Conferência Popular da Glória nº 138
Data: 19/08/1875
Orador: Nuno Ferreira de Andrade
Título: O filosofismo médico
Aviso, íntegra ou resumo: Resumo
Texto na íntegra
“Realizou-se quinta-feira, às 6 ½ horas da tarde, a 138ª conferência. Em presença de numeroso auditório, que aplaudiu o orador, falou sobre o filosofismo médico o Sr. Dr. Nuno de Andrade.
Começou dizendo que ninguém estranhasse tratar-se ainda hoje, tempo de tanto positivismo, do velho da história do pensamento, encontramos sempre as cruéis alternativas da afirmação e da dúvida; que a medicina atual acha-se na contingência de reorganizar sua parte teórica, e que para consegui-lo é mister o auxílio da filosofia.
Considerou as relações da metafísica com a medicina, sob os aspectos da constituição científica, das relações sociais e dos deveres que o exercício da profissão impôs ao médico.
Protestou contra a opinião errônea, aliás vulgaridade, de que o médico tem necessidade de se tornar materialista e ateu; porque, disse o orador, os maiores médicos que tem existido, como Hipócrates, Galeno, Laemaec, Bayle, etc. Foram espiritualistas, e Morgagni, pasmando ante as opulentas maravilhas da organização animal, perguntava: “Se haveria anatomista que deixasse de reconhecer o poder de Deus manifestado na criação”.
A invasão do materialismo na medicina, sobre ser funesto, é ilógico, disse o orador.
Passando a estudar algumas teorias, apontou em primeiro lugar o mollecularismo, que, se vigorar em algum tempo ressuscitará o numerismo de Pitágoras, o atomismo de Demócrito, e monodalogia de Leibnitz e sufocará a terapêutica com o istro-quimismo.
Disse que já tínhamos muita questão sombria, como a do miasma, do contágio, da infecção, etc., e que não precisamos mais do mollecularismo.
Tratando da microscopia, foi de opinião que não se devia confiar no microscópio, instrumento simplesmente ampliador da visão, como na inteligência do observador e no bom senso; que o microscópio já nos tinha revelado a celular e que era fora de propósito o querer-se inventar a molécula quando a célula, que ainda não é bem conhecida sob o ponto de vista de suas alterações mórbidas, nos basta.
Falando das moléstias sine materia, disse o orador que não repugnava admitir-se a essencialidade das nevroses; e que os que pensam ser a nevrose um subterfúgio encontrarão a desilusão na prática.
Ocupou-se ainda com as questões do parasitismo, da especificidade, do método numérico, etc., mostrando o vício de argumentação dos sustentadores de especificidade tanto em patologia como em terapêutica, e provando que as estatísticas só servem para os relatórios, mas nada ensinam.
Em próxima conferência, que será anunciada, estudará o mesmo orador a questão da - acomodação dos organismos aos meios ambientais -, e procurará refutar a doutrina etnográfica da colonização.
Concluiu seu discurso pedindo aos moços como ele que não abandonassem essas questões de filosofismo médico, porque elas significam o exercício de uma das faculdades soberanas do ser inteligente: o direito de raciocínio e da crítica”.
Localização
- Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, Anno 54, n. 233, p.3, 22 ago. 1875. (resumo). Capturado em 03 set. 2025. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/364568_06/11723
Ficha técnica
- Pesquisa: Aline de Souza Araújo França, Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca, Yolanda Lopes de Melo da Silva.
- Revisão: Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca.
Forma de citação
Conferência Popular da Glória nº 138. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 21 dez.. 2025. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/wiki_dicionario/index.php?curid=719
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)