ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA E VETERINÁRIA: mudanças entre as edições

De Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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Edição atual tal como às 22h51min de 6 de setembro de 2023

Denominações: Escola Superior de Agricultura e Veterinária (1922); Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (1926); Escola Superior de Agricultura e Veterinária (1929); Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (1935); Escola Superior de Veterinária da Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (1948); Escola Superior de Agricultura da Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (1948);  Escola de Veterinária da Universidade de Minas Gerais (1961); Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (1965); Escola Superior de Agricultura da Universidade Federal de Viçosa (1969) 

Resumo: A Escola Superior de Agricultura e Veterinária foi fundada em 30 de março de 1922, na cidade de Viçosa (Estado de Minas Gerais), com o objetivo de ministrar o ensino de agricultura e veterinária. Inaugurada no dia 28 de agosto de 1926, teve como primeiro diretor o agrônomo norte-americano Peter Henry Rolfs, e entre seus professores Diogo Alves de Mello, Hermann Rehaag, Nelson Lelis, Octavio do Espírito Santo e Francisco Horta. Deu origem às atuais Escola Superior de Agricultura da Universidade Federal de Viçosa e Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais.

Histórico

Em 6 de setembro de 1920, a lei estadual nº 761 autorizou o governo do Estado de Minas Gerais a criar uma escola superior de agricultura e veterinária, onde fossem realizados estudos experimentais que concorressem para o desenvolvimento de tais ciências. No mesmo ano, o Presidente do Estado, Arthur da Silva Bernardes, solicitou a José Cochrane de Alencar, Embaixador do Brasil em Washington, que obtivesse junto ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos a indicação de um especialista para organizar e dirigir uma escola agrícola moderna. Entre as sugestões, foi feita a indicação de Peter Henry Rolfs (1865-1944), ex-diretor do Florida Agricultural College/University of Florida (Gainesville, U.S.A.), que apresentava as seguintes referências:

“O professor Rolfs é especialista consumado na matéria. Além de seus dois livros sobre a cultura e produção de legumes, obras que gozam de grande aceitação nos Estados Unidos, é autor de 43 boletins sobre grande variedade de culturas, moléstias de plantas, vida de insetos e modo de combatê-los, tratamento de animais domésticos, em saúde e enfermos, além de vários artigos que figuram na Cyclopedia of American Horticulture, e muitos outros em diferentes revistas agrícolas daquele país. É ainda digna de menção a sua contribuição para Florida States Horticultural Society, em que em amis de quarenta dissertações de cunho científico, ele percorre, com reconhecida competência, o vasto campo de sua especialidade (....).” (MENSAGEM, 1921, p.13-14)

Peter Henry Rolfs chegou ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1921, e estabeleceu-se em seguida em Belo Horizonte. Participou, ainda em fevereiro daquele ano, da primeira reunião da comissão encarregada de escolher o local de instalação da escola e apresentar ao Governo os planos de construção do prédio e os programas de ensino. Integraram, também, esta comissão Álvaro da Silveira (Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais), Arduino Bolivar (Academia Mineira de Letras), e Mário Monteiro Machado (formado na Escola de Minas de Ouro Preto).  

Após visitar as regiões de Ubá, Visconde do Rio Branco, Cataguases, Leopoldina, Juiz de Fora, Ponte Nova e Viçosa, a cidade de Viçosa foi a escolhida. Peter Henry Rolfs “considerou a altitude e o clima de Viçosa como de singular importância na decisão a ser tomada, não se esquecendo do fato de Arthur Bernardes ser viçosense” (UFV, 2004). O decreto estadual nº 5.806, de 30 de novembro de 1921, aprovou os planos e a planta da futura escola, autorizando as desapropriações necessárias.
 
Com o intuito de ministrar o ensino prático e teórico de agricultura e veterinária em Minas Gerais, foi determinada, através do decreto estadual nº 6.053, de 30 de março de 1922, do então presidente do Estado de Minas Gerais Arthur da Silva Bernardes, a fundação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária. 

A decadência do café na zona da mata mineira e as carências de sua população rural têm sido geralmente apontados como motivos para a adoção de um ensino agrícola e prático, com a criação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária, em Viçosa. Entretanto, afirma Fátima Lopes, este argumento econômico não é suficiente, porque embora aquela região apresentasse uma produção agrícola menor que de outras áreas, ainda assim concorria com os pólos mais produtivos do país. Por outro lado, a afirmação de que se tratava de uma instituição voltada para o ensino da população rural, também não é o mais correto pois a Escola, na forma que se estruturou, era “uma escola para formação de classes dirigentes rurais” (LOPES, 1995, p.20).

Era a época da política do “café-com-leite”, caracterizada pela alternância de São Paulo e Minas Gerais na Presidência da República. Arthur da Silva Bernardes, então Presidente do Estado de Minas Gerais, seria o próximo a ocupar o cargo e entendia que a criação de uma escola de agronomia seria o coroamento de sua administração à frente do executivo estadual, visto que a maior parte da população mineira vivia no campo. Minas Gerais tinha, à época, o maior colégio eleitoral do país e contava ainda com a maior bancada de deputados e senadores no Congresso Nacional, a qual apresentava uma certa unidade em torno do ruralismo e da luta pela permanência do Brasil como país de vocação agrícola. O conjunto desses fatores possibilitou a ascensão de Arthur da Silva Bernardes à Presidência da República, e assim era de se fazer crer que a escola nasceria o mais breve possível. Considerado como o idealizador da instituição, Arthur Bernardes assim expressou-se sobre sua criação: 

“Esta Escola está destinada a, em 20 anos, revolucionar a lavoura mineira, porque não forma bacharéis em agricultura, mas autênticos agricultores. Cada um de nós encontra geralmente, apenas três caminhos para os filhos que concluem os estudos de humanidades: medicina, direito e engenharia. Poucos se dirigem para a vida agrícola, fonte de felicidade. Os fazendeiros em regra não pensam assim; mas, com eles mais facilmente se encontra a felicidade”. (Apud RACIOPPI, 1932, p.31)

O ensino da agronomia já vinha sendo ministrado no país desde o século XIX, através da Imperial Escola Agrícola da Bahia (1875), da Imperial Escola de Medicina e Veterinária e de Agricultura Prática, em Pelotas (Rio Grande do Sul, 1883) e daEscola Agrícola Prática de Piracicaba (São Paulo, 1900). Antes disso, se teve notícia pelo regulamento nº 15, de 1º de abril de 1838, da criação de uma escola de agricultura na Fazenda Nacional da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, então capital do Império. Essa escola tinha como objetivos o ensino da botânica e o aperfeiçoamento da agricultura no país (TORRES, 1926). Em 1908, na falta de uma Escola de Veterinária, o governo brasileiro solicitou ao Instituto Pasteur, na França, sob a direção de Pierre Paul Émile Roux, a indicação de dois médicos veterinários para orientarem os estudos de instalação de um curso prático. Foram enviados então, a 10 de maio daquele ano, os veterinários Tenente-coronel Antoine Dupy e Capitão Paul Ferret, que integraram a primeira Missão Militar Francesa, que se estendeu até 1911. Dois anos mais tarde, pelo decreto nº 2.232 de 6 de janeiro de 1910, que regulamentou a nova organização do Serviço de Saúde do Exército, foi autorizada a criação de uma Escola de Veterinária do Exército como um dos seus órgãos. O decreto nº 8.319, de 20 de outubro de 1910, criou o ensino agronômico no país, e determinou que este seria ministrado junto com o de medicina veterinária na denominada Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, criada em 1910 no Distrito Federal. 

O decreto estadual nº 3.356, de novembro de 1911, do Presidente do Estado de Minas Gerais, Júlio Bueno Brandão, que regulamentou o ensino agrícola naquele estado, determinou que este seria mais prático do que teórico, direcionado aos menores de 18 anos que freqüentassem ou não as escolas públicas, aos lavradores e àqueles que desejassem dedicar-se à vida agrícola. Neste sentido foi criada em 1914, por iniciativa particular, em Belo Horizonte, a Escola Mineira de Agronomia e Veterinária, de nível superior e que funcionou até 1942 (LOPES, 1995, nota, p.22). 

Da mesma forma que algumas outras escolas de agronomia brasileiras, como a Imperial Escola Agrícola da Bahia e a Escola Agrícola Prática de Piracicaba, que viveram seus primeiros anos de existência debatendo se teriam um caráter prático, de ensino médio, ou teórico, de ensino superior, a Escola Superior de Agricultura e Veterinária nasceu como uma instituição de nível médio, preocupada com a melhor instrução dos trabalhadores do campo, para pouco depois se tornar também de nível superior.

Peter Henry Rolfs foi o primeiro diretor da instituição, e o responsável pela introdução da primeira coleção de plantas distintas das nativas para a Escola, com as primeiras mudas de abacate-da-Guatemala trazidas por ele no início de 1925.  

Em 1926, quando Arthur da Silva Bernardes já era Presidente da República, Fernando de Mello Vianna, Presidente do Estado de Minas Gerais, expôs, através de mensagem apresentada ao Congresso Mineiro, as razões que o faziam pensar em dar prioridade ao ensino prático e elementar, em detrimento do direcionamento da entidade para o ensino superior:

 “Seduz meu espírito, no momento, uma grande plebe instruída e menos doutores de agricultura. Aquela concorrerá para a prosperidade da economia geral mais eficientemente, porque não se candidatará a empregos públicos e voltará aos campos, ao inverso destes que pretenderão fazer agricultura retórica nos grandes centros. Mais tarde e à medida que o estabelecimento preparar seus alunos nos cursos inferiores, serão instalados os superiores para formação de professores.” (MENSAGEM,1926)

A referida mensagem descrevia ainda a estrutura que estava sendo concluída para abrigar a escola. Além do amplo e elegante o edifício onde ficavam localizadas as salas de aula, haveria a residência do diretor, depósito para máquinas inseticidas, abrigo para máquinas agrícolas e instrumentos, viveiro, estábulo para bezerros, depósito de forragens, cocheira para muares, leiteria, depósito para alimentação aos porcos, pocilgas, estábulo para grandes e pequenos animais, abrigo para instrumentos cirúrgicos, depósito de alimentos para animais doentes, celeiro e depósito de milho. O mobiliário da escola vinha sendo feito nas próprias oficinas de serraria e carpintaria da escola. 

Em 12 de abril de 1926 Peter Henry Rolfs apresentou ao governo estadual o primeiro projeto de regulamento, mas não obteve sua aprovação.  Tendo este projeto como base, e contando com a assessoria de agrônomos e educadores da capital mineira, João Carlos Bello Lisbôa, que participara da equipe de engenheiros responsáveis pela construção da Escola desde 1922, elaborou o texto do qual originou-se o decreto estadual nº 7.323, de 25 de agosto de 1926, promulgado pelo Presidente do Estado de Minas Gerais, Fernando de Mello Vianna, e pelo Secretário de Agricultura, Daniel Serapião de Carvalho. 

O decreto nº 7.323 aprovou o primeiro regulamento da instituição, denominada a partir de então Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, e definiu que o ensino ministrado naquela instituição teria o objetivo de educar a população agrícola do Estado nos assuntos relativos à vida rural, e de melhorar suas condições morais, mentais e econômicas. Seus cursos habilitariam agricultores com conhecimentos científicos para exploração racional do solo, administradores para diferentes serviços públicos e particulares pertinentes à vida agrícola, tecnologistas para indústrias ligadas à agricultura, engenheiros agrônomos para serviços agrícolas, veterinários para o exercício da medicina aplicada aos animais domésticos, e professores para o ensino agrícola. O regulamento definia várias modalidades de cursos para a instituição, os breves, os elementares, os médios, os superiores e os de especialização. Os cursos de especialização, onde as pesquisas com os altos estudos sobre agricultura seriam desenvolvidas, destinavam-se aos alunos que houvessem concluído o curso superior de Agricultura ou de Veterinária, e seria conferido, após a defesa de uma tese, o título de doutor. A Escola, em Viçosa, considerada a primeira instituição brasileira a ter cursos de pós-graduação na área de ciências agrárias, fez com que mais tarde esta instituição se destacasse como a que mais tinha docentes com graus de mestre e doutor (LOPES, 1995, p.40).

A solenidade de inauguração, ocorrida no dia 28 de agosto de 1926, contou com a participação do idealizador da instituição que, naquele momento, ocupava o cargo de Presidente da República, Arthur da Silva Bernardes, do Presidente do Estado de Minas Gerais, Fernando de Mello Vianna, e de outras autoridades do Estado, da Igreja e da sociedade local. Ao som da fanfarra de cavalaria da Brigada Policial do Rio de Janeiro, que chegara à cidade na véspera, a comitiva presidencial desembarcou do trem na estação da Leopoldina, localizada a poucos metros do prédio da escola. Prédio este, que construído em estilo neoclássico, extremamente suntuoso para a época e o local, tinha um formato retangular e dois andares. Houve missa campal e bênção do edifício. 

Em seu discurso, permeado de lembranças de sua terra natal e de sua trajetória política iniciada no município de Viçosa, o presidente Arthur Bernardes declarou:

“O grande interesse do Brasil está ainda na agricultura, está no aumento da produção, está na solução de todas as nossas dificuldades financeiras. (…) O problema da produção está imediatamente ligado à mão-de-obra. É preciso, portanto, fixar e interessar o trabalhador, tornar o meio mais agradável e próprio à vida, arrancando o trabalhador à sedução da cidade; assistência e proteção; associar o trabalho ao capital, criando a harmonia e solidariedade dos interesses.” (LOPES, 1995, p.30)    

Em 1º de agosto de 1927, a Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais iniciou seus cursos fundamental e médio. Presidiu a solenidade inaugural o diretor Peter Henry Rolfs, tendo a seu lado o vice-diretor João Carlos Bello Lisbôa, engenheiro civil formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, e os professores Diogo Alves de Mello, Hermann Rehaag, Nelson Lelis Ferreira, Octavio do Espírito Santo e Francisco Horta. As aulas do curso superior de agronomia foram iniciadas no semestre seguinte. 

Em 1929, Arthur da Silva Bernardes, então senador, destacou a importância da instalação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária para a agricultura brasileira:

“ Impressionado, na Presidência do Estado de Minas, com o fato de já contar o Brasil um século de vida política independente sem cuidar seriamente do ensino profissional, em que se deve alicerçar sua futura grandeza industrial, criei esta Escola Superior de Agricultura e Veterinária com o alto objetivo de abolir o empirismo agrícola, a que tantos mineiros consagravam suas energias, no amanho diuturno da terra como na criação e pastoreio dos seus rebanhos. Tendo me cabido a fortuna de criá-la como Presidente de Minas e tendo tido a satisfação de assistir, como Presidente da República, à sua inauguração oficial, regozijo-me ao vê-la, hoje, em pleno funcionamento e já despertando novos estímulos nas gerações, empenhadas, agora, numa atividade racional e científica, que há de conduzi-las a maior e mais fácil prosperidade. É o alvorecer de uma nova era nos destinos econômicos do Estado e do País, já se podendo antever uma larga messe e uma próxima e pujante colheita. Satisfeitos e contentes devem sentir-se quantos colaboraram nesta iniciativa vitoriosa, sobretudo os governantes que me sucederam, o fundador técnico e ex-diretor da Escola, Professor P. H. Rolfs, e o encarregado da construção das obras e seu diretor atual, o ilustre engenheiro J. C. Bello Lisboa, com os quais me congratulo ainda uma vez. - Viçosa, 12 de março de 1929. Arthur Bernardes - Senador da República”. (Apud UFV, 2004)

A direção da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, no período de 1º de fevereiro de 1929 a 21 de janeiro de 1936, ficou a cargo de João Carlos Bello Lisbôa, que posteriormente foi catedrático de engenharia rural na instituição.
O estatuto da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, aprovado em 15 de fevereiro de 1929, determinou a supressão da expressão “do Estado de Minas Gerais” da denominação da entidade (LOPES, 1995).

A Escola Superior de Agricultura e Veterinária, em 1929, já aparecia como o mais importante estabelecimento de ensino agrícola de Minas Gerais, chegando a 115 o número de matriculados, próximo do número máximo comportado pela Escola, que era de 120 alunos (MENSAGEM, 1930).

A Congregação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária aprovou um outro estatuto para a instituição, em 1930, no qual destacava-se como finalidades da instituição:

“Tem por fim adquirir e disseminar conhecimentos relativos à economia rural, em todos os seus graus e modalidades. Dedicada especialmente aos fazendeiros mineiros, visa, de modo especial, a educação agrícola de seus filhos e o aumento da riqueza das fazendas pela aplicação dos métodos mecânicos modernos, pelo aperfeiçoamento das culturas existentes e pela introdução de novas espécies de plantas e animais” (Apud LOPES, 1995, p.35-36).

Em 1930 haviam 27 estudantes matriculados no curso elementar, 91 no curso médio e 35 no curso superior. Destes, a maioria era oriunda do Estado de Minas Gerais, com 131 alunos, sendo nove da capital, Belo Horizonte, e 67 da região da Zona da Mata mineira, o que atendia às preocupações dos idealizadores da Escola de atrair pessoas próximas da região onde moravam. A primeira turma de engenheiros agrônomos, formada pela Escola Superior de Agricultura e Veterinária, colou grau em dezembro de 1931.

Em 1º de março de 1932, foi instalado na instituição o Curso Superior de Medicina Veterinária, ocorrendo, somente em 1935, a graduação da primeira turma de médicos veterinários, com quatro diplomados.

Em janeiro de 1935, foi criado o “Mês Feminino” na Escola Superior de Agricultura e Veterinária, uma iniciativa de ministrar cursos sobre assuntos domésticos, mostrando a preocupação da escola com o lar das famílias dos fazendeiros. Tal evento, segundo Fátima Lopes (1995), não prosperou como a Semana do Fazendeiro, mas lançou as bases precursoras dos cursos de Administração do Lar e de Economia Doméstica.  

O Presidente da República Getúlio Vargas por meio do decreto nº 112, de 4 de abril de 1935, reconheceu como oficial a entidade, conferindo-lhe as prerrogativas e direitos que assistiam por lei os estabelecimentos superiores federais de ensino. O decreto considerava adequadas as instalações da Escola para o ensino agrícola em seus três níveis: elementar, médio e superior. Julgava ainda que, do ponto de vista pedagógico, era um estabelecimento com personalidade própria e definida, muito útil e conveniente, de grande influência perante a lavoura, e muito bem avaliado pela inspeção feita pelos técnicos do Ministério da Agricultura, merecendo por tudo isso continuidade em suas ações. Com o referido decreto voltou a denominar-se Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (BRASIL, 1935).

No final dos anos 30, foi criado o departamento de educação rural na instituição, dirigido por Joaquim Fernandes Braga, que, fortalecendo a idéia da extensão rural, objetivava a assistência técnica e a difusão de conhecimento aos agricultores. Foi daí que surgiu a Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR), a primeira associação do gênero no Brasil, que instalou seu centro de treinamento na Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, em Viçosa. Naquela época a Escola já tinha o projeto de se transformar em universidade. 

Em 20 de janeiro de 1942 o decreto-lei estadual nº 824, assinado pelo Governador do Estado de Minas Gerais, Benedito Valadares Ribeiro, e por seu Secretário de Agricultura, Israel Pinheiro da Silva, separou o Curso de Veterinária da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, transferindo-o para Belo Horizonte, como escola homônima, a Escola Superior de Veterinária. Em 13 de novembro de 1948, pela lei estadual nº 272, foi criada a Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (UREMG), a qual seria inicialmente constituída pelos seguintes estabelecimentos: Escola Superior de Agricultura, Escola Superior de Veterinária, Escola Superior de Ciências Domésticas, Escola de Especialização, Serviço de Experimentação e Pesquisa, e Serviço de Extensão. Por este decreto a Escola Superior de Agricultura do Estado de Minas Gerais e a Escola Superior de Veterinária do Estado de Minas Gerais foram incorporadas à Universidade Rural. A Escola Superior de Veterinária do Estado de Minas Gerais, a partir de então, seria transferida da capital mineira para a cidade de Viçosa.

A lei nº 3.877, de 30 de janeiro de 1961, federalizou a Escola Superior de Veterinária, como um dos estabelecimentos mantidos pela União, e lhe conferiu a denominação de Escola de Veterinária da Universidade de Minas Gerais. 

Em 20 de agosto de 1965, com a lei nº 4.759, as universidades e escolas técnicas da União, vinculadas ao Ministério da Educação e Cultura, foram qualificadas de federais e receberam a denominação de seu respectivo Estado, e desta forma a Escola de Veterinária da Universidade de Minas Gerais passou a ser denominada de Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. 

Por meio do decreto nº 64.825, de 15 de julho de 1969, foi criada a Universidade Federal de Viçosa, à qual ficou incorporada a Universidade Rural de Minas Gerais, criada em 1948 e integrada ao sistema federal de ensino em 1961. A Universidade Federal de Viçosa ficava constituída pelas seguintes unidades: Instituto de Ciências Exatas, Instituto de Ciências Biológicas, Instituto de Geociências, Instituto de Ciências Humanas, Instituto de Letras e Artes, Escola Superior de Agricultura, Escola Superior de Ciências Domésticas, e Escola Superior de Florestas.

Diretores:
Peter Henry Rolfs (01/08/27-01/02/29); João Carlos Bello Lisbôa (01/02/29- 21/01/36); Sócrates Renan de Faria Alvim (12/02/36-24/12/36); John Benjamin Griffing (24/12/36-05/07/39); Geraldo Gonçalves Carneiro (15/01/40-11/09/44); José de Mello Soares Gouvêa (11/09/44-20/12/46); Antônio Secundino de São José (16/02/47-23/01/51).

Estrutura e funcionamento

A escolha de Peter Henry Rolfs, do Florida Agricultural College/University of Florida (Gainesville, U.S.A.), como o especialista para colaborar na organização e na direção da escola superior de agricultura e veterinária agrícola a ser instalada no Estado de Minas Gerais, contribui enormemente para a definição do formato da escola que veio a ser criada em 1922, na cidade de Viçosa. Desta forma adotava-se como padrão de ensino para a Escola Superior de Agricultura e Veterinária o modelo dos land grant colleges norte-americanos, exitosos em seu país de origem, e que se pautavam na ideia “Aprender fazendo e Ciência e Prática”. A Escola fundamentou-se na trilogia ensino-pesquisa-extensão. 

À Peter Henry Rolfs foram atribuídas as funções de dirigir o estabelecimento, colaborar na escolha do local para a instalação da Escola, e apresentar ao governo os planos das construções e os programas de ensino. 

O primeiro regulamento da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, aprovado pelo decreto nº 7.323, de 25 de agosto de 1926, estabelecia o seguinte quadro técnico e administrativo para a instituição: um diretor; 15 professores catedráticos; 12 professores auxiliares; dois mestres de oficina; um administrador da fazenda; um secretário; um bibliotecário; um porteiro; três inspetores de alunos; e cinco serventes. O diretor, o secretário e o bibliotecário seriam nomeados ou contratados pelo Presidente do Estado de Minas Gerais, e os demais funcionários pelo Secretário de Agricultura. Os profissionais contratados, tanto para as funções técnicas quanto para as administrativas, deveria ser especialistas, nacionais ou estrangeiros, de notória competência.  

À congregação da instituição, constituída pelo diretor, pelos professores catedráticos e auxiliares, incumbia conferir os prêmios instituídos, organizar o regimento interno e os estatutos da Escola,  eleger comissões regulamentares e extraordinárias, cooperar com a administração, aprovar os programas, julgar a idoneidade dos candidatos a catedráticos e auxiliares, assistir as defesas de tese e impor penalidades.  

Este regulamento de 1926 definia que o ensino seria feito em várias modalidades de cursos, os breves, os elementares, os médios, os superiores e os de especialização. Os cursos breves, com duração de oito semanas, tinham como objetivo dar instruções práticas e imediatas sobre agricultura e veterinária para aqueles que não pudessem freqüentar os cursos mais longos.

Os cursos elementares tinham a duração de um ano, contemplavam o ensino da agricultura e veterinária de caráter fundamentalmente prático, eram voltados para o preparo de agricultores e capatazes rurais. Nestes cursos as disciplinas oferecidas eram agricultura, criação dos animais domésticos, veterinária, horticultura, pomicultura, jardinocultura, português, aritmética, história do Brasil, geografia, noções de desenho e contabilidade. 

Os cursos médios, ao longo de dois anos, eram destinados aos filhos de fazendeiros ou agricultores sem curso ginasial, e objetivavam formar bons técnicos agrícolas e administradores rurais, por meio das seguintes disciplinas: botânica, zoologia, física, moléstias das plantas, agricultura, zootecnia, silvicultura, horticultura, pomicultura, indústrias rurais, máquinas agrícolas, trabalhos de engenharia rural, higiene veterinária, aritmética e contabilidade agrícola, álgebra, geometria, português e história do Brasil. 

Os cursos superiores de agricultura e veterinária destinavam-se á formação de profissionais de agronomia e veterinária, apresentando um ensinamento teórico-prático integral das disciplinas fundamentais para o exercício destas profissões. Sua duração era de quatro anos, divididos em oito semestres, e poderiam candidatar-se aqueles que tivessem completado o curso ginasial. 

De acordo com o referido regulamento, os primeiros programas deveriam ser aprovados pelo Secretário da Agricultura, por solicitação do diretor da Escola, e as modificações feitas posteriormente nos programas das diversas cadeiras deveriam ser notificas à congregação da instituição. 

O curso superior de agricultura apresentava o seguinte programa de disciplinas: 
- 1º ano
1º semestre: botânica geral; zoologia geral e zootecnia geral; revisão de matemática elementar; agricultura geral; mecânica agrícola; física; desenho geométrico.
2º semestre: botânica geral e início de horticultura e pomicultura; zoologia geral e zootecnia especial; contabilidade agrícola; agricultura especial; química geral e mineral; meteorologia e climatologia; desenho livre.
- 2º ano
1º semestre: horticultura e pomicultura; zoologia agrícola e zootecnia especial; mineralogia e geologia; agricultura especial; química orgânica; botânica criptogâmica e invertebrados; desenho a mão livre (somente de membros de plantas).
2º semestre: horticultura e pomicultura; exterior dos animais domésticos e zootecnia especial; motores agrícolas; agricultura especial; química analítica; parasitologia e microbiologia; desenho a mão livre (referente a pragas).
- 3º ano
1º semestre: agricultura especial; anatomia, fisiologia e zootecnia especial; topografia; solos; química agrícola; entomologia e fitopatologia; desenho topográfico.
2º semestre: plantas ornamentais; zootecnia especial; estradas de rodagem; adubos; tecnologia; entomologia e fitopatologia; desenho de estradas, parques e jardins.
- 4º ano
1º semestre: silvicultura; higiene; hidráulica agrícola; genética vegetal; tecnologia; economia rural; desenho de diagramas.
2º semestre: silvicultura; noções de veterinária; construções rurais; genética animal; estatística agrícola; direito e legislação rurais; desenho de obras e construções rurais.  

O curso superior de veterinária apresentava o seguinte programa de disciplinas:
- 1º ano
1º semestre: zoologia geral e zootecnia geral; botânica geral; agricultura geral; física; anatomia descritiva dos animais domésticos; assistência aos hospitais de veterinária.
2º semestre: zoologia geral e zootecnia especial; botânica geral; meteorologia e climatologia; química geral inorgânica; anatomia descritiva dos animais domésticos; assistência aos hospitais de veterinária.
- 2º ano
1º semestre: zoologia agrícola e zootecnia especial; plantas venenosas e medicinais; fisiologia geral; química orgânica; histologia e embriologia; assistência aos hospitais de veterinária.
2º semestre: exterior dos animais domésticos e zootecnia especial; microbiologia; fisiologia dos animais domésticos; química biológica; anatomia regional; assistência aos hospitais de veterinária.
- 3º ano
1º semestre: agricultura especial e zootecnia especial; microbiologia; fisiologia patológica; higiene; anatomia patológica; hospitais de veterinária.
2º semestre: zootecnia especial; parasitologia, moléstias parasitárias dos animais domésticos; moléstias contagiosas dos animais domésticos; higiene; propedêutica, patologia e clínicas médicas; hospitais de veterinária.
- 4º ano
1º semestre: parasitologia, moléstias comuns aos homens e animais domésticos; terapêutica, farmacologia e toxicologia; patologia, propedêutica e clínicas cirúrgicas e obstétricas; grandes e pequenos matadouros, frigoríficos; propedêutica, patologia e clínicas médicas; hospitais de veterinária.
2º semestre: inspeção e conservação de produtos; terapêutica, farmacologia e toxicologia; patologia propedêutica e clínica cirúrgicas e obstétricas; política sanitária animal; contabilidade e estatística agrícola; hospitais de veterinária. 

Os cursos de especialização tinham a duração de dois anos, eram direcionados fundamentalmente para altos estudos e pesquisas originais sobre agricultura e veterinária, e destinados para aqueles que tivessem concluído um dos cursos superiores daquela instituição ou de outra congênere. O aluno poderia escolher para sua especialização qualquer uma das disciplinas dos cursos superiores, mas os cursos apresentariam seções permanentes para o aperfeiçoamento da agricultura, da zootecnia, das ciências físico-químicas e naturais, da genética, da silvicultura, das indústrias agrícolas, da mecânica agrícola, da engenharia rural, do ensino agrícola, da inspeção e conservação dos produtos de origem animal e das clínicas veterinárias.

As disciplinas, dos diversos cursos, eram distribuídas entre quinze cadeiras, as quais constituíam os departamentos de ensino da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais:
1ª cadeira – agronomia: agricultura geral, agricultura especial, genética vegetal.
2ª cadeira – zootecnica: zoologia geral (inclusive vertebrados), zoologia agrícola, zootecnia geral, zootecnia especial, alimentação animal, dietética, genética animal.
3ª cadeira – horticultura e pomicultura: botânica geral (anatomia, morfologia, fisiologia e fanerógamos), horticultura, pomicultura, plantas ornamentais. 
4ª cadeira – fitopatologia: zoologia geral (invertebrados), botânica criptogâmica, microbiologia e parasitologia, entomologia, fitopatologia, apicultura e sericultura.
5ª cadeira – solos e adubos: física, meteorologia e climatologia, mineralogia, geologia, solos, adubos.
6ª cadeira – silvicultura: botânica florestal, botânica de plantas medicinais e tóxicas, silvicultura, produtos e subprodutos florestais.
7ª cadeira – química: química geral e inorgânica, química orgânica, química analítica, química agrícola, noções de química biológica, tecnologia, inspeção e conservação de produtos alimentares.
8ª cadeira – engenharia rural: mecânica agrícola, topografia, motores e máquinas agrícolas, hidráulica agrícola, estradas de rodagem, construções rurais, desenho a mão livre, geométrico, topográfico e de arquitetura rural.
9ª cadeira – anatomia: anatomia descritiva e regional dos animais domésticos, histologia e embriologia, exterior dos animais domésticos, anatomia patológica.
10ª cadeira – microbiologia e parasitologia: microbiologia, parasitologia, moléstias parasitárias dos animais domésticos e moléstias comuns aos homens e aos animais domésticos. 
11ª cadeira – fisiologia: fisiologia geral, fisiologia dos animais domésticos, fisiologia patológica.
12ª cadeira – clínica veterinária: patologia propedêutica e clínica médicas, molésticas coantagiosas dos animais domésticos, farmacologia, terapêutica e toxicologia.
13ª cadeira – cirurgia veterinária: patologia propedêutica e clínica cirúrgica e obstétrica, grandes e pequenos matadouros frigoríficos, higiene, polícia sanitária animal.
14ª cadeira – matemática e contabilidade agrícola: aritmética, álgebra, geometria, trigonometria, contabilidade agrícola, estatística agrícola.
15ª cadeira – economia e legislação rurais: economia rural, direito e legislação rurais, administração rural, português, história do Brasil e geografia. 

Os quadros de professores dos diversos departamentos deveriam ser preenchidos por profissionais habilitados nos departamentos de ensino (agronomia, veterinária, engenharia rural) da instituição, sendo que os quadros dos departamentos relacionados à veterinária como ensino geral deveriam ser ocupados por profissionais de medicina.

Entre os professores da Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, em 1926, estavam Diogo Alves de Mello, Hermann Rehaag (zootecnia), Nelson Lelis Ferreira, Octavio do Espírito Santo e Francisco Horta.

Para o ingresso nos cursos daquela Escola era requerido aos candidatos os seguintes documentos: 
- atestado de não sofrer de moléstia infecto-contagiosa ou repugnante, e ter sido vacinado contra varíola nos últimos cinco anos; 
- certidão de idade, extraída do registro civil, provando a idade mínima de 16 anos (para os cursos elementares e médios;
- documento comprobatório do preparo exigido para a matrícula no curso a que se destinar;
- prova de pagamento da taxa de admissão.

Para ingressar nos cursos médios o candidato deveria apresentar comprovação de aprovação em grupo escolar do Estado, ou curso equivalente reconhecido oficialmente, ou ainda de exame de admissão prestado na escola. O exame de admissão compreendia provas escritas (português, aritmética, noções de geometria e desenho) e provas orais (noções de geografia, história do Brasil e educação moral e cívica).

Nos cursos superiores o candidato deveria apresentar certificados de aprovação, em ginásio equiparado ao Colégio Pedro II, nos seguintes preparatórios: português, uma língua estrangeira moderna, aritmética, álgebra, geometria e trigonometria, geografia, corografia e comografia, física e química, história natural, história do Brasil, história universal.

A frequência às aulas, aos laboratórios e trabalhos teóricos ou práticos era obrigatória. Os alunos recebiam notas de aulas, de sabatinas e de provas escritas mensais, e aqueles que obtivessem notas inferiores a quatro em 50% em médias mensais de dois meses seguidos das matérias obrigatórias, poderiam ser convidados a retirar-se da instituição.

No regulamento de 1926 já existia a exigência de realização de trabalhos experimentais dos departamentos da Escola, de experiências e aclimação de plantas e animais, estudos e pesquisas originais com o intuito de buscarem “verdades básicas úteis à agricultura e à pecuária do Estado e se produzirem novas espécies de variedades, com valor econômico” (BRASIL, 1927,  p.891).

A instituição oferecia regimen de internato, semi-internato (com direito a almoço, merenda e jantar) e externato. A Escola poderia promover excursões práticas, para alunos dos diversos cursos, em locais e estabelecimentos agrícolas que pudessem enriquecer sua formação. 

O regulamento de 1926 definia, ainda, que a Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais deveria dispor das seguintes instalações para o ensino:
- laboratórios e gabinetes para as diversas cadeiras (agronomia, zootecnia, horticultura, pomicultura, fitopatologia, entomologia, química, solos, adubos, silvicultura, engenharia rural, anatomia, fisiologia, microbiologia e parasitologia, veterinária, higiene, botânica, física, zoologia, mineralogia e geologia).
- laboratórios rurais (campos e dependências de trabalho para agronomia, zootecnia, horticultura, pomicualtura, fitopatologia, entomologia, veterinária, silvicultura, engenharia rural, lacticínios e indústrias rurais).
- posto meteorológico, posto zootécnico, herbário, exposição permanente de produtos agrícolas, depósito de máquinas agrícolas e fazenda.  

Segundo este regulamento, aos alunos que concluíssem os cursos elementares eram conferidos certificados de capataz rural; aos dos cursos médios os certificados de técnico agrícola;  aos dos cursos superiores os diplomas de engenheiro agrônomo ou médico veterinário; e aos que concluíssem os cursos de especialização, e defendessem uma tese sobre pesquisas originais, era conferido um diploma de doutor em agronomia ou doutor em veterinária. Este regulamento foi modificado pelo decreto estadual nº 7.461, promulgado em 21 de janeiro de 1927. 

A Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais iniciou seus cursos, fundamental e médio, em 1º de agosto de 1927, com o total de 25 alunos matriculados.

O Presidente de Estado de Minas Gerais, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, em sua mensagem de 1927, ao referir-se à atuação de Peter Henry Rolfs na Escola, comentou que já existiam campos para a instrução prática dos alunos, e que estava prestes a funcionar uma seção especial criada para o cultivo e estudo de plantas oleaginosas (MENSAGEM, 1927, p.75).

O decreto estadual nº 7.461, de 21 de janeiro de 1927, modificou o regulamento da instituição, proposto em 1926. 

Conforme o Estatuto, aprovado pela Congregação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária em 1929, eram disciplinas obrigatórias: agrologia (geologia, mineralogia, solo), botânica, zoologia (com parasitologia e entomologia) e genética (animal e vegetal); microbiologia e fitopatologia; zootecnia (geral e especial, compreendendo também anatomia, fisiologia e exterior de animais domésticos); química (geral, mineral, orgânica, analítica e agrícola); física, meteorologia e climatologia; tecnologia das indústrias rurais; engenharia rural, compreendendo topografia, estradas de rodagem, mecânica, máquinas, motores, hidráulica agrícola, irrigação e drenagem, construções rurais e desenho; silvicultura; horticultura; pomicultura; higiene; noções de veterinária; economia rural (legislação, direito e administração), matemática; contabilidade e estatística agrícolas (Apud LOPES, 1995,  p.35).

Em junho de 1929 foi criada a Semana do Fazendeiro, a primeira do gênero no Brasil, que surgia como uma atividade anual com a finalidade de difundir tecnologia e conhecimentos agropecuários aos agricultores inscritos. Após sua divulgação do evento nos municípios de Rio Branco, Ubá e Cataguases, feita por seus organizadores, João Carlos Bello Lisbôa, Jacyntho Soares de Souza Lima, José Coelho da Silva e Joaquim Fernandes Braga, a Escola Superior de Agricultura e Veterinária recebeu a primeira caravana com 29 agricultores:

“Com a Semana do Fazendeiro, os agricultores vinham receber ensinamentos na Escola de Agricultura e nas Fazendas de Experimentação, através de cursos e palestras direcionadas a problemas do cotidiano dos fazendeiros. Esse serviço de extensão servia ainda para divulgar as pesquisas realizadas na Escola as classes agrícolas em geral”. (COMETTI, 2004)

Era um primeiro passo na direção da extensão do curso, uma forma de se legitimar a escola para além de seus domínios territoriais. O caráter imediato de tal iniciativa é explicado por Fátima Lopes, como sendo “a supremacia da prática sobre os ensinos teóricos, ponto sempre valorizado no modelo inspirador dos land-grant colleges americanos” (LOPES, 1995, p.46).

A extensão rural foi defendida desde seu início, entre outros, por John Benjamin Griffing, professor da Escola, que em discurso feito na instituição apresentou a proposta: 

“O departamento de Extensão com seu exército de trabalhadores auxiliará a espalhar por todo o Estado, forçando a sua aplicação entre os fazendeiros, as descobertas feitas. Além disso, (…) desenvolverá uma seção especializada de ensino, sobre métodos de extensão.” (LOPES, 1995, p.48)

Havia também no estatuto de 1929 a preocupação com a educação moral e higiênica dos alunos, com a adoção de uma disciplina intitulada “instrução moral, cívica e higiênica”, ministrada aos alunos por meio de conferências dos professores do quadro da escola ou de convidados. O Estatuto regulava diversos aspectos da vida acadêmica dos estudantes, e dispunha sobre as condições e características dos sistemas de internato, semi-internato e externato adotados na instituição. Aos alunos internos seria cobrada uma taxa semestral destinada à sua alimentação e conforto, e com relação aos alunos externos determinava:

“Os alunos externos são sujeitos à vigilância da Diretoria do Estabelecimento e só poderão residir em casa de família ou em hotéis e pensões que ofereçam completas garantias, quanto à higiene e moralidade. A residência nas chamadas ´repúblicas` não é permitida. A Diretoria do Estabelecimento poderá exigir a transferência de alunos, por motivo de moralidade ou higiene.” (LOPES, 1995, p.42)

Um novo regulamento para a Escola foi estabelecido pelo decreto estadual nº 10.154, de 15 de dezembro de 1931, no qual destacava-se as seguintes proposições:

“1) O regulamento dava autonomia administrativa e financeira à Escola, e constituía uma Junta administrativa. 2) O regulamento criava 15 departamentos pelos quais distribuíam as matérias estudas e ensinadas pela escola. 3) Era estabelecido que a unidade letiva será o semestre e não o ano”. (VITÓRIA, 2004) 

No regulamento de 1931, os departamentos referidos ainda eram os mesmos presentes no regulamento de 1926, mas enquanto neste afirmava-se que as matérias dos diversos cursos estariam distribuídas em quinze cadeiras, as quais constituiriam os departamento de ensino da instituição, o novo regulamento propunha que as matérias ensinadas pela Escola seriam distribuídas entre quinze departamentos. Desta forma, a referência anterior de cadeira de agronomia, por ex., passa a ser departamento de agronomia. Os departamentos seriam organizados de acordo com os recursos orçamentários e as necessidades da agricultura do Estado de Minas Gerais e do ensino.  

Publicações oficiais

A Escola Superior de Agricultura e Veterinária publicava artigos e trabalhos científicos de membros do corpo docente da instituição nas revistas Seiva e Ceres, publicações fundadas no fim dos anos 30 e início dos 40, que versavam sobre o ensino agrícola e a educação brasileira. O periódico Ceres, denominado posteriormente Revista Ceres, era o órgão divulgador da então Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais, e teve seu primeiro número publicado em julho/agosto de 1939. Entre seus primeiros diretores estavam os professores Nello de Moura Rangel, Geraldo Gonçalves Carneiro, Octavio Drummond, Edgard de Vasconcellos Barros e Arlindo de Paula Gonçalves. Ambos os periódicos se mantiveram até a atualidade.

OsArquivos da Escola Superior de Veterinária do Estado de Minas Gerais, criados em 1943, visavam igualmente a divulgação da produção científica da Escola, e progressivamente passaram a publicar também trabalhos de profissionais de outras instituições, nacionais e estrangeiras. Seu segundo número foi publicado em 1949, e a partir de então passou por várias denominações para se adequar às mudanças de estrutura da Escola: Arquivos da Escola Superior de Veterinária da Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (1950-1959), Arquivos da Escola de Veterinária (1960-1973), Arquivos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (1974-1982), e Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia (1983- atual).

Fontes

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Ficha técnica

Pesquisa – Breno Pimentel Câmara, Leandro de Aquino Soares, Brian Kigler Corrêa Ramos.
Redação – Breno Pimentel Câmara, Brian Kigler Corrêa Ramos, Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Revisão – Francisco José Chagas Madureira.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.

Forma de citação

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA E VETERINÁRIA. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 24 nov.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario


Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)