Conferência Popular da Glória nº 148
Data: 24/10/1875
Orador: Manoel Hilário Pires Ferrão
Título: A Farmácia no Brasil
Aviso, íntegra ou resumo: Resumo
Texto na íntegra
“Na conferência do último domingo o ilustrado Sr. Manoel Hilário Pires Ferrão, depois de recapitular o que dissera na anterior com relação às duas primeiras partes de sua tese – da Farmácia no Brasil e de sua importância n-, passou a tratar na última parte, - os meios de promover o seu adiantamento e progresso.
Lembrou os seguintes meios:
Criação de escolas especiais, teórico-práticas, de farmácia.
Criação de tribunais correcionais científicos para julgamento dos farmacêuticos, e perante os quais poderão também responder os médicos por seus atos clínicos, a exemplo do que se pratica em países cultos da Europa.
Organização de uma farmacopeia ou código farmacêutico brasileiro.
Criação de um horto botânico terapêutico.
Lembrou, além disso, a conveniência de existirem farmacêuticos não só na junta de higiene e na repartição de polícia para, como auxiliares dos médicos, intervirem nos trabalhos de medicina legal e de análises clínicas, mas também nas alfândegas e mesas de rendas.
Na demonstração da utilidade das medidas lembradas, apontou, quanto à primeira, como competente para encarregar-se de tal missão, o Instituto Pharmacêutico Brasileiro, criado pelos esforços do ilustre farmacêutico o Sr. Eduardo Julio Janvrot, do distinto lente catedrático da faculdade de medicina o Sr. Dr. Moraes e Valle e de outros médicos e e farmacêuticos, o fez ver os importantes serviços que já presta esta instituição facultando aos aspirantes ao curso farmacêutico aulas gratuitas de português, francês, inglês, latim, história, matemática, geografia e filosofia, regida por hábeis professores, sob a direção do incansável Sr. Janvrot. A matrículas dessas aulas foi de 155 alunos no primeiro ano de sua existência, e é atualmente de 184. O estabelecimento foi auxiliado pelo governo no 1º ano com 2:000$, e hoje o é com 3:600$, auxílio que por si só não é suficiente.
A educação do farmacêutico pelo farmacêutico é uma necessidade reconhecida na França desde 1803, e depois em outros países.
Tratando dos tribunais correcionais, o orador demonstrou a necessidade deles como júri de ciência, a que respondam médicos e farmacêuticos por seu procedimento como tais; sendo que mais do que o médico, precisa o farmacêutico de quem cientificamente julgue seus atos profissionais, porque o médico tem o corpo de delito na receita que fórmula.
Passando a tratar da urgente necessidade de criação de uma farmacopeia nacional ou código farmacêutico brasileiro e de um horto botânico terapêutico em que sejam especialmente cultivadas as plantas medicinais indígenas, que superabundam, e também as exóticas que se aclimarem no país, o Sr. Pires Ferrão fez muitas observações filhas de sua experiencia, e dignas de atenção.
O fim do orador é elevar a classe dos farmacêuticos à posição de única lhe pode convir, assim como a classe médica, que nas dos farmacêuticos tem o seu principal recurso, e ao povo, cuja saúde tanto depende da farmácia. Sente por isso que em nosso país não seja o farmacêutico devidamente considerado: é improprio o modo porque se acha ele qualificado entre os mercadores de certa ordem, e a sua oficina cientifica entre as casas de quitanda no regulamento da junta central de higiene publica, o qual manda que a farmácia seja, como aquelas, visitada pelos agentes da Ilma câmara municipal e pela polícia.
Ao terminar seu interesse discurso foi o orador merecidamente aplaudido pelo numeroso auditório, do qual faziam parte muitas senhoras, e recebeu das mãos de um filho do farmacêutico o Sr. Corte Real uma palma de veludo bordado a ouro, que, em nome do Instituto Pharmaceutico Brasileiro, lhe era oferecida".
Localização
- Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 29 out.,1875. Anno 54, n. 300, p.3 (resumo). Capturado em 09 set. 2025. Online. Disponível na Internet: http://memoria.bn.gov.br/DocReader/364568_06/12187
Ficha técnica
- Pesquisa: Aline de Souza Araújo França, Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca, Yolanda Lopes de Melo da Silva.
- Revisão: Ana Carolina de Azevedo Guedes, Mª Rachel Fróes da Fonseca.
Forma de citação
Conferência Popular da Glória nº 148. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970). Capturado em 22 dez.. 2025. Online. Disponível na internet https://dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/wiki_dicionario/index.php?curid=730
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1970)
Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz – (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br)