Conferência Popular da Glória nº 145.1

De Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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Data: 03/10/1875

Orador: Manoel Francisco Correia

Título: Ensino moral: a instrução deve ser o bálsamo e não o veneno para a alma. Religião, família, positivismo, materialismo

Aviso, íntegra ou resumo: Resumo expandido

Texto na íntegra

“O orador disse quem procurando sempre incitar seus cidadãos a voltarem as vistas para o magno assunto da instrução do povo, fá-lo o pressuposto de que a instrução será um balsamo, e não um veneno para a alma; pois talvez não seja um paradoxo o dizer que, entre um povo rude e um povo mal-educado, é preferível a condição do primeiro. Conservam-se nestes os elementos primitivos, que podem ser mais tarde convenientemente aproveitados. Não assim com relação a um povo imbuído em ideias depravadas.

O que o orador deseja para o povo brasileiro é uma boa educação firmada nos sãos princípios da moral que dimanam do legislador supremo, e produzem os benefícios indicados nos estatutos da universidade de Paris de 1598, com razão encarecidos na apreciada obra de Troplong: Do Poder do Estado sobre o ensino:

‘A felicidade de todos os reinos e povos depende da boa educação da mocidade, a qual inclina os ânimos rudes para os atos da humanidade, e torna idôneos e aproveitáveis para os ofícios públicos, os espíritos estéreis e aproveitáveis para os ofícios públicos os espíritos estéreis e infrutíferos, promovendo o culto de Deus, a dedicação para com os pais e para com a pátria e o respeito e obediência à autoridade legitima’.

Com efeito, a boa educação da mocidade, a qual representa o elemento progressivo dos povos, traz a felicidade dos Estados, que repousa no sincero culto de Deus, no amor da família e da pátria, ao qual se prende o respeito à autoridade emanada da lei e que do cumprimento dela tira a sua principal força.

Escolas há que, sob a máscara de uma enganadora ciência, em que a verdade e o erro se confundem, pregam doutrinas subversivas e dos mais deploráveis efeitos.

A mocidade incauta, não podendo sempre apreciar os conhecimentos humanos em seu conjunto, mas só por uma face, segundo a carreira a que cada um se destina, é às vezes induzida a erros funestos com a leitura exclusiva de livros, cujos princípios têm sido aliás vantajosamente combatidos. Cumpre premuni-la contra os desvios da razão a que pode ser levada. Por isso propunha o Barão Dupin em seu memorável discurso sobre o ensino superior, proferido no senado francês em 19 de maio de 1868, que nas faculdades de medicina houvesse um curso especial e desenvolvido de psicologia. ‘Seria, disse ele, um aperfeiçoamento de maior importância e um dos melhores meios de combater o materialismo ignaro e irrefletido’. Ao que, notando em Quatrefages, que entre o instinto mais perfeito dos animais e a razão humana, existirá sempre um abismo, se pode, como ele, acrescentar que, assim como a fisiologia tem especialmente em vista as funções que assemelham o homem aos animais, a psicologia faz conhecer as faculdades que o separam deles.

O orador referiu-se mais de uma vez aquela discussão do senado francês, provocada pela petição em que Leopoldo Giraud chamava a atenção para o ensino em algumas faculdades, e que motivou o relatório apresentado pelo eloquente Chaix d’Est-Ange na sessão de 27 de março de 1868. Recomendou essa discussão ao estudo das pessoas que desejam instruir-se, e que maior proveito tirarão da leitura, apreciando os fatos ali apontados à luz dos acontecimentos posteriores na guerra franco-prussiana.

Uma verdade há de sobressair, a de que não basta para a prosperidade dos Estados que o povo seja instruído: cumpre que a instrução nele fortaleça os preceitos da virtude e do dever.

À vista das considerações expostas, o orador assim terminou:

‘Entregai livros perversores a infância que frequenta a escola primária e representa a segunda geração no futuro; ensinais nos cursos superiores à mocidade, que é a geração que há de seguir à nossa, perniciosas doutrinas perturbadoras da ordem moral; reduzi tudo aos interesses materiais e corpóreos, que apagam os nobres estímulos, mas buscam abrigar-se à sombra sinistra de uma falsa conquanto pretensiosa ciência; e vereis que a sociedade, dominada pela incredulidade, agitada pela turbulência, vai ter, na política, à comuna, e, nas relações privadas, à depravação’.”

Localização

- Conferências Populares, Rio de Janeiro, nº1, jan.,1876, p. 14-16.   

Ficha técnica

- Pesquisa: Aline de Souza Araújo França, Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca, Yolanda Lopes de Melo da Silva.

- Revisão: Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca.

Forma de citação

Conferência Popular da Glória nº 145.1. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 21 dez.. 2025. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/wiki_dicionario/index.php?curid=727

 


Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
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