IHERING, RODOLPHO THEODOR WILHELM GASPAR VON
Outros nomes e/ou títulos:Ihering, Rodolpho von; Ihering, Rodolfo von
Resumo: Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering nasceu na cidade de Taquara do Mundo Novo, no Rio Grande do Sul, em 17 de julho de 1883. Filho do zoólogo alemão Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, também atuou no campo da zoologia, realizando estudos na área da piscicultura, especialmente sobre a fecundação artificial de peixes de água-doce no Brasil. Atuou no Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal de São Paulo, chefiou a Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste (1932-1937), e autor, entre outras, da obra "Dicionário dos Animais do Brasil". Faleceu em 15 de setembro de 1939.
Dados pessoais
Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering nasceu na cidade de Taquara do Mundo Novo, na então província do Rio Grande do Sul, em 17 de julho de 1883. Era filho do zoólogo alemão Hermann Friedrich Albrecht von Ihering e de Anna Maria Clarz Belzer, e neto de Caspar Rudolf von Ihering (1818-1892), destacado jurista alemão e autor de “Der Zweck im Recht” (“A Luta pelo Direito”), cujo primeiro volume foi publicado em 1877.
Em 1908 se casou com Izabel de Azevedo, filha do coronel Luiz Gonzaga de Azevedo, diretor do Tesouro Federal, com quem teve duas filhas, Maria e Dora, e um filho, caçula, que faleceu aos quatro anos de idade.
Faleceu no dia 15 de setembro de 1939.
Trajetória profissional
Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering viveu na Ilha do Doutor, de propriedade de seu pai, localizada em São Lourenço do Sul (província do Rio Grande do Sul), até o ano de 1892 quando a família se mudou para São Paulo.
Cursou humanidades em um ginásio na cidade de São Paulo, e ao terminar viajou para a Europa para estudar em Heidelberg, mas retornou ao país sem ter concluído o curso.
Em 1901, ainda na cidade de São Paulo, formou-se como bacharel em ciências e letras. Sua formação em zoologia se deu de maneira natural, à medida que freqüentava o laboratório de seu pai, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering.
Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering foi nomeado, em 1901, por seu pai, então diretor do Museu Paulista, para a vice-diretoria de custos daquela instituição.
Entre os anos de 1902 e 1911, especializou-se em centros de cultura alemães, austríacos e franceses.
Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering publicou, em 1903, seus primeiros artigos científicos, sendo a maior parte deles na Revista do Museu Paulista, e também vários trabalhos sobre sistemática.
Em 1911, passou quase um ano trabalhando na Estação Biológica de Nápoles e depois, na Universidade de Viena. Atuou, também, no laboratório de entomologia do Muséum National d´Histoire Naturelle, em Paris, com o professor e entomologista Louis Eugène Bouvier (1856-1944).
Em 1915, seu pai, Hermann Friedrich Albrecht von Ihering, foi afastado do cargo de diretor do Museu Paulista. Em 1917, em protesto pela demissão de seu pai, Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering se desligou do museu e abriu uma pequena fábrica de objetos de metal denominada Fábrica Santa Izabel, onde trabalhou por dez anos.
Apesar de ter se dedicado a um ramo absolutamente diferente por um período, Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering nunca deixou de lado suas atividades como naturalista, e manteve-se atualizado por meio da literatura especializada. Neste período, organizou um vocabulário zoológico de nome vulgares, no qual vinha trabalhando desde 1913.
Entre os anos de 1926 e 1927, voltou a atuar diretamente no campo científico, quando passou a colaborar no Laboratório de Parasitologia, criado pelo entomologista Lauro Pereira Travassos, na Faculdade de Medicina de São Paulo.
Desde o ano de 1904 Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering já se dedicava ao estudo dos peixes brasileiros de água doce, mas foi a partir de 1927 que direcionou de forma intensa a pesquisa no ramo da ictiologia, publicando vários trabalhos sobre sistemática, classificando inúmeras novas espécies de peixes. Publicou, juntamente com o parasitologista Clemente Pereira, um estudo sobre a epizootia dos peixes da bacia do rio Paranapanema.
No Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal de São Paulo, criado em 1927, Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering foi assistente na seção de entomologia e parasitologia animal e chefe da seção de zoologia (1934). Embora não tenha efetivamente assumido a chefia da seção de zoologia, por ter sido colocado à disposição pelo Governo Federal para trabalhar no serviço de piscicultura da Inspetoria Federal de Obras Secas, durante o período que esteve naquela seção dedicou-se ao estudo das piracemas da região do Estado de São Paulo, especialmente da represa de Billings, e dos rios Mogi-Guaçu (Cachoeira de Emas), Tietê (Salto do Itu), e Piracicaba (Salto de Piracicaba). Buscava com estes estudos a solução para alguns problemas que ocorriam com a criação artificial, como a obtenção de ovos para a reprodução em ambientes sob controle. Foram desenvolvidos, também, estudos sobre as sardinhas brasileiras, a migração do dourado e os peixes larvófagos, que eram usados no combate à febre amarela e à malária (RIBEIRO, [1997]).
A partir do início da década de 30, as pesquisas de Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering se voltaram mais para a área da biologia e para temas de interesse aplicado. A partir de 1931, dedicou-se exclusivamente aos trabalhos de bioeconomia na área da piscicultura. Até o final de sua vida trabalhou no desenvolvimento de programas de fecundação artificial de peixes de água-doce no Brasil.
Em 1930, Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering, a convite do Ministro da Agricultura, criou na cidade de Campina Grande (Estado da Paraíba), um centro dedicado ao estudo das questões referentes ao uso d´água na região. Para participar dos estudos sobre os açudes daquela região convidou o limnólogo norte-americano Stillman Wright (1898-1989). Os trabalhos concentraram-se no açude Bodocongó.
Foi indicado por José Américo de Almeida, Ministro da Viação e Obras Públicas no Governo Getúlio Vargas, para chefiar a Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, no âmbito da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, criada em 12 de novembro de 1932. Permaneceu neste cargo até o ano de 1937, e foi durante sua gestão que se promoveu um grande impulso à piscicultura no nordeste.
Desenvolveu, em 1934, um processo artificial de reprodução de peixes, conhecido como hipofisação, pelo qual foi considerado o pai da piscicultura no Brasil, e obteve reconhecimento internacional (GORGULHO, 2006). O parasitologista Clemente Pereira comentou sobre este trabalho de Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering:
“Realizada a fecundação artificial, a partir dos gametas obtidos pela hipofisação dos reprodutores, ficou contornado o grande obstáculo oferecido por novas espécies de água doce à sua utilização na piscicultura nacional. Este brilhante resultado encontrou logo o merecido eco nos meios científicos, tendo o seu propugnador, ainda em vida, o prazer de ver o processo de hipofisação adotado em estações norte-americanas de piscicultura para, com a maior precocidade obtida nas desovas, ser conseguido não só maior peso por peixes na época da pesca, com ainda permitir as tentativas de cruzamento das espécies morfologicamente afins, porém, fisiologicamente isoladas por uma decalagem no tempo da desova”. (Apud VITORAZZI, 2006)
Em 1937, quando ainda ocupava a chefia da Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, foi convidado por Fernando Costa, Ministro da Agricultura, para organizar estações de piscicultura em Pirassununga (Estado de São Paulo) e em Porto Alegre (Estado do Rio Grande do Sul). O Governo Federal determinou, em 1938, a compra de 110 alqueires, então pertencentes à fazenda Graciosa, em local distante 800ms da Cachoeira de Emas (rio Mogi-Guaçu, Pirassununga), para a instalação da Estação de Pirassununga. Esta Estação foi inaugurada em 1939, implantando inicialmente como programa aquele que fora adotado na Comissão Técnica de Piscicultura do Nordeste, ou seja, criação de peixes com o objetivo principal de produzir e distribuir alevinos em grande escala, para promover o re-povoamento em águas naturais ou represadas artificialmente. Compunham a equipe de Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering, oito técnicos, e entre estes, o biólogo alemão Otto Schubart ( -1961) e Alcides Lourenço Gomes. Em 1946 a Estação passou a denominar-se Estação Experimental de Biologia e Piscicultura (CEPTA, 2006).
Dedicou-se à zoologia, ao estudo de invertebrados, especialmente os peixes, e publicou inúmeros trabalhos científicos, livros, léxicos de zoologia, biografias e obras de divulgação para estudantes. Percorreu o país, durante mais de trinta anos, anotando nomes populares de animais, informações e lendas sobre a fauna brasileira. Afirma-se, inclusive, que chegou a aprender o tupi-guarani para poder melhor identificar as raízes etimológicas dos nomes de espécies animais.
Um dos resultados desta pesquisa foi o “Dicionário dos animais do Brasil”, publicado em 1940. Nesta obra destacou, inclusive, a questão da distinção no emprego dos vocábulos ave e pássaro:
"Pouca gente costuma fazer distinção com valor classificativo, no emprego dos vocábulos ave e pássaro, peculiares à nossa língua e à espanhola. O francês emprega indiferentemente oiseau, tanto ao designar o avestruz como o pardal e da mesma forma Vogel em alemão e bird em inglês aplicam-se a qualquer vertebrado plumado. Mas ninguém, falando corretamente nossa língua, dirá que a ema, o gavião e o papagaio sejam pássaros". O mestre até exemplifica: "Termos ouvido definir que pássaros são as aves pequenas. Estará certa? O bem-te-vi é um pássaro, mas a rolinha, muito menor, pode ser designada assim? Certamente que não, pois a rola é uma pomba e os representantes desta ordem não são pássaros, porém aves, como as galinhas". (Apud SALLES, 2006)
Foi redator da Diretoria de Publicidade Agrícola da Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Rodolpho Theodor Wilhelm Gaspar von Ihering foi membro da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade de Biologia de São Paulo, do Clube Zoológico do Brasil, da Limnological Society of America e da American Fisheries Society.
Recebeu o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia, pela Universidade de Giessen (Alemanha).
A Sociedade Brasileira de Zoologia, criada em 1978, instituiu o Prêmio Rodolpho von Ihering ao melhor artigo, livro ou capítulo de livro publicado anualmente na área de zoologia.
No Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering, do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, em Pentecoste (Ceará), foi criado, a partir de pesquisas iniciadas em 1932, o método de reprodução induzida de peixes reofílicos (de piracema), que atualmente é utilizado em larga escala.
Em 1981 foi criada a Biblioteca Rodolpho von Ihering, com o acervo remanescente da Estação Experimental de Biologia e Piscicultura de Pirassununga, inaugurada em 1939.
Produção intelectual
- “As vespas sociaes do Brazil”. Separata da Revista do Museu Paulista, v. VI, 1904.
- “As vespas sociaes do Brazil”. São Paulo: Typ. Diário Oficial, 1905.
- “Catálogos de Fauna Brazileira. As aves do Brazil”. (com Hermann Friedrich Albrecht von Ihering). São Paulo: [s.n.], 1907.
- “Landeskunde der Republik Brasilian, Estados Unidos do Brazil”. Leipzig: G. J. Goschen, 1908.
- “As cobras do Brasil. 1ª parte”. Revista do Museu Paulista, São Paulo, v.VIII, p.273-379, 1911.
- “Diccionario de fauna do Brazil: ou definição zoológica dos nomes vulgares dos animais do Brazil”. São Paulo: Rodolpho von Ihering, 1913.
- “As traças que vivem sobre a preguiça, Bradypophila garbei, N. gen., n. sp. [Lep. Fam. Pyralid]”. São Paulo: Typ. Diário Oficial, 1913.
- “O Livrinho das Aves”. São Paulo: Hartmann-Reichenbach, 1914.
- “Duas espécies novas de peixes da fam. Cichlidas [Gênero Cronicichla ´joanninhas`]”. São Paulo: Typ. Diário Oficial, 1914.
- “As espécies brasileiras de Milienidas [coloeptaros] e a posição systematica da família, pelo estudo das palavras”. São Paulo: Typ. Diário Oficial, 1914.
- “Fauna do Brasil: texto explicativo do Atlas Faunda do Brasil”. São Paulo: Secção de Obras do Estado, 1917.
- “Contos... de um naturalista”. São Paulo: Brazão, 1924.
- “As férias no Pantanal. Livro de leitura”. São Paulo: A. F. de Moraes, 1926.
- “Da vida dos nossos animais: fauna do Brasil”. São Leopolodo, Rio Grande do Sul: Rotermund & Co., 1934.
- “O Tupy na Geographia Nacional”. (sobre a obra de Theodoro Sampaio, publicada em 1901). Rio de Janeiro, Separata de Boletim do Museu Nacional, v.11, n.3-4. p. [57] -70, 1935.
- “Fisheries Investigations in Northeast Brazil”. Rodolpho von Ihering and Stillman Wright. Transactions of the American Fisheries Society, 65, p. 267-271, 1935.
- “Dicionário dos Animais do Brasil”. São Paulo: Secretaria de Agricultura, Indústira e Comércio, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1940.
- “Ciência e belezas nos sertões do Nordeste”. Rodolpho von Ihering. Comp. e Colab. de Dora von Ihering. Fortaleza: Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, 1983.
- “Da vida dos peixes: ensaios e scenas de pescaria”. São Paulo: Melhoramentos, [19 ].
- “No campo e na floresta”. São Paulo: Brasileira, [19 ].
Fontes
- CEPTA. Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais. Biblioteca. Capturado em 18 mai. 2020. Online. Disponível na Internet:
https://www.icmbio.gov.br/cepta/biblioteca.html
- CORREA E CASTRO, Ricardo Macedo; MENEZES, Naércio A. Estudo diagnóstico da diversidade de peixes do estado de São Paulo. In: Biodiversidade do Estado de São Paulo. Síntese do conhecimento ao final do século XX. 6: Vertebrados [S.l: s.n.], 1998.
- FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça.As Ciências Geológicas no Brasil: uma história social e institucional 1875-1934. São Paulo: HUCITEC, 1997. (BCOC)
- GORGULHO, Silvestre. Rodolpho von Ihering. Capturado em 18 mai. 2020. Online. Disponível na Internet: http://www.gorgulho.com./?sessao=materia&idMateria=210&titulo=RODOLPHO-VON-IHERING
- MELLO, Nélio Cunha. Conhecendo a Limnologia. Educação Ambiental em Ação, ano I, n.2, set.-nov. 2002. Capturado em 18 mai. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=56
- PAIVA, Melquíades Pinto (coord.).A permanência de Rodolpho von Ihering. Livro jubilar pela passagem do primeiro centenário do seu nascimento (1883-1983). Rio de Janeiro: Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, 1984. (IHGB) (BMANG)
- RIBEIRO, Maria Alice Rosa. História, Ciência e Tecnologia – 70 anos do Instituto Biológico de São Paulo na defesa da agricultura 1927-1997. São Paulo: [s.n.], [1997]. (BCOC)
- SALLES, Otávio. Nem todas as aves são pássaros .... Atualidades Ornitológicas, n.8, p.4, jan.-fev.1986. Capturado em 18 mai. 2020. Online. Disponível na Internet:
http://www.ao.com.br/aves&pas.htm#:~:text=Todos%20os%20vertebrados%20providos%20de,apesar%20de%20suas%20reduzidas%20dimens%C3%B5es.
Ficha técnica
Pesquisa - Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez, Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Redação - Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez, Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Revisão – Maria Rachel Fróes da Fonseca.
Atualização – Maria Rachel Fróes da Fonseca, Ana Carolina de Azevedo Guedes.
Forma de citação
IHERING, RODOLPHO THEODOR WILHELM GASPAR VON. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 18 dez.. 2024. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/dicionario
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)