para a instalação da escola eram fiscalizados por Luiz Vicente de Souza Queiroz.
Já haviam sido criadas a Imperial Estação Agronômica de Campinas em 1887, destinada às análises químicas e às investigações científicas que interessavam à lavoura, e a Escola Politécnica de São Paulo, em 1893, que apresentava entre seus cursos o de engenharia agrícola. Parecia, portanto, que a Escola tenderia a um perfil de nível médio, o que reforçava a concepção original de Luiz Vicente de Souza Queiroz.
Léon Alphonse Morimont concebia a instituição com um curso de 3 anos de duração em regime de internato, com alunos de no mínimo quinze anos de idade, aos quais seria concedido, ao final dos estudos, o diploma de agrônomo que “além de garantir a sua competência para administrar fazendas e indústrias agrícolas, conceder-lhes-á uma preferência para certas Repartições administrativas e Serviços agrícolas do Estado” (MORIMONT. Grifos do autor. Apud MENDONÇA, 1998, p.65).
Em seu projeto, Léon Alphonse Morimont definia, ainda, o tipo de cultivos a que deveriam dedicar-se os alunos da Escola: cana-de-açúcar, milho, feijão, batata, arroz, etc., bem como às experiências com fumo, algodão e videiras.
Deixando a construção da Escola a cargo do governo, Luiz Vicente de Souza Queiroz pôde se dedicar à usina, a qual foi inaugurada em 6 de setembro de 1893. A cidade de Piracicaba teve luz elétrica antes de qualquer nação sul-americana e antes mesmo de muitos países europeus.
Os trabalhos de construção da Escola caminhavam tão lentamente que preocuparam Luiz de Queiroz, a ponto de pensar que os dez anos dados como prazo não seriam cumpridos. Ele tentou mobilizar as autoridades estaduais, por meio de artigos na imprensa, sobre o ensino e outros assuntos agrícolas, em vão. O governador do Estado de São Paulo, Francisco de Assis Peixoto Gomide, resolveu reduzir as despesas e dispensou Léon Alphonse Morimont, e o Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Jorge Tibiriçá, paralisou as obras por completo, contrariando os desejos de Luiz Vicente de Souza Queiroz, que morreu pouco depois, em 11 de junho de 1898, sem ver seu sonho realizado.
O Governo do Estado de São Paulo, após a saída de Morimont, colocou Francisco Henzler para dirigir temporariamente, pelo mês de novembro de 1896, a Fazenda São João da Montanha”. Em dezembro de 1896 a administração da fazenda ficou a cargo de José Viegas, e em janeiro do ano seguinte Adolfo Barbalho Uchôa Cavalcanti tomou posse como diretor interino. Porém, logo depois todos forma exonerados, e os trabalhos naquela fazenda ficaram paralisados. Somente com a promulgação da lei nº 678, de 13 de setembro de 1899, que definiu os parâmetros para o serviço agronômico do Estado de São Paulo, é que processou uma transformação no cenário agrícola paulista, possibilitando a criação da Escola Agrícola Prática de Piracicaba (MOLINA, 2011).
A lei nº 678 definiu que o ensino profissional agrícola seria realizado por meio de escolas práticas de agricultura, de instrução elementar para alunos externos, e que teriam como objetivo difundir, por meio de trabalhos práticos, as noções elementares dos conhecimentos agrícolas. Estabeleceu, ainda, que a primeira escola prática de agricultura a ser instalada seria na Fazenda de São João da Montanha, em Piracicaba, aproveitando os serviços e obras já lá realizados (BRASIL, Lei, 1899).
Em 29 de dezembro de 1900, por meio do decreto-lei nº 863A, do então Presidente do Estado de São Paulo Francisco de Paula Rodrigues Alves, foi criada oficialmente a Escola Agrícola Prática de Piracicaba, a qual teria os seguintes objetivos:
“A Escola Agrícola Prática de Piracicaba tem por missão difundir no Estado de São Paulo as noções, preceitos e práticas mais úteis à agricultura por meio de lições teóricas elementares sobre as diversas disciplinas que constituem o seu programa de ensino e as demonstrações essencialmente práticas a elas correspondentes”. (art. 2º)
Em março de 1901, Cândido Rodrigues, então Secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo, foi à Piracicaba conhecer o estabelecimento, e ficou tão bem impressionado com a obra deixada por seu idealizador que propôs ao governo a inclusão do nome de Luiz de Queiroz no da instituição. Finalmente, em 3 de junho de 1901, era inaugurada a Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz”.
Segundo Sônia Regina de Mendonça (1998), a inauguração da Escola ocorreu em meio a uma crise política na fração paulista da classe dominante agrária, da qual resultou o surgimento de dois grupos, liderados, respectivamente por Campos Sales, Rodrigues Alves, Bernardino de Campos (situação) e por Cincinato Braga, Cerqueira César, Julio de Mesquita e Prudente de Moraes (oposição), tendo este último suas bases políticas justamente em Piracicaba. A instalação da Escola se viu beneficiada por tal conjuntura política, pois serviu como elemento de negociação entre as facções, nascendo a instituição sob o signo de um provisório e aparente congraçamento, como o revelou a presença, na cerimônia, de representantes políticos de ambos os grupos (O Solo, 1930, p.249-251). As crises do Partido Republicano Paulista (PRP), voltaram a atingi-la, servindo qualquer acontecimento interno à escola como pretexto para uma intervenção do governo do Estado em seus quadros. A instabilidade seria a grande marca na trajetória da instituição, sobretudo em sua fase inicial.
Houve importantes diferenças entre a concretização da escola e os projetos que antecederam sua inauguração. Foi implantado apenas o regime de externato e mesmo assim para alunos maiores de dezesseis anos, quando o decreto previra idade inicial de quinze anos. A abolição do regime de internato denotou uma precoce elitização da instituição, visto que tal regime seria mais condizente com um público-alvo dotado de menores recursos. Outra diferença marcante foi o fato de a escola ter sido inaugurada sem que as instalações experimentais previstas na lei - a fazenda modelo e o posto zootécnico- estivessem concluídas, o que somente ocorreu três anos mais tarde após a contratação de um profissional norte-americano. Fato este que distanciou a escola de sua definição inicial, a de ser uma escola essencialmente prática.
Ainda assim, em 1º de maio de 1901 foram abertas as matrículas, e iniciadas as aulas no dia 03 de junho contando com onze alunos regularmente matriculados e três ouvintes. O número de candidatos à matrícula na Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz” foi crescendo consideravelmente com o passar dos anos, recebendo, em 1903, 29 alunos.
Entre 1901 e 1930 a escola teve um total de 2.763 alunos inscritos, dos quais apenas 558 diplomaram-se. Com relação à procedência dos estudantes verificou-se que mais de 82% dos alunos eram originários do centro-sul brasileiro, em sua maioria (56,8%) paulistas. Apenas 21% destes estudantes não tinham vínculos com a propriedade fundiária, mais de 49% deles eram filhos de fazendeiros (MENDONÇA, p.16-24). Dados que denotam uma perspectiva de formação da classe dirigente agrária paulista por parte da escola. Nas palavras de Arthur Torres Filho, orador da turma de formandos de 1910, tal perspectiva ficava evidenciada:
“(…) E tenho esperança de que seremos nós, meus colegas, os filhos espirituais desta Escola, nós os orientados por tão extraordinários mestres, que armados com a ciência, com o trabalho, que é a vida do espírito, com uma vontade inquebrantável, com um real patriotismo, aliado ao amor pela profissão abraçada, abriremos a fulgida estrada por onde passará o carro triunfante do progresso agrícola da Pátria bem amada” (O Solo, 8 de outubro de 1910, p. 12).
Em 1911 foram matriculados 166 alunos vindos de vários estados brasileiros, sendo 101 de São Paulo, 22 de Minas Gerais, 14 da Capital Federal, 9 do Rio Grande do Sul, 7 do Rio de Janeiro, 4 de Mato Grosso, 2 do Paraná, 1 (de cada um dos estados) do Rio Grande do Norte, do Maranhão, de Santa Catarina, do Piauí, do Ceará, de Pernambuco e do Espírito Santo.
No período de 1901 a 1934, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo teve 69 professores, dos quais 10 eram estrangeiros e 33 ex-alunos da própria instituição. Entre os estrangeiros, os americanos estiveram em maior número e atuaram com maior ênfase nas aulas práticas do que nas aulas teóricas, assumindo funções importantes na estrutura da instituição, como J.W. Hart (Illinois University), que dirigiu a fazenda-modelo da escola, e Clinton DeWitt Smith (1854-1936), diplomado pela Cornell University e professor no Michigan Agricultural College, que foi um dos diretores da escola. Destaca-se, ainda, no quadro de diretores a presença de ex-alunos e proprietários, a inexistência da figura do mandato para a função, cujo período de gestão aparenta ter ficado ao sabor do Executivo estadual (MENDONÇA, 1999).
Em relação à estrutura material, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo contava com três estruturas principais: a fazenda-modelo, o posto zootécnico e a escola propriamente dita. A fazenda contava com uma área de 175 hectares onde cultivava-se aveia, batata, cana, café, forrageiras, milho e alfafa dentre outras, junto às quais se utilizavam das mais modernas máquinas em grande escala. A fazenda-modelo contava ainda com uma área de 100 metros quadrados reservada para experimentações e pesquisa em torno de novas espécies. Havia uma integração entre a fazenda e o posto zootécnico – dotado de 60 hectares de pastos artificiais - que se dava de forma sincronizada. Enquanto o posto destinava-se a estudos para depuramento de raças, a fazenda funcionava como sua fornecedora, suprindo a alimentação dos animais de raça e de trabalho.
A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo contava ainda, em 1934, com posto meteorológico, pavilhão de química, oficina mecânica, pavilhão de horticultura, estufa, apiário, pavilhão de zootecnia, pavilhão de leiteria, estábulos, pavilhão de bromatologia, pocilga, aprisco, almoxarifado, paiol de cereais, casa de máquinas fixas, galeria de máquinas móveis, tulha, estrumeira, museu agrícola, dentre outras estruturas.
Corpo docente (1901):
Antônio de Pádua Dias - 1ª cadeira;
Lacordaire Duarte - 2ª cadeira;
Ricardo Ernesto Ferreira de Carvalho - 5ª cadeira.
Aristóteles Pereira
José Vatz
Augusto César Salgado
Corpo docente (1908):
Clinton DeWitt Smith - geografia e economia política;
Augusto Salgado - secretário da instituição, professor de português, história e contabilidade; Antônio de Pádua Dias - física, álgebra, geometria e trigonometria;
Jacques Arié - química;
Jules J. Arthaud-Berthet - botânica;
Joan Michel - agricultura;
Nicolau Athanassof - zootecnia e veterinária;
Francisco Dias Martins - zoologia agrícola e higiene rural;
J. William Hart - agricultura prática;
Arsène Puttemans (1873-1937), arquiteto belga - encarregado da seção de horticultura;
Henrique Brasiliense - agrimensura e aritmética;
Octavio Mendes - responsável pelas construções rurais e oficinas;
Émile Charroppin - adjunto de química e botânica;
Luiz Teixeira Mendes – horticultura. (RELATÓRIO, 1909).
Diretores (1901-1930):
Ricardo Ernesto Ferreira de Carvalho (22/02-27/10/1901); José Amandio Sobral (1901/1902); Luciano José de Almeida (1902/1904); Francisco Dias Martins (1904/1908); Clinton DeWitt Smith (1908/1912); Emílio Castello (1912/1913); Leônidas Botelho Damásio (1913/1914); Emílio Castello (1914/1916); Tarcísio de Magalhães (1916/1918); Francisco T. Souza Reis (1918/1923); Antônio de Pádua Dias (1923/1927); Mário Brandão Maldonado (1927); José de Mello Moraes (1927/1938).
Estrutura e funcionamento
A Escola Agrícola Prática de Piracicaba, ao ser criada em 29 de dezembro de 1900 pelo decreto nº 863A, tinha como objetivo a difusão, no Estado de São Paulo, de noções e práticas úteis à agricultura por meio de um programa de ensino teórico e prático. Para tal a Escola teria como anexos: uma fazenda modelo, com campo de experiências de cultura e estrumação; jardim botânico; horta; pomar; forrageal e áreas para cultivo do café, algodão, cana de açúcar, fumo e cereais; e um posto zootécnico, com instalações para animais de serviço e de criação.
Para ingressar na Escola os candidatos deveriam encaminhar um ofício ao diretor da instituição, no qual deveriam comprovar seu estado de saúde, e a realização de vacinação. Os candidatos deveriam ter a idade mínima de 16 anos, comprovada mediante certidão de nascimento, apresentar um atestado oficial da instituição de ensino em que cursara o primeiro grau, e pagar as taxas da matrícula e da anuidade (Apud. MOLINA, 2011).
O curso de agricultura, segundo o decreto de criação da instituição, seria ministrado em três anos, com as seguintes disciplinas:
1º ano - matemática elementar, botânica, química inorgânica, mineralogia, física, zoologia e geologia.
2º ano - geologia, agrologia, agrimensura, química orgânica, agricultura, zootecnia e agrimensura.
3º ano – química agrícola, economia rural, anatomia, fisiologia e exterior dos animais domésticos, fitopatologia, cirurgia, higiene veterinária, construções rurais e contabilidade agrícola.
Pelo referido decreto, a escola funcionaria em regime de externato, ao contrário do que haviam proposto tanto Luiz Vicente de Souza Queiroz, quanto Léon Alphonse Morimont, responsável pela construção da escola. Os alunos teriam exames semestrais, teóricos (prova escrita e oral) e práticos, nos quais deveriam ser aprovados (grau de 2,0 a 10,0) e assim receberiam, ao final do curso, o diploma de agrônomo. O diretor da escola, que deveria ser um profissional diplomado por qualquer estabelecimento de ensino superior (nacional ou estrangeiro) dedicado às ciências agronômicas, seria escolhido entre os lentes e nomeado pelo Presidente do Estado, sob proposta do Secretário de Agricultura do Estado. Os lentes ou professores, que seriam também nomeados pelo Governo do Estado, deveriam ser preferencialmente profissionais nacionais que tivessem se destacado em instituições congêneres. A Congregação seria composta pelos professores e pelo diretor, e se reuniria uma vez por mês para discutir, organizar e tomar providências sobre tudo o que dizia respeito à instituição.
Em termos de instalações, a então Escola Agrícola Prática de Piracicaba teria uma biblioteca com acervo (livros e periódicos especializados) de interesse agrícola. A escola seria dotada, também, de gabinetes: de física e meteorologia; de geologia, mineralogia e agrologia; de botânica, zoologia e zootecnia; e de desenho, agrimensura e contabilidade. Haveria um laboratório para os trabalhos de análise de terras, cinzas e adubos, e um museu especial com coleções de animais, plantas, rochas, sementes, aparelhos de bonificação dos produtos, esqueletos de animais, estampas de tipos nacionais e estrangeiros de animais domésticos e amostras de madeiras.
Desde a inauguração, em 1901, até sua incorporação à estrutura universitária nos anos 30, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) passou por oito alterações curriculares e/ou regimentais, respectivamente nos anos de 1905, 1908, 1912, 1917, 1919, 1925, 1930 e 1934.
Estas várias alterações foram resultado da disputa entre os que lutavam para que a instituição tivesse nível superior e os que a queriam mais elementar, de ensino médio. A história da ESALQ, no que diz respeito à sua estrutura curricular e programática, pode ser dividida em duas fases: de 1901 até 1916 e daí até 1934, quando de sua incorporação à Universidade de São Paulo. Enquanto a primeira esteve marcada pela tentativa de transformá-la numa escola modelo, de caráter prático, a segunda fase pautou-se pela luta de seu reconhecimento enquanto instituição de nível superior.
Em 23 de novembro de 1903, de acordo com o Livro de Atas da Congregação da Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz”, formou-se a primeira turma de agrônomos. Os formandos eram oriundos de vários estados brasileiros, havendo quatro vindos de São Paulo, Odilon Ribeiro Nogueira, Otaviano de Moraes Sampaio, João do Amaral Mello, e José Maria de Paula; dois de Minas Gerais, Carlos Tomás de Magalhães Duarte, e José Baptista de Carmo Lopes; e um do Rio de Janeiro, Luiz Eugênio de Souza Nogueira (Apud. MOLINA, 2011, p.149).
O primeiro grande passo na direção de transformá-la em escola modelo foi dado pelo decreto nº 1.266, de 18 de fevereiro de 1905, que reorganizou a Escola, dando-lhe novos regulamento e currículo. O curso geral da ESALQ ficou dividido em: curso elementar (de 1º grau) para preparar charrueiros e abegões; curso médio (de 2º grau) para preparar regentes ou administradores agrícolas; curso superior (de 3º grau) para formar administradores rurais, gerentes de indústria, professores de agricultura, funcionários para serviços agronômicos e simples agrônomos; curso de recapitulação (de 4º grau – grau de confirmação) para habilitar agrônomos para os serviços mais elevados da agricultura.
O novo regulamento e currículo procuravam conferir uma maior “cientifização” ao ensino professado na escola, que seria intuitivo e largamente demonstrativo, devendo os professores desenvolverem o espírito de observação do alunato por meio de considerações compreensíveis, de experiências e de demonstrações, quer no gabinete, quer no campo, para que os alunos convencidos da exatidão das regras, leis e preceitos científicos, pudessem achar na prática a evidência dos fatos observados (art. 19).
O curso geral permaneceu com três anos de duração, compreendendo as seguintes disciplinas: matemática elementar; física (compreendendo meteorologia) e noções de mecânica; construções rurais; química mineral e noções essenciais de mineralogia; química orgânica e agrícola e tecnologia das indústrias agrícolas; botânica, micologia e fitopatologia; agronomia (agrologia, essenciais noções de geologia agrícola); cultura da horta, do pomar, dos campos, das matas e economia e legislação rurais; zoologia geral; zootecnia especial; criação de aves, do sirgo(bicho-da-seda) e de abelhas e entomologia agrícola; arte veterinária; higiene rural e medicina de urgência. Entretanto a cadeira higiene rural nunca foi efetivamente implantada e a de economia rural foi retirada (MENDONÇA, 1998).
Aos alunos seriam exigidos trabalhos, exercícios e demonstrações práticas para cada curso, e a organização de uma “memória” ou “monografia” sobre um ponto de sua predileção, que seria apresentada à Congregação, a qual lhe conferiria o diploma de Agrônomo Confirmado, se a achasse meritória. No regulamento de 1905 foram mantidos a fazenda modelo, o posto zootécnico, os gabinetes, o museu e a biblioteca, já previstos anteriormente. O antigo laboratório para trabalhos de análises de terras foi configurado como um laboratório químico, com mais espaço e os aparelhos necessários para análises de terras, cinzas, adubos e substâncias orgânicas úteis à indústria agrícola ou à alimentação de animais domésticos. Foram previstos, ainda, a instalação de uma leiteria ou casa especial para manipulação do leite e fabrico de manteiga, queijos e requeijão, e de um hospital veterinário.
Em 1905 a escola contava com 40 alunos, em 1906 com 49 alunos matriculados, e em 1907 havia 60 alunos matriculados no primeiro grau, 24 no segundo e 6 no curso superior. Foram diplomados em 1907 dois administradores agrícolas, que haviam concluído o curso médio, e três agrônomos que haviam finalizado o curso superior (RELATÓRIO, 1909).
Eram concedidas, ao final do curso e aos alunos que mais se destacassem, bolsas de estudos nos Estados Unidos da América. Tais bolsas eram pagas e definidas pelo governo do Estado em qualquer estabelecimento de ensino prático e indústria agrícola, onde o aluno pudesse aperfeiçoar e ampliar seus conhecimentos em proveito próprio e da lavoura paulista (MENDONÇA, 1998, p.65).
O decreto estadual nº 1.684, de 21 de dezembro de 1908, determinou nova reforma à Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz”. O regime da escola foi alterado para internato ou externato, o que possibilitaria o ingresso de alunos de menor poder aquisitivo, já que além das despesas com a anuidade escolar, os alunos tinham ainda que arcar com despesas de transporte e alojamento. O alojamento da escola contava com boa estrutura de moradia e alimentação para 100 alunos. O curso passou a ter quatro anos de duração, sendo um ano básico, e manteve o currículo existente. A média para aprovação passou a ser 6,0 (seis) e as aulas teóricas passaram de 90 para 60 minutos, enquanto as práticas de 60 para 120 minutos. As bolsas de estudos no exterior, para os melhores alunos, não mais seriam concedidas.
O regulamento da Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz” foi modificado pelo decreto nº 1.982, de 13 de janeiro de 1911, definindo a existência de um Curso preliminar, de dois semestres, e um Curso regular, com três anos. O Curso preliminar compreenderia as matérias: português, francês, geografia, história do Brasil, aritmética, trabalhos práticos na carpintaria e na fazenda, álgebra elementar e geometria (ESTADO DE SÃO PAULO, Decreto,1911).
Em 1911, quando era Secretário de Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo, Antônio de Pádua Salles, realizou-se em São Paulo o 1º Congresso de Ensino Agrícola. Foi um encontro em que se discutiu e deliberou-se sobre os rumos da escola de Piracicaba, do qual participaram dentre outros: Luiz Pereira Barreto, Domingos Jaguaribe, Emílio Castello e Adalberto Queiroz Telles.
Segundo Luis Amaral (1958), o Congresso teve seus trabalhos presididos por Assis Brasil e debateu nove temas principais. O 1º tema tratava da organização do ensino agrícola, elementar, médio e superior, e o parecer, assinado por Adalberto Queiroz Telles e Lourenço Granato, decidiu que as escolas médias e elementares de agricultura eram as mais necessárias. No 2º tema , sobre o tipo dos aprendizados agrícolas do Estado de São Paulo, o parecer de Lourenço Granato e Edmundo Navarro de Andrade deliberou que deveria ser criado no aprendizado agrícola as cadeiras que faltavam para completar o quadro nesses estabelecimentos, que deveria ser estabelecido aprendizados agrícolas nas várias regiões agrícolas do Estado, especializando-os no estudo das culturas predominantes nessas zonas; e que deveriam ter preferência à matrícula gratuita na Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz” os alunos dos aprendizados agrícolas, segundo seu preparo e aproveitamento. O 3º tema abordava o ensino nas escolas preliminares das povoações rurais, as quais não deveriam ter qualquer especialização, mas ter no seu programa o ensino elementar agrícola para aparelhar a criança para a atividade social do seu meio. Aconselhavam-se as excursões escolares, de preferência aos aprendizados agrícolas, campos de experiência e postos zootécnicos uma vez por mês. O 4º tema era sobre a Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz”, e concluiu-se que esta necessitava de algumas modificações, as quais, segundo Clinton DeWitt Smith, diretor da escola, seriam:
“a) o desenvolvimento do espírito de trabalho, de amor e de educação por si; b) o melhor preparo dos candidatos para a matrícula; c) um ano de especialização; d) curso curto de cinco meses para as pessoas que não podem se preparar para o curso regular; e) aumento das instalações; f) tornar-se uma escola superior e assim ser reconhecida” (AMARAL, 1958, p.271).
O 5º tema refletia sobre a necessidade da criação de escolas especiais de agricultura no Estado, tendo sido definido, no parecer de Edmundo Navarro de Andrade, que estas deveriam ser criadas, e que deveria ser mantida na capital a escola de Pomologia e Horticultura. O 6º tema tratava da necessidade do ensino nômade agrícola, resolvendo-se pela conveniência de tal ensino, o qual não deveria ser restrito à parte cultural, mas incluir a parte mecânica ou industrial. O 7º tema, sobre o estabelecimento de uma escola superior de agricultura do Estado de São Paulo, definiu que, tendo em vista o fato do Governo Federal já ter cogitado na criação de uma instituição com este perfil, não era necessária a iniciativa estadual. O 8º tema de discussão referia-se à habilitação do professorado público para ministrar o ensino de história natural agrícola, tendo concluído que os programas de história natural, química e geografia da escola normal secundária deveriam incluir todas as aplicações relativas à agricultura, que os manuais de ensino agrícola elementar deveriam ser adaptados para uso dos professores, e que caberia aos inspetores de agricultura a visita a essas escolas e a orientação dos exercícios práticos dos professores de agricultura elementar. No último ponto de debate, decidiu-se pela não criação de um Conselho Superior de ensino agrícola no Estado.
A lei estadual nº 1.356 de 19 de dezembro de 1912, que reorganizou a Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz”, extinguiu o primeiro ano básico, determinou que o curso seria de três anos, com a possibilidade de mais um ano de revisão de estudos, e que o curso deveria ser fundamentalmente demonstrativo. As matérias afins foram reunidas em sete cadeiras:
1ª - física agrícola: física; meteorologia; mineralogia e geologia.
2ª - química agrícola: química mineral e orgânica; química analítica; química agrícola.
3ª - botânica agrícola: botânica geral e descritiva; bacteriologia e microbiologia; fitopatologia.
4ª - agricultura: agricultura geral; culturas especiais (horticultura, fruticultura e silvicultura).
5ª - zootecnia: zoologia geral e descritiva; entomologia; zootecnia geral e descritiva; noções de veterinária e higiene.
6ª - engenharia rural: revisão de matemáticas; topografia e estradas de rodagem; hidráulica, irrigações e drenagem; mecânica agrícola; construções rurais.
7ª- economia rural: contabilidade agrícola; economia rural e legislação rural.
A partir da referida lei, a instituição ficaria somente com o curso de nível superior, sendo suprimido o curso elementar e de nível médio (CAMPOS, 1954, p. 342). O corpo docente seria constituído por professores então denominados catedráticos, que chefiariam cada grupo de matérias, e por professores auxiliares e ajudantes de gabinetes ou auxiliares de laboratório, contratados ou nomeados pelo Governo do Estado de São Paulo, sob proposta do Secretário de Agricultura e por indicação do diretor da escola.
O aluno diplomado que tivesse feito o curso de revisão de estudos (4ºano) receberia um atestado emitido pelo diretor da instituição e assinado pelo professor da cadeira revista, juntamente com uma declaração do objeto de especialização.
Esta lei também extinguiu o regime de internato e estabeleceu exames para admissão dos alunos, anteriormente exigia-se apenas a comprovação dos estudos preliminares, e baixou a média exigida para aprovação para 5,0 (cinco). Os estágios seriam praticados em fazendas no próprio Estado de São Paulo. A escola teria para seu ensino experimental e demonstrativo de várias dependências: gabinete de física, mineralogia, geologia; posto meteorológico; laboratório de química; gabinete e laboratório de botânica e fitopatologia; horto botânico; laboratório e gabinete de agronomia; fazenda modelo; gabinete de zoologia, entomologia e zootecnia; laboratório de veterinária; posto zootécnico; leiteria; gabinete de engenharia rural; oficina mecânica; oficinas de carpintaria; galerias de máquinas e motores agrícolas.
Foi nessa época, entre 1913 e 1914, que a Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz” defendeu e levou a efeito, com êxito, o cultivo de alfafa para servir de alimento aos animais.
Pela lei estadual nº 1.534, de 29 de dezembro de 1916, a Escola Agrícola Prática “Luiz de Queiroz” passou a ser referida como Escola Agrícola “Luiz de Queiroz”, apesar de ainda tratar-se de uma instituição de caráter prático, com ênfase à investigação e à experimentação. Foi criada uma estação de Agrostologia e de Bromatologia.
Na reforma de 1917, pelo decreto estadual nº 2.772 de 27 de fevereiro, foi retomado o primeiro ano Fundamental (mais três) e criada a oitava cadeira do curso, a de Tecnologia Rural.
Em 1919 a instituição voltou a ter seu regulamento alterado através do decreto nº 3.070, aprovado em 10 de junho. Em seu artigo primeiro, o novo regulamento trazia a menção especial à produção econômica das plantas e animais mais úteis e adaptáveis ao Estado de São Paulo, assim como incentivava a aproximação com as indústrias mais ligadas à agricultura. O regulamento dizia que a escola passaria a ter três cursos: o fundamental (um ano), o geral (três anos) e o de revisão (mais um ano). Aos alunos aprovados em todas as matérias dos cursos fundamental e geral seria concedido diploma de “agrônomos”. Os diplomados que tivessem feito o curso de revisão receberiam um atestado de especialização concedido pelo Diretor da escola e assinado pelo professor catedrático da cadeira em que houvessem se especializado. Foi introduzido também o concurso para admissão de seu corpo docente. O regulamento de 1919 criava ainda uma oitava cadeira, que pretendia ensinar a disciplina de Tecnologia Rural (ESTADO DE SÃO PAULO, 1919).
Ainda em 1919 foi definida a introdução de exercícios militares obrigatórios nas duas primeiras horas de aula do dia, para os alunos da escola: “a) evoluções militares; b) instruções práticas de atirador; c) preleções em aula, no recinto da Escola; d) nomenclatura do fuzil “Mauser” e seus acessórios; e) esgrima de baioneta; f) exercícios de tiro” (MENDONÇA, 1998, p. 15). Dessa forma, afirma ainda Sônia Regina de Mendonça, os princípios de disciplina, ordem e hierarquia próprios ao ethos militar, integravam a formação dos alunos da escola. O estágio seria praticado na própria escola, em excursões parciais e numa grande excursão ao final do curso. As aulas práticas teriam a partir de então a mesma duração das teóricas, a saber, 60 minutos cada.
A lei estadual nº 2.111, de 30 de dezembro de 1925, que reorganizou a escola, definiu a criação da 9ª cadeira, zoologia, como cadeira específica, a qual versaria sobre entomologia, parasitologia, apicultura’ e sericultura, anatomia e fisiologia dos animais domésticos. Ficou instituído estágio no Instituto Agronômico de Campinas, nos estabelecimentos zootécnicos ou em outros estabelecimentos que proporcionassem a especialização agronômica dos engenheiros agrônomos diplomados pela escola. Aos alunos que apresentassem maior aproveitamento no estágio ficava facultado o aperfeiçoamento dos estudos em instituições estrangeiras à custa do Estado. Foram criados os cursos de administrador rural e de capataz rural, anexos à escola.
Os alunos aprovados em todas as disciplinas do curso fundamental e geral receberiam o diploma de engenheiro agrônomo e não mais de agrônomo, atendendo à intensa reivindicação de alunos e professores e fortalecendo a idéia de se fazer da escola uma instituição de ensino superior.
Compunha, nesta época, o pessoal da Escola Agrícola “Luiz de Queiroz”: diretor, professores catedráticos, professores auxiliares, ajudantes de laboratório e gabinete, mestre de leiteria, auxiliar de agrostologia, auxiliar de bromatologia, mestres de oficina, administrador da Fazenda Modelo, escriturários, porteiro, bedéis, zeladores de laboratórios e gabinetes,, fiscal, mensageiro e serventes.
Em 1930 foi feita uma reforma através da qual deu-se provimento para que as cadeiras com mais de um auxiliar fossem desdobradas em cadeiras distintas, preservando-se no mais toda a estrutura anterior. No ano seguinte a escola ganhou status de estabelecimento de ensino superior, tornando-se a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
Pelo decreto nº 6.606, de 16 de agosto de 1934, a escola foi transferida da Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio para a da Educação e Saúde Pública, sendo incorporada à Universidade de São Paulo, adotando a denominação de Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, que permanece até os dias atuais. Em 1935, com o decreto nº 7.066, de 6 de abril, foi aprovado novo regulamento para a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz, segundo o qual a instituição manteria normalmente um curso superior de agricultura (quatro anos), para habilitar técnicos para superintenderem as estações experimentais, para a exploração racional das propriedades agrícolas e demais funções do agrônomo ou engenheiro agrônomo. Haveria, então, cursos equiparados ao normal, cursos de especificação para estudantes de agronomia, agrônomos ou engenheiros agrônomos, cursos de aperfeiçoamento para ampliar conhecimentos nas diversas disciplinas professadas na escola, cursos livres, e cursos de extensão universitária.
Publicações oficiais
O Centro Acadêmico Luiz de Queiroz, fundado em 1909 pelos alunos, e com a participação de professores e funcionários, da escola da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, lançou em fevereiro deste mesmo ano a revista O Solo, de tiragem mensal através da qual manifestavam suas opiniões, projetos e promoviam debates. Com o lema:
“O Solo é a Pátria, cultivá-lo é engrandecê-la” o periódico tinha como premissa “a execução dum vasto programa destinado a despertar nos leitores o amor às múltiplas questões agrícolas, a acordar no seio de nossas populações sertanejas, o interesse pelos magnos assuntos que se referem mais de perto à vida nacional” (MENDONÇA, p. 23).
A partir de 1919 surgiu o Boletim da Escola Agrícola “Luiz de Queiroz”, periódico mensal que escolhia um determinado tema e o explorava informando as novas técnicas de uma dada produção ou cultivo. O primeiro número foi sobre a criação de suínos.
Em 1944, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo começou a publicar o periódico Anais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, que detalhava todos os procedimentos de ensino e publicava dados sobre a instituição.
Fontes
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Ficha técnica
Pesquisa - Breno Pimentel Câmara; Leandro de Aquino Soares.
Redação - Breno Pimentel Câmara; Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Revisão – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
ESCOLA AGRÍCOLA PRÁTICA DE PIRACICABA. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 14 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)